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Mostrando que Belém também é metrópole

A riqueza da biodiversidade amazônica suscita cada vez mais estudos sobre novas formas de promover o seu uso sustentável. A química Joyce Kelly é uma dessas pesquisadoras e, há mais de dez anos, investiga as potencialidades dos óleos essenciais da região na produção de insumos para a indústria. O grupo de pesquisa do qual faz parte já catalogou três mil espécies aromáticas, muitas delas com atividade fungicida, inseticida e larvicida, outras com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e analgésicas, e algumas ainda com potencial uso no tratamento da doença de Alzheimer.

De acordo com a cientista, os ativos da natureza carregam a vantagem de interagir bioquimicamente com os componentes do corpo humano e promover modificações fisiológicas na pele, retardando, por exemplo, seu processo de envelhecimento. É nesse contexto que Joyce busca investigar as atividades dos óleos como inibidores da tirosinase – uma enzima que desempenha um papel importante na síntese da melanina, responsável pela pigmentação da pele, cabelo e olhos – que podem atuar como clareadores. “Os óleos essenciais podem agir como antioxidantes naturais e, assim, combater o estresse oxidativo, um desequilíbrio que ocorre quando a produção de radicais livres do organismo supera a de antioxidantes”, explica.

A intenção de Joyce é identificar a atividade biológica desses óleos para compor e enriquecer novas formulações cosméticas naturais. “É muito comum encontrar na Amazônia espécies que não são caracterizadas quimicamente, e queremos tornar isso possível através da pesquisa. Precisamos checar onde elas existem, quais são seus componentes químicos e permitir que tenham um cultivo viável, para não agredir o meio ambiente”, revela. Além de contribuir para o cultivo de fontes renováveis, a pesquisadora quer colaborar com o desenvolvimento econômico da região, em parceria com fabricantes nacionais e internacionais. “É um sonho agregar o conhecimento científico com a indústria, pois faltam condições de manejo específico para gerar economia para a Amazônia. Muitas espécies não são exploradas em todas as suas potencialidades e temos embasamento científico para promover isso”, conta.

Natural de Belém, a paraense de 31 anos iniciou seus estudos em 1999, quando ingressou no curso de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA). Fascinada pela química, devido ao seu leque de aplicações principalmente na Amazônia, Joyce começou a estudar os extratos das espécies da região ainda na graduação, dando continuidade durante o mestrado (2006) e o doutorado (2010) em Química Orgânica com ênfase em Produtos Naturais, concluídos na mesma instituição. A paixão pela pesquisa se soma à outra, bastante evidente por seus colegas e alunos: a maquiagem.

Apesar da rotina intensa – acorda às seis da manhã, passa oito horas no laboratório, ministra aulas na graduação e na pós-graduação, e orienta alunos em seus projetos de pesquisa -, Joyce não abre mão de estar sempre em dia com a beleza. “Sou vaidosa e me autodenomino a professora maquiada. Fico atenta às novidades do mercado e as pessoas costumam elogiar quando posto no Facebook os meus looks de maquiagem. Dizem, inclusive, que o prêmio da LOréal caiu como uma luva”, brinca.

Estudando materiais porosos que possam ser utilizados como detectores de gases

O amor pela física transformou-se em um casamento, literalmente, com um pesquisador do mesmo instituto, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A cientista Raquel Giulian, de 32 anos, e um filho de um ano e dez meses, Heitor, não esconde o apreço em discutir e receber contribuições para pesquisas na sua própria casa. Mas foi com a equipe da universidade que a física premiada deste ano desenvolveu o estudo que tem como principal objetivo o estudo de materiais porosos que podem ser utilizados como detectores de gases.

Na prática, esses materiais são de grande utilidade para a indústria petroquímica, em que é necessário detectar a presença de certos gases corrosivos, mesmo em pouquíssimas quantidades, para evitar danos às tubulações, equipamentos e ao meio ambiente. O estudo explora a produção de semicondutores porosos através da implantação iônica. Nessa técnica, íons com velocidade muito alta são arremessados contra o material sólido e, ao penetrarem no meio, causam uma certa desordem de nível atômico. Em materiais como os antimonetos de índio e gálio (InSb e GaSb) – semicondutores sólidos compactos – o resultado é a formação de poros, que tornam a região implantada semelhante a uma esponja. “Estamos investigando as condições necessárias para a fabricação desses materiais, suas características físicas, propriedades elétricas, fotovoltaicas, entre outras, para explorar de forma mais eficiente o desenvolvimento de novas tecnologias”, explica.

