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Pesquisador ameaçado em função dos resultados de seus estudos

Leia a declaração do médico Marcus Vinícius Lacerda, que foi membro afiliado da ABC (2012-2016) e hoje é pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz – Amazônia) e da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD):

O estudo CloroCovid-19 congrega um conjunto de mais de 70 profissionais, entre pesquisadores, estudantes de pós-graduação e colaboradores de instituições com tradição em pesquisa, como Fiocruz, Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Universidade do Estado do Amazonas e Universidade de São Paulo. Há mais de 20 anos, a equipe desenvolve estudos de pesquisa em malária, HIV/Aids, tuberculose, acidentes por serpentes, e outras doenças emergentes, com reconhecimento internacional e participação em conselhos internacionais, incluindo OMS.

O Clorocovid-19 foi estruturado como um estudo de fase II, ou seja, que tem mais interesse na segurança dos pacientes, portanto, incluiu apenas pacientes graves com síndrome respiratória aguda grave (SRAG), com suspeita (e posterior confirmação laboratorial) de COVID-19.

O estudo pretende ainda verificar se há ação benéfica da cloroquina, em comparação com dados de outros estudos internacionais, nos quais pacientes em condições clínicas semelhantes não usaram cloroquina.

Em termos éticos, já que o Ministério da Saúde tinha recomendado o uso de cloroquina para casos graves de COVID-19, não consideramos oportuno, nesse momento, o uso de um grupo de placebo, ou seja, sem uso de cloroquina. Assim, foram usadas duas doses distintas de cloroquina:

(1) dose baixa, 450mg 2x/dia no primeiro dia e 450mg 1x/dia por mais 4 dias (total de 5 dias de tratamento);

(2) dose alta, 600mg 2x/dia durante 10 dias.

O Ministério da Saúde do Brasil, junto à Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCETIE), indicou a dose baixa para o tratamento de pacientes com quadro clínico grave, sob aconselhamento do próprio investigador principal do estudo, Dr. Marcus Lacerda. A dose foi inicialmente utilizada pelo General Hospital de Massachussets, nos Estados Unidos (EUA).

A escolha de uma dose alta teve o seguinte racional científico:

(1) doses mais altas têm maior atividade antiviral in vitro, ou seja, em laboratório, sendo mesmo mais altas do que a dose usada para malária, por exemplo;

(2) é a mesma dose, por peso dos pacientes, usada na China, e que consta atualmente no Consenso Chinês de tratamento de COVID-19;

(3) uso em pacientes com choque, ou seja, com baixa perfusão intestinal, e que, portanto, absorvem menos a medicação, que só tem apresentação em comprimidos;

(4) em uma doença que se revelou, no mundo ocidental, muito letal, o risco de benefício da eficácia x de efeitos colaterais, de diferentes doses, precisava ser avaliado e conhecido dentro de parâmetros científicos;

(5) boa segurança dessa mesma dose alta em pacientes com câncer, em vários estudos publicados, que usaram por períodos ainda mais longos, de 28 dias.

No curto prazo, não há qualquer diferença de toxicidade entre as duas apresentações da medicação (hidroxicloroquina e difosfato de cloroquina). A toxicidade da forma difosfato de cloroquina só é maior por períodos prolongados de uso, como em lúpus e artrite reumatoide.

Inicialmente, o estudo previu a inclusão de 440 pacientes hospitalizados já em estado grave, no Hospital Delphina Aziz, referência para COVID-19 no Estado do Amazonas. O Governo do Estado do Amazonas, a CAPES e a FAPEAM são os patrocinadores oficiais do estudo. Demais recursos públicos federais prometidos ainda não foram efetivamente disponibilizados.

O estudo foi submetido à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), com CAAE 30152620.1.0000.0005, em 20 de março, sendo aprovado de forma célere, em 23 de março, sendo iniciada a inclusão de pacientes no mesmo dia, face à urgência da situação. Tais dados podem ser acessados facilmente no Boletim Ética em Pesquisa (Relatório Semanal 01), publicado on-line pela CONEP.

Todos os pacientes e/ou familiares foram orientados sobre o objetivo da pesquisa e assinaram Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo uma via arquivada no centro e outra entregue ao paciente, com assinaturas originais.

Um comitê de acompanhamento e segurança independente foi montado prontamente. Integram o comitê médicos especialistas na área, nacionais e internacionais, que passaram a acompanhar diariamente os resultados, de forma virtual.

