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Microorganismos na agricultura brasileira

A mistura entre pesquisa e ensino é algo que acompanha a vida da engenheira agrônoma Maria Carolina Quecine Verdi desde muito cedo. Professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Maria Carolina cresceu rodeada por livros e colecionou experiências muito diversas como cientista e docente na sua trajetória acadêmica.

Nascida em Piracicaba, SP, Maria Carolina é a filha mais velha de Maria Regina, que trabalhou por muito tempo como secretária de uma escola pública da cidade. A menina acompanhava frequentemente a mãe no trabalho e, por muitas vezes, passou as férias na biblioteca da escola, onde adquiriu o gosto pela leitura, que carrega até hoje. “Sempre gostei muito de aprender e tinha uma curiosidade inata. Lembro de pegar o ônibus e ir para a biblioteca municipal ou para sebos no centro da cidade. No colégio tinha interesse principalmente pelas áreas das ciências naturais e exatas”, lembra.

Desse interesse surgiu seu fascínio por processos biológicos e por entender como a vida funciona. A partir daí a escolha pela engenharia agronômica foi fácil, já que morava na mesma cidade da Esalq, um dos mais célebres centros das ciências agrárias no país. Logo no primeiro semestre se envolveu para a área de biotecnologia e genética molecular motivada pelo interesse em fazer pesquisa. Foi assim que chegou ao Laboratório de Genética de Microorganismos e conheceu a professora Aline Aparecida Pizzirani-Kleiner, sua grande orientadora na carreira.

“Recebi total apoio e logo comecei a acompanhar os trabalhos de rotina do laboratório, aprendendo técnicas básicas de cultivo microbiano e experimentação. Nesse período, acompanhei o então doutorando André Souza de Oliveira Lima, que estava finalizando seus experimentos. Colaborei com os ensaios de clonagem e caracterização de celulases e aprendi diversas técnicas relacionadas ao estudo de genética molecular. Acabei me apaixonando pela área de genética de microrganismos”, descreve.

Durante a graduação, Maria Carolina começou a dar aulas no curso de suplência para funcionários de baixa escolaridade da Esalq, quando teve sua primeira experiência na docência. Em 2003, junto a outros alunos da faculdade, fundou a Associação Avante de Ensino Pré-Vestibular Alternativo e passou a dar aulas de preparação para alunos de baixa renda de Piracicaba. “Creio que ali já nascia uma pesquisadora e uma professora”, reflete.

Ao se formar, a Acadêmica ingressou direto no doutorado, com a mesma orientadora, no Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da Esalq. Nesse período, sua atividade como cientista se intensificou e passou a frequentar mais congressos e eventos científicos, os quais conciliava com as aulas no pré-vestibular. “Para minha satisfação, reencontrei vários dos alunos do cursinho Avante como graduandos da Esalq, inclusive uma das alunas foi minha orientanda de mestrado”.

A pesquisadora precisou dar uma pausa nessas atividades em 2008 quando, em busca de experiência internacional, foi fazer doutorado sanduiche no laboratório da professora Joyce Loper, ligada ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), em Cornallis, EUA. O projeto envolvia o nocaute de genes relacionados à produção de metabólitos secundários pela rizobactéria Pseudomonas protegens. “Considero esse período muito importante para minha carreira, pois aprendi muito sobre expressão gênica e interação entre microrganismos”, avalia.

Em 2010, defendeu sua tese de doutorado “Aspectos biotecnológicos da interação entre bactérias e cana-de-açúcar (Saccharum sp. L.)”, onde investigou a viabilidade da aplicação da biologia molecular para potencialização do uso de microrganismos na promoção de crescimento e controle de pragas na cana-de-açúcar. A tese recebeu o prêmio USP-Dow de Inovação e Sustentabilidade, representando o Brasil na premiação internacional em Boston, EUA. Também foi contemplada com o prêmio Top Etanol, da Unica, entidade ligada ao cultivo de cana-de-açúcar.

Ela explica que seus trabalhos giram em torno da necessidade de aumentar a produtividade da agricultura para reduzir seus impactos ambientais. “Para isso, os microrganismos têm papel vital na fixação biológica do nitrogênio, na solubilização de fosfato, na disponibilização de outros nutrientes e no controle de pragas e doenças. Dedico-me ao melhor entendimento da genética e dos mecanismos moleculares que regem as complexas interações desses seres com as plantas”, explica.

Agora na ABC, ela conta que se inspira em outras grandes mulheres agrônomas e membras da Academia, como Johanna Döbereiner e Mariangela Hungria. “Sou apaixonada pelo que faço, acredito na ciência e tenho muito orgulho dos pesquisadores brasileiros, pois com tantas adversidades conseguimos fazer boa ciência no país. Quero ser defensora ativa da pesquisa nacional, mas sempre com um olhar crítico para a ética científica”.

Atualmente ela divide o trabalho com a jornada integral que é ser mãe de duas crianças pequenas, Vicente e Isadora. “Eles são o meu maior interesse atual e dão muito, mas muito, trabalho!”, conta.

Equações diferenciais e fronteiras livres

O interesse do matemático João Vitor da Silva pela ciência começou cedo. O novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências adorava os experimentos mirabolantes do seriado de TV dos anos 90 “O Mundo de Beakman” e aprendia conceitos básicos da física, química e biologia. Talvez por isso, se destacava nessas matérias na escola, mas nutria um gosto especial mesmo pela geometria. Outra parte de sua rotina era ajudar o pai no açougue, onde tinha a oportunidade de afiar sua matemática lidando com os números das pesagens e do dinheiro.