O caminho para chegar até aqui foi longo. Olhando sua trajetória na ciência, é difícil acreditar que a Dra. Raquel prestou vestibular para ir atrás de, até então, seu maior sonho: poder frequentar um grande instituto de música. Com o lado artístico nas veias, ainda menina apareceu como figurante nas gravações do filme “O Quatrilho”, participou durante anos das atividades do CTG Cancela do Imigrante, além de apreciar poesia e tocar piano, violão e violino. Para se manter na universidade e ainda estudar música, voltava para sua cidade nos finais de semana como professora de piano e ainda vendia bombons para os colegas e professores. Além de tudo isso, estudava dobrado, uma consequência da educação defasada no colégio do interior. “Na universidade nunca fui uma aluna nota 10. A nota é um mérito para quem estudou, mas não quer dizer tudo. Boa vontade e persistência são mais importantes”, aconselha aos seus alunos.

Após terminar a graduação na UFRGS, em 2002, cursou dois anos de mestrado em física na mesma universidade. Em seguida, realizou doutorado e pós-doutorado pela Australian National University, na Austrália, onde se especializou no estudo de nanopartículas. O convite para trabalhar com materiais porosos aconteceu neste período, quando surgiu a ideia de adaptar suas análises para a pesquisa dos poros no Brasil. “O Brasil de hoje é um país muito competitivo e tem todas as condições para se tornar referência na pesquisa, mas ainda faltam investimentos. Temos que sair do país para que o estudo avance rapidamente. Existe carência de equipamentos e capital, mas sobra burocracia. Por isso, o prêmio veio em um ótimo momento para darmos seguimento ao projeto”, diz.

Nanotecnologia no tratamento de infecções oculares

Quando tinha apenas 26 anos, a jovem mineira Taís Gratieri, nascida na cidade de Alfenas, já defendia sua tese de doutorado (2010) na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Com pais professores, foi criada em contato com muitos livros e, desde cedo, incentivada a prosseguir com seus estudos.

Hoje, aos 30, professora adjunta de Farmacotécnica e Cosmetologia da Universidade de Brasília (UnB), ela lembra que foi natural terminar a graduação em farmácia-bioquímica na USP (2005) e já iniciar seu doutorado na mesma instituição, com um período de estágio, na Universidade de Saaland (2009), Alemanha.

A pesquisa pela qual foi laureada estuda o desenvolvimento de novas formulações para o tratamento da ceratite fúngica, uma infecção causada por fungos na córnea, comum em países de clima quente e, que, na maioria dos casos, pode levar à perda completa da visão. O estudo é baseado no desenvolvimento de nanossistemas lipídicos mucoadesivos com efeitos potencializados pela aplicação da iontoforese – técnica que utiliza uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a penetração de fármacos nos tecidos.

“Espera-se, primeiramente que, por serem mucoadesivos, tais sistemas sejam capazes de aderir melhor na superfície ocular, além de possuir tempo de residência prolongado, liberando maior quantidade de fármaco para os tecidos infeccionados” explicou Taís . Para isso, um antifúngico será encapsulado em lipossomas revestidos por quitosana, um polímero com reconhecidas propriedades mucoadesivas. Em seguida, serão avaliadas as atividades in vitro do fármaco livre e encapsulado, com e sem a aplicação da iontoforese. “Os resultados obtidos permitirão o desenvolvimento de nanossistemas lipídicos otimizados para a incorporação de diferentes agentes anti-infecciosos”, completou.

Os bons resultados obtidos em sua pesquisa na Alemanha geraram um convite para o pós-doutorado na Universidade de Genebra, na Suíça, com um dos maiores especialistas do mundo em iontoforese.

Na Suíça, onde trabalhou por dois anos, atuou em projetos de desenvolvimento de produtos tecnológicos em colaborações com indústrias farmacêuticas e cosméticas.

Em 2012, a cientista retornou ao país por meio do Programa Ciência sem Fronteiras -Atração de Jovens Talentos, que busca trazer de volta doutores que estão no exterior. Depois de passar por várias cidades, a pesquisadora encontrou seu lugar em Brasília, onde se sente privilegiada por ter todas as vantagens de uma cidade grande que ainda mantém uma aparente tranquilidade de interior. No tempo livre, adora ir ao cinema e assistir a apresentações musicais.

Ela conta que ficou extremamente feliz com a notícia do prêmio. “Enquanto eu cursava o doutorado, trabalhei com uma professora que ganhou este prêmio em Portugal e lembro que me impressionou muito. Eu a admirava e sonhava em um dia ser reconhecida assim”, comenta Taís.

