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Confies e CGU assinam termo de entendimento

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Nada menos do que 35% da força de trabalho dos cientistas brasileiros se perde por causa da burocracia. Para tentar diminuir o problema, dando maior eficiência na gestão dos projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional e de inovação, o Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies) e a Controladoria Geral da União (CGU) assinaram um termo de entendimento, sobre 15 pontos sensíveis da legislação. A assinatura foi feita durante a cerimônia de abertura do 35º Encontro Nacional do Confies, ontem (29/11), em Maceió.
A elaboração do termo contou com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), do Ministério da Educação (MEC) e do Fórum de Educação da Procuradoria-Geral Federal (PGF). A intenção é a autorregulação das fundações. “É a primeira vez que se estabelece um acordo coletivo entre órgãos de controle e instituições como as Fundações de Apoio para prevenir danos à boa gestão de projetos de pesquisa”, disse o presidente do Confies, Fernando Peregrino. “Se isso tivesse sido estabelecido há mais tempo, muitos danos poderiam ter sido evitados, como nos casos que envolveram as universidades de Brasília (UnB) e as federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Santa Catarina (UFSC), cujos reitores foram vítimas de mal entendidos.”
Segundo Peregrino, a luta das fundações contra a burocracia é árdua. Daí a importância do termo de entendimento com a CGU. “A ideia é criar uma forma de controle mais racional, transparente, preventiva e justa para controladores e controlados”, explicou Peregrino. Tão importante quanto isso é a decisão de todos os envolvidos de dar continuidade aos esforços conjuntos, visando aperfeiçoar o termo assinado e vencer novos desafios sobre aspectos não contemplados no texto atual.
Para Victor Godoy Veiga, diretor de Auditoria de Políticas Sociais da CGU, é muito importante esse diálogo entre as fundações e os órgãos de controle, porque a área de ciência, tecnologia e inovação vive um momento difícil no país, com falta de recursos. “É uma grande oportunidade para conseguirmos construir conjuntamente um novo caminho, de aproximação com o setor privado e redução da burocracia”, disse. “Para nós, também é fundamental ouvir o outro lado, saber quais são as dificuldades que as instituições estão enfrentando, quais empecilhos que atrapalham as pesquisas e contribuir para vencê-los.”
O 35º Encontro Nacional do Confies, que vai até 01/1), reúne representantes de mais de 90 fundações, que apoiam 132 instituições de pesquisa. “São 60 mil pessoas adicionadas à força de trabalho dos 22 mil projetos, que movimentam anualmente entre R$ 5 a 6 bilhões, mais que o dobro do orçamento do MCTIC desse ano”, informa Peregrino. “Além disso, somos responsáveis por quase 80% das importações de insumo para pesquisa.”

Corte de quase metade das verbas em ciência compromete pesquisas de zika até câncer