Assim, quando chegou a hora do vestibular, João Vitor não teve dúvidas e optou pela licenciatura em matemática na Universidade Regional do Cariri (URCA), cujo campus ficava em sua cidade natal, Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. A universidade oferecia cursos noturnos, que permitiam conciliar estudos e trabalho. No ensino médio, os professores Wanda, Rosa Maria e Raimundo deram o incentivo fundamental para que o jovem se tornasse o primeiro de sua família a cursar a universidade. Eles abrem a grande lista de agradecimentos aos professores e colegas que João Vitor teve durante a vida. “Foi quase um alinhamento dos astros para que eu fizesse esse curso”, resume.

Durante a faculdade, João não enxergava outro caminho para além da docência no ensino básico. Mas seus horizontes se expandiram graças ao incentivo de novos mestres. “Os professores Mario de Assis, Zelábel Gondim, Bárbara Paula, Carlos Humberto Soares, Carlos Alberto Gomes, Evandro Carlos dos Santos, Liane Mendes e Juscelino Silva abriram meus olhos para a pós-graduação”, conta.

O Acadêmico ainda cursou um ano e meio no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), conciliando com a graduação, onde teve aulas preparatórias para o mestrado. Compartilhar esse desafio com os colegas de classe fez com que esse período não fosse solitário. “Não posso esquecer meus amigos – Chaves, Tiarlos, Fabiano, Rosilda, Emiliano, Cícera, Júnior, Fátima, Assis e Priscila – que fizeram das minhas tardes e noites de estudos muito mais agradáveis e edificantes”.

A entrada no mestrado da Universidade Federal do Ceará (UFC) foi uma virada de chave em mais de um aspecto. Além da mudança para Fortaleza, que o fez morar longe da família pela primeira vez, João Vitor também sentiu o aumento na dificuldade e na responsabilidade. “A transição para o mestrado foi um salto não trivial pela dificuldade das matérias. A cobrança pela aprovação e os exames obrigatórios geravam uma atmosfera de muita tensão. Mas, graças a muitos amigos, antigos e novos, conseguimos juntos superar mais essa etapa. Sou muito grato a todos eles pela ajuda acadêmica e financeira que me deram”, lembra.

Outro ponto de inflexão foi a escolha de orientador para sua dissertação, quando conheceu o Acadêmico Eduardo Vasconcelos de Oliveira Teixeira, com quem estabeleceria uma parceria que duraria até o doutorado. “Ele tinha recém regressado dos Estados Unidos e era bastante destacado na Teoria de Regularidade e em Problemas de Fronteiras Livres. Ao discutirmos o tema de pesquisa seus olhos brilharam, ele sorriu de cantinho de boca, levantou-se e pegou o livro Minimal Surfaces and Functions of Bounded Variations, de Enrico Giusti. Logo, ele olhou fixamente para mim e disse: ‘gostaria que você dissertasse sobre este assunto’”.

Daquele ponto em diante a Teoria Geométrica da Medida e as questões de Fronteiras Livres estariam presentes em todos os temas de sua carreira, seja como pesquisador ou professor. João Vitor terminou o mestrado e cursou todo o doutorado sob tutela de Eduardo e, por indicação do mesmo, passou um período de quatro anos na Argentina, para o pós-doutorado na Universidade de Buenos Aires com a professora Noemi Wolanski e o professor Julio Rossi. “Nesse período pude expandir meu leque de colaborações e fazer amigos que cultivo até hoje”.

Em 2019, muito em virtude da deterioração econômica argentina, João Vitor voltou, primeiro para um pós-doutorado na Universidade de Brasília (UnB), e depois para se estabelecer como professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Trabalho atualmente com Equações Diferenciais Parciais, onde descrevo o comportamento de soluções em modelos naturais. Uma das aplicações mais simples, por exemplo, é entender o mecanismo por trás do derretimento do gelo em um fluído, como a água ou um suco. Nesse contexto acontece a formação de interfaces, a capa fina entre o gelo e a água, a qual define um processo de transição de fase entre dois meios heterogêneos com temperaturas distintas em cada região. Assim, entender o processo de transição de fase é fundamental na área que se conhece hoje como fronteiras livres e aparece em diversos contextos da física”, explica o Acadêmico sobre sua área de pesquisa.

Agora na ABC, João Vitor afirma que uma de suas prioridades deverá ser a luta pelo orçamento da ciência e por mais investimentos, sobretudo em institutos e programas no interior. Também se preocupa com a atração e manutenção de alunos historicamente excluídos do ensino superior e cita a divulgação científica como uma ferramenta importante de atração de jovens. “Bons divulgadores científicos, como o Marcelo Gleiser, ajudaram a plantar a semente de curiosidade na minha cabeça”, conta.

Por fim, o Acadêmico traz uma mensagem importante, não só para a ciência, mas para qualquer área de atuação. “Ao seguir qualquer carreira, vise-a por satisfação profissional e identificação. Às vezes buscamos uma gratificação financeira a médio prazo e isso poderá gerar muitas frustrações. É essencial trabalhar naquilo que somos apaixonados, salários estratosféricos às vezes não pagam pela sua saúde física e mental”.

