pt_BR

Estudo revela mecanismo de alta transmissão do coronavírus

Confira trechos de matéria da Folha de S. Paulo publicada em 22 de maio:

 

Uma pesquisa inédita mostrou como algumas proteínas que formam a superfície do coronavírus podem estar desempenhando um papel fundamental na capacidade elevada de replicação de algumas de suas variantes.

A principal proteína envolvida nessa função é a não-estrutural 6 (NSP6, na sigla em inglês) que, quando sofre uma mutação, acaba criando uma ligação melhor entre estruturas envolvidas no processo de multiplicação do Sars-CoV-2 e da célula hospedeira. Outras envolvidas são a NSP3 e a NSP4.

Essa conexão mais “refinada” entre o compartimento contendo o vírus dentro da célula e outros componentes celulares também atua impedindo a defesa natural do organismo contra o invasor, por isso ela garante maior sucesso replicativo.

Entre as variantes de preocupação (VOCs, na sigla em inglês) que carregam essa mutação estão a alfa, gama (que surgiu em Manaus), lambda e a subvariante BA.2, da ômicron, que já é predominante no Brasil.

(…)

“O vírus, quando ele invade a célula, ele utiliza a maquinaria presente nas células hospedeiras para fazer o seu processo de replicação, e o coronavírus Sars-CoV-2, assim como outros vírus, faz esse processo em locais que são as vesículas de dupla membrana. Como essas vesículas precisam de componentes para se formar, é aí que a comunicação fornecida pela NSP6 atua, organizando esse processo replicativo”, explica Patrícia Bozza, chefe do Laboratório de Imunofarmacologia do Instituto Oswaldo Cruz e uma das autoras do estudo.

(…)

Leia a matéria completa na Folha de S. Paulo.

Última Conferência Magna recebeu a líder técnica da OMS para a Covid-19

Maria Van Kerkhove com o Acadêmico Wilson Savino.

Para abrir o último dia de Reunião Magna 2022: O Futuro é Agora, a Academia Brasileira de Ciências recebeu para a Conferência Magna a epidemiologista Maria Van Kerkhove, líder técnica do grupo de resposta à covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS). Kerkhove tem vasta experiência no combate a doenças infecciosas, é chefe do Programa de Emergências em Saúde da OMS para Doenças Emergentes e Zoonoses, tendo liderado a Força-Tarefa de Investigação de Surtos no Centro de Saúde Global do Instituto Pasteur, em Paris.

Enfrentando a  Covid-19

Durante toda a apresentação, a representante da OMS enfatizou que a pandemia ainda não acabou, e que relaxar nos cuidados é um erro que deixa o mundo cego para futuros surtos. Ao todo, o novo coronavírus já é responsável por 6 milhões e duzentas mil mortes registradas ao redor do mundo, número que deve ser até três vezes maior considerando o alto número de casos que não chegam a ser contabilizados. “Estamos vendo um declínio nos números globais, mas parte dele é explicado apenas pela diminuição do monitoramento”, avaliou.

A discrepância entre as estratégias adotadas e a própria realidade de cada país demandam algumas preocupações na hora de avaliar os números. Ainda assim, muitos avanços ocorreram nestes últimos dois anos. “O Brasil, por exemplo, passou de três laboratórios fazendo testagem para vinte e sete”, lembrou a palestrante. A necessidade de adaptação rápida e localizada foi defendida como um dos fatores cruciais para o enfrentamento. Entretanto, as bruscas mudanças nas orientações e políticas públicas foram vistas como dificultadores, gerando desconfiança na população. “Em muitos lugares, o que vimos foi um movimento pendular entre tudo ou nada, entre severas restrições e liberação total”.

Mas o que realmente mudou o curso da pandemia foi a vacinação. Ao sobrepormos as taxas de imunização com a mortalidade, podemos ver claramente a correlação – quanto mais completo o ciclo vacinal, menor o número de mortes. Na maior parte dos países, alta vacinação caminha lado a lado com outros fatores que contribuíram para o controle da pandemia, como testagens e acesso a tratamento. Entretanto, um problema que foi observado mesmo em países que lidaram bem com a doença foi a desinformação. “Não existe a menor dúvida de que fake news mataram nessa pandemia, mesmo que não possamos ainda quantificar em que extensão”, frisou a palestrante.