Nesse momento da sua vida, o prêmio adquire um novo significado. “Por um lado fico lisonjeada em saber que posso servir de inspiração para minhas alunas, como aquela professora me inspirou. Mas, principalmente, espero trazer ainda mais incentivo ao curso de Farmácia da UnB, onde ainda temos que lutar para construir uma infraestrutura mínima para dar seguimento às pesquisas”, destacou Taís. Acrescentou ainda que espera que este prêmio leve reconhecimento para o seu grupo de pesquisa “e desperte o interesse das empresas para as inúmeras parcerias que podemos fazer e contribuir para levar novos produtos ao mercado, além de aumentar a inovação tecnológica do país e a saúde da população”.

Morre Ricardo de Carvalho Ferreira, presidente de honra da SBPC

O químico Ricardo de Carvalho Ferreira, professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), morreu hoje pela manhã, em sua casa no Recife, de falência múltipla dos órgãos. A SBPC, na qual Ferreira ingressou em 1950, lamenta profundamente a perda deste grande cientista e um dos químicos teóricos mais importantes do Brasil. Nascido na capital pernambucana em 16 de janeiro de 1928, foi presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP).

Iniciou sua graduação em Química, em 1946, no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), onde permaneceu por três anos, tendo concluído seu bacharelado na Universidade Católica de Pernambuco, em 1952. Em seguida, começou a dar aulas em colégios até 1954, quando assumiu um cargo de professor assistente na UFPE. Em 1955, durante a 7ª Reunião Anual da SBPC, apresentou o trabalho O cálculo das constantes de ionização dos ácidos oxigenados, que no ano seguinte serviria como tese de docência. Em 1961, recebeu o título de doutor em ciências pela UFPE com a tese “Interação do Mercúrio (II) com Purinas e Pirimidinas”.

Em 1957, com uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi trabalhar no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro. No ano seguinte, conseguiu uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller e foi para os Estados Unidos, onde desenvolveuimportantes trabalhos experimentais no California Institute of Technology, o Caltech. De volta ao Brasil, foi convidado por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira,para participar da criação da Universidade de Brasília (UnB). Entre 1963 e 1966 esteve de novo nos Estados Unidos. Em 1983, iniciou a consolidação do Departamento de Química Fundamental da UFPE, na qual se aposentou em 1994.

Autor de uma obra científica significativa no campo da química teórica, que inclui vários artigos e alguns livros, Ferreira orientou gerações de físico-químicos brasileiros. Foi professor visitante de diversas instituições, entre elas Centro Latinoamericano de Física, Indiana University, Bloomington, Columbia University, EarlhamCollege, Université de Genève, UCSD, La Jolla.

Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu várias honrarias e prêmios ao longo de sua carreira. Entre eles, destacam-se a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto em Química do CNPq, a Medalha Simão Mathias da Sociedade Brasileira de Química, Pesquisador Emérito do CBPF e Pesquisador Emérito do CNPq.

Deixa esposa, filhos e netos e uma saudade imensa em todos os que tiveram o privilégio de com ele conviver.

Cientistas se articulam contra o PL 4699/2012

No dia 10 de julho de 2013, os presidentes da ABC, Jacob Palis, e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, enviaram uma carta à Câmara dos Deputados opondo-se à aprovação do Projeto de Lei (PL) 4699/2012.

Leia abaixo o documento na íntegra: “Exmo. Senhor Deputado FRANCISCO RODRIGUES DE ALENCAR FILHO
Câmara dos Deputados

Senhor Deputado,

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) apoiam e reforçam a posição das diversas sociedades científicas e associações profissionais, em relação à tramitação do PL 4699 de 2012, de autoria do senador Paulo Paim. Solicitamos que a tramitação seja imediatamente interrompida, para que debates amplos e audiências públicas possam ser realizados com toda a sociedade brasileira.

O projeto tem problemas graves e, se aprovado na forma em que está, trará sérios prejuízos ao Brasil e ao ensino superior de inúmeras disciplinas relacionadas com a História.

O PL 4699/2012 estabelece que apenas portadores de diploma de História (graduação ou pós-graduação) poderão ministrar disciplinas de História, em qualquer nível, bem como elaborar trabalhos sobre temas históricos. No entanto, existem diversas áreas de pesquisa e ensino cujo nome inclui “História” e que, no Brasil e no exterior, são atividades que podem ser desenvolvidas por profissionais de outras áreas que não tenham diploma em História. Como exemplo, citamos: História da Medicina, História da Física, História da Biologia, História da Psicologia, História do Direito, História da Arte, História da Filosofia, História da Literatura, História da Matemática, História da Computação, História da Educação, História Militar, entre várias outras.