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Se a ciência brasileira fosse uma pessoa, ela hoje estaria internada na CTI e respirando por aparelhos. Este quadro, considerado “dramático” por especialistas consultados pelo EL PAÍS, é resultado de sucessivos cortes orçamentários nos últimos anos. Em 2017, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) sofreu um corte de 44% do orçamento que estava previsto para este ano. “Agora a gente está brigando para manter os tubos de soro, a alimentação e os remédios essenciais à sobrevivência do paciente”, explica Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que se juntou a outras entidades científicas para tentar reverter esta tendência no orçamento de 2018. “Os cortes na ciência mostram uma falta total de percepção do que é importante e o que não é para o desenvolvimento de uma sociedade”, opina João Fernandes Gomes de Oliveira, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Os investimentos em ciência no Brasil são feitos majoritariamente pelo Governo Federal via MCTIC, responsável por dezenas de unidades de pesquisas em todo o país, laboratórios em universidades e bolsas de estudo cedidas pelo CNPQ. Esses recursos são distribuídos de forma abrangente e chegam a centros de pesquisas que fazem os mais importantes trabalhos científicos do Brasil. É o caso, por exemplo, dos estudos desenvolvidos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre o vírus da Zika e da microcefalia que abrem o caminho para a eliminação destas doenças. Estas pesquisas foram publicadas em revistas internacionais, mas hoje correm o risco de serem interrompidas pela falta de insumos biológicos, segundo especialistas. Laboratórios começam a parar.
As cifras destinadas nunca foram altíssimas: em 2010, o orçamento do MCTIC teve um pico de aproximadamente 8,6 bilhões de reais — corrigido pela inflação, o equivalente a 10 bilhões de reais hoje. Em 2017, já com a pasta de Comunicações incorporada em sua estrutura, o ministério contou aproximadamente com apenas 3,3 bilhões. Estavam previstos 5,8 bilhões inicialmente, isto é, 44% a mais, segundo admite o próprio MCTIC. “E cerca de 700 milhões vão para Comunicações. Isso significa que Ciência e Tecnologia fica com uns 2,5 bi. É 25% do orçamento de 2010, o que significa que você dividiu por quatro a sua capacidade de execução”, explica Oliveira, da ABC.
A restrição orçamentária chamou a atenção da comunidade científica internacional e mereceu um artigo na prestigiosa revista Nature. 23 ganhadores do Prêmio Nobel chegaram a enviar uma carta ao presidente Michel Temer (PMDB). Em julho, o ministro do MCTIC, Gilberto Kassab (PSD), instou a comunidade científica a utilizar meios de comunicação e pressionar o Congresso e o próprio Governo para conseguir mais verbas. Na ocasião também taxou a lei do teto de gastos de “draconiana”.
Entretanto, para 2018 está previsto um corte de mais 25% no orçamento do ministério, que já representa “uma fração muito pequena de um monstro orçamentário que é o governo brasileiro”, segundo Oliveira. As entidades científicas enviaram na última segunda-feira uma carta para representantes do Congresso Nacional demandando que o orçamento do ano que vem permaneça igual ao de 2017 — antes de ser reduzido em 44% — e que ainda se acrescente mais 10%. O objetivo é que os investimentos comecem a voltar. “Se você tira o dinheiro de ciência e tecnologia, você não resolve o problema financeiro do país. É como se eu tivesse um problema de finanças em casa e decidisse parar de tomar o remédio pro coração que custa um real, ao invés de cortar contas com viagem e restaurante. Esta é a nossa sensação”, diz Oliveira.
Além do MCTIC, a ciência brasileira também depende de fundações estaduais de amparo a pesquisa — muitas delas com graves dificuldades financeiras, como a Faperj, no Rio — e da fundação Capes, organismo vinculado ao Ministério da Educação (MEC) que é responsável por cursos de pós-graduação e bolsas de estudo. Neste último caso os cortes foram menores.
Quais são os efeitos dessas tesouradas? “Em primeiro lugar, não tem nenhum projeto de pesquisa novo. E se tem, não está recebendo dinheiro. Já os projetos antigos estão com atrasos. Além disso, houve uma redução de bolsas e os programas vão formar menos mestres e doutores”, explica Oliveira. Tanto ele como Moreira também citam a fuga de cérebros. “Os laboratórios começam a parar, mestrados e doutorados ficam atrasados e os jovens e pesquisadores acabam atraídos pela carreira no exterior. Tem gente segurando, mas que certamente vai embora se esta situação perdura”, explica o presidente da SBPC. A longo prazo, significa a interrupção de linhas de pesquisas que demoram anos para serem desenvolvidas e que trariam resultados práticos no futuro.
elpais_2_edit.jpg É o caso do argentino Gonzalo Maso Talou, que em breve vai para a Nova Zelândia. Formado em Ciência da Computação, ele chegou ao Brasil em 2011 para fazer um mestrado em Computação Científica e um doutorado em Modelagem Computacional. Hoje ele vem desenvolvendo modelos computacionais, em parceria com os hospitais Incor (USP), Sírio-Libanês e Albert Einstein, que simulam decisões médicas no tratamento de um paciente e mostram as consequências destas decisões a médio e longo prazo. O objetivo é avaliar os risco de infartos e AVCs. “Fazemos um estudo tomográfico de um paciente no qual vemos as artérias do coração e criamos uma representação dessa pessoa no computador, utilizando métodos que criamos”, explica o rapaz, de 32 anos. “Utilizando a informação médica do paciente, como sua pressão sanguínea, conseguimos simular como o sangue escoa dentro das artérias, como interage com elas. Por exemplo, como se deformam durante o ciclo cardíaco”, acrescenta. E prossegue: “Assim, chegamos a informações que indicam ao médico o quão doente está a artéria. Ele então as complementa com imagens médicas e toma a sua decisão”.
Para desenvolver estas técnicas, Maso conta com uma bolsa de pós-doutorado do CNPQ. Mas sua esposa foi demitida e a bolsa, ele diz, acaba sendo insuficiente para sustentar sua família. Para ganhar algo além de sua bolsa, Maso deveria ser concursado para se tornar pesquisador efetivo de seu centro, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), sediado em Petrópolis (RJ). “Minha intenção era ficar no Brasil, porque aqui nos últimos anos a ciência teve um impulso muito grande. Mas com esses recortes perdeu-se tudo isso. O atrativo estrangeiro não só se perdeu como há também dificuldades para o pesquisador estrangeiro que quer ficar, já que você não tem acesso a salário”, argumenta. Na Nova Zelândia, onde trabalhará em um projeto financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA, finalmente terá um emprego.
O próprio Laboratório de Computação, que pertence ao MCTIC, vem passando por dificuldades. Ele abriga o Santos Dumont, o mais potente computador brasileiro e um dos mais velozes do mundo: sua capacidade de processamento é de 1,1 petaflop/s, ou seja, ele pode fazer até um quatrilhão de operações matemáticas por segundo. Algo essencial para pesquisas de todos os tipos, desde a evolução da galáxia até a busca de medicamentos e vacinas para várias doenças tropicais e os modelos computacionais de Maso. São mais de 70 projetos em execução. Montado a um custo de 60 milhões de reais, pode ser usado por todos os cientistas Brasil — basta que submetam seus projetos. Havia dúvidas sobre o funcionamento da super máquina, que consome até 500.000 reais por mês de luz, até o fim do ano. O remanejamento e a liberação de recursos nos últimos meses por parte do MCTIC — cerca de 500 milhões para pagar bolsas e institutos, segundo a pasta — evitou seu desligamento.
Assim como o LNCC, o MCTIC é responsável por outras dezenas de centros científicos de ponta no país. Instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que desde 1954 vem realizando estudos científicos do meio físico e das condições de vida da região amazônica para “promover o bem-estar humano e o desenvolvimento socioeconômico regional”. Responsável por levantamentos e inventários de fauna e de flora e referência mundial em Biologia Tropical, seu objetivo hoje é expandir de forma sustentável o uso dos recursos naturais da Amazônia. Entretanto, perdeu 62% de seu orçamento previsto em 2017. Outro exemplo é o Instituto Nacional de Pesquisas Nacionais (INPE), responsável pelo monitoramento da Terra e por dar aos brasileiros a previsão do tempo. Mas sofreu uma redução orçamentária de 40%.
Corte similar foi aplicado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), sediado no Rio. Com quase 70 anos de existência, foi a primeira instituição voltada para a ciência básica no país. Hoje faz pesquisa teórica e experimental em áreas como altas energias, nanotecnologia, física aplicada à biomedicina, informação quântica, instrumentação científica, entre outros. Os resultados das pesquisas, muitos deles obtidos em parcerias internacionais ou com indústrias brasileiras, estão “nos tratamentos mais eficazes para o câncer, nos meios de transporte mais seguros, nos celulares e TVs com funções, numa internet mais rápida”, segundo a instituição.
“Trabalhamos com ciência básica, mas para que serve isso no cotidiano do cidadão? Paradoxalmente as pessoas comuns, da rua, entendem isso melhor que as nossas elites econômicas, as pessoas que tomam decisões. E o crescimento econômico do Brasil depende disso”, explica Ronald Cintra Shellard, seu diretor. “Mas eu não consigo fazer planejamento de manutenção dos equipamentos, que valem cerca de 100 milhões. A grande maioria está sem manutenção. Consigo empurrar com a barriga mais dois anos, mas na hora que quebrar o custo de recuperar é muito maior. Estamos no modo de sobrevivência”, lamenta. Ele diz estar dando prioridade em manter o pesquisador, que é mais difícil de treinar, mas que “com o pessoal de segurança e limpeza estamos no limite mínimo”.
Ainda neste ano, a comunidade científica brasileira se mobilizou em torno da campanha Conhecimentos sem Cortes, articulada por Tatiana Roque, professora da pós-graduação de Filosofia e da graduação de Matemática da UFRJ. Uma petição assinada por mais de 82.000 pessoas foi entregue em outubro aos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. O documento demandava a volta dos investimentos de pesquisa e a garantia de que a universidade pública não fosse desmontada. O site da campanha conta com um tesourômetro que, na manhã de 30 de novembro, mostrava um corte de mais de 13 bilhões desde 2015 nos investimentos em ciência e tecnologia e nas universidades públicas.
Para Moreira, presidente do SBPC, “a política geral não tem mostrado uma visão razoável da importância da ciência”. A palavra que ele usa para descrever o atual cenário é “desmonte”. “É um retrocesso muito grave quando você desmonta um centro de pesquisa que você demorou 20 ou 30 anos para montar”, argumenta. Em suma, trata-se principalmente de jogar todo o dinheiro que até agora foi investido em ciência no lixo. O problema, diz Oliveira, vice-presidente da ABC, é que “a capacidade de mobilização do setor de ciência e tecnologia” é pequeno. “A gente está falando de algo grave, mas que o público em geral não percebe o impacto. Primeiro porque ele não é imediato e segundo porque não consegue competir com todo o resto que está na mídia”, conclui.