A baixa cobertura vacinal (Figura 1), sobretudo no Sul Global, é um fator de risco para o surgimento de novas variantes. Atualmente, o mundo está em alerta para as novas linhagens da ômicron, BA.1 e BA.2, que são mais transmissíveis, e, no caso da última, vem provocando fechamentos de cidades inteiras na China. Kerkhove lembrou que a evolução e recombinação dos vírus inevitavelmente trarão novas cepas. “BA.1 e 2 são as com que nos preocupamos agora, mas novas virão, o coronavírus permanecerá e temos que lidar com ele”.

Figura 1. Números da vacinação ao redor do mundo. Kerkhove apresenta a situação atual da imunização, dividida por região e metas percentuais.

Futuro da pandemia

Pensando no futuro, a OMS trabalha com alguns cenários. O mais provável é que novas variantes com diferentes graus de risco continuem surgindo, com impactos cada vez menores devido à vacinação, mas ainda capazes de gerar surtos localizados e afetar especialmente grupos vulneráveis e não vacinados. Uma situação pior aconteceria se essas variantes escapassem significativamente a cobertura das vacinas atuais, o que demandaria atualizações mais frequentes e mais doses de reforço. Sendo otimista, podemos esperar também um futuro em que as novas cepas são cada vez mais fracas e não demandem tanto reforço. “Trabalhamos também com um cenário de recomeço, onde surge um novo vírus completamente novo que nos jogue de volta a 2020, por isso precisaremos estar sempre preparados”, disse Kerkhove.

Apesar das muitas críticas ao enfrentamento global da pandemia, a palestrante elogiou a solidariedade global entre cientistas, integrando dados, inteligência e equipes laboratoriais. “Quando me perguntam quantas pessoas estão na minha equipe, eu respondo ‘milhares!’, são tantos contatos internacionais, tantas pessoas disponíveis, que, de certa forma, nós da ciência estivemos todos no mesmo time”. Entretanto, a mesma colaboração não foi observada entre governos, e os níveis vacinais dos países mais pobres atestam isso. “Atualmente, apenas 54 dos 193 países existentes no mundo atingiram a meta da OMS de 70% da população vacinada”, apontou Kerkhove.

A palestrante fez questão de frisar que, embora a meta global seja de 70%, esse número precisa estar distribuído de forma equitativa, com especial cuidado com os grupos vulneráveis. “Precisamos cobrir 100% dos grupos de risco”, alertou. Atualmente, 11,7 bilhões de doses já foram aplicadas no mundo inteiro, com 59% da população global com o ciclo vacinal completo e 66% ainda incompleto. “Temos muito trabalho pela frente para fortalecer a arquitetura de saúde global. Entramos num período de negligência, e muitos sistemas estão sendo desmontados. Temos que lembrar que não existe paz na preparação para pandemias”, reforçou.

Por fim, Kerkhove lembrou que todos os aspectos da sociedade foram afetados pela pandemia, e que, por isso, sistemas de preparação devem ser muito amplos. O vírus causou disrupção não apenas na saúde, mas na economia, na produção de alimentos, na educação e até no clima – com a diminuição de investimentos em energias renováveis. “Todos tivemos nosso futuro alterado”, declarou. “Precisamos de governança, inovação, comunicação, treinamento de pessoal, e, não menos importante, bom senso”, concluiu.

Debate

Após a palestra, o espaço foi aberto para os participantes lançarem perguntas, e alguns temas mais específicos foram abordados.

Solidariedade internacional

Respondendo a uma pergunta sobre a imunização de países subdesenvolvidos, Kerkhove analisou que faltou mais engajamento das nações ricas. “Faltou logística, estratégia, prioridades, enfim, acesso equitativo aos imunizantes”, disse. Outro problema foi o monitoramento insuficiente e as barreiras que muitos países impuseram aos observadores internacionais. “Existiu pouco incentivo à transparência devido às consequências geopolíticas, como restrições de viagens e problemas na imagem internacional”.

Quanto à OMS, a palestrante lembrou que a organização foi muitas vezes tragada no debate político, o que só contribuiu para o crescimento da desinformação. Ela considera que o financiamento ainda é insuficiente para cobrir todas as frentes de atuação da entidade. “Nosso orçamento é menor do que o de um único grande hospital de Nova York, somos gratos pelo que recebemos, mas precisamos de mais”, ressaltou.

