Na última terça-feira, 7 de junho, aconteceu a segunda edição dos “Webinários ABC/CNPq: A Contribuição dos INCTs para a Sociedade”, que trouxe representantes de diferentes Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação (INCTs) para debater em duas mesas com temáticas transversais. A moderação ficou a cargo da diretora de Cooperação Institucional do CNPq, Maria Zaira Turchi.

A segunda sessão abordou “Sustentabilidade do Planeta: Terra, Mar e Ar”, e teve a participação dos membros titulares da ABC José Antonio Marengo Orsini, coordenador do INCT para Mudanças Climáticas (INCT – MC); Jefferson Cardia Simões,  coordenador do INCT da Criosfera; e Maria Fátima Grossi de Sá, coordenadora do INCT de Ativos Biotecnológicos Aplicados à Seca e Pragas em Culturas Relevantes para o Agronegócio (INCT PlantStress Biotech).

José Marengo

Mudanças Climáticas e o futuro do Brasil

O webinário ocorreu dois dias após o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, que nesse ano trouxe o lema “Uma só Terra”. Marengo fez questão de iniciar sua apresentação com a mensagem central trazida pela data: “A sociedade precisa incluir o capital natural na tomada de decisões, eliminar subsídios prejudiciais ao meio ambiente e investir na transição para um futuro sustentável”.

Em seguida, apresentou as temáticas abordadas pelo INCT para Mudanças Climáticas. Dentre elas está a segurança alimentar, que, no Brasil, enfrenta sérios riscos com os aumentos na temperatura. Simulações de produção, levando em conta diferentes cenários e modelos climáticos, apontam para um futuro de perdas e até de reorientação da geografia agrícola do país. Outro ponto que tange a agricultura e as mudanças climáticas é a perda ecossistêmica, sobretudo na Amazônia e no Cerrado. “O leste da Amazônia já se tornou uma fonte de emissões, quando sempre foi um importante sumidouro de carbono”, alertou Marengo.

Além de coordenar o INCT para Mudanças Climáticas, José Marengo atua também no Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Nacionais (Cemaden), o que traz uma ideia sobre a forte interseção entre os dois temas. Enquanto eventos climáticos extremos se tornam cada vez mais frequentes e intensos, os valores autorizados no orçamento federal para enfrentamento de desastres tiveram uma queda de R$ 6.542 milhões em 2013 para 1.204 milhões em 2022, de acordo com dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID). “A projeção para um aquecimento de 4°C é de que desastres ambientais se espalhem para além das Regiões Sudeste e Sul, que historicamente são mais afetada por esses fenômenos”, finalizou.

Jefferson Simões

O Brasil e a Criosfera

Jefferson Simões dedicou sua apresentação a desfazer o mito de que o que ocorre nos pólos não afeta os trópicos. A criosfera ocupa 10% da superfície do planeta e tem papel crucial no sistema climático de todo o globo. No Brasil, massas polares da Antártica causam frentes frias e ciclones extratropicais e o próprio continente gelado é afetado por poluentes e materiais orgânicos oriundos de queimadas que são carregados pelo vento. Outra consequência bastante drástica para o país é o aumento do nível do mar. Estimativas apontam que o derretimento de geleiras e a expansão térmica dos oceanos pode levar a uma elevação de 1,1 metro até 2100, com graves consequências para o litoral brasileiro.

Outra interação pouco falada ocorre entre as geleiras andinas e a Amazônia. Cerca de 90% do armazenamento hídrico dessas formações é dependente da evaporação da floresta, e sua devastação só faz diminuir esse aporte. Nos últimos 40 anos as geleiras andinas perderam entre 20% e 30% de sua área original, gerando estresses hídricos em países como Bolívia e Peru. “Mais recentemente, constatamos também que o material das queimadas amazônicas vem alterando a cor dessas geleiras, gerando maior absorção de calor e acelerando seu derretimento”, alertou Simões.

Mas as pesquisas em criosfera não se dedicam apenas às consequências das mudanças climáticas. Algumas correntes de estudo se dedicam a bioprospecção, isto é, a procura de espécies adaptadas à vida em ambientes extremos que podem conter novas substâncias bioativas com diversas aplicações. No caso particular da Antártica, manter um esforço de pesquisa contínuo é também uma estratégia política, visto que o Tratado Antártico determina que nações que queiram estabelecer presença permanente a façam por meio de expedições científicas. “O Brasil integra o Comitê Científico em Pesquisas Antárticas, nossa presença no continente é um dos exemplos mais concretos de diplomacia científica na atualidade”, argumentou.

Maria Fátima Grossi de Sá

Biotecnologia e Agricultura

A Acadêmica Maria Fátima Grossi de Sá é atualmente presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia (SBBiotec) e iniciou sua apresentação trazendo algumas informações sobre o futuro da agropecuária no mundo. De acordo com dados de 2009 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a produção mundial de alimentos precisa aumentar em 70% até 2050 para garantir segurança alimentar para todos. O Brasil, como um dos maiores produtores do mundo, é indispensável para o cumprimento dessa meta, mas esse aumento precisa ser feito de forma sustentável no longo prazo.

Ainda de acordo com a FAO, o país é o terceiro maior usuário de pesticidas poluentes no planeta, cuja aplicação não controlada pode colocar em risco o uso continuado do solo. Para melhorar esse cenário, urge que se desenvolvam técnicas alternativas, que passam pelo uso de compostos naturais para o controle de pragas e desenvolvimento de linhagens mais resistentes de cultivares. “Zonas tropicais são, historicamente, as mais desafiadoras para a agricultura, e o Brasil precisará estar sempre inovando em biotecnologia se quiser atingir todo seu potencial produtivo”, avaliou Grossi.

Como exemplo de institutos atuando nesse sentido, a palestrante citou o INCT do Café, que vem produzindo melhoramentos genéticos em linhagens de Coffea canephora, além de desenvolver usos alternativos para os resíduos da produção; o INCT de Genômica para Melhoramento de Citros, que desenvolve inovações e também auxilia agricultores desse que é um dos maiores nichos da produção agrícola brasileira; e o próprio INCT PlantStress Biotech, coordenado pela palestrante, que foca em três commodities cruciais do agro brasileiro – algodão, milho e soja – para promover melhoramentos contra pragas e secas. “Atualmente, contamos com 18 instituições e mais de 100 pesquisadores que atuam em toda a cadeia de pesquisa, desde a descoberta de compostos promissores até a geração de produtos e fenotipagem”, finalizou a Acadêmica.


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