Pesquisadores traçam cenário favorável para o agronegócio brasileiro

roque_de_sa_agencia_senado.jpgA agricultura nacional poderá experimentar um forte crescimento nas próximas décadas, desde que sejam feitos os investimentos necessários em ciência e tecnologia. Essa foi uma das principais conclusões a que chegaram representantes da comunidade científica em audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), realizada nesta terça-feira (28).
O debate, sugerido pelo presidente do colegiado, senador Ivo Cassol (PP-RO), faz parte da avaliação da Política de Pesquisa Agropecuária, escolhida para ser analisada pela comissão em 2017.
Biocombustíveis

O representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, considerou o setor de produção de biocombustíveis como um dos mais promissores a serem desenvolvidos.
Caso o Brasil utilize metade dos 200 milhões de hectares destinados atualmente a pastagens, em sua maioria degradadas, na avaliação de Gonçalo Amarante, poderá expandir sua produção de etanol a ponto de ter condições de substituir o consumo mundial de gasolina.
— Se em vez de produzirmos etanol de 1ª geração produzirmos etanol de 2ª geração com cana-de-açúcar, uma conta simples mostra que se dedicarmos a metade desta área de pastagem para esta produção, conseguiremos substituir o consumo global de gasolina — disse o representante da SBPC.
Mecanização
Gonçalo Amarante citou a mecanização do cultivo de cana-de-açúcar como uma área que deverá demandar importantes desenvolvimentos tecnológicos nos próximos anos. Segundo ele, devido ao fato de a mecanização desta lavoura não ter sido adaptada às nossas condições, a produtividade da cana-de-açúcar caiu mais de 10% após o abandono das técnicas tradicionais de cultivo.
Macaúba e biomassa
O desenvolvimento da produção de óleo da palmeira macaúba, da geração de eletricidade a partir de etanol e de biomassa foram outros nichos do agronegócio que na opinião de Gonçalo Amarante devem receber prioridade.
No mesmo sentido, Elibio Leopoldo Rech Filho, diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), destacou o potencial de desenvolvimento da produção agrícola brasileira em áreas de pastagens degradadas, ocupadas por agricultores das classes de renda D e E.
Áreas degradadas
De acordo com o pesquisador, os agricultores das classes D e E, ocupam mais de 109 milhões de hectares em 3,6 milhões de estabelecimentos, mas são responsáveis apenas por 7,6% do valor bruto da produção. Já os agricultores das classes A, B e C, que utilizam 190 milhões de hectares, obtém 92,4% do valor da produção nacional. Essa situação tornaria possível a elevação da produção a partir de investimentos adequados nas áreas de menor renda do país.
Citando os enormes ganhos de produtividade obtidos na cultura da soja a partir da década de 1990, devido em parte ao trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Elibio Leopoldo Rech Filho, reconheceu também a importância da biodiversidade existente no Brasil para esse resultado.
— Essa nossa agricultura desenvolvida existe não somente em função do uso de ciência e tecnologia, mas também por causa da biodiversidade. Ela que fornece e dá o equilíbrio para todos os recursos aquíferos, proteção do solo, estabilidade climática, reciclagem do solo e nutrientes, biomas e ecosistemas — observou.
Fernando Ribeiro, assessor da presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), salientou a importância do investimento em ciência para a elevação da produtividade do agronegócio brasileiro. Citando estudo da União Europeia, ele observou que o valor total gerado pela pesquisa pública é entre 3 a 8 vezes o valor do investimento.
— A taxa de retorno da maior parte dos projetos é entre 20% e 50%. Entre 20% e 75% das inovações não poderiam ter sido desenvolvidas sem a contribuição da pesquisa publica, desenvolvida até 7 anos antes — afirmou Fernando Ribeiro.
O diretor-executivo, no exercício da presidência, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Márcio de Miranda Santos, alertou para a necessidade de articulação de atores relevantes dentro da cadeia de valor da produção de alimentos e da produção agropecuária como um todo.
Segundo ele, atualmente se observa ao longo dos investimentos no setor agrícola um aumento considerável da complexidade dos temas que precisam ser tratados, sendo que o sistema brasileiro de produção agropecuária estaria, em sua avaliação, desarticulado.
— O nosso sistema esta muito desarticulado. Ele precisa de soluções no que diz respeito ao apoio do Legislativo, absolutamente fundamental para iniciativas que articulem esse sistema entre todos os seus principais atores, governo, empresa academia, sociedade civil organizada e sociedade civil que se auto-organiza — avaliou.