Testes caseiros

Recentemente, foram disponibilizados no mercado testes de covid-19 de aplicação individual, o que levantou dúvidas sobre a eficácia diagnóstica e de controle epidemiológico. Para Kerkhove, contanto que sejam fáceis e intuitivos, esses testes são bem-vindos, e colaboram para um maior monitoramento. Entretanto, estes precisam estar ligados de alguma forma a uma base de dados para controle. “Nos EUA temos testes que podem ser contabilizados por QR code, mas que ainda não estão ligados a uma base de dados do governo. Isso mostra que a tecnologia existe e deveria estar sendo utilizada”, exemplificou.

Assista ao 2º dia da Reunião Magna pelo YouTube da ABC, em português ou inglês:

Matéria do JN traz participação de Acadêmico

Confira a matéria veiculada no G1 e no Jornal Nacional de 26/01 sobre as repercussões da nota técnica antivacina e pró-hidroxicloroquina do Ministério da Saúde. O Acadêmico Luiz Carlos Dias foi entrevistado e fez duras críticas ao Ministério.

O Ministério da Saúde publicou uma nova nota técnica para substituir a da semana passada com orientações sobre tratamento da Covid. Mas continua lá a defesa da cloroquina, que foi o principal alvo das críticas dos especialistas e entidades médicas.

A nota técnica de sexta-feira (21) dizia que a hidroxicloroquina, que a ciência já descartou, é eficaz e condenava a vacina, que a ciência atestou.

Num quadro com o título “Tecnologias em saúde propostas para Covid”, fazia uma comparação entre o kit Covid e a vacina. Nos quesitos que perguntavam se há demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizados – quando parte dos voluntários recebe medicamento e a outra parte, placebo – e se há demonstração de segurança em estudos experimentais e observacionais, as respostas eram “sim” para hidroxicloroquina e “não” para vacinas.

As reações foram imediatas. Logo após a publicação, entidades médicas fizeram duras críticas. A Associação Médica Brasileira chegou a dizer que o documento constitui afronta grave ao enfrentamento da pandemia.

O Ministério da Saúde revogou a nota de sexta-feira por considerar que ela ensejou incorretas interpretações e publicou nova retirando o quadro comparativo. O texto em que defende o uso da hidroxicloroquina foi mantido.

Na prática, ao retirar apenas a tabela, o ministério manteve a posição que o governo adota desde o início da pandemia, em afronta à ciência e às orientações da Organização Mundial da Saúde e das agências de saúde do mundo todo, e ainda desconsidera o resultado dos estudos encomendados pelo próprio ministério para a Conitec – a comissão que auxilia o governo na adoção de políticas públicas. Depois de meses de estudos, a Conitec rejeitou o uso do kit Covid. Especialistas afirmam que o texto publicado nesta quarta continua absolutamente sem nenhum respaldo científico.

Afronta à inteligência dos cientistas brasileiros, dos pesquisadores na área de saúde, de todas as sociedades médicas. Voltar a falar em hidroxicloroquina hoje, gente, depois do sucesso das vacinas, mostra que o Ministério da Saúde está se afastando da ciência, da informação correta, está se afastando da verdade. Essa nota vai totalmente na contramão da ciência, da defesa da vida, daquilo que está pregando a Organização Mundial da Saúde. Está indo contra todas as sociedades científicas e médicas brasileiras e mundiais. Parece que, infelizmente, não há limite para o charlatanismo no país”, diz o professor Luiz Carlos Dias, membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

(…)

Nesta quarta, a ministra Rosa Weber deu prazo de cinco dias para que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o secretário apresentem explicações. O Ministério da Saúde disse que vai se manifestar dentro do prazo.

(…)

Leia a matéria completa, com vídeo da matéria, no G1.

#VouVacinar: participe da campanha nas redes sociais!

Durante a semana de 17 a 21 de janeiro, o Movimento Todos pelas Vacinas estará organizando a campanha #VouVacinar, com o objetivo de combater a desinformação contra a vacinação infantil. Com a ajuda de artistas e personalidades, além de divulgadores científicos, o movimento almeja promover a divulgação de conteúdo confiável e estimular a imunização de crianças de 5 a 11 anos.

Todos pelas vacinas é uma rede criada por organizações ligadas à divulgação científica e ao combate à desinformação, unidas com um único objetivo: promover a conscientização sobre a importância da vacinação contra a Covid-19 e outras doenças preveníveis por vacinas. 