Estudando os ‘fagócitos profissionais’

A bióloga Larissa Dias da Cunha, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), sempre cultivou o gosto pela leitura e pelo aprendizado, e hoje é entusiasta da ideia de fazer ciência no Brasil, mesmo com todos os percalços e a gangorra no financiamento.

Nascida e criada em Brasília, Larissa é a mais velha das três filhas de Alice e Fernando. Apesar de adorar atividades ao ar livre, ela própria se descreve como uma “rata de biblioteca”, ambiente onde adquiriu o amor pelos livros que só cresce. A origem na capital federal é simbólico para alguém cuja família é composta por pessoas do norte ao sul do país, diversidade cultural que ela muito se orgulha e faz questão de destacar.

Mas apesar de ser bióloga, suas matérias favoritas na escola eram as que envolviam matemática, e não tinha aptidão especial pelas ciências da vida. Isso mudou apenas no ano do vestibular, graças às excursões que fazia com o colégio à Universidade de Brasília. “O pouco do que eu havia visto do Instituto de Ciências Biológicas e do trabalho dos pesquisadores me fascinou. Lembro-me particularmente de uma visita ao laboratório de Biologia Molecular e do entusiasmo ao sair de lá”, conta.

Após essa experiência, a jovem não teve dúvida e optou por ingressar no curso de Ciências Biológicas da UnB. Lá ela começou a fazer iniciação científica ainda no primeiro período, no Laboratório de Microscopia Eletrônica, após explorar as complexidades das células num microscópio de transmissão. “Uma simples estratégia didática, que era usada para estimular o interesse dos alunos ingressantes, despertou minha vontade de integrar o laboratório e explorar essa ferramenta incrível”, lembra.

Foi no laboratório onde Larissa conheceu sua primeira orientadora, a professora Sônia Nair Báo, a quem tem como referência. “O seu engajamento em manter um laboratório produtivo, seu suporte para que os alunos se envolvessem com a comunidade científica e seu comprometimento com o fortalecimento do setor acadêmico como política pública para o país influenciam até hoje a minha vontade de fazer ciência no Brasil”, afirma a cientista.

Sua trajetória na graduação a levou direto para o doutorado na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, onde hoje é professora. Foi quando conheceu seu segundo orientador e outra referência na carreira, o professor Dario Zamboni. “O professor Zamboni sempre se preocupou em estimular seus orientandos a buscarem perguntas relevantes, e se dedicarem a encontrar respostas da melhor forma possível, sempre questionando nossos achados e não se contentando com conclusões parciais. Também me marcou seu comprometimento em nos oferecer as melhores oportunidades e seu entusiasmo por fazer pesquisa no Brasil”, descreve.

Após o doutorado, Larissa acumulou duas experiências de pós-doutorado, na USP e no St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos. Ao retornar para o Brasil, ingressou como professora na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, onde trabalha com os mecanismos de regulação e sinalização dos “fagócitos profissionais”, como macrófagos e células dendríticas, componentes do nosso sistema imunológico que reconhecem e capturam patógenos.

“Particularmente, o meu maior interesse é entender como os diferentes compartimentos intracelulares se comunicam no processo de montagem de uma resposta adequada por esses fagócitos profissionais. Uma aplicação dessa ciência é descobrir novos alvos farmacológicos para controlar o processo inflamatório, ou entender se alvos farmacológicos estabelecidos são de fato adequados”, explica.

Para a nova Acadêmica, nós somos o que pensamos e, por isso, o crescimento proporcionado por uma vida dedicada ao aprendizado e ao amadurecimento de ideias é o que a motiva todos os dias. “Na minha área, me encanta enxergar os fenômenos com técnicas incríveis, e compreender como a interação constante com diferentes organismos molda o que definimos biologicamente como ser humano”.

Ela segue apaixonada pela leitura, sobretudo de ficção contemporânea, e tomou gosto por pegar estrada para conhecer a diversidade enorme do Brasil, hábito que herdou dos pais. “Me sinto honrada com a titulação na ABC e espero participar das discussões para elaborar novas estratégias de atração de talentos para a ciência brasileira”, finaliza.

Foco na química orgânica

As disciplinas de ciências exatas do colégio exerceram grande influência em Igor Jurberg. “Tinha um bom desempenho e na época de escolher que carreira seguir, pareceu uma decisão natural continuar estudando algo relacionado a essas disciplinas”, relatou. “Me lembro de um professor de química do ensino médio que me perguntou ‘você vai fazer química, né?’, sem que eu nunca tivesse me pronunciado sobre o assunto. Mas acabei escutando como uma sugestão”, contou o pesquisador.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1984, Igor morou na Tijuca com a mãe, arquiteta, e o pai, que era professor universitário na área da biologia. Ele tem um irmão gêmeo, Arnon, que é biólogo e professor universitário. Sua infância e juventude lhe trazem ótimas lembranças, especialmente de quando praticava vários esportes, principalmente polo aquático e handball. Ele reconhece que ter uma boa estrutura familiar e todo apoio foi muito importante ao longo dos anos. “Minha mãe, em particular, sempre me incentivou e me deu muitos exemplos de determinação e integridade. Ela faleceu em 2021 e eu lhe serei eternamente grato”, pontuou.