Entidades científicas apresentam proposta para o PLOA 2018

No final desde ano, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2018 será votado na Câmara dos Deputados. A proposta descreve as prioridades de orçamento do governo federal para o ano seguinte e a divisão dos recursos. Temerosos com o corte de 19,5% previsto para o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), representantes da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e de algumas das principais associações científicas do país produziram um documento conjunto que sugere mudanças para o PLOA 2018. No texto, os cientistas alertam para as graves consequências econômicas de uma possível nova redução de recursos para o MCTIC.
Confira abaixo o documento:
INICIAR O CAMINHO DE RECUPERAÇÃO DA CT&I NO BRASIL
Segundo a proposta orçamentária para 2018 (PLOA 2018) o orçamento total do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) deverá ser reduzido em 19,5%, caindo do valor aprovado pelo Congresso em 2017, R$ 15,6 bilhões, para R$ 12,6 bilhões. Isso corresponde a cerca de 2% do orçamento total do Poder Executivo.
Considerando apenas os recursos disponíveis para custeio e investimento – ou seja, aquilo que efetivamente poderá ser empenhado em bolsas e fomento à pesquisa, excluindo os gastos obrigatórios com salários e reserva de contingência – o corte é de 25%, com uma redução de R$ 6,2 bilhões para R$ 4,6 bilhões, segundo dados oficiais do MCTIC e análises da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Isso corresponde a menos da metade do orçamento de cinco anos atrás.
As consequências dessa redução para a ciência brasileira são desastrosas. Considerando sempre os recursos “discricionários”, custeio e investimento, esse corte representa, por exemplo, uma redução de 50% nos recursos para pesquisa, desenvolvimento e inovação nas unidades de pesquisa do MCTIC; de 62% no orçamento de ciência, tecnologia e inovação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); em um corte de 40% nos recursos para a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas; de 90% nos recursos para o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Nacionais (CEMADEN), de 40% nos recursos para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais destinados para o monitoramento da cobertura da terra e do risco de queimadas e incêndios florestais (INPE); de 40% dos recursos para supercomputação destinada a previsão de tempo e clima; de 58% dos recursos para implantação, recuperação e modernização da infraestrutura de pesquisa das instituições públicas (CT-Infra).
Segundo estudos internacionais recentes:
•O valor total gerado pela pesquisa pública é entre 3 a 8 vezes o valor do investimento;
•A taxa de retorno da maior parte dos projetos é entre 20% e 50%;
•Entre 20% e 75% das inovações não poderiam ter sido desenvolvidas sem a contribuição da pesquisa pública (desenvolvida até 7 anos antes).
Trabalho recente, publicado pelo Levy Economics Institute, mostra que os investimentos em CT&I possuem retorno muito mais elevado que os demais.
A tabela a seguir ilustra os retornos em diversas áreas.
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27 de novembro de 2017.
Atenciosamente,
Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich.
Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Emmanuel Zagury Tourinho.
Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Maria Zaira Turchi.
Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência e Tecnologia (Consecti), Francilene Procópio Garcia.
Fórum Nacional de Secretários Municipais da Área de Ciência e Tecnologia, André Gomyde Porto.
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira.