Assim que se observaram as primeiras mortes, de pacientes em uso de qualquer uma das doses de cloroquina, o qual é próximo da média mundial, o comitê prontamente solicitou a análise dos dados. Até a data da análise, 11 pessoas (de ambos os grupos) haviam morrido por COVID-19, sendo a maioria idosos, como é mesmo o perfil de pacientes graves, em todo o mundo. Verificou-se, naquele momento, que havia tendência de mais efeitos colaterais nos pacientes em uso da maior dose.

A alta dose foi imediatamente suspensa e todos os participantes passaram a usar a dose mais baixa, no dia 6 de abril. A CONEP foi comunicada oficialmente do acontecido no dia 11 de abril, por meio da Plataforma Brasil, e os dados, para maior transparência e visibilidade internacional, foram divulgados, no site MedRxiv (https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.07.20056424v1) , para garantir a oportuna transparência e visibilidade internacional dos resultados até a devida revisão por pares científicos. A intenção foi advertir demais pesquisadores do mundo sobre a toxicidade de uma dose alta, que apesar de teoricamente parecer mais eficaz, estava causando mais danos do que benefícios.

A primeira conclusão do estudo, portanto, foi que pacientes graves com COVID-19 não deveriam mais usar a dose recomendada no consenso Chinês, fato que até o momento não se tinha qualquer evidência, uma vez que nenhum estudo realizou adequadamente a avaliação de segurança, como eletrocardiogramas diários, como feito em Manaus/AM, sob assessoria de cardiologistas experientes e renomados. Dose altas parecem ser seguras em pacientes com câncer, mas não em pacientes graves com COVID-19, em especial os mais idosos. Uma possível explicação levantada no artigo é a ocorrência de miocardite, ou seja, inflamação do músculo cardíaco.

O estudo não permite em absoluto concluir que a cloroquina em doses baixas funciona ou não para COVID-19, porque não tem o grupo comparador de controle, ou seja, sem usar a medicação. Outros estudos para responder a essa questão, estão sendo realizados nesse momento, em outras partes do planeta.

A pré-publicação teve repercussão importante nos EUA, sendo o estudo utilizado como forma de chamar a atenção da população americana sobre os potenciais riscos do uso de cloroquina em COVID-19. New York Times e CNN deram ampla cobertura e visibilidade aos resultados preliminares, no dia 12 de abril.

Uma cascata de contrarreações então teve início, sendo que o ativista, investidor e CEO da Yuko Social, Michael Coudrey, responsável por controle de mídia para políticos e organizações, publicou no Twitter, no dia 14 de abril, que ‘o estudo brasileiro era irresponsável e que tínhamos usado os pacientes como cobaias humanas’, algo absolutamente incorreto, já que, como ressaltado, todos os requisitos éticos e legais foram rigorosamente seguidos. Com 239,8 mil seguidores no Twitter, a mensagem foi viralizada, e chegou ao Brasil no dia 15 de abril, quando foi imediatamente replicada e amplamente divulgada em sites, mídias sociais e demais veículos de comunicação.

A interpretação equivocada do ativista e seus seguidores foi de que todas as mortes ocorridas no estudo se deveram ao uso das altas doses, sendo que nem todos os pacientes usaram a alta dose e todos eles tinham COVID-19 muito grave, vindo a falecer por conta da doença, o que ocorreu dentro da média mundial. Todos os registros estão disponíveis no centro, de acordo com as boas práticas clínicas, seguidas por toda a equipe de profissionais envolvidos no estudo.

Uma onda de reações de natureza ideológica, de pessoas que nunca leram o estudo na íntegra, sem qualquer formação científica, motivou manifestações violentas de cunho pessoal ao pesquisador principal, sua família e sua equipe, o que tem desviado a atenção e o foco do trabalho realizado aqui durante a pandemia. A polícia militar do Estado do Amazonas está vigilante e garantindo a segurança imediata de todos. Pacientes e seus familiares estão com medo do que pode ter acontecido na pesquisa, apesar da equipe estar em constante contato com todos os participantes e seus familiares, com o objetivo de orientar e confortar pessoas que já passaram por imenso trauma.

O debate não apenas está tendo forte viés ideológico, mas também prejudicando a reputação de pesquisadores com forte tradição de pesquisa no Brasil e no mundo, o que pode ser um efeito deletério grave em momentos como o que estamos vivendo.