Se você é cientista e deseja participar da campanha, envie seu material (arte, vídeo, imagem) para blogs@unicamp.br e todospelasvacinas@gmail.com. O conteúdo será incluído no site do Movimento. Além disso, dessa vez, as crianças também poderão participar! Quem tem de 5 a 11 anos pode enviar desenhos respondendo à pergunta:”Por que quando chegar minha vez eu #VouVacinar?” para os mesmos emails.

Na sexta-feira, dia 21, haverá uma intensa ação nas redes sociais, com o uso da hashtag e divulgação dos conteúdos enviados. Não deixe de participar! A ABC participará da ação virtual nas redes sociais e publicará uma cobertura completa no site.

Caso tenha alguma dúvida, entre em contato via mensagem direta com as contas @BlogsUnicamp ou @tdspelasvacinas no Twitter.

Vacinação de crianças: Precisamos criar uma onda de empatia para contagiar o país

Confira o artigo escrito pelo Membro Titular da ABC Luiz Carlos Dias para o Jornal da Unicamp:

 

A carga da covid-19 não é negligenciável para as crianças. Segundo os boletins epidemiológicos publicados no site do Ministério da Saúde, para a faixa etária 0 a 19 anos, o número de óbitos em 2020-2021 é de 2.625, o que implica em uma média de quatro óbitos por dia. Foram 791 óbitos na faixa etária menor que 1 ano, 397 na faixa de 1 a 5 anos e 1.437 na faixa de 6 a 19 anos. Além disso, temos mais 3.327 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com causa não especificada, o que pode incluir óbitos por covid-19. É importante observar, no entanto, que os dados totais de óbitos estão desatualizados, visto que somando os óbitos em todas as faixas etárias para 2020-2021, a soma é 564.506, quando hoje temos 620.281 pelo consórcio de imprensa (diferença de 55.775 óbitos).

Os dados estão desatualizados desde que o Ministério da Saúde sofreu um suposto ataque hacker ao Conecte SUS que ninguém até agora conseguiu desvendar. A falta de dados e transparência deixa o país sem saber a real gravidade da pandemia no momento.

Dados de óbitos de crianças

Um levantamento do UOL junto a cartórios de registro civil do país traz dados sobre óbitos de crianças na faixa etária de 5 a11 anos causados por covid. Conforme a Tabela 1, foram 324 óbitos. Os dados foram retirados do portal da transparência da Arpen-Brasil (Associação de Registradores de Pessoas Naturais).

Tabela 1. Óbitos de crianças por idade no Brasil em 2020/2021 causadas por covid-19

Fonte: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2022/01/10/covid-ultimas-a-serem-vacinadas-criancas-de-5-anos-sao-as-que-mais-morrem.htm
Fonte: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2022/01/10/covid-ultimas-a-serem-vacinadas-criancas-de-5-anos-sao-as-que-mais-morrem.htm

A Tabela 2 mostra uma estimativa da população brasileira por faixa etária para o ano de 2022. O total de crianças e adolescentes na faixa etária de 5 a 11 anos corresponde a 10% da população brasileira e na faixa de 0 a19 anos, a 28% da população. Os jovens de 18 e 19 anos já estão sendo vacinados, assim como os adolescentes de 12 a17 anos, 8% da população.

Tabela 2. Estimativa da população brasileira por faixa etária em 2022

Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População de Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises de Dinâmica Demográfica.
Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População de Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises de Dinâmica Demográfica.

Nós não podemos admitir crianças morrendo por covid-19, quando temos à nossa disposição vacinas que evitam formas graves da doença. É inadmissível crianças sendo hospitalizadas e vindo a óbito por uma doença prevenível por vacina.

Segundo um levantamento do Instituto Butantan, na faixa de 0 a 11 anos o número de óbitos é de 1.449 mil crianças. Muito ao contrário do que apontam os números frios, são pais, mães, avós e familiares sofrendo com a perda dessas crianças. Cada uma delas tinha sonhos, tinha um futuro. Muitas não tinham nenhum tipo de doença, até que a covid chegou e com ela o negacionismo, o obscurantismo, os antivacinas, os criadores de fake news assassinas.