Acadêmico é eleito diretor do IFSC/USP

vanderlei-bagnato_edit.jpgO Acadêmico Vanderlei Salvador Bagnato foi eleito para o cargo de diretor do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (UFSC/USP), por maioria absoluta de votos (32) registrados no primeiro turno da eleição que aconteceu em 24 de novembro. O mandato dele vai de 2018 a 2022.
Em encontro promovido pela Comissão Eleitoral do UFSC/USP, no dia 16 de novembro, com a comunidade acadêmica, o então candidato a diretor Vanderlei Salvador Bagnato teve a oportunidade de colocar sua posições em relação a tópicos considerados relevantes na próxima gestão. No que tange à administração, Bagnato disse que a maioria das atividades de rotinas deverá ocorrer sem empecilhos e sob responsabilidade dos funcionários responsáveis de cada setor, com diretrizes básicas ditadas pela diretoria.
No que diz respeito à graduação, Bagnato defendeu mecanismos que façam os docentes estarem sempre próximos aos alunos, sobretudo porque muitas vezes os estudantes se sentem sob pressão e estresse. Sua gestão, segundo o docente, procurará trabalhar para que alunos não se percam no meio do caminho, diminuindo assim a enorme evasão que a Unidade enfrenta.
O então candidato disse também que haverá esforço para estimular tanto aqueles estudantes que ingressam na Universidade, já preparados para o desenvolvimento da formação acadêmica, quanto aqueles que se sentem despreparados. Achou estranho a pouca presença de alunos na apresentação das propostas da chapa e o número de evasão de estudantes do instituto:
“A evasão que nós temos atualmente não pode continuar. A instituição não pode ter sustentabilidade com tão grande evasão. Do ponto de vista do ensino, para que justifiquemos ter mais de oitenta professores aqui, você não pode estar formando menos de setenta alunos”, afirmou.
No que se refere ao curso interunidades de licenciatura, Bagnato disse que há a necessidade urgente de reestruturá-lo, tendo em vista que o IFSC/USP tem a obrigação de entregar à sociedade alunos preparados e motivados para a atuação profissional. Já a pós-graduação da unidade, de acordo com Bagnato, tem passado por problemas intrínsecos, incluindo a desmotivação de estudantes e a falta de atração de alunos em relação ao processo de ingresso nos programas de mestrado e doutorado. Ele apontou também o fato de que há vários docentes que não têm orientado estudantes por períodos longos.
“Nosso instituto precisa ter uma vontade institucional, como já teve no passado”, destacou o docente, defendendo a manutenção da infraestrutura da Unidade e “um plano de programações” referentes a instalações e consertos no instituto, já que às vezes esses trabalhos impactam negativamente no progresso de pesquisas e no ambiente de trabalho.
Ao falar sobre estudos científicos, Bagnato enfatizou que, embora a pesquisa do IFSC esteja em um bom patamar, sua gestão avaliará constantemente o modus operandi dos grupos científicos, na tentativa de motivar algumas equipes a avançarem ainda mais com seus trabalhos.
Ele disse ainda que essa gestão também valorizará grandemente o desenvolvimento de ciência básica, destacando o valor de usar o conhecimento básico em prol do avanço da ciência e da inovação tecnológica.
Graduação e pós-graduação: os dois “pilares” da chapa
Em entrevista à Assessoria de Comunicação do IFSC/USP, Vanderlei Salvador Bagnato disse que a graduação e a pós-graduação serão os dois “pilares” de sua gestão, principalmente porque, na graduação, o IFSC/USP tem formado menos de um aluno por professor.
“Nós não estamos produzindo gente para a nossa própria pós-graduação. E no passado era muito diferente a situação. Isso com três graduações, mais uma licenciatura, hein?! Os alunos estão indo embora antes”, criticou Bagnato, reforçando a necessidade de se reestruturar o curso de licenciatura, no qual alunos – segundo o próprio docente – precisam despertar a paixão pelo ato de ensinar:
“Muitos declaram: Não. Eu tô aqui pra ter um título”. Para Bagnato, os licenciandos devem participar de atividades optativas que os qualifiquem melhor.
Bagnato é visivelmente comprometido com iniciativas de divulgação científica. Ao ser questionado a respeito das iniciativas que a nova gestão poderá executar, no sentido de aproximar a unidade do público externo, o docente foi enfático: “Se depender de mim, o instituto está em todo lugar”, disse o docente, que considera que, para que o conhecimento gerado no IFSC seja reconhecido fora dele, é preciso estar envolvido com outras ações, incluindo participação em eventos e apresentação de palestras no Brasil e no exterior.
Perfil
Vanderlei Bagnato graduou-se simultaneamente em física (USP) e em engenharia de materiais (Universidade Federal de São Carlos – UFSCar), tendo desenvolvido mestrado em física na USP, doutorado nessa área, no Massachusetts Institute of Technology – MIT (EUA), e pós-doutorado na University of Maryland (EUA). Coordenador da Agência USP de Inovação, Bagnato já publicou aproximadamente 500 artigos em revistas científicas; oito livros; e 24 capítulos de livros. Orientou mais de 100 alunos de pós-graduação e tem mais de quatorze mil citações em trabalhos científicos. Além disso, é responsável pelo Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica (CePOF-Fapesp), sendo integrante das seguintes associações: Academia Brasileira de Ciências, The Academy of Sciences for the Developing World, Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano e National Academy of Sciences.

IAP para Ciência publica declaração sobre ciência e tecnologia para redução de riscos de desastres