A atual redação do Projeto de Lei 4699/2012 proíbe todos os atuais professores de ensino superior que não possuem diploma de História e que ministram disciplinas citadas acima de continuarem a ministrar essas aulas. E para aumentar nossa preocupação em relação ao impacto deste projeto, informamos aos senhores deputados que os cursos de graduação em História não incluem qualquer daquelas disciplinas; e raramente os cursos de pós-graduação em História incluem alguma delas. Portanto, senhores deputados, ter um diploma de História não garante o domínio do conhecimento das áreas mencionadas acima, podendo consequentemente, comprometer a qualidade do ensino e da pesquisa de tais áreas.

Diante do exposto, solicitamos aos senhores deputados que não votem o PL 4699/2012 antes da realização de audiências públicas que permitam que os diversos profissionais envolvidos no ensino e pesquisa dos diversos temas históricos se posicionem de forma a contribuir com o aprimoramento do projeto e com a tomada de decisão dos senhores.

Atenciosamente,

HELENA B. NADER
Presidente da SBPC

JACOB PALIS
Presidente da ABC”

Reduzindo distâncias entre a academia e as empresas

A ciência avança por vários caminhos e um deles busca aproximar cientistas e empresários. Com o objetivo de encurtar a distância, o simpósio Academia-Empresa promoveu um encontro na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, onde a UFRJ divide espaço com a Petrobras e outras indústrias. O simpósio aconteceu em 16 de outubro, no auditório do Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro (SECT-RJ), a Coppe/UFRJ, o Parque Tecnológico do Rio e com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Academia-Empresa

O simpósio investe na interação entre a academia e as empresas. Sua primeira edição ocorreu em 2010, durante a Feira da Ciência, Tecnologia e Inovação da Faperj, em parceria com a SECT-RJ. O objetivo era apresentar casos de sucesso de empresas que apostaram na inteligência nacional, contratando doutores brasileiros e investindo em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Em dois anos, outras edições do evento foram realizadas em Manaus, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo, com perspectivas em Porto Alegre.

Na visão da Academia Brasileira de Ciências, este simpósio aproxima setores indispensáveis para o desenvolvimento do país.”Na sua realização, a Academia congrega empresas grandes, médias, pequenas, brasileiras e estrangeiras, cientistas, gestores e organizações civis, incentivando uma troca de conhecimento entre universidades, indústrias e financiadores por todo o Brasil”, nas palavras do seu presidente Jacob Palis. “Os casos de sucesso mostrados durante o evento podem servir de inspiração para que mais empresas invistam em ciência, tecnologia, pesquisa e inovação”, complementa Fernando Carlos Azeredo Verissimo, chefe de gabinete da ABC.

Estratégias de mercado

O tema do simpósio – “transformar conhecimento em produtos com valor agregado” – é uma forma de deixar no passado a velha economia brasileira baseada na exportação de matérias-primas ou commodities. Para que o país alcance uma postura competitiva no mercado globalizado, não basta usar seus recursos naturais, é preciso produzir a partir deles. O desafio não é pequeno, mas é preciso enfrentá-lo. O simpósio mostrou algumas cooperações entre empresas internacionais e universidades brasileiras que servem de exemplo, voltadas para atender as demandas do mercado – e ir além.

Gabriela Cezar, doutora em Reprodução Fisiológica pela Universidade de Wisconsin-Madison (Estados Unidos), e diretora sênior de Pesquisa e Desenvolvimento, Inovação e Parcerias Estratégicas em Pesquisa no Brasil e América Latina da Pfizer, expôs a iniciativa da empresa para acelerar o fabricação de novas terapias: fazer alianças com cientistas e instituições brasileiras. A empresa oferece recursos à academia e a academia oferece desenvolvimento tecnológico e a capacidade científica. “O Brasil está em condições de competir globalmente nas áreas de saúde, biotecnologia, biocombustíveis e terapia celular, que são indispensáveis para o nosso ramo”, afirmou. A Pfizer investe no Fundo Burrill Brasil I que reúne grandes quantias de empresas nacionais e internacionais para investimento no país, atuando em ciências da vida, biotecnologia, biofármacos, saúde, biotecnologia, biocombustíveis e alimentos.

Blaise Didillion, doutor em Química pela Universidade de Lyon (França), e diretor de Pesquisa e Inovação da LOréal no Brasil, enfatizou a miscigenação brasileira como uma característica singular nos interesses da empresa no país. “O consumidor brasileiro é local e global simultaneamente, com um tipo de pele e cabelo que se encontra aqui e em alguns outros povos do mundo”, explica. A ciência se torna indispensável para atender a um mercado consumidor tão diversificado como o brasileiro. A intenção da empresa é construir um centro de pesquisas na Ilha do Fundão, cujas obras serão iniciadas em janeiro de 2013. A cooperação com a academia brasileira passará pelas áreas da biologia, química, física e biotecnologia.