Os pesquisadores não possuem quaisquer vinculações ideológicas ou partidárias e seu compromisso é apenas com a boa ciência. Não emitimos opinião que não seja baseada em dados científicos. Os dados preliminares publicados no MedRxiv, com pacientes de Manaus, já foram atualizados, persistindo as mesmas conclusões, e estão nesse momento em avaliação por revisores de revista científica internacional muito conceituada no meio científico médico.

As instituições envolvidas tomarão as devidas providências legais para que todos os fatos sejam esclarecidos, e os responsáveis pela divulgação maciça de inverdades sejam punidos.

Os artigos de outros grupos que ainda serão publicados, certamente legitimarão os nossos resultados. Apenas tivemos o privilégio de sermos os primeiros a mostrar o que ninguém queria ver.

Não destruam nossos sonhos, nem o sonho das crianças que querem um dia pesquisar e produzir boa ciência.

Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda MD, PhD
Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz – Amazônia)
Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD)
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Leia as notas de apoio ao pesquisador:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE VIROLOGIA
Nota sobre a necessidade de proteger a integridade e a vida dos pesquisadores brasileiros

FIOCRUZ
Nota em defesa da ciência e de seus pesquisadores

ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS
Nota da ABC sobre ameaça a cientistas

Nota conjunta da ABC e ABL apelam à cidadania para enfrentar a pandemia

 

 

 

 

 

 

NOTA CONJUNTA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Vivemos hoje um dos maiores desafios com a eclosão da pandemia em escala planetária.

Precisamos agir de forma tempestiva, segundo os parâmetros da ciência e os preceitos éticos que nos constituem.  Trata-se de momento crucial para que a sociedade compreenda o papel do conhecimento nas respostas que seremos capazes de elaborar.

O enfrentamento da Covid-19 exige atitude corajosa, solidária e inovadora, que não separe ou exclua ciência e modalidades de ação.

A partir desse horizonte, a Academia Brasileira de Ciências e a Academia Brasileira de Letras convidam a sociedade civil a apoiar e participar de programas e iniciativas de Universidades e centros de pesquisa que, mesmo prejudicados pelas restrições orçamentárias dos últimos anos, estão fortemente engajados na busca de soluções contra o coronavírus.

O exercício da cidadania pressupõe responsabilidade construtiva no enfrentamento conjunto da pandemia.

Toda a ajuda pode fazer a diferença.

Rio de Janeiro, 16 de abril de 2020.

Luiz Davidovich 
Presidente
Academia Brasileira de Ciências

Marco Lucchesi
Presidente
Academia Brasileira de Letras

 

ABC e ANM publicam nota conjunta sobre uso da cloroquina e hidroxicloroquina contra covid-19

A Academia Brasileira de Ciências publicou nota conjunta com a Academia Nacional de Medicina sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 (COV-SARS2). Carta assinada em 12/4 pelos presidentes das duas casas, conclui que a experiência já demonstrou que o uso precipitado de um medicamento baseado apenas em resultados preliminares pode trazer consequências graves e irreparáveis.

Veja a íntegra da nota aqui.

REPERCUSSÃO NA MÍDIA

Site UOL
Academias alertam sobre riscos do uso da cloroquina sem respaldo científico

 

Parceria InterAcademias pede solidariedade global na pandemia

A Parceria InterAcademias (IAP) lançou um chamado por solidariedade e cooperação global às comunidades científicas e aos gestores de saúde e pelo compartilhamento de informação baseada em ciência para ajudar o mundo em desenvolvimento.

O surto da covid-19 foi reportado inicialmente em 31/12/2019. Em março de 2020, foi declarada a pandemia pela Organização Mundial de Saúde. Hoje, sob o guarda-chuva da Parceria InterAcademias, mais de 140 academias de ciências, medicina e engenharia ao redor do mundo apelam para que a comunidade científica e os formuladores de políticas públicas se unam, no sentido de contribuir com o controle da disseminação da infecção. O objetivo da IAP é estimular o uso melhor e mais ágil das pesquisas e seus resultados para o bem da população mundial.

Para o presidente da IAP, Volker ter Meulen, “muitos membros da comunidade científica estão preocupados porque percebem que a vontade de fazer ações coordenadas e compartilhar recursos que ocorreu em pandemias anteriores, como HIV, SARS e a gripe aviária ainda não despertaram na mesma medida com relação à covid-19. É hora de mudar essa maré.”

