Tendo em vista os 108 anos de existência da ABC, muita documentação relativa à sua história, entrelaçada com a da ciência brasileira, está em seus arquivos, físicos e digitais. Considerando seu interesse para a sociedade, a Diretoria da Academia Brasileira de Ciências decidiu promover o Projeto Memória Histórica da ABC, realizado em colaboração com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e financiado por edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Carlos Chagas Filho (Faperj).
O objetivo final do projeto é compor uma base de dados – o Centro de Memória Histórica da ABC “José Murilo de Carvalho” – que apresente a descrição dos documentos e que permita a realização de buscas e o acesso público à documentação digitalizada, de especial interesse para pesquisadores, cientistas, estudantes e comunidade, interessados na história da ABC e da ciência brasileira. A base de dados será hospedada no sítio da ABC. O modelo é a base de dados Zenith do Arquivo de História da Ciência (AHC) do MAST.
Histórico
Como parte das comemorações do centenário da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em 2016, o historiador e membro titular José Murilo de Carvalho coordenou um projeto de pesquisa sobre o passado da instituição. Com colaboração do paleontólogo e Acadêmico Diógenes de Almeida Campos e do físico e historiador da ciência Ildeu de Castro Moreira, o resultado final foi materializado na exposição “100 Anos da Academia Brasileira de Ciências” – montada nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Seguro – e na publicação de um livro comemorativo com o mesmo nome.
Outras publicações também foram lançadas, são elas: a revista de divulgação científica Academia Brasileira de Ciências e os Caminhos da Pesquisa Científica no Brasil – Uma História Entrelaçada, o gibi 18 Cientistas Brasileiros e suas Contribuições e o e-book 100 Anos da ABC, estes dois últimos voltados ao público infanto-juvenil. Para além dos produtos finais, o projeto trouxe à tona o acervo riquíssimo da ABC, formado por documentos, correspondências, publicações e manuscritos de acadêmicos vivos e falecidos, além de gravações de entrevistas, conferências, palestras e atividades realizadas por personalidades célebres da ciência, tecnologia e educação do país e do mundo.
José Murilo de Carvalho faleceu em 2023, aos 84 anos, deixando um legado grandioso na forma como o Brasil compreende sua própria história. No que diz respeito à ABC, as descobertas trazidas por sua pesquisa serão agora eternizadas na forma de um acervo digital que levará seu nome. No mesmo ano, foi criada uma comissão organizadora sob coordenação dos membros titulares Patrícia Torres Bozza e Diógenes de Almeida Campos. A equipe científica conta ainda com os Acadêmicos Débora Foguel (UFRJ), Paulo Cruz Terra (UFF), Thaiane Moreira de Oliveira (UFF) e Rodrigo Toniol (UFF) e com os pesquisadores Luisa Massarani (Fiocruz) e Ildeu de Castro Moreira (UFRJ).
O termo de intenção para dar o pontapé inicial foi assinado durante a Reunião Magna de 2024, evento mais importante do calendário da ABC. O projeto prevê que a documentação dos Acadêmicos vivos e dos projetos em curso ficarão na sede da Academia, no Rio de Janeiro, enquanto documentos ligados aos acadêmicos já falecidos e aos projetos já concluídos irão juntar-se à Biblioteca Henrique Morize do MAST (clique no link e busque por “Biblioteca da ABC”) – onde já estão os livros e publicações da Biblioteca Aristides Pacheco Leão, da ABC, desde 2007.
Primeira etapa já começou
O trabalho envolve a recuperação, organização e catalogação e digitalização do acervo da ABC, composto de documentos em diversos formatos produzidos desde 1916.
A primeira etapa foi iniciada e envolve a higienização, recuperação e organização do acervo, com base nas diretrizes do Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos em Papel (Lapel/MAST), e ocorre sob a supervisão de seus especialistas. Está etapa será seguida pela identificação, seleção e organização dos documentos, que terá curadoria dos historiadores Moema Rezende Vergara (MAST e Unirio) e Paulo Cruz Terra (ABC e UFF).
O acervo terá uma linha do tempo da história da ABC em paralelo com a da ciência brasileira; uma galeria de ex-presidentes; uma página especial sobre a criação da Rádio Sociedade, primeira emissora de rádio do país; destaques para cientistas históricos que se tornaram membros correspondentes, como Marie Curie e J. Robert Oppenheimer; visitantes ilustres; posicionamentos políticos históricos da ABC; colaborações com outras academias e instituições ligadas à ciência, tecnologia, inovação e educação nacionais e internacionais; eventos; prêmios, medalhas e muito mais. Como parte de seu compromisso com a pesquisa brasileira, a ABC acredita que o acervo será de valor inestimável para o campo de estudo em História da Ciência no Brasil.
Em um momento tão delicado para a ciência nacional, em que pesquisadores e instituições sofrem ataques e o negacionismo científico cresce, a ABC também se dispõe a pensar ações mais amplas para divulgação científica. Para valorizar o presente é preciso conhecer o passado, e, para isso, é preciso memória.