Doneivan Ferreira, doutor em Petróleo e Meio Ambiente pela Unicamp (Brasil), e diretor do Centro de Tecnologia da Halliburton Brasil, revelou que a empresa quer inserir o seu centro de tecnologia, localizado na Ilha do Fundão, na plataforma de inovação global da empresa, integrando o trabalho de pesquisa e desenvolvimento dos cientistas brasileiros aos que são realizados no exterior. “Esta iniciativa atende a uma demanda de internacionalização da ciência brasileira e amplia a atuação da empresa”, relatou Ferreira. A Halliburton tem centros de tecnologia nos Estados Unidos, Arábia Saudita, Índia, Singapura e no Brasil, onde serão desenvolvidas pesquisas para soluções de exploração de petróleo em águas profundas e o aperfeiçoamento da produção no setor.

Keneth Herd, doutor em Engenharia Mecânica pelo Instituto Politécnico Rensselaer (Estados Unidos), e gerente geral do Centro de Tecnologia da GE no Brasil, apresentou alguns dados relativos ao Centro de Pesquisa Global da empresa, que também ocupa um espaço na Ilha do Fundão. Hoje, a parceria com a UFRJ se dá também através do compartilhamento de laboratórios de pesquisa. A expectativa é de desenvolver pesquisas nas áreas de biocombustíveis, integração de sistemas, sistemas inteligentes e sistemas submarinos. “Investir na ciência brasileira é investir na própria empresa. Hoje, o Brasil é um dos cinco principais mercados da companhia no mundo”, explicou.

Olivier Wambersie, doutor em Matemática Aplicada pela Universidade de Louvain (Bélgica), e diretor de tecnologia da BG Group, relatou que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade de São Paulo (USP) formam um grupo de parceiros envolvidos em pesquisas na área petrolífera. “Os desafios da extração do petróleo são bem conhecidos e, junto com os pesquisadores brasileiros, nós estamos em busca das soluções”, concluiu. Contar com a cooperação acadêmica é o mesmo que ter um grupo de especialistas capazes de solucionar problemas que a atividade industrial encontra. A empresa anunciou que vai instalar um novo Centro de Tecnologia para o Pré-sal no Rio de Janeiro.

Parceria para o conhecimento

As instituições acadêmicas que participaram do simpósio mostraram que o processo não se encerra no conhecimento, mas inclui a geração de um produto ou processo e sua inserção no mercado.

A formação de recursos humanos e a estrutura de laboratórios de pesquisa foram ressaltados. Artur Roberto Couto, diretor de Bio Manguinhos, mostrou o planejamento integrado em Pesquisa e Desenvolvimento, Inovação em Ciência e Tecnologia, Recursos Humanos e Produtos. “A cadeia produtiva de vacinas e biofármacos vai desde a identificação de antígenos até o pós-marketing”, relatou. Toda esta demanda é atendida em atividades integradas com universidades, laboratórios públicos e privados, além da capacitação profissional. “Biomanguinhos oferece de cursos de Mestrado Profissional em Tecnologia de Imunobiológicos (MPTI) e Gestão Industrial de Imunobiológicos, com o objetivo de integrar teoria com a prática, repensando técnicas e processos para conduzir os estudantes à análise, ao planejamento e à implantação de novos produtos e soluções”, declarou Couto. Uma prova do sucesso de Bio Manguinhos é sua contribuição à saúde pública internacional. Em 2012, as vacinas contra febre amarela e a meningocócica somaram 14 milhões de doses.

O físico e Acadêmico Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho, diretor do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), apontou a importância das parcerias com a indústria, organizações e governos para alcançar o volume de trabalho que o centro realiza atualmente. No desafio para uma política institucional de inovação, o Centro, através do Laboratório Nacional de Luz Síncroton, o Laboratório Nacional de Biociências, o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol e o Laboratório Nacional de Nanotecnologia, tem entre seus parceiros indústrias brasileiras, europeias e governos latino-americanos. Os laboratórios participam de atividades nas áreas de física, saúde, petróleo e gás, entre outros. “Em 2011, os laboratórios tiveram 917 propostas de pesquisa realizadas. Ainda conta com um projeto da Capes para atração de pesquisadores externos”, relatou Aragão.