Os membros das Academias da IAP somam mais de 30 mil cientistas, engenheiros e profissionais da saúde de excelência de mais de 100 países. O novo Comunicado da IAP sobre covid-19 enfatiza a importância vital de se agir coletivamente agora, para mitigar a disseminação do coronavírus em todos os territórios.

Em primeiro lugar, os países precisam colaborar e garantir que os gestores de saúde pública e os governos trabalhem juntos para frear o surto, focando no planejamento em escala global.

Em segundo lugar, os governos devem usar as melhores evidências científicas para fortalecer a preparação da saúde pública e mitigar o impacto socioeconômico da crise da covid-19, especialmente em relação às cadeias de abastecimento.

A terceira  recomendação da IAP é que se planejem ações rápidas e coordenadas para ajudar os países com estruturas de saúde frágeis, especialmente na África, onde a epidemia de coronavírus ainda não disparou.

“A IAP, no momento, está agindo por meio de sua rede de Academias, junto com a Academia Jovem Global (GYA, na sigla em inglês) e outras academias jovens nacionais para compartilhar com os cientistas  evidências científicas internacionais sobre o tema, de modo a capacitá-los a dar consultoria aos seus respectivos governos e orientar cidadãos”, afirmou a co-diretora da IAP Policy, Masresha Fetene.

“A China está na fronteira das respostas à covid-19 e a Academia Chinesa de Engenharia está tendo um papel chave nisso. Estamos disponíveis para compartilhar nosso conhecimento e expertise recém adquiridos sobre essa doença com qualquer país que assim deseje”, adicionou  Depei Liu, co diretor da IAP Health.

“A credibilidade das Academias não vem apenas da excelência cientifica dos seus membros, mas também pelo fato delas não terem outros interesses. Nas últimas semanas, fass notícias e informações deturpadas espalharam-se rapidamente, tanto on line como fora. Por isso é de primeira importância para os formuladores de políticas públicas que ouçam vozes qualificadas, com experiência em fazer análises com base científica sobre temas complexos”, disse a co-diretora da IAP Science, Krishan Lal.

A declaração, lançada em 27/3, teve sua versão em português disponibilizada hoje, 9/4, e foi assinada pelos membros do Comitê Diretor da IAP:

Volker ter Meulen, presidente da IAP
Depei Liu, IAP presidente da IAP e co-diretor da IAP Health
Margaret Hamburg, co-diretora da IAP Health
Krishan Lal, co-chair, IAP Science
Cherry Murray, co-chair, IAP Science
Masresha Fetene, co-chair, IAP Policy
Richard Catlow, co-chair, IAP Policy

Declaração de 16 Academias do mundo apela por cooperação internacional

Desde 2005, as Academias nacionais de ciências do G8, (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia),  e outros países relevantes reúnem-se anualmente para desenvolver recomendações de políticas públicas, a serem encaminhadas aos líderes dos países envolvidos. Os temas das recomendações são relacionados a desafios globais, para os quais a contribuição da ciência faz a diferença.

Em 8/4, foi lançada a declaração abaixo, sobre a necessidade crítica de cooperação internacional durante a pandemia covid-19.

DECLARAÇÃO CONJUNTA DE ACADEMIAS DE CIÊNCIAS E MEDICINA

À medida que o novo coronavírus se espalha pelo mundo e o número de casos e mortes continua a aumentar, quase nenhum país ou comunidade permanece intocado por essa ameaça em rápida evolução. Ações drásticas e urgentes estão em andamento em todos os níveis de nossas sociedades para limitar a disseminação da COVID-19, identificar novas infecções, cuidar dos doentes e prevenir mortes, reduzir os transtornos sociais e econômicos, e atender às necessidades básicas humanas. Incertezas iminentes permanecem e muito ainda precisa ser feito. Nesse momento crítico, nós, as Academias de Ciências e Medicina do G-Science de todo o mundo, incluindo as academias dos países do G7, estamos atuando domesticamente em nossos países de várias maneiras. Mas acreditamos que é essencial enfatizar, juntos, a URGÊNCIA DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL, em várias dimensões:

1. Comunicação internacional rápida, precisa e transparente sobre o desenvolvimento da epidemiologia desta nova doença viral, incluindo padrões de transmissão, período de incubação e letalidade, e a eficácia de vários métodos de intervenção.

