Como parte das comemorações do centenário da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em 2016, o historiador e membro titular José Murilo de Carvalho coordenou um projeto de pesquisa sobre o passado da instituição. Com colaboração do paleontólogo e Acadêmico Diógenes de Almeida Campos e do físico e historiador da ciência Ildeu de Castro Moreira, o resultado final foi materializado na exposição “100 Anos da Academia Brasileira de Ciências” – montada nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Seguro – e na publicação de um livro comemorativo com o mesmo nome.

Detalhes da exposição “100 Anos da Academia Brasileira de Ciências”, no Museu do Amanhã, em 2016 | Acervo ABC

Outras publicações também foram lançadas, são elas: a revista de divulgação científica Academia Brasileira de Ciências e os Caminhos da Pesquisa Científica no Brasil – Uma História Entrelaçada, o gibi 18 Cientistas Brasileiros e suas Contribuições e o e-book 100 Anos da ABC, estes dois últimos voltados ao público infanto-juvenil. Para além dos produtos finais, o projeto trouxe à tona o acervo riquíssimo da ABC, formado por documentos, correspondências, publicações e manuscritos de acadêmicos vivos e falecidos, além de gravações de entrevistas, conferências, palestras e atividades realizadas por personalidades célebres da ciência, tecnologia e educação do país e do mundo.

José Murilo de Carvalho | Universidade Federal de Santa Maria/Reprodução

José Murilo de Carvalho faleceu em 2023, aos 84 anos, deixando um legado grandioso na forma como o Brasil compreende sua própria história. No que diz respeito à ABC, as descobertas trazidas por sua pesquisa serão agora eternizadas na forma de um acervo digital que levará seu nome. No mesmo ano, foi criada uma comissão organizadora sob coordenação dos membros titulares Patrícia Torres Bozza e Diógenes de Almeida Campos. A equipe científica conta ainda com os Acadêmicos Débora Foguel (UFRJ) e Paulo Cruz Terra (UFF) e com os pesquisadores Luisa Massarani (Fiocruz) e Ildeu de Castro Moreira (UFRJ).

Foi assim que, em 2024, a partir de uma parceria firmada com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e com financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), começaram os trabalhos para a criação do Centro José Murilo de Carvalho de Memória Histórica da ABC.

O termo de acordo para dar o pontapé inicial foi assinado durante a Reunião Magna de 2024, evento mais importante do calendário da ABC. O projeto prevê que a documentação dos Acadêmicos vivos e dos projetos em curso ficarão na sede da Academia, no Rio de Janeiro, enquanto documentos ligados aos acadêmicos já falecidos e aos projetos já concluídos irão juntar-se à Biblioteca Henrique Morize do MAST – onde já estão os livros e publicações da Biblioteca Aristides Pacheco Leão, da ABC, desde 2007.

Helena Nader assina termo de cooperação para criação de acervo histórico da ABC | Foto: Marcos André Pinto

Primeira etapa já começou

O trabalho envolve a recuperação, organização e catalogação e digitalização do acervo da ABC, composto de documentos em diversos formatos produzidos desde 1916. O objetivo final é compor uma base de dados, com a descrição de cada documento, que permita o acesso público, de forma digital, por pesquisadores, estudantes e qualquer outra pessoa interessada na história da ciência brasileira. O acervo será hospedada no site da ABC e será inspirado na base de dados Zenith do Arquivo de História da Ciência (AHC) do MAST.

A primeira etapa foi iniciada e envolve a higienização, recuperação e organização do acervo, com base nas diretrizes do Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos em Papel (Lapel/MAST), e ocorre sob a supervisão de seus especialistas. Está etapa será seguida pela identificação, seleção e organização dos documentos, que terá curadoria dos historiadores Moema Rezende Vergara (MAST e Unirio) e Paulo Cruz Terra (ABC e UFF).

O acervo terá uma linha do tempo da história da ABC em paralelo com a da ciência brasileira; uma galeria de ex-presidentes; uma página especial sobre a criação da Rádio Sociedade, primeira emissora de rádio do país; destaques para cientistas históricos que se tornaram membros correspondentes, como Marie Curie e J. Robert Oppenheimer; visitantes ilustres; posicionamentos políticos históricos da ABC; colaborações com outras academias e instituições ligadas à ciência, tecnologia, inovação e educação nacionais e internacionais; eventos; prêmios, medalhas e muito mais. Como parte de seu compromisso com a pesquisa brasileira, a ABC acredita que o acervo será de valor inestimável para o campo de estudo em História da Ciência no Brasil.

Visita de Einstein ao Observatório Nacional, em que estavam presentes o presidente da ABC e diretor do Observatório Nacional à época, Henrique Morize, e os Acadêmicos José Frazão Milanez, Lelio Itapuambyra Gama, Domingos Fernandes da Costa, Alix Corrêa Lemos, Alfredo Lisboa e Ignacio Manoel Azevedo do Amaral | Acervo ABC

Em um momento tão delicado para a ciência nacional, em que pesquisadores e instituições sofrem ataques e o negacionismo científico cresce, a ABC também se dispõe a pensar ações mais amplas para divulgação científica. Para valorizar o presente é preciso conhecer o passado, e, para isso, é preciso memória.

Diretoria da ABC em 23/11/2022 visita obra do Museu Nacional: 11 dos 13 membros da Diretoria da ABC foram recebidos pelo diretor do museu, o Acadêmico Alexander Kellner, para uma visita guiada. À esquerda, o diretor Álvaro Prata; o vice-presidente regional para o NE e ES, Anderson Gomes; o vp regional para SP, Glaucius Oliva; o vp regional para o Sul, Ruben Oliven; o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner; a presidente da ABC, Helena Nader; o diretor Roberto Lent; a vp regional para o RJ, Patricia Bozza; o vice-presidente da ABC, Jailson Bittencourt; agachadas, a diretora Maria Vargas e a vp regional para MG e CO, Mercedes Bustamante | Acervo ABC