A Anvisa aprovou a vacina pediátrica da Pfizer/BioNTech

A vacina pediátrica da Pfizer/BioNTech foi testada em quase três mil crianças de 5 a 11 anos, com eficácia de mais de 90% e sem efeitos colaterais diferentes dos observados para qualquer outra vacina infantil. A vacinação infantil é recomendada pelas sociedades brasileiras de PediatriaPneumologia e TisiologiaImunologiaImunizaçõesInfectologiaAssociação Brasileira de Alergia e ImunologiaAssociação Médica BrasileiraConselho Nacional de Secretários da SaúdeCâmara Técnica de Assessoramento em Imunizações, Associação Brasileira de Saúde Coletiva, e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.

A OMS concluiu que os benefícios das vacinas de mRNA, em todas as idades, superam o risco da infecção pela covid-19. Inúmeros órgãos e sociedades científicas e médicas internacionais também incentivam a vacinação na faixa etária pediátrica, não apenas para prevenir a doença, mas também para conter a transmissão do vírus. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e as sociedades científicas brasileiras também defendem a vacinação de crianças.

Não caia nas fake news espalhadas nas redes sociais pelos negacionistas e ativistas antivacina. Esses negacionistas representam o gabinete do ódio, que espalha fake news e desinformação que mata. O atraso em vacinar nossas crianças é uma negação absolutamente inacreditável e inaceitável da ciência. As campanhas para desacreditar as vacinas, que estão salvando milhões de vidas, são criminosas.

Vacinação de crianças e a tal consulta pública

Desde a aprovação da Anvisa, já se passaram 26 dias. Poderíamos estar vacinando e protegendo nossas crianças. Não estamos porque o Ministério da Saúde não havia comprado as vacinas, porque resolveu fazer uma consulta pública para agradar as bases negacionistas e colocar em pé de igualdade, cientistas e médicos sérios que defendem a vida, a ciência e as melhores evidências científicas, e um grupo de charlatães que se posicionam contra a ciência, contra as evidências científicas, que defendem pseudociência e achismos. Isso significa colocar no mesmo espaço cientistas respeitados com os reis e rainhas das teorias da conspiração; a Ciência contra a pseudociência e barbárie. O contraditório é importante, mas o que esses negacionistas defendem, criando e espalhando fake news, assusta e preocupa a população. As falas dos antivacinas na consulta pública foram um verdadeiro show de horrores, quando, infelizmente, eles tiveram a oportunidade de espalhar mentiras e distorcer dados usando uma plataforma que o governo federal ofereceu para pessoas irresponsáveis que se opõe a vacinas por questões comerciais, religiosas ou ideológicas.

Em consulta pública realizada pelo Ministério da Saúde sobre a vacinação em crianças de 5 a 11 anos de idade, maioria se manifestou contrária à necessidade de apresentação de prescrição médica para vacinação. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Em consulta pública realizada pelo Ministério da Saúde sobre a vacinação em crianças de 5 a 11 anos de idade, maioria se manifestou contrária à necessidade de apresentação de prescrição médica para vacinação. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Obrigatoriedade de vacinação de crianças

Ninguém pode cercear o direito à vacinação de crianças, garantido pela Lei 8.609 de 1990, como disposto no artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):

Artigo 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos.

  • 1º. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016).

Nós esperamos outra postura de compromisso com a saúde de nossas crianças e adolescentes por parte do Ministério da Saúde, que deveria estar orientando a população, organizando campanhas nacionais de esclarecimento e conscientização da sociedade nas várias mídias, em horário nobre.

Independentemente de quem é considerada a autoridade sanitária no ECA, se a Anvisa ou se o Ministério da Saúde, após inclusão da vacina no Plano Nacional de Imunizações (PNI) e no calendário vacinal pelo Ministério da Saúde, a vacinação das crianças dependerá de conscientização coletiva, de esclarecimento e informação para que pais, avós e responsáveis entendam a sua importância. Caso não tenhamos alta adesão, como estamos em situação de grave crise sanitária com a pandemia, pode ser necessária a obrigatoriedade da vacinação de crianças.