2. Compartilhamento em tempo real de informações científicas detalhadas sobre o vírus, a fisiopatologia da doença que ele causa e a resposta imunológica humana, suas origens, genética e mutações, e atividades coordenadas para promover o aumento do conhecimento em todas essas áreas.

3. Compartilhamento de informações sobre pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos médicos para lidar com a doença, em conjunto com esforços de pesquisa colaborativa para promover essa P&D vital.

4. Em reconhecimento de nossa confiança mútua, coordenação e alinhamento de processos regulatórios e de fabricação e de padrões de qualidade necessários para acelerar a disponibilidade de equipamentos de proteção individual confiáveis, dispositivos de teste para diagnóstico e capacidade de tratamento médico.

5. Esforços colaborativos para realizar uma análise rápida, mas baseada em evidências, de preocupações emergentes ou questões distintas de programas e políticas que podem surgir à medida que a pandemia global avança. 6. Desenvolvimento coordenado de orientações, mensagens e comunicações, consistentes e baseadas em evidências, para o público e os formuladores de políticas em circunstâncias que mudam rapidamente.

A cooperação internacional e o compartilhamento de informações em todas essas dimensões serão particularmente cruciais em países e regiões onde o sistema público de saúde e sua infraestrutura de assistência à saúde não são adequados, onde a doença ainda não está em seu pico de impacto, e onde as condições sociais, econômicas e de saúde indicam extrema vulnerabilidade à rápida disseminação da doença e capacidade de resposta deficiente.

Isso é particularmente verdadeiro para populações de regiões em desenvolvimento do mundo, incluindo África, Ásia e América Latina, bem como regiões vulneráveis de grandes conglomerados urbanos.

Também é urgente entender, projetar e se preparar para as diversas dimensões do impacto econômico e social da doença e as necessidades humanitárias iminentes. Organizações bilaterais de assistência ao desenvolvimento e bancos internacionais de desenvolvimento serão atores fundamentais, assim como fundações privadas que desempenharam papéis importantes em situações de crise internacional. A Organização Mundial da Saúde é de importância central em muitas dessas dimensões e precisa do forte apoio e cooperação de todos os nossos países.

A humanidade tem sido repetidamente ameaçada por doenças infecciosas e, a cada vez, tem superado a crise. Continuaremos a enfrentar sérias ameaças de doenças infecciosas no futuro, de gripes pandêmicas a infecções resistentes a medicamentos.

São necessários esforços concertados para abordar as conexões críticas entre a degradação ambiental e os vetores de doenças, a fim de se evitar futuros surtos de novos patógenos. A presente tragédia da COVID19 deve nos estimular a fortalecer dramaticamente nossos esforços para prevenir e controlar doenças infecciosas, para que as sociedades humanas melhorem seus estados de prontidão e aumentem a resiliência às calamidades provocadas por doenças infecciosas.

Esta é uma declaração das dezesseis academias listadas abaixo. Também somos membros da Parceria InterAcademias (IAP), com participantes de mais de 100 países ao redor do mundo, incluindo países que se encontram nas circunstâncias mais difíceis. As academias-membro da IAP podem desempenhar um papel importante em seus próprios países e cooperar internacional e regionalmente, trabalhando em estreita colaboração com o governo, a academia e o setor privado, a fim de superar a atual pandemia da COVID-19.

Signatárias:

Academia Brasileira de Ciências, Brasil
Académie des Sciences, França
Accademia Nazionale dei Lincei, Itália
Chinese Academy of Sciences, China
Deutsche Akademie der Naturforscher Leopoldina, Alemanha
Global Young Academy
Indian National Science Academy, Índia
Indonesian Academy of Sciences, Indonésia
Korean Academy of Science and Technology, Coreia do Sul
National Academy of Medicine, Estados Unidos
National Academy of Sciences, Estados Unidos
Nigerian Academy of Science, Nigéria
Royal Society of Canada, Canadá
Royal Society, Reino Unido
Russian Academy of Sciences, Rússia
Science Council of Japan, Japão

Veja a repercussão na mídia:

O GLOBO, 8/4
Para combater coronavírus, Academias de Ciências de 13 países assinam nota pedindo cooperação internacional

JORNAL DA USP, 8/4
A necessidade crítca de cooperação internacional durante a pandemia de covid 19

Pacto pela vida e pelo Brasil

Leia a proposição da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), lançada em 7/4:

PACTO PELA VIDA E PELO BRASIL

Cidadãos brasileiros, mulheres e homens de boa-vontade, mais uma vez, conclamamos a todos:

O Brasil vive uma grave crise – sanitária, econômica, social e política — exigindo de todos, especialmente de governantes e representantes do povo, o exercício de uma cidadania guiada pelos princípios da solidariedade e da dignidade humana, assentada no diálogo maduro, corresponsável, na busca de soluções conjuntas para o bem comum, particularmente dos mais pobres e vulneráveis. O momento que estamos enfrentando clama pela união de toda a sociedade brasileira, para a qual nos dirigimos aqui. O desafio é imenso: a humanidade está sendo colocada à prova. A vida humana está em risco.

A pandemia do novo coronavírus se espalha pelo Brasil exigindo a disciplina do isolamento social, com a superação de medos e incertezas. O isolamento se impõe como único meio de desacelerar a transmissão do vírus e seu contágio, preservando a capacidade de ação dos sistemas de saúde e dando tempo para a implementação de políticas públicas de proteção social. Devemos, pois, repudiar discursos que desacreditem a eficácia dessa estratégia, colocando em risco a saúde e sobrevivência do povo brasileiro. Em contrapartida, devemos apoiar e seguir as orientações dos organismos nacionais de saúde, como o Ministério da Saúde, e dos internacionais, a começar pela Organização Mundial de Saúde – OMS.

Os países democráticos atingidos pelo COVID-19 estão construindo agendas e políticas para combatê-lo de maneira própria, segundo suas características, mas, todos, sem exceção, na colaboração estreita entre sociedade civil e classe política, entre agentes econômicos, pesquisadores e empreendedores, convencidos de que a conjugação de crise epidemiológica e crise econômica assume tal magnitude, que só um amplo diálogo pode levar à sua resolução. É hora de entrar em cena no Brasil o coro dos lúcidos.fazendo valer a opção por escolhas científicas, políticas e modelos sociais que coloquem o mundo e a nossa sociedade em um tempo, de fato, novo.

Nossa sociedade civil espera, e tem o direito de exigir, que o Governo Federal seja promotor desse diálogo, presidindo o processo de grandes e urgentes mudanças em harmonia com os poderes da República, ultrapassando a insensatez das provocações e dos personalismos, para se ater aos princípios e aos valores sacramentados na Constituição de 1988. Cabe lembrar que a árdua tarefa de combate à pandemia é dever de todos, com a participação de todos — no caso do Governo Federal, em articulada cooperação com os governos dos Estados e Municípios e em conexão estreita com as nossas instituições.

A hora é grave e clama por liderança ética, arrojada, humanística, que ecoe um pacto firmado por toda a sociedade, como compromisso e bússola para a superação da crise atual. Como em outras pandemias, sabemos que a atual só agravará o quadro de exclusão social no Brasil. Associada às precárias condições de saneamento, moradia, renda e acesso a serviços públicos, a histórica desigualdade em nosso país torna a pandemia do novo coronavírus ainda mais cruel para brasileiros submetidos a privações. Por isso, hoje nos unimos para conclamar que todos os esforços, públicos e privados, sejam envidados para que ninguém seja deixado para trás nesta difícil travessia.

Não é justo jogar o ônus da imensa crise nos ombros dos mais pobres e dos trabalhadores. O princípio da dignidade humana impõe a todos e, sobretudo, ao Estado, o dever de dar absoluta prioridade às populações de rua, aos moradores de comunidades carentes, aos idosos, aos povos indígenas, à população prisional e aos demais grupos em situação de vulnerabilidade. Acrescente-se ao princípio da dignidade humana, o princípio da solidariedade – só assim iremos na direção de uma sociedade mais justa, sustentável e fraterna.