O engenheiro e Acadêmico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da COPPE, apresentou um panorama da instituição, evidenciando a extensão das suas atividades. “Nesta relação de cooperação entre academia e empresa, cada caso é um caso. Nós queremos mostrar que a universidade é uma fonte infindável de conhecimento”, enfatizou. Vinculada à UFRJ, a Coppe promove ensino de graduação, extensão e pós-graduação. Faz pesquisa básica e aplicada, priorizando áreas de inovação em diagnósticos tecnológicos, soluções de problemas empresariais, desenvolvimento de tecnologia de processos e produtos, criação de empresas de base tecnológica e cooperativas populares. São 116 laboratórios, inclusive um Parque Tecnológico, onde se destacam o LabOceano e o Laboratório de Visualização Científica. Nas interações com a indústria, a Coppe estabelece parcerias com as áreas de petróleo e gás, naval e offshore, energia, química e biotecnologia, mineração e siderurgia. A parceria com os setores governamentais inclui planejamento de políticas públicas, tecnologia da informação, gestão de transportes, assim como tecnologias sociais. No setor de serviços estão as telecomunicações, construção civil, software e gestão de processos. “Em 2011, foram produzidas na Coppe 336 dissertações de mestrado, 169 teses de doutorado”, relatou seu diretor.

Os atalhos e as pedras no caminho

O campus da UFRJ tem recebido muitas empresas. Para Maurício Guedes, diretor do Parque Tecnológico do Rio de Janeiro, “o simpósio mostrou que o primeiro passo é reconhecer que academia e empresa são dois entes diferentes, com missões diferentes e que a sociedade precisa de ambos. O espírito do simpósio é de congregação. Se conseguirmos juntar nossa capacidade científica, da academia, com as empresas, isto pode ser um ponto de virada para o país”, apontou.

Compartilhando laboratórios, construindo centros de tecnologia, integrando cientistas ao corpo de trabalho das empresas, a distância entre a academia e as empresas foi reduzida nos últimos anos. Alguns obstáculos permanecem, no entanto. Glauco Arbix, presidente da Finep, e Luiz Edmundo Costa Leite, secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, abordaram essa questão.

Arbix acredita que o Brasil só se consolidará como uma economia competitiva, com uma produtividade elevada, se investir permanentemente em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). “Hoje o país desfruta de uma oportunidade singular para sua prosperidade. Inovação e tecnologia foram tradicionalmente concebidas como subprodutos do desenvolvimento econômico e não como pré-requisitos para o desenvolvimento. Precisamos dar fim a esta mentalidade”, afirmou. Há mercado interno, abundância de recursos naturais e empresas dinâmicas e inovadoras, na avaliação de Arbix. “E foi com estas condições que outros países construíram uma economia forte, capaz de estimular o desenvolvimento de competências tecnológicas de crescente valor agregado.” Para o Brasil chegar neste patamar, segundo ele, as políticas públicas voltadas para a inovação devem incluir as empresas nas suas ações, ao passo que as empresas brasileiras devem investir mais em inovação. “O diálogo entre universidade e empresa no Brasil ainda é difícil”, afirmou.

Para Luiz Edmundo, é importante que o conhecimento se torne produto, se torne tecnologia. “É positivo tanto para a empresa, que aumenta seus rendimentos, quanto para a universidade, que vê o seu potencial aplicado, desenvolvido, estimulado”, avaliou o secretário. “Esta interação traduz o novo modelo o desenvolvimento do país. Ouvir cientistas e empres
ários traz muitos ensinamentos para a gestão pública, sobretudo para o estabelecimento de políticas públicas mais objetivas. É preciso ter competência científica, planejamento político e capacidade empreendedora. Inovação se faz em parceria”, concluiu.

O Simpósio mostrou que este é um importante momento de mudança para o Rio de Janeiro e para o Brasil. O país está numa fase de boas perspectivas para a economia, sendo que o setor do petróleo seja talvez o mais evidente. Mas, além dele, há outros setores muito promissores. E a ciência pode ser parceira em todos eles. Para isto, é preciso promover investimentos em todas as áreas do conhecimento nas universidades. Afinal, o conhecimento é o único recurso que é humano, abundante e renovável; é a matéria-prima para um país melhor.

Por uma alimentação mais segura e saudável

“Persistência, humildade e capacidade de observação aguçada são características fundamentais para ser um cientista”, afirma Adeney de Freitas Bueno. Sua trajetória de vida é exemplar neste sentido: teve seu talento reconhecido através da eleição como membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências para o período de 2012 a 2016. Em retribuição, ele quer empenhar seu tempo e conhecimentos em prol da instituição e está procurando os melhores meios para fazê-lo.