Covid-19 também causa sequelas irreversíveis

Crianças com covid podem precisar de hospitalização, podem ter casos de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) associada à covid-19, apresentar sintomas persistentes e covid longa, o que pode prejudicá-las por toda a vida, podem ter sequelas irreversíveis, neurológicas, respiratórias, cardiovasculares e outras complicações, crianças podem morrer. A Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) é uma grave complicação da infecção pelo Sars-CoV-2 em crianças, uma condição que gera inflamações em diferentes partes do corpo, incluindo coração, pulmões, rins, cérebro, pele, olhos ou órgãos gastrointestinais. As crianças também podem transmitir o vírus para outras crianças, para pais, avós, que moram no mesmo lar, pessoas que têm comorbidades.

Hoje temos cerca de 76% da população vacinada com a primeira dose, aproximadamente 68% estão imunizados e pouco mais de 14,4% tomaram a dose de reforço.

Precisamos vacinar cerca de 90% da população brasileira com todas as doses necessárias para nos proteger de todas as variantes, além de manter as medidas não farmacológicas – uso de máscaras, distanciamento físico, evitando locais fechados e com pouca ventilação. Para atingir esse percentual, precisaremos de alta cobertura vacinal em nossas crianças. Assim, todas as crianças poderão voltar às escolas sem medo.

Vacinação de crianças reduzirá a transmissão do vírus e dará mais segurança para pais e responsáveis no retorno às aulas
Vacinação de crianças reduzirá a transmissão do vírus e dará mais segurança para pais e responsáveis no retorno às aulas

A imunização da faixa etária de 5 a 11 anos, que corresponde a aproximadamente 10% da população (Tabela 2), vai colaborar com a mitigação de formas graves e óbitos por covid-19 nesse grupo, reduzirá a transmissão do vírus e será uma importante estratégia para que as atividades escolares retornem ao modo presencial.

Precisamos continuar esclarecendo a população brasileira sobre a importância de tomar a dose de reforço e de vacinar nossas crianças. As populações mais vulneráveis são as mais afetadas e não têm acesso à informação qualificada que salva vidas.

É fundamental evitar que o vírus circule livremente entre as crianças, pois a ciência sabe que pessoas não vacinadas são as maiores fontes de mutações. Só assim poderemos evitar o surgimento de uma variante mais perigosa e agressiva para as crianças que, ao serem infectadas, podem funcionar como um reservatório para o Sars-Cov-2.

Enquanto o mundo não for vacinado e as pessoas continuarem a não usar máscaras e aglomerando, nós vamos conviver com variantes e teremos que tomar mais doses de vacinas. Isso é tudo que os antivacinas querem para continuar dizendo que as vacinas não são eficazes. As vacinas estão salvando milhões de vidas, mas elas oferecem uma das camadas de proteção.

Nós sabemos que nenhuma vacina protege 100% e podem surgir casos isolados onde houve falha vacinal. Os antivacinas e os negacionistas sempre vão usar estes casos isolados. Nós vamos salvar mais vidas e proteger mais as crianças com a vacinação em massa, então, deixemos nossas crianças fora dessas questões ideológicas.

Vamos criar uma onda de empatia! Assim que nossas crianças começarem a ser vacinadas, vamos espalhar fotos nas mídias sociais. Isso vai contagiar pais, mães e avós a vacinar mais crianças.

Leia o artigo no Jornal da Unicamp

‘Cada dia sem vacinar as crianças é um dia dado ao vírus para se espalhar’, diz virologista

Confira a entrevista de Amílcar Tanuri para o jornal O Globo, publicada em 06/1. Tanuri é coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

 

Considerado um dos virologistas mais experientes do Brasil, Amílcar Tanuri afirma que a pandemia está perto do fim, mas para conseguir isso será preciso vacinar as crianças o mais depressa possível. Sem a proteção dos imunizantes, elas são o alvo mais vulnerável para a transmissão do coronavírus. Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alerta ainda para o alto preço que o explosivo espalhamento da Ômicron já cobra ao país.

Por que estamos vendo tantos casos novos?

Porque a Ômicron é extremamente transmissível e está circulando com intensidade. Se sequenciarmos os vírus de todo mundo, veremos que ela já domina. Isso foi previsto e deve aumentar muito depois das festas de fim de ano. Porém, é importante destacar que isso até agora não resultou no aumento expressivo de casos de doença grave e morte.

Por quê?

A Ômicron, ao que tudo indica, é muito mais transmissível, mas menos patogênica. Mas há um dano sério que a Ômicron já provoca.

Qual?