É fundamental que o Estado Brasileiro adote políticas claras para garantir a saúde do povo, bem como a saúde de uma economia que se volte para o desenvolvimento integral, preservando emprego, renda e trabalho. Em tempos de calamidade pública, tornam-se inadiáveis a atualização e ampliação do Bolsa Família; a rápida distribuição dos benefícios da Renda Básica Emergencial, já aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Executivo, bem como a sua extensão pelo tempo que for necessário para a superação dos riscos de saúde e sobrevivência da população mais pobre; a absorção de parte dos salários do setor produtivo pelo Estado; a ampliação de estímulos fiscais para doações filantrópicas ou assistenciais; a criação do imposto sobre grandes fortunas, previsto na Constituição Federal e em análise no Congresso Nacional; a liberação antecipada dos precatórios; a capitalização de pequenas e médias empresas; o estímulo à inovação; o remanejamento de verbas públicas para a saúde e o controle epidemiológico; o aporte de recursos emergenciais para o setor de ciência & tecnologia no enfrentamento da pandemia; e o incremento geral da economia. São um conjunto de soluções assertivas para salvaguardar a vida, sem paralisar a economia.
Ressalte-se aqui a importância do Sistema Único de Saúde – SUS, mais uma vez confirmada, com seus milhares de agentes arriscando as próprias vidas na linha de frente do combate à pandemia. É necessário e inadiável um aumento significativo do orçamento para o setor: o SUS é o instrumento que temos para garantir acesso universal a ações e serviços para recuperação, proteção e promoção da saúde.

Em face da expansão da pandemia e de suas consequências, é imperioso que a condução da coisa pública seja pautada pela mais absoluta transparência, apoiada na melhor ciência e condicionada pelos princípios fundamentais da dignidade humana e da proteção da vida. Reconhecemos que a saúde das pessoas e a capacidade produtiva do país são fundamentais para o bem-estar de todos. Mas propugnamos, uma vez mais, a primazia do trabalho sobre o capital, do humano sobre o financeiro, da solidariedade sobre a competição.

É urgente a formação deste Pacto pela Vida e pelo Brasil. Que ele seja abraçado por toda a sociedade brasileira em sua diversidade, sua criatividade e sua potência vital. E que ele fortaleça a nossa democracia, mantendo-nos irredutivelmente unidos. Não deixaremos que nos roubem a esperança de um futuro melhor.

Dia Mundial da Saúde, 7 de abril de 2020

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB
Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB
José Carlos Dias, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns
Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências – ABC
Paulo Jeronimo de Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa – ABI
Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

 

Veja a repercussão na mídia:

O GLOBO, 8/4
Para combater coronavírus, Academias de Ciências de 13 países assinam nota pedindo cooperação internacional

 

ABC e ANM enviam carta ao presidente da Câmara dos Deputados

Leia a íntegra da carta enviada pelos presidentes da Academia Brasileira de Ciências e Academia Nacional de Medicina ao presidentes da Câmara dos Deputados, em 6/4: 

Exmo. Sr. Presidente da Câmara dos Deputados
Deputado Rodrigo Maia

Exmo. Presidente,

O momento atual já mostrou como a pesquisa e a ciência são fundamentais e a rapidez do poder público em investir na pesquisa e inovação será decisiva para o enfrentamento da pandemia do coronavírus.

Somente com recursos suficientes para o combate científico desse novo desafio, poderemos dar uma resposta à altura, contra este inimigo ainda desconhecido.

No pacote de estímulo à economia e proteção da sociedade, recentemente lançado pelo governo dos Estados Unidos, no valor de US$ 2 trilhões, US$ 1,25 bilhão – mais de R$ 6,25 bilhões foram reservados para o suporte a pesquisas científicas no combate ao coronavírus.

No Brasil, ainda é tímida a recente Medida Provisória n. 929/2020, que liberou 100 milhões de reais, mas mesmo assim, o Ministério da Ciência, Tecnologia Inovações e Comunicações conseguiu iniciar a mobilização dos cientistas em pesquisas e avanços nas áreas de terapêutica, vacinas, diagnósticos, inovação para desenvolvimento de equipamentos e reforços de equipes de atendimento.

Estes recursos ainda são insuficientes para o tamanho da calamidade pública. Precisa-se de mais para obtermos o impacto necessário!

Pela Lei Orçamentária Anual de 2020, é estimado para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), a partir de impostos de empresas, o valor de R$ 4,8 bilhões, mas infelizmente, a maior parte (R$ 4,2 bilhões) está em reserva de contingência e não pode ser usada.

Por isso, entendemos indispensável o apoio à emenda da Medida Provisória n. 929/2020 com a adição de 400 milhões de reais para o combate ao coronavírus, o que daria condições básicas para continuidade das ações já iniciadas e articuladas.

A Constituição Federal, em seu artigo 218, afirma que “O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação” e que “A pesquisa científica básica e tecnológica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação”.

Há que a cumprir.