Filho caçula, Bueno sempre teve um bom relacionamento com as duas irmãs mais velhas. Gostava de jogar bola e andar de bicicleta. Na escola, se destacava na matemática, na qual tinha facilidade para tirar boas notas, mas também sempre gostou de biologia, área em que trabalha atualmente. No final da adolescência, escolheu fazer agronomia por considerar uma profissão que contemplava seus interesses pela matemática e biologia. Desde o início, se sentiu motivado para a docência e a pesquisa, o que o levou ao mestrado, doutorado e, posteriormente, ao cargo de pesquisador que possui atualmente na Embrapa Soja em Londrina, no Paraná. No entanto, nunca deixou sua paixão pela docência de lado, atuando também como professor e orientador do curso de pós-graduação em entomologia da Universidade Federal do Paraná (Curitiba, PR) e, também, do curso de pós-graduação em produção vegetal da Universidade de Rio Verde (Fesurv), em Goiás.

Bueno recorda a importância de alguns professores na progressão de seus estudos escolares, universitários e até nas pesquisas que desenvolve atualmente. “Meu interesse pela magistratura veio primeiro”, conta. Na essência do trabalho científico, em sua opinião, deve existir um desejo de ensinar, de compartilhar conhecimento. Talvez esse desejo tenha recebido influências do convívio com suas professoras Maria Helena Calafiori, que ele tem como exemplo profissional, e Edilene Furlan, com quem ele compartilha os méritos de seus estudos na Universidade de Nebraska (EUA), durante o doutorado sanduíche na Universidade de São Paulo (USP). Sob a orientação de Calafiori na iniciação científica, durante sua graduação em engenharia agronômica na Universidade do Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal), pequena cidade no interior de São Paulo onde nasceu, Bueno desenvolveu a motivação para a especialização em entomologia. A professora Edilene Furlan, além de uma grande amiga em Jaboticabal, no interior de São Paulo, onde ele cursou o mestrado em entomologia agrícola na Universidade Estadual Paulista (Unesp), lhe ensinou inglês, de modo que em um ano ele pôde realizar o doutoramento-sanduíche.

Falando sobre seu trabalho, o pesquisador explica que o uso abusivo  e agrotóxicos na agricultura prejudica o manejo de pragas, inviabilizando a sustentabilidade da economia agrária. “O custo dos agrotóxicos e os malefícios causados ao meio ambiente e às populações, no entanto, também impedem a expansão do setor. Procuro contribuir para que este impasse seja solucionado, através do desenvolvimento de estratégias para o combate às pragas e para redução do uso de agrotóxicos”, relata Bueno.

Sua especialidade é o controle biológico e o manejo integrado das pragas da cultura da soja. Bueno diz que o uso do controle biológico, além de ser ecologicamente sustentável, é uma opção viável para agricultores de grande e também pequeno porte, por ser, muitas vezes, mais barato e menos dependente das empresas multinacionais que controlam o mercado de agrotóxicos. “Além disso, o uso do controle biológico possibilita agregação de valor comercial ao produto final, como o que ocorre na agricultura orgânica, permitindo melhorar a remuneração na atividade agrícola, o que é de extrema importância para a sobrevivência do agricultor”, explica o cientista. A razão de escolher ser cientista, para ele, é poder auxiliar a humanidade a ter uma vida melhor. Para isso, suas pesquisas buscam a produção de uma alimentação mais segura e saudável, de modo sustentável.

Ciência e sabedoria popular

O despertar do interesse pela ciência e as lembranças da infância se misturam na vida do catarinense Juliano Ferreira. Nascido em Blumenau, cresceu na pequena cidade de São João Batista, no interior de Santa Catarina, onde predominava o ambiente rural. Suas diversões eram o futebol, o jogo de queimado, corrida a pé ou de bicicleta e a “construção” de brincadeiras com os amigos, como pernas de pau, rampas para saltar de bicicleta ou skate, carrinho de rolimã, casa em árvores… longe de videogames. Numa casas com muitos livros, onde a mãe lia para ele todas as noites, Juliano se interessava muito pela leitura. “As palavras escritas no papel se transformavam em imagens e modelos na minha cabeça. Além disto, sempre queria saber como as coisas funcionam, não somente aparelhos, mas também fenômenos da natureza”, conta, atribuindo a esta combinação de curiosidade e imaginação seu interesse científico.

E Juliano expressava de formas curiosas esse interesse: o que aprendia na escola, experimentava em casa. “Um dia, invadi um dos banheiros de casa e montei meu primeiro laboratório”, conta. Na cidade pequena, era fácil comprar material químico (ácidos, bases, sais, metais, etc) em lojas agropecuárias, de material de construção, supermercados e farmácias. Depois, era só chegar em casa e aplicar os conceitos. “Nem sempre meus objetivos eram pacíficos. Um dos projetos foi produzir pólvora de boa qualidade para fazer rojões… Hoje eu chamaria de ciência aplicada, mas na época…”, brinca Juliano.

