A mistura entre pesquisa e ensino é algo que acompanha a vida da engenheira agrônoma Maria Carolina Quecine Verdi desde muito cedo. Professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Maria Carolina cresceu rodeada por livros e colecionou experiências muito diversas como cientista e docente na sua trajetória acadêmica.
Nascida em Piracicaba, SP, Maria Carolina é a filha mais velha de Maria Regina, que trabalhou por muito tempo como secretária de uma escola pública da cidade. A menina acompanhava frequentemente a mãe no trabalho e, por muitas vezes, passou as férias na biblioteca da escola, onde adquiriu o gosto pela leitura, que carrega até hoje. “Sempre gostei muito de aprender e tinha uma curiosidade inata. Lembro de pegar o ônibus e ir para a biblioteca municipal ou para sebos no centro da cidade. No colégio tinha interesse principalmente pelas áreas das ciências naturais e exatas”, lembra.
Desse interesse surgiu seu fascínio por processos biológicos e por entender como a vida funciona. A partir daí a escolha pela engenharia agronômica foi fácil, já que morava na mesma cidade da Esalq, um dos mais célebres centros das ciências agrárias no país. Logo no primeiro semestre se envolveu para a área de biotecnologia e genética molecular motivada pelo interesse em fazer pesquisa. Foi assim que chegou ao Laboratório de Genética de Microorganismos e conheceu a professora Aline Aparecida Pizzirani-Kleiner, sua grande orientadora na carreira.
“Recebi total apoio e logo comecei a acompanhar os trabalhos de rotina do laboratório, aprendendo técnicas básicas de cultivo microbiano e experimentação. Nesse período, acompanhei o então doutorando André Souza de Oliveira Lima, que estava finalizando seus experimentos. Colaborei com os ensaios de clonagem e caracterização de celulases e aprendi diversas técnicas relacionadas ao estudo de genética molecular. Acabei me apaixonando pela área de genética de microrganismos”, descreve.
Durante a graduação, Maria Carolina começou a dar aulas no curso de suplência para funcionários de baixa escolaridade da Esalq, quando teve sua primeira experiência na docência. Em 2003, junto a outros alunos da faculdade, fundou a Associação Avante de Ensino Pré-Vestibular Alternativo e passou a dar aulas de preparação para alunos de baixa renda de Piracicaba. “Creio que ali já nascia uma pesquisadora e uma professora”, reflete.
Ao se formar, a Acadêmica ingressou direto no doutorado, com a mesma orientadora, no Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da Esalq. Nesse período, sua atividade como cientista se intensificou e passou a frequentar mais congressos e eventos científicos, os quais conciliava com as aulas no pré-vestibular. “Para minha satisfação, reencontrei vários dos alunos do cursinho Avante como graduandos da Esalq, inclusive uma das alunas foi minha orientanda de mestrado”.
A pesquisadora precisou dar uma pausa nessas atividades em 2008 quando, em busca de experiência internacional, foi fazer doutorado sanduiche no laboratório da professora Joyce Loper, ligada ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), em Cornallis, EUA. O projeto envolvia o nocaute de genes relacionados à produção de metabólitos secundários pela rizobactéria Pseudomonas protegens. “Considero esse período muito importante para minha carreira, pois aprendi muito sobre expressão gênica e interação entre microrganismos”, avalia.
Em 2010, defendeu sua tese de doutorado “Aspectos biotecnológicos da interação entre bactérias e cana-de-açúcar (Saccharum sp. L.)”, onde investigou a viabilidade da aplicação da biologia molecular para potencialização do uso de microrganismos na promoção de crescimento e controle de pragas na cana-de-açúcar. A tese recebeu o prêmio USP-Dow de Inovação e Sustentabilidade, representando o Brasil na premiação internacional em Boston, EUA. Também foi contemplada com o prêmio Top Etanol, da Unica, entidade ligada ao cultivo de cana-de-açúcar.
Ela explica que seus trabalhos giram em torno da necessidade de aumentar a produtividade da agricultura para reduzir seus impactos ambientais. “Para isso, os microrganismos têm papel vital na fixação biológica do nitrogênio, na solubilização de fosfato, na disponibilização de outros nutrientes e no controle de pragas e doenças. Dedico-me ao melhor entendimento da genética e dos mecanismos moleculares que regem as complexas interações desses seres com as plantas”, explica.
Agora na ABC, ela conta que se inspira em outras grandes mulheres agrônomas e membras da Academia, como Johanna Döbereiner e Mariangela Hungria. “Sou apaixonada pelo que faço, acredito na ciência e tenho muito orgulho dos pesquisadores brasileiros, pois com tantas adversidades conseguimos fazer boa ciência no país. Quero ser defensora ativa da pesquisa nacional, mas sempre com um olhar crítico para a ética científica”.
Atualmente ela divide o trabalho com a jornada integral que é ser mãe de duas crianças pequenas, Vicente e Isadora. “Eles são o meu maior interesse atual e dão muito, mas muito, trabalho!”, conta.