jose-marengo.jpgDeclaração da Parceria InterAcademias (IAP) articulada por grupo de cientistas de Academias do mundo todo teve representação brasileira do Acadêmico José Antonio Marengo Orsini, professor titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).
Declaração da Parceria InterAcademias (IAP)
O Marco de Sendai para Redução de Riscos de Desastres 2015-2030, assinado pelas nações do mundo em março de 2015, busca estimular a pesquisa em ciência e tecnologia para lidar com os riscos de desastres naturais e seus impactos. É necessário o desenvolvimento de estratégias para prever o evento, gerenciar a emergência no momento em que ocorrer e, garantir a recuperação efetiva depois da ocorrência e fortalecer a resiliência.
Com o crescimento populacional e a concentração de populações em áreas urbanas, no entanto, os impactos dos desastres naturais estão aumentando, especialmente em regiões com desenvolvimento descontrolado e fraca infraestrutura de engenharia. Há ainda a questão de quanto as mudanças climáticas estão exacerbando a frequência e intensidade dos furacões no Atlântico, por exemplo.
Durante a elaboração deste documento, inclusive, diversas regiões do planeta foram devastadas por desastres naturais: deslizamento de terras em Serra Leoa e Colômbia, enchentes em Bangladesh, os furacões Harvey, Irma e Maria nas ilhas do Caribe e no continente americano, terremotos no México e na fronteira Irã-Iraque, e incêndios florestais na Califórnia, entre outros.
“Como esta Declaração da IAP [Parceria InterAcademias] aponta”, diz Krishan Lal, co-diretor indiano da IAP para Ciência, “é a população mais pobre, especialmente de países em desenvolvimento, que são mais afetadas pelos desastres naturais. Como sociedade, estamos falhando no investimento em infraestrutura e outras intervenções que salvariam vidas e meios de sustento, assim como economizaria recursos.
A Declaração em si foi elaborada por um time de especialistas nomeados pelas Academias que são membros da IAP, liderados pelo Conselho de Ciência do Japão (SCJ, na sigla em inglês). Como ressaltou Shigeko Haruyama (SCJ), líder do grupo de trabalho: “Mesmo num país rico e bem preparado como o Japão, estamos sempre aprendendo e lutando para melhorar nosso preparo e respostas para desastres naturais. O terremoto Tõhoku, o tsunami e o desastre nuclear ocorridos no leste do Japão em 2011, por exemplo, nos ensinaram muitas lições valiosas. Tentamos integrá-las nas recomendações desta declaração da IAP.”
As quatro principais recomendações da Declaração do IAP
1. Promover e fortalecer o desenvolvimento de uma plataforma comum em nível nacional por meio da qual as partes interessadas e cientistas mantenham diálogo constante nas línguas locais. O objetivo é o apoio aos esforços dos governos e cidadãos na redução de riscos de desastres e resiliência pela criação de laços inter e transdisciplinares.

Aqui a Declaração propõe maior uso de dados de satélites terrestres de observação; o uso de tecnologia de big data; ampliar a compreensão das populações sobre os procedimentos em desastres, especialmente grupos vulneráveis que vivam em áreas de risco, por meio de esforços educativos; e o desenvolvimento de orientações para plataformas nacionais para coordenação dos preparativos e respostas aos desastres naturais.
2. Atribuir papel importante na redução de riscos de desastres à ciência de desastres, engenharia de mitigação de desastres, ciências ambientais e ciências sociais, particularmente sociologia, geografia e economia, ciências da saúde, ciências da terra, observação terrestre e outras áreas relevantes. Estas áreas devem criar uma estrutura colaborativa para garantir esforços interdisciplinares para aumentar a resiliência das comunidades locais a desastres naturais.

Aqui a Declaração propõe o desenvolvimento de procedimentos operacionais padrão para o aconselhamento científico e comunicação no momento das situações emergenciais de desastres; fornecimento de informações que facilitem o investimento necessário para a construção de sociedades mais resilientes; informação aos cidadãos sobre os riscos de desastres por meio de avisos preventivos antecipados sobre os possíveis impactos e mapeamento dos riscos; desenvolvimento de sistemas de aviso e resposta portáteis que possam ser aplicadas a diversas localidades.
3. Promover pesquisa científica e tecnológica em níveis local, nacional e internacional para estabelecer plataformas nacionais inclusivas, efetivas e sustentáveis para apoiar os esforços em redução de risco de desastres e resiliência, por meio de cooperação transdisciplinar.

Aqui a Declaração propõe o uso mais efetivo de dados de pesquisa, especialmente de países em desenvolvimento; construção de redes e troca de experiências bem-sucedidas entre os países; e o desenvolvimento de métricas apropriadas de modo que os países possam documentar e monitorar seus progressos.
4. Para a implementação efetiva do conhecimento existente no processo de desenvolvimento e no cotidiano das pessoas, é preciso criar ciência por demanda para segurança, especialmente em países em desenvolvimento onde segurança não é necessariamente uma prioridade para o governo ou para a população.

Aqui a Declaração aponta que a demanda pode ser criada por meio do fortalecimento da comunicação de risco e transformando em bem público a demanda das pessoas por moradias seguras, cidades seguras, energia confiável, bom gerenciamento de água e ar limpo; traduzir a demanda por segurança em benefício econômico; e implementando regulamentação para códigos de construção, padrões de segurança e uso da terra.
“A Declaração oferece uma série de recomendações e uma agenda de ações para reduzir o impacto dos desastres naturais”, confirma o alemão Volker ter Meulen, que é o outro co-diretor da IAP. “Os governos nacionais têm que fazer mais para honrar o compromisso que assumiram com o Acordo de Sendai, mas as academias de ciências e outras instituições científicas também podem ajudar, criando núcleos que possam coletar informação científica relevante e disponibilizá-la para os formuladores de políticas públicas de maneiras compreensível e acessível, para subsidiar a tomada de decisões.”
A divulgação desta Declaração está sendo coordenada pelo Conselho de Ciência do Japão e foi lançada oficialmente em 25 de novembro de 2017, na “Conferência Internacional de Ciência e Tecnologia para Sustentabilidade 2017 – Fórum Global de Ciência e Tecnologia para resiliência a Desastres 2017″ , realizada no Japão entre 23 e 25 de novembro.
As Declarações da IAP só são divulgadas depois de aprovadas por um Comitê Científico Executivo e após seu conteúdo ser endossado por mais da metade dos membros da IAP. Assim, o conteúdo desta Declaração da IAP é apoiado pela credibilidade e independência da maioria das Academias de Ciências do mundo.
Sobre a IAP
A Parceria InterAcademias (IAP) foi formalmente lançada em março de 2016, na África do Sul, e trouxe consigo três redes globais estabelecidas de academias de ciências, medicina e engenharia.
A Parceria InterAcademias conta com mais de 130 academias nacionais e regionais como membros, trabalhando juntas para apoiar o papel especial da ciência e eus esforços para buscar soluções par aos mais desafiantes problemas globais. Em particular, a IAP aproveita a experiência dos líderes mundiais – cientistas, médicos e engenheiros – para avançar em políticas, promover excel~encia em educação científica, melhorar a saúde pública e alcançar outros objetivos críticos para o desenvolvimento.
A IAP para Ciência, fundada em 1993 como Painel InterAcademias, envolve 113 academias das 130 que são membros da Parceria InterAcademias.
Veja a Declaração original aqui.