Sobre a escolha da profissão, Igor acha que foi um processo natural. Cursou dois anos de engenharia química na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR)J e fez iniciação científica nesse período. “Foi uma experiência interessante, mas sinceramente, não foi algo que achei incrível, nem me inclinou à química naquele momento”, relatou.

Neste breve início na universidade, Igor ficou sabendo da possibilidade de se fazer um programa de duplo diploma entre a UFRJ e a École Polytechnique, em Paris, o que lhe pareceu uma oportunidade incrível. Ele realizou o processo de admissão que consistiu na redação de uma carta de motivação, a realização de duas provas orais de física e matemática, e uma entrevista com professores franceses que vieram ao Brasil especialmente para avaliar os candidatos brasileiros. Foi aprovado e se mudou para Paris em 2004

Na École Polytechnique, Igor conheceu o professor Samir Zard, quem contribuiu muito positivamente para seu interesse em pesquisa. Começou a frequentar um laboratório de química orgânica e a se fascinar pelo assunto, tanto pela teoria quanto pela parte experimental. Gradou-se em engenharia pela École Polytechnique, onde obteve depois o mestrado em química molecular e o doutorado em química orgânica. “Tenho muito respeito e admiração pelo professor Zard, que para mim foi um exemplo de gentileza e conhecimento científico. Foi quem me inspirou a fazer a pós-graduação em síntese orgânica”, disse Jurberg.

Em 2010 realizou um estágio no setor de pesquisa e desenvolvimento da Sanofi-Aventis (Paris, França) trabalhando no estudo de um medicamento anticancerígeno. Em seguida, efetuou estágios de pós-doutoramento no Instituto Max-Planck para Pesquisa do Carbono, em Mülheim an der Ruhr, na Alemanha, e no Instituto Catalão de Investigação Química (ICIQ), em Tarragona, na Espanha.

Durante os dois estágios de pós-doutoramento que fez, seus mentores foram os professores Nuno Maulide, no Max- Planck, e Paolo Melchiorre, no ICIQ. “São outros grandes profissionais que me ensinaram muito em termos de química orgânica e mentalidade de trabalho. Sou muito grato a eles”, afirmou.

O cientista voltou para seu país de origem em 2013, iniciando seu grupo de pesquisa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Jurberg obteve a livre-docência em 2019 e foi promovido a professor associado no Instituto de Química da Unicamp em 2022, onde foi vice-chefe do Departamento de Química Orgânica durante o biênio 2018-2020. Leciona na graduação e na pós-graduação.

Ele é um dos fundadores da Seção da Sociedade Americana de Química no Brasil, tendo sido secretário no período 2016-2019 e presidente entre 2019 e 2021.

Igor Jurberg aplica seu conhecimento diretamente na área de química medicinal, visando o desenvolvimento de fármacos contra doenças parasitárias. Seu grupo tem alguns interesses distintos em síntese orgânica, focados em três linhas de pesquisa principais, que são flexíveis, dependendo do financiamento disponível: catálise assimétrica, fotoquímica e química de heterociclos. “Trabalho com fotoquímica orgânica, desenvolvendo novos métodos, empregando luz visível como agente promotor das reações químicas. A substituição da luz ultravioleta pela luz visível permite o desenvolvimento de métodos mais suaves e seletivos, assim possibilitando a invenção de uma grande variedade de novos procedimentos em síntese orgânica que não eram possíveis antes. Esses métodos podem ser empregados potencialmente em programas de química medicinal e na produção de materiais, incluindo polímeros. Visamos, quando possível, a transferência de tecnologia para a indústria, causando assim um impacto mais direto na sociedade”, explicou Jurberg.

O Acadêmico avalia que, na vida cotidiana, muitas pessoas tentam convencer outras de seus pontos de vistas, deformando os fatos. “Um pensamento mais científico, racional e menos emocional seria muito bem-vindo. Já na ciência, o certo e o errado são geralmente bem claros, não dependem do cargo ou do poder do interlocutor”, afirmou.

Por isso ele diz que, na ABC, gostaria de participar de discussões envolvendo a política de promoção e financiamento à ciência. “É preciso que ela tenha um maior reconhecimento da sua importância na vida da população brasileira. Gostaria de atuar na Academia, a qual agradeço muito a eleição, participando das discussões que visem uma maior promoção da ciência no país, estimulando o interesse dos mais jovens, assim como a criação de novas empresas baseadas em ciência e que empreguem PhDs”, afirmou.

Ele enfatizou sua gratidão a todos os colegas e mentores ao longo dos anos, destacando o Acadêmico Ronaldo A. Pilli, do Instituto de Química da Universidade de Campinas (Unicamp), pela atenção e pelas palavras sempre gentis. 

Sobre seus interesses fora da ciência, Igor Jurberg é sintético: “Antes de me casar, meu interesse fora do trabalho era poder trabalhar mais. Depois, meu interesse além do trabalho passou a ser minha esposa. Atualmente temos uma filha e dedico todo o meu tempo livre a elas, com muita alegria.”

Um cientista multifacetado

O pai de Gabriel Schleder era atleta olímpico e foi um dos primeiros grandes maratonistas do Brasil. Tanto ele quanto a mãe trabalhavam como professores de educação física, majoritariamente na rede pública, no estado de São Paulo. Tiveram o filho Rafael e três anos depois, em 1992, em Santo André, veio Gabriel. Quando ele tinha sete anos, a família mudou-se para Bragança Paulista. Nosso protagonista considera que teve uma ótima infância, sempre junto com o irmão. Faziam diversos esportes e outras atividades físicas, além do videogame, que os ajudou a aprender inglês sem ter aulas. Gabriel chegou a se destacar no hipismo, tendo sido campeão regional das categorias iniciais.