Ela mata de forma indireta ao tirar da linha de frente profissionais de saúde, que, por serem muito expostos, correm maior risco de serem infectados. Mesmo que os casos deles sejam assintomáticos ou leves, eles precisam se isolar e deixam de trabalhar. E isso afeta não apenas o combate da Covid-19, mas de todas as doenças. A alta circulação da Ômicron também fere a economia e atrapalha a retomada das empresas. É preciso estabelecer um protocolo para esses casos.

(…)

Qual a urgência agora?

É vacinar as crianças de 5 a 11 anos. Já perdemos tempo demais com a relutância sem fundamento do governo federal em vacinar as crianças. Agora, temos que correr. Cada dia sem vacinar as crianças é um dia dado ao vírus para se espalhar entre elas.

As crianças chegarão sem uma segunda dose às escolas. Qual o risco?

É fundamental que elas voltem às aulas. Existe risco de contágio para as crianças e o governo federal, ao demorar a vaciná-las, aceitou o risco de Covid-19 para as crianças. Infelizmente, por causa disso, perdemos o melhor momento de contenção.

Há dois anos enfrentamos essa pandemia. Em que ponto estamos?

Acredito que estamos perto do fim. Mas temos que tomar as rédeas da situação. Isso é feito com vacinação em massa, distanciamento social e máscara, vigilância e testagem. Não é o momento para aglomerações no Carnaval. Se não tivermos blocos, será muito bom para conter a transmissão.

(…)

O que podemos esperar ao longo deste ano?

É muito possível que o coronavírus se atenue e se torne um vírus sazonal, menos patogênico e com menor capacidade de transmissão. Mas é preciso continuar a fazer sequenciamento genético, estudos virológicos. Esse vírus precisa ser mantido sob extrema vigilância, cercado. Vírus estão só à espera de uma janela de oportunidade para se espalhar.

(…)

Qual a perspectiva para a vacinação?

Possivelmente, o ciclo da Ômicron não vai durar muito. O da Delta foi de cerca de dois meses, o da Ômicron pode ser de menos. E no inverno já deveremos estar em condições de começar a planejar o calendário de vacinação de 2023, identificar os grupos que precisam de reforço.

O reforço não será para todos? Por quê?

Porque é inviável manter por tempo indefinido uma vacinação com três ou quatro doses de toda a população mundial. É possível fazer por um ou dois anos, mas não para sempre. A tendência é que possa se determinar melhor quem são os grupos de risco que precisam tomar reforços regulares.

Há laboratórios, como a Moderna, que planejam desenvolver vacinas específicas contra a Ômicron. Vamos precisar mudar a formulação das vacinas ao sabor das variantes, como acontece com a gripe?

Podemos pensar em vacinas para cepas emergentes mais perigosas, mas esse não seria meu investimento principal. Mais importante é investir no desenvolvimento de formulações de vacina que proporcionem uma proteção mais duradoura. Por exemplo, o ideal seria ter um imunizante que precisasse de apenas uma dose por ano.

 

Acesse a entrevista completa aqui.

Acadêmico explica a importância da vacinação de crianças e adolescentes

A Anvisa aprovou recentemente a imunização de crianças entre 5 e 11 anos com a vacina pediátrica da Pfizer. No último dia 15, o Instituto Butantan solicitou também a aprovação do uso da Coronavac em pessoas de 13 a 17 anos. A vacinação de crianças e adolescentes vêm sendo alvo de ataques negacionistas apoiados pelo governo federal, que ainda não adquiriu os imunizantes da Pfizer, e servidores da Anvisa já relataram ameaças e solicitaram, inclusive, proteção policial.

O professor do Instituto de Química da Unicamp e membro titular da ABC, Luiz Carlos Dias, gravou um rápido vídeo defendendo a imunização dessa faixa etária e classificando a decisão do governo de realizar uma audiência pública sobre o tema como “absurda”. O especialista fez um levantamento, utilizando dados públicos, dos números da Covid-19 entre crianças e adolescentes no país.

De acordo com os boletins do Ministério da Saúde, 2.625 pessoas de até 19 anos já morreram no país por Covid-19, número que leva em conta apenas casos confirmados e muito provavelmente está subrepresentado. Além de óbitos, crianças e adolescentes também sofrem com sintomas persistentes e sequelas irreversíveis da infecção. Os efeitos vão desde insônia até síndromes inflamatórias multissistêmicas.

Confira o vídeo completo:

teste