Corte no orçamento do Inpe ameaça satélites e monitoramento da Amazônia

Na grande sala de integração de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um misto de engenheiros brasileiros e chineses se aglomera ao redor do corpo metálico e ainda nu do novo Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, o CBERS 4A. Vestindo jaleco, touca e sapatos especiais, eles examinam e testam cada um dos equipamentos que planejam enviar ao espaço.
Previsto para ser lançado em dezembro de 2018, mas já adiado para meados de 2019, o CBERS 4A é uma das vítimas mais ilustres da crise de recursos humanos e financeiros que ameaça paralisar projetos e serviços essenciais do Inpe. Entre eles, o monitoramento da Amazônia e as “previsões numéricas” do tempo, que são a base de toda a meteorologia nacional.
“A situação é terrível”, diz o diretor do instituto e Acadêmico, Ricardo Galvão. O orçamento real do Inpe encolheu quase 70% nos últimos sete anos, de R$ 326 milhões, em 2010, para R$ 108 milhões, em 2017, segundo dados obtidos pelo Estado e corrigidos pela inflação. Já o quadro de funcionários encolheu quase 25% em dez anos.
engenheiros_chineses_estao_no_inpe_para_iniciar_montagem_do_cbers_4a_foto_werther_santanaestadao.jpg
Para 2018, a tendência é piorar. A proposta do governo é cortar 39% do orçamento de todos os institutos e autarquias ligadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, incluindo o Inpe e a Agência Espacial Brasileira.
“Esse corte certamente implicará a descontinuidade de alguns programas de grande relevância no instituto”, alerta Galvão. “Tenho sérias dúvidas se vamos conseguir renovar essa colaboração com a China.”
O CBERS 4A (pronunciado “cibers”, na sigla em inglês) é o sexto satélite produzido em parceria pelos dois países. Dotados de câmeras que escaneiam continuamente a superfície terrestre, eles produzem imagens essenciais para o planejamento e monitoramento de safras, gestão de recursos hídricos, planejamento urbano, controle do desmatamento e outras aplicações. As imagens são distribuídas gratuitamente online para milhares de usuários, principalmente do setor agrícola.
Cegueira espacial

Já existe a intenção de renovar a parceria para a construção de mais dois satélites, mas o CBERS 4, que é o único ainda operacional em órbita, dificilmente viverá o suficiente para isso – sua expectativa de vida útil se encerra agora, em dezembro. A partir daí, ele pode parar de funcionar a qualquer momento, deixando o Brasil “cego” no espaço.
“O CBERS 4A foi concebido para preencher essa lacuna entre o fim da vida do CBERS 4 e a concepção da próxima geração de satélites”, diz o coordenador do Segmento Espacial do programa, Antonio Carlos Pereira Junior. O projeto do 4A é quase idêntico ao dos CBERS 3 e 4, aproveitando peças sobressalentes para encurtar ao máximo o tempo necessário para colocá-lo em órbita. Ainda assim, os entraves burocráticos, jurídicos e financeiros são muitos, diz Pereira Junior.
ara voar em dezembro de 2018, diz ele, o contrato de lançamento deveria ter sido assinado em junho – com 18 meses de antecedência, pelo menos, por causa de todos os preparativos necessários. A dúvida agora é se haverá recursos suficientes nas contas do ano que vem para lançá-lo em 2019. “Corremos o risco de ter o satélite pronto e não conseguir lançá-lo.”
O orçamento aprovado para o programa CBERS neste ano foi de R$ 70 milhões. Em meio a cortes e contingenciamentos, porém, o Inpe recebeu menos da metade disso: R$ 31,5 milhões. O custo do lançamento é de US$ 15 milhões para cada país (cerca de R$ 50 milhões, pela cotação do dólar).
Impactos
Outro projeto ameaçado pelo aperto fiscal é o do Amazonia 1, primeiro satélite de observação da Terra 100% brasileiro, que está em construção no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do Inpe.
A meta é ter o satélite pronto em janeiro de 2019, mas contratos e licitações que precisam ser feitos com antecedência estão caindo em atraso. Dos R$ 58 milhões previstos no orçamento deste ano, o projeto recebeu só R$ 15 milhões.
Tanto o CBERS quanto o Amazonia são considerados essenciais para que o Brasil não dependa exclusivamente de satélites estrangeiros para monitorar seu território. O Inpe gasta US$ 250 mil por ano comprando imagens dos satélites Landsat (americano) e Resourcesat (indiano), indispensáveis para o monitoramento do desmatamento na Amazônia – complementadas pelo CBERS 4.
Mas até para isso o Inpe está sem recursos, afirma Galvão. “Não paguei o contrato do Landsat este ano, e não sei como vou pagar no ano que vem.”
Confira aqui matéria original com gráficos que ilustram o corte.