Na infância, já no interior, em Bragança Paulista, com família paterna de origem sulista, tiveram vivências típicas de fazenda. “Num final de ano, nosso presente foi poder escolher qualquer coisa de uma loja de R$1,99.  Escolhemos facões para cortar plantas e árvores, que usamos muito no sítio, também no Sul, participávamos da desossa e corte de carnes diversas, o que naquele contexto era comum”, contou o Acadêmico.

Além disso, sua escola em Bragança Paulista, tinha uma proposta interdisciplinar e ecológica, num enorme espaço com um ribeirão, muitas árvores, animais, construções ecológicas e atividades muito variadas. “Essa vivência acabou imprimindo fortemente em mim valores ecológicos e interdisciplinares, que impactaram no resto da minha vida”. Gostava de quase todas as disciplinas, muito de educação física e artes, mas com destaque para as da área de exatas. Gabriel conta que nessa época, os anos 2000, ocorreu a democratização do acesso à internet e o acesso a computadores se tornou comum. Antes dos 15 anos ele já fazia versões nacionais de jogos de futebol customizadas e sua equipe de edição chegou a ter o terceiro maior jogo em vendas não-oficiais em alguns locais.

Ainda na infância, interessou-se também pela música e escolheu o contrabaixo elétrico. Poucos anos depois, passou a trabalhar como músico profissional em uma banda de casamentos, onde ficou por mais de dez anos.  “Minha primeira carteira de trabalho, tirada na adolescência, foi da Ordem dos Músicos do Brasil”. Por conta dessa atividade, desenvolvida então já há quase cinco anos, no momento de escolha da faculdade Gabriel tinha dúvida entre seguir na música ou fazer algum curso ligado à ciência e tecnologia. Envolveu-se num processo de orientação vocacional, no qual ficou claro que um ponto central para ele era a criatividade expressada na solução de problemas. Então decidiu pela ciência e ingressou no bacharelado em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do ABC (UFABC), um curso altamente interdisciplinar e inovador, com ampla exposição à áreas diversas e uma base formativa sólida.

Até o meio da graduação, Gabriel avalia que era um aluno bastante mediano. Os fatores de virada foram o hábito da leitura de não-ficção e o treino da musculação. As dezenas de leituras anuais e os  treinos resultaram em uma intencionalidade e comprometimento nas atividades qualitativamente diferente, permitindo então considerar que o caminho científico seria possível. Quando cursou uma disciplina de introdução à pesquisa científica, entendeu o que era pesquisa de verdade e realizou o que é a ciência de fronteira. Uma das atividades da disciplina era conversar com professores para orientação sobre possíveis projetos. Achou a nanotecnologia interessante e fez uma iniciação científica (IC) com o professor Carlos Scuracchio na área experimental de nanocompósitos poliméricos.

No ano seguinte, quis explorar outras áreas dentro da nanotecnologia e fez uma IC com o professor Wendel Alves, também na área experimental, de síntese e caracterização de nanotubos e nanopartículas de metais e óxidos. Já ao final da graduação em engenharia de materiais, fez seu trabalho de conclusão de curso (TCC) na área de caracterização avançada de materiais, num projeto com o professor Demétrio dos Santos, que deu origem ao seu primeiro artigo científico, em 2016, sobre desenvolvimento de poliuretanos de origem vegetal partindo de lignina e óleo de mamona, trabalho que recebeu mais de 100 citações.

Ainda durante a execução do TCC, cursou a disciplina de Tópicos Computacionais em Materiais com o professor Jeverson Arantes. “Foi quase uma revelação pessoal descobrir esse universo das simulações computacionais e suas possibilidades, e logo soube que queria seguir nessa área”, contou o Acadêmico. Fez então o mestrado com Arantes, com quem diz que aprendeu a fazer pesquisa de excelência na área de simulações quânticas de nanomateriais e o salvou, em suas palavras “de ser um cientista experimental medíocre”.

Durante o mestrado, participou de um workshop sobre publicações científicas internacionais com o professor Gilson Volpato, à época livre-docente da Unesp Botucatu. Gabriel relata que lá aprendeu sobre a importância do planejamento e estratégia antes de iniciar qualquer ação em pesquisa ou escrita científica. Nesse período passou a integrar uma rede de pesquisadores mais ampla, com quem aprendeu muito, direta e indiretamente. Conheceu então o orientador do seu orientador, o Acadêmico Adalberto Fazzio, que já havia sido reitor da UFABC e estava temporariamente na universidade como professor visitante sênior – o que abriu o próximo capítulo da sua vida acadêmica, o doutorado.

Logo no início do doutorado de Schleder, em 2017, o professor Fazzio foi convidado para dirigir o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), que é parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, local que abriga o maior e único laboratório de luz síncrotron da América do Sul. Como Gabriel já havia cursado todas as disciplinas do doutorado durante o mestrado, mudou-se para Campinas também.