Além da vocação científica, o fato de seu pai trabalhar em uma farmácia deve ter influenciado sua escolha pelo curso na área. Prova disso é que um dos seus seis irmãos também cursou farmácia. “Meu irmão que cursou faculdade antes de mim foi muito importante na minha formação. Como ele tinha estudado em colégios públicos estaduais, teve muita dificuldade em disciplinas básicas da universidade federal. Então, quando vinha visitar a família, ele me ensinava e me avaliava em várias matérias, especialmente em química e biologia”, recorda Juliano.

Ingressando na graduação em farmácia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Juliano Ferreira foi monitor da disciplina Química Geral e, em seguida, ingressou na iniciação científica (IC). Ele se interessou por farmacologia e farmacognosia – área que estuda princípios ativos naturais, sejam animais ou vegetais – e começou a pesquisar no laboratório do professor Adair R.S. Santos, analisando o conhecimento popular dobre o uso de plantas medicinais e comparando com o conhecimento científico da farmacologia, para comprovar a eficácia das espécies selecionadas. “No verão, quando a maioria dos meus colegas de turma estava de férias, ficávamos no laboratório fazendo experimentos, discutindo artigos e fazendo seminários. Adorava esta rotina, o que era difícil de explicar para os amigos. A partir daí, não parei mais e sou colaborador e amigo do meu primeiro orientador em pesquisa até hoje”, complementa.

Juliano Ferreira desenvolve pesquisas voltadas para a prevenção e redução do sofrimento de pacientes com diferentes tipos de dor, através do uso de medicamentos de origem natural, ou seja, utilizando substâncias de plantas medicinais ou animais venenosos. Dentro do ramo de farmacologia bioquímica, ele atua principalmente no desenvolvimento de analgésicos, anti-inflamatórios e na observação de toxinas e plantas medicinais. “Em relação às plantas, exploramos o conhecimento popular que indica diferentes espécies para o tratamento da dor. Em um primeiro momento, coletamos e identificamos a planta a ser estudada, preparamos extratos da mesma e verificamos cientificamente se esta planta possui efeitos analgésicos ou tóxicos em ensaios controlados em animais de laboratório”, explica o pesquisador, complementando: “Buscamos responder às perguntas: Funciona mesmo?, É seguro usar?”.

O estudo etnofarmacológico, segundo Ferreira, utiliza o saber científico para comprovar o uso medicinal empírico da população, além de alertar sobre possíveis efeitos tóxicos. “Em um segundo momento, identificamos os princípios ativos responsáveis pelo efeito analgésico e tentamos explicar seu exato mecanismo de ação. Na linha de princípios ativos de animais peçonhentos a lógica é inversa e usamos conhecimento da própria natureza”, discorre. Venenos de animais peçonhentos são uma mistura de substâncias químicas que, por diferentes mecanismos de ação bem específicos, têm a função de facilitar a obtenção da presa. “Em um primeiro momento fazemos a obtenção de substâncias químicas e mostramos como ela funciona. Posteriormente, investigamos se funciona no tratamento da dor e se é seguro. Em ambos os casos, o objetivo é desenvolver novos analgésicos que sejam mais eficazes e seguros do que os atualmente usados”.

A trajetória para desenvolver estes estudos incluiu o mestrado e o doutorado em farmacologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Seu orientador foi João Batista Calixto, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e, para Ferreira, um grande exemplo de dedicação à causa científica e à formação de recursos humanos. “Ele nos dava uns merecidos puxões de orelha, mas incentivava a boa formação de seus alunos sempre baseada no estudo aprofundado dos temas de pesquisa”. A maturidade científica veio com a rotina de pesquisas e, ao conquistá-la, foi incentivado por seu orientador a desenvolver projetos próprios, embora com acompanhamento próximo. Para Ferreira, esta liberdade para conduzir os próprios projetos foi essencial para o seu desenvolvimento. “Talvez esta seja a diferença na formação de um cientista e não de um técnico de laboratório”, observa.

Atualmente, Juliano Ferreira é professor adjunto do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Também é integrante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular (INCT-MM), uma colaboração de grupos de cientistas e médicos experientes dedicados a integrar a ciência básica e tecnológica à prática clínica. Ferreira diz que sua motivação maior na ciência é a busca pelo desconhecido, motivo pelo qual sua atividade nunca é monótona. Ele acredita que as características fundamentais de um bom cientista são a curiosidade, a persistência e o uso ético do método científico. Membro afiliado da ABC eleito para o período 2012 -2016, Juliano Ferreira considera o título como “um passo para outro patamar de discussão científica, saindo da base individual e partindo para a discussão coletiva sobre ciência”. E pretende contribuir para que a ciência possa entrar também com força no interior do país, “onde muito ainda pode ser feito”, conclui.

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