Impacto político das notícias falsas

virgilio_almeida_edit-3.jpgCom a proximidade das eleições de 2018 e com as recentes regras aprovadas pela reforma política para propaganda eleitoral na internet, as preocupações com notícias falsas na internet e nas mídias sociais voltam à tona. Não se trata de um problema tecnológico apenas. Trata-se sim de um problema com sérios custos políticos e sociais.
A mediação entre as pessoas e a informação é feita cada vez mais pelas plataformas globais, como Google, Facebook, YouTube e Twitter ou por aplicativos de mensagens como Whatsapp. As plataformas de redes sociais têm uma estrutura dramaticamente diferente das mídias tradicionais. As notícias podem ser transmitidas entre usuários sem filtragem significativa de terceiros, sem verificação factual e sem julgamento editorial.
Um usuário individual, sem histórico ou reputação, pode em alguns casos alcançar tantos leitores quanto jornais tradicionais. Um vídeo amador nas mídias sociais pode vir a ter audiência comparável a alguns programas de televisão. No ambiente digital da Internet e das redes sociais cresce a circulação de notícias falsas, histórias falsas, imagens falsas, vídeos falsos e comentários feitos por usuários falsos ou robôs.
Embora notícias falsas e desinformação tenham sempre existido, o que diferencia tudo agora é a tecnologia das redes e mídias sociais. Tecnologia que permite publicar e distribuir conteúdo com baixíssimo custo. Tecnologia que favorece a disseminação de fragmentos de notícias nas mídias sociais, que aparecem nas telas dos celulares e nos “feeds de noticias do Facebook ou Twitter. Tecnologia que permite também a proliferação de robôs e usuários falsos que disseminam comentários agressivos, extremistas ou falsos pelas várias redes sociais. Isso torna o problema das chamadas notícias falsas uma ameaça para os processos eleitorais transparentes e democráticos.
Em um artigo acadêmico publicado recentemente nos Estados Unidos, dois professores americanos das Universidades de Nova York e Stanford analisam em profundidade o impacto das mídias sociais e notícias falsas na eleição americana de 2016. As notícias falsas são conteúdo (i.e., texto, imagem ou vídeo) criado para enganar ou influenciar o leitor. Pode ser uma notícia totalmente fictícia ou uma distorção de fatos reais. O artigo se concentra nas notícias falsas que tiveram implicações políticas, ou seja, notícias intencionalmente fabricadas com o intuito de induzir o eleitor a favorecer um candidato ou partido. “O Papa apoia o Trump”, “Hillary vendeu armas para o ISIS”, “Agente do FBI, suspeito de vazar os e-mails de Hillary, foi encontrado morto” foram manchetes falsas que se tornaram virais nas redes sociais no início da campanha eleitoral, ganhando enorme visibilidade nas redes sociais. A história falsa do apoio do Papa a Trump foi compartilhada mais de um milhão de vezes no Facebook e um grande número de pessoas pesquisadas relatou acreditar na manchete.
Uma questão interessante é saber quem produz as notícias falsas e quais são suas motivações. As notícias falsas têm sua origem em vários tipos de sites. Alguns sites são criados com a finalidade explícita de produzir artigos intencionalmente fabricados e enganadores. Esses sites tendem a ter vida curta, pois perdem logo a credibilidade. Muitos sites que criaram notícias falsas na campanha americana já não existem mais.
Duas são as principais razões para criação de sites de notícias falsas. A primeira motivação é financeira. Artigos falsos que se tornam virais nas mídias sociais podem gerar receita significativa oriunda de publicidade. Vários sites de notícias falsas criados por jovens em países do Leste Europeu produziram histórias favorecendo Trump ou Clinton, gerando dezenas de milhares de dólares de faturamento. A segunda motivação é ideológica. Alguns provedores de notícias falsas procuram favorecer candidatos de uma linha ideológica ou denegrir os oponentes.
As notícias falsas não são criadas pelas redes sociais, mas podem ganhar circulação e visibilidade através da dinâmica e dos algoritmos das redes sociais. Uma maneira de avaliar a importância das mídias sociais para produtores de notícias falsas é analisar como as pessoas chegam aos sites de notícias falsas. Cada vez que um usuário visita um site de notícias falsas, esse usuário digitou diretamente o nome do site ou foi encaminhado a partir de algum outro site. As principais fontes de referência incluem as mídias sociais, como Facebook ou Twitter e as máquinas de busca como Google e outros.
No estudo dos professores americanos, os eleitores chegaram aos sites de notícias falsas através das seguintes formas: 30,5% pelo próprio nome do site, 22% por meio das máquinas de busca como Google, Bing e Yahoo e 41,8% pela mídia social, como Facebook, Instagram e Twitter. Na análise de 41 notícias falsas pró-Clinton e 115 pró-Trump, viu-se que essas notícias foram compartilhadas no Facebook 7,6 milhões e 30,3 milhões de vezes, respectivamente. Apesar da crescente presença das mídias sociais, o artigo mostra também que a TV foi a fonte mais importante de notícias e informações sobre as eleições americanas de 2016.
Na preparação das eleições de 2018, o Brasil tem a chance de aprender com a experiência dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Holanda, que passaram por eleições recentes, onde as plataformas digitais tiveram papel acentuado na disputa política e onde houve também a disseminação de notícias falsas na internet. Alguns desses países têm adotado medidas visando coibir as notícias falsas e aumentar a transparência do processo de propaganda eleitoral nas mídias sociais e na internet.
Virgilio Almeida é professor associado no Berkman Klein Center na Universidade de Harvard e foi secretário de política de informática no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação de 2011-2015

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