“Foi um período excepcional de crescimento pessoal e profissional. Tive o ônus e bônus da liberdade de ter um supervisor muito ocupado, assim como da autonomia e responsabilidade da escolha e gestão dos meus projetos científicos, onde ganhei muita experiência com os erros e acertos”, contou o cientista. Colaborou e publicou com quase todos os grupos experimentais do LNNano, tendo publicado 26 artigos que entraram na tese, finalizada em 2021, que venceu tanto o Prêmio Capes de Tese como o Prêmio José Leite Lopes da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Posteriormente, com o vínculo criado durante o doutorado, Schleder foi para a Universidade de Harvard para um estágio de pós-doutorado a convite do professor Efthimios Kaxiras, então diretor do Departamento de Física, e passou lá todo o período da pandemia fazendo pesquisa, co-supervisionando alunos e também lecionando disciplinas na graduação.

Desde 2023, Gabriel Schleder é pesquisador no LNNano-CNPEM, liderando a área de Teoria e Ciência de Dados. Trabalha com inteligência artificial aliada à simulação computacional de nanomateriais, física de materiais e ciência de dados de maneira geral. “Um dos meus interesses é em como essas ferramentas nos permitem descobrir informações que não são possíveis de ver com os métodos tradicionais, em particular para descobrir e fazer o design de novos materiais com propriedades melhores do que os que já existem, para aplicações em áreas de energia, saúde, ambiental, e tecnologias quânticas”, explicou.

Para Schleder, a ciência é a maior conquista humana. “É o único processo criado até hoje que nos permite evoluir sistematicamente à medida que o tempo passa. O ato de criticar e comparar empiricamente as ideias com a realidade é poderosíssimo. Na minha área, é muito interessante ver que as máquinas aprendem ‘apenas’ a tarefa que nós propomos e os desafios principais são pensar em como definir e formular esses problemas.  Nesse processo, lidamos com os limites de complexidade que são possíveis de se alcançar por meio de operações simples, repetidas muitas vezes”, avaliou.

Ele considera o título de membro afiliado da ABC como uma celebração, um reconhecimento pelas realizações do passado e um convite aos desafios futuros. Diz que gostaria de poder contribuir na ABC no contínuo trabalho de planejamento estratégico, pensando sobre formas de valorização da ciência e do cientista para o benefício da própria sociedade.

Ciência à parte, Schleder tem muitos interesses, como já mostrava na infância. As atividades físicas, a leitura e a música sempre estiveram em sua vida, e vivendo hoje com a esposa e duas cadelas pastoras mantém um apreço pelo conceito de slow life, sendo um grande apreciador do mundo do café especial.

Ao passar o durante e pós-pandemia em Harvard, conta que desenvolver grande gosto pelo hiking urbano, histórico e arquitetônico na região Boston, algo que hoje ele e a mulher, Carol, exploram bastante em São Paulo e em viagens, além de gastronomia, shows e espetáculos.

Para finalizar, Gabriel lembrou-se de uma bela frase do físico Freeman Dyson: “O público tem uma visão distorcida da ciência porque as crianças são ensinadas na escola, falsamente, que a ciência é uma coleção de verdades firmemente estabelecidas. Na verdade, a ciência não é uma coleção de verdades. É uma exploração contínua de mistérios.”

Flexibilizar o ensino superior para formar mais cientistas

O cientista da computação Uéverton dos Santos Souza, novo afiliado da ABC, é exemplo do porquê devemos pensar em diferentes modelos de ensino superior para as diferentes realidades brasileiras. O Acadêmico estudou a vida inteira em escola pública e sua graduação só foi possível graças ao modelo inovador do Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (Cederj).

Nascido e criado em Três Rios, na divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais, Uéverton perdeu o pai quando tinha apenas três anos, o que obrigou sua mãe, Iracemar, a se desdobrar para criá-lo junto aos dois irmãos mais velhos, Uéliton e Uelisson. Apesar de não ter tido cientistas como modelo, Uéverton acredita que a vocação sempre esteve presente. Ele sentia-se empolgado com trabalhos escolares que exigiam pesquisa e considerava a escola uma extensão da própria casa.

No ensino médio o gosto pelas ciências exatas já existia, mas a computação não era sua prioridade. Entretanto, não existem tantas opções acessíveis de curso superior para um jovem do interior e o curso de Tecnologia e Sistemas da Computação do polo de Três Rios do Cederj surgiu como possibilidade viável. Nesse modelo de ensino semi-presencial os alunos acessam o conteúdo das disciplinas através de vídeo-aulas e materiais impressos.  Há tutorias presenciais nos polos onde podem tirar dúvidas com especialistas e onde também são realizadas as avaliações.

Isso se deu em 2006, muito antes da popularização contemporânea dos cursos EAD, mas até hoje esse misto de ensino à distância e presencial serve como boa referência. Nesse sentido, Uéverton foi um dos pioneiros dessa modalidade – sua turma foi apenas a terceira do curso – e hoje sua consolidação enquanto pesquisador é uma prova de que devemos fortalecer e valorizar o ensino à distância de qualidade. “O Cederj é o modelo pioneiro que deu origem à Universidade Aberta do Brasil (UAB), portanto sinto-me representando ambas instituições. Mas por se tratar de um modelo novo, havia uma certa descrença sob a qualidade dos egressos”, conta.

