Quando tinha apenas 26 anos, a jovem mineira Taís Gratieri, nascida na cidade de Alfenas, já defendia sua tese de doutorado (2010) na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Com pais professores, foi criada em contato com muitos livros e, desde cedo, incentivada a prosseguir com seus estudos.
Hoje, aos 30, professora adjunta de Farmacotécnica e Cosmetologia da Universidade de Brasília (UnB), ela lembra que foi natural terminar a graduação em farmácia-bioquímica na USP (2005) e já iniciar seu doutorado na mesma instituição, com um período de estágio, na Universidade de Saaland (2009), Alemanha.
A pesquisa pela qual foi laureada estuda o desenvolvimento de novas formulações para o tratamento da ceratite fúngica, uma infecção causada por fungos na córnea, comum em países de clima quente e, que, na maioria dos casos, pode levar à perda completa da visão. O estudo é baseado no desenvolvimento de nanossistemas lipídicos mucoadesivos com efeitos potencializados pela aplicação da iontoforese – técnica que utiliza uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a penetração de fármacos nos tecidos.
“Espera-se, primeiramente que, por serem mucoadesivos, tais sistemas sejam capazes de aderir melhor na superfície ocular, além de possuir tempo de residência prolongado, liberando maior quantidade de fármaco para os tecidos infeccionados” explicou Taís . Para isso, um antifúngico será encapsulado em lipossomas revestidos por quitosana, um polímero com reconhecidas propriedades mucoadesivas. Em seguida, serão avaliadas as atividades in vitro do fármaco livre e encapsulado, com e sem a aplicação da iontoforese. “Os resultados obtidos permitirão o desenvolvimento de nanossistemas lipídicos otimizados para a incorporação de diferentes agentes anti-infecciosos”, completou.
Os bons resultados obtidos em sua pesquisa na Alemanha geraram um convite para o pós-doutorado na Universidade de Genebra, na Suíça, com um dos maiores especialistas do mundo em iontoforese.
Na Suíça, onde trabalhou por dois anos, atuou em projetos de desenvolvimento de produtos tecnológicos em colaborações com indústrias farmacêuticas e cosméticas.
Em 2012, a cientista retornou ao país por meio do Programa Ciência sem Fronteiras -Atração de Jovens Talentos, que busca trazer de volta doutores que estão no exterior. Depois de passar por várias cidades, a pesquisadora encontrou seu lugar em Brasília, onde se sente privilegiada por ter todas as vantagens de uma cidade grande que ainda mantém uma aparente tranquilidade de interior. No tempo livre, adora ir ao cinema e assistir a apresentações musicais.
Ela conta que ficou extremamente feliz com a notícia do prêmio. “Enquanto eu cursava o doutorado, trabalhei com uma professora que ganhou este prêmio em Portugal e lembro que me impressionou muito. Eu a admirava e sonhava em um dia ser reconhecida assim”, comenta Taís.
Nesse momento da sua vida, o prêmio adquire um novo significado. “Por um lado fico lisonjeada em saber que posso servir de inspiração para minhas alunas, como aquela professora me inspirou. Mas, principalmente, espero trazer ainda mais incentivo ao curso de Farmácia da UnB, onde ainda temos que lutar para construir uma infraestrutura mínima para dar seguimento às pesquisas”, destacou Taís. Acrescentou ainda que espera que este prêmio leve reconhecimento para o seu grupo de pesquisa “e desperte o interesse das empresas para as inúmeras parcerias que podemos fazer e contribuir para levar novos produtos ao mercado, além de aumentar a inovação tecnológica do país e a saúde da população”.