Rio de Janeiro, 6 de abril de 2020

Rubens Belfort Junior
Presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM)

Luiz Davidovich
Presidente da Academia Brasileira de Ciêncas (ABC)

Cientistas de São Carlos defendem manter a quarentena até o dia 30 de abril

Veja nota publicada em 1/4/2020 no jornal São Carlos Agora:

A comunidade científica de São Carlos, representada pela Magnífica Reitora da UFSCar, pelos diretores da Escola de Engenharia de São Carlos, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, do Instituto de Física de São Carlos, do Instituto de Química de São Carlos e do Instituto de Arquitetura e Urbanismo,  pelos chefes da Embrapa Instrumentação e da Embrapa Pecuária Sudeste, por pesquisadores e cientistas membros da Academia Brasileira de Ciências, vem a público manifestar a sua preocupação e posição quanto às ações referentes à prevenção e tratamento da pandemia do novo coronavírus (covid 19), na cidade de São Carlos e região:

  • Considerando a gravidade desta pandemia e os riscos a toda a população e a todas as idades;
  • considerando que a expansão da doença se mostra rápida e inexorável, causando morbidade e internações em massa e colocando em risco o sistema de saúde do município;
  • considerando que todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde, e do Governo Estadual insistem na necessidade de isolamento social e quarentena restrita de toda a população, com base em dados científicos e estatísticas disponíveis e de amplo conhecimento da comunidade cientifica;
  • considerando que todos os países e regiões que não atenderam a estas recomendações, a exemplo da Itália, Espanha e Estados Unidos, estão pagando um alto preço em mortalidade, internações em massa, expansão da doença, colapso do sistema de saúde e impactos econômicos e sociais desta pandemia,

recomenda fortemente aos governantes do Munícipio de São Carlos manter a quarentena da população até, no mínimo, o dia 30 de abril.

A comunidade cientifica está ciente e consciente do impacto econômico destas medidas de restrição. Entretanto, a ampla expansão da doença decorrente e a perda de vidas que certamente virão como resultado de uma precoce abertura total do comércio e consequente mobilidade da população, causarão prejuízos econômicos e sociais de ainda maior monta, no longo prazo, do que os prejuízos decorrentes da adoção da quarentena restrita.

Entendemos que neste momento é fundamental acatar as recomendações que têm forte embasamento científico. A ciência e os cientistas sempre trabalharam pela cidade não apenas elevando seu nome em todos os locais do mundo, mas provendo tecnologias que alimentam as empresas e contribuem para a vitalidade econômica da cidade. Continuaremos dispostos a ser úteis para a cidade e trabalhar ainda mais intensamente, se necessário for em prol de alavancar a economia e nosso comércio. Porém neste momento, temos que estar juntos para proteger aqueles que serão a grande força após o término desta situação: os cidadãos de São Carlos.

Pelos cientistas e pesquisadores de São Carlos:

– Professora Doutora Wanda Hoffman, Magnifica Reitora da Universidade Federal de São Carlos
– Professora Doutora Yvone Primerano Mascarenhas, ex-diretora do Instituto de Física /USP São Carlos [e membro titular da ABC];
– Professora Doutora Maria Cristina Ferreira de Oliveira, diretora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação /USP São Carlos;
– Professor Doutor Vanderlei Salvador Bagnato,  diretor do Instituto de Física /USP São Carlos [e membro titular da ABC];
– Professor Doutor Edson Cezar Wedland, diretor da Escola de Engenharia de São Carlos/ USP São Carlos;
– Professor Doutor Emanuel Carrilho, diretor do Instituto de Química /USP São Carlos;
– Professor Doutor Miguel Antônio Buzzar, diretor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo /USP São Carlos;
– Professor Doutor Glaucius Oliva, professor titular do Instituto de Física de São Carlos, ex-presidente do CNPq [e membro titular da ABC];
– Doutor João de Mendonça Naime, chefe geral da Embrapa Instrumentação São Carlos;
– Doutor Rui Machado, chefe geral da Embrapa Pecuária Sudeste São Carlos;
– Doutor Silvio Crestana, pesquisador da Embrapa Instrumentação, ex-presidente da Embrapa Brasil;
– Professor Doutor Sérgio Campana Filho, prefeito do Campus de São Carlos/USP;
– Doutor José Galizia Tundisi, professor titular aposentado da EESC- USP/ São Carlos, presidente do Instituto Internacional de Ecologia, ex-presidente do CNPq [e membro titular da ABC].

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