Descrença essa que o Acadêmico enfrentou e venceu ao longo de sua carreira. Ao fim da graduação, sua orientadora de trabalho de conclusão, Maise Dantas da Silva, o incentivou a buscar um mestrado com o professor Fabio Protti na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Lembro de chegar inseguro a UFRJ, mas ao longo do tempo tornou-se claro que minha formação não convencional não era uma barreira para desenvolver um bom mestrado”, lembra o Acadêmico.

Ao se formar mestre em 2010 logo ingressou no doutorado, com o mesmo orientador, dessa vez na Universidade Federal Fluminense (UFF). Nesse período se mudou para Niterói e teve a oportunidade de cursar um período sanduíche na Universidade de Ulm, na Alemanha. Sua tese foi premiada pela Sociedade Brasileira de Computação e no concurso internacional de teses de doutorado do Centro Latino-americano de Estudos em Informática (CLEI), além de receber menção honrosa no Prêmio Capes de Teses.

Desde 2015, Uéverton é professor na UFF e, mais recentemente, foi contratado como professor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), onde contribui na formação dos alunos do IMPA Tech, suas pesquisas se dão na área de algoritmos e complexidade, onde investiga os limites do poder computacional para resolver problemas. “Ao contrário do que popularmente se imagina, nem toda questão que podemos formular a uma máquina pode ser resolvida computacionalmente e, dentre aquelas que podemos resolver, algumas podem demandar tanto tempo que na prática tornam-se inviáveis.  A compreensão do que é tratável ou intratável computacionalmente é uma das questões centrais de minha linha de pesquisa”, explica.

Agora na ABC, o Acadêmico está orgulhoso de seu reconhecimento entre os pares e considera um sinal de que está no caminho certo. “O fato de não existir, não significa que não pode ser criado.  A busca incessante pelo novo me encanta na ciência.  Gosto de pensar que a Computação é um ramo muito novo e, como tal, há muito espaço para sermos criativos e pensarmos em soluções até então não exploradas”, reflete.

Mas nem só de ciência vive o cientista. Morando em Niterói, Uéverton passou a usufruir das atividades ao ar livre que a cidade oferece, como a canoagem havaiana pela Baía de Guanabara e as diversas trilhas naturais. “As praias de Niterói são bem próximas da boca da barra, o que significa que suas águas são constantemente renovadas, permitindo passeios bem agradáveis. O contato com a Baía de Guanabara traz muitas surpresas, remar ao lado de tartarugas é uma delas”, finaliza o Acadêmico.

Do amor pelos animais ao método científico

O gosto pela ciência pode vir da curiosidade, mas entender a fundo o método científico – e o que faz dele uma ferramenta tão especial – também pode ser a faísca que faz nascer um cientista. No caso da médica-veterinária Joanna Maria Gonçalves de Souza Fabjan, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), essa compreensão aprofundada foi o que a fez se apaixonar, tanto pela pesquisa quanto pela sua própria área.

Joanna escolheu a Medicina Veterinária pelo motivo clássico: o amor pelos animais. Apesar de nunca ter tido um bichinho de estimação no apartamento em que cresceu, no Rio de Janeiro, as férias com a família em Teresópolis e Rio das Ostras, municípios do interior fluminense, fizeram com que ficasse encantada pelos animais de fazenda. “Me lembro bem de acompanhar a ordenha das vacas e achar tudo muito curioso e fascinante. No entanto, foi somente quando iniciei o curso que ficou claro a grandeza, a complexidade e a aplicabilidades da profissão. Isso fez o encanto aumentar ainda mais”, conta.

Sua trajetória acadêmica reflete essa multiplicidade de atuações. A pesquisadora cursou Medicina Veterinária na Universidade do Grande Rio (Unigranrio), no Rio de Janeiro; fez iniciação científica na Embrapa Leite, em Minas Gerais; fez especialização em pequenos ruminantes no Centro Universitário Octávio Bastos (Unifeob), em São Paulo; cursou mestrado em Zootecnia na Universidade Federal de Viçosa (UFV), de volta a Minas Gerais; e finalmente, doutorado em cotutela pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e no Institut National de la Recherche Agronomique, na França.

“Considero de grande importância as experiências adquiridas nos diferentes grupos de pesquisa por onde passei e com os pesquisadores com quem tive a honra de aprender”, conta a Acadêmica, destacando seus orientadores Carlos Vasconcelos, da Unigranrio; Jeferson Fonseca, da Embrapa; Ciro Torres, da UFV; Vicente Freitas, da UECE; e Pascal Mermillod, do período na França. “Sou extremamente grata a cada um deles!”.

Hoje professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Joanna é colega de docência de Carlos Vasconcelos, seu primeiro orientador, o que é motivo de imenso orgulho. Sua principal linha de atuação está no uso de biotécnicas reprodutivas em animais de produção, desenvolvendo inovações para tornar a pecuária brasileira ainda mais produtiva. “Ao otimizar a reprodução, essas tecnologias ajudam a reduzir o impacto ambiental da criação de animais, pois possibilitam a produção de mais alimentos com menos recursos. O Brasil é destaque na exportação de diversos produtos de origem animal, como carne suína, bovina e aves; no entanto, ainda importamos carne e laticínios de caprinos e ovinos. Ou seja, existe uma demanda não atendida totalmente pela produção nacional na qual temos margem para crescer”, explica.

Essa capacidade de gerar desenvolvimento sustentável é algo que a motiva a fazer ciência cada dia mais. “Entender que o método científico me permite ser parte da resolução de problemas como a fome me enche de certeza de que esse é o meu verdadeiro lugar. A ciência tem ainda um papel educativo e cultural, inspirando a curiosidade e incentivando o questionamento. É uma área encantadora e admirável para se dedicar!”.

Joanna recebeu a nomeação com entusiasmo e divide a honra com seu grupo de pesquisa, afirmando ser esse um estímulo a mais para a nova geração de pesquisadoras. Outro aspecto que destaca é poder atuar na divulgação para construir uma verdadeira cultura científica no Brasil. “Me traz a sensação de estar no caminho certo, mesmo com todas as dificuldades que possam existir ao longo do percurso”, resume.

Mas nem só de ciência vive a cientista. Nas horas vagas, Joanna adora viajar para conhecer novos lugares e culturas. Mas nada se compara ao seu amor pelo futebol e pelo Botafogo. Em 2024, o clube da estrela solitária está jogando, sem sombra de dúvidas, o melhor futebol do Brasil e, quem sabe, não tornará esse ano ainda mais especial na vida da Acadêmica.

Dos dinossauros aos astros

O interesse pela ciência, para muitos, surge graças ao fascínio gerado por temas como dinossauros ou o espaço sideral. No caso do astrofísico Clécio Roque de Bom, novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências, foram justamente essas duas áreas que consolidaram nele a ideia de ser cientista.

Nascido no Rio de Janeiro, Clécio teve uma infância tranquila e sempre foi um jovem reservado. Antes mesmo de aprender a ler, sua mãe lhe presenteou com um livro de história natural que capturou sua atenção, e ele pedia para que os adultos lessem para ele sempre que podia. Foi daí que surgiu a paixão pelos dinossauros e a ideia de colecionar miniaturas desses animais fantásticos.

Mas apesar de ter decorado o nome de diversos dinossauros, outro fascínio o arrebatou nessa época, dessa vez pelos astros. Ao completar um álbum de figurinhas sobre o universo, decidiu que queria ser astrônomo. Seu pai era um grande companheiro de coleções, e também o estimulava presenteando-o com fitas de documentários sobre vários ramos da ciência.

Clécio teve como referência científica o seu tio, que fazia doutorado quando ele era criança. Sua avó, sempre orgulhosa da carreira do filho, tinha o dom de contar histórias e adicionava contornos épicos à carreira científica. Todas essas influências contribuíram para que Clécio soubesse em seu íntimo qual profissão queria seguir.

Na adolescência, porém, tornou-se mais pragmático. Ingressou no curso técnico do CEFET e definiu que queria ser programador. Outro interesse também despertou nessa época, agora pela filosofia, e conversando com um professor da matéria decidiu visitar o planetário do Rio de Janeiro e passou a frequentar os cursos de verão do Observatório Nacional. Lá ele conheceu o astrônomo Antares Kleber. “Foi o que fez meus olhos brilharem e ali decidi definitivamente pela pesquisa”, afirma.

Clécio ingressou no curso de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e logo no segundo período começou a fazer iniciação científica no Centro Brasileiro de Pesquisa Físicas (CBPF). Por ter habilidades em programação, foi para um projeto que usava redes neurais artificiais para identificar lentes gravitacionais, um fenômeno astrofísico que ocorre quando um corpo massivo interfere na trajetória da luz de um astro mais distante. Seguiu nessa linha durante o doutorado, também no CBPF.

“Meus orientadores de iniciação científica, Martin Makler e Marcelo Portes de Albuquerque, foram fundamentais para o meu desenvolvimento como cientista. O ambiente colaborativo e multidisciplinar do CBPF também foi decisivo para que eu aprendesse a trabalhar em equipe. No mestrado, o meu orientador Nelson Pinto Neto foi essencial para meu aprendizado em Cosmologia.”, lembra.

Clécio tornou-se doutor em 2017 e no ano seguinte ingressou como professor na pós-graduação do CBPF. Atualmente, a sua principal linha de pesquisa é a aplicação da inteligência artificial na astrofísica. “Meu foco são os fenômenos explosivos transientes, como a colisão de estrelas de nêutrons, que gera ondas gravitacionais. A partir desses eventos, tento medir a constante de Hubble, relacionada à taxa de expansão do Universo, que é um dos grandes debates atuais da Cosmologia. Além disso, estudo como essas colisões contribuem para a formação de elementos pesados, como as terras raras. Também aplico IA em dados de geofísica em parceria com a indústria brasileira”, explica o Acadêmico.

Para o pesquisador, o encanto da ciência, que já esteve nos dinossauros, hoje está na possibilidade do aprendizado sem fim, contribuindo pouco a pouco para o avanço do conhecimento global. Sua área combina o universo, algo que transcende em muito nossas experiência humana, com a inteligência artificial, uma ferramenta revolucionária para o nosso dia-a-dia. É uma combinação bonita de conhecimento básico e aplicado.

A ciência também faz parte da vida pessoal de Clécio, que continua sendo um ávido leitor de história e filosofia. Pai de dois filhos, hoje ele apresenta aos meninos os filmes que o fascinaram quando ele próprio era criança e, ao lado da esposa Patrícia, acompanha de perto o crescimento deles. “No raro tempo livre, gosto de contemplar a natureza e observá-los brincando ao ar livre”, finaliza.

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