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Nota Oficial da Academia Nacional de Medicina sobre a variante Ômicron

A Academia Nacional de Medicina, face ao surgimento desta nova variável com possível agravamento, lembra que todas as medidas preventivas precisam ser tomadas para evitar a piora da pandemia, com lockdown e a paralisação da sociedade com recrudescimento das mortes.

Reforça ser imprescindível o investimento e financiamento das pesquisas e a capacitação de Laboratórios e Instituições que permitam o diagnóstico e a manutenção de condutas científicas adequadas.

Continua inaceitável o comportamento negacionista, anticientífico e político-demagógico.

A imunização global é necessária para o controle da pandemia e diminuir as chances de surgimento de novas variantes. O Brasil deve atuar como líder na solidariedade internacional, disponibilizando vacinas e insumos para países mais necessitados.

O exemplo adequado das autoridades deve ser obrigatório, pois evita mortes, ajuda a economia e permite o retorno a outras atividades essenciais. A omissão e condutas inadequadas precisam ser responsabilizadas.

Máscara, distanciamento físico, higienização das mãos com álcool e vacinas continuam a ser indispensáveis.

A resposta dos Brasileiros aos programas de imunização tem sido exemplar, mas é importante seguirmos tratando de convencer a todos a se vacinar, pois temos ainda que melhorar nossas taxas de imunização completa.

Acad. Rubens Belfort Jr.
Presidente
Academia Nacional de Medicina

Em Cúpula do S20, Academias entregam diretrizes para lidar com futuras pandemias

Nos dias 22 e 23 de setembro, o Science20 (S20), grupo formado pelas Academias nacionais de ciências dos países do G20 (19 maiores economias do mundo mais a União Europeia), realizou sua Cúpula 2021. A ABC foi representada pela vice-presidente Helena B. Nader, que acompanhou a elaboração do documento por parte da ABC, contando com apoio do GT Futuro da Saúde nas etapas iniciais do processo.

O encontro marcou a entrega oficial da declaração “Preparação para Pandemias e o Papel da Ciência” (“Pandemic Preparedness and the Role of Science”, no original em inglês) ao governo da Itália, país que ocupa a presidência rotativa do G20 em 2021. A declaração alerta para a necessidade da criação de uma rede global de prevenção de pandemias, eficaz na identificação e controle de futuros surtos epidêmicos. Os governos do G20 foram convidados a organizar um sistema global de acesso a dados epidêmicos, construir uma rede de centros de controle de doenças infecciosas e avançar em direção a um tratado internacional de prevenção de pandemias.

Anualmente, o Science20 se reúne em prol de um tema relevante para elaborar diretrizes e apresentá-las aos líderes do G20. A Accademia Nazionale dei Lincei é a anfitriã do Science20 2021 e organizou a Cúpula Anual do S20, conduzida em conjunto com o grupo SSH20 (Ciências Sociais e Humanidades) com o nome oficial de “S20 + SSH20 Academic Summit”

Em sua apresentação na Cúpula, Helena Nader citou diretrizes para efetivar as propostas da declaração do S20. A pesquisadora incentivou a colaboração internacional, a promoção de interações próximas com o governo e o diálogo com a sociedade – sendo este último grupo o que mais se beneficia das inovações científicas. A ABC possui um grande destaque em todas as áreas mencionadas, com cada vez mais membros garantindo espaço na mídia local e ocupando posições relevantes em organizações científicas internacionais. Além disso, a Academia também mantém boas relações com a Suprema Corte e interage frequentemente com diferentes ministérios e agências governamentais, uma ação fundamental para a inserção de novas políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação. 

Já no âmbito global, a ABC está organizando um diálogo com vencedores do prêmio Nobel, em parceria com a Nobel Prize Outreach e a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas). Em breve, a ABC irá submeter uma proposta para estabelecer um programa para promoção do bem-estar nas Américas: o Ianas Health Program é fruto da urgência de cooperação multilateral na área da saúde, acentuada pela pandemia de COVID-19. “A saúde não apenas é um tópico crítico global, mas também tem especificidades que são muito características das Américas, como as doenças tropicais negligenciadas”, defendeu Nader.

Em 2021, pela primeira vez, organizações nacionais ligadas especificamente às áreas de Ciências Sociais e Humanidades (SSH20) também redigiram uma declaração no contexto do G20. A Academia Brasileira de Letras (ABL) representou o Brasil, participando da escrita do documento Crises: economia, sociedade, legislação e cultura na busca por uma humanidade menos vulnerável. O presidente da ABL, Marco Lucchesi, participou do “S20 + SSH20 Academic Summit”.

Science20 publica declaração conjunta alertando para prevenção de pandemias

Como preparação para a reunião da cúpula do G20 (Grupo dos 20) – constituído por ministros da economia e presidentes de bancos centrais dos 19 países de economias mais desenvolvidas do mundo, mais a União Europeia – que acontece nos dias 30 e 31 de outubro em Roma, Itália, as academias de ciências dos países membros (Science20) divulgaram a declaração conjunta “Preparação para Pandemias e o Papel da Ciência”. A vice-presidente Helena B. Nader foi a responsável por acompanhar a elaboração do documento por parte da Academia Brasileira de Ciências (ABC), contando também com o apoio do GT Futuro da Saúde nas etapas iniciais do processo.

Todos os anos, o Science20 se reúne em torno de um tema relevante para criar diretrizes que são apresentadas aos líderes do G20. Em 2021 os esforços foram liderados pela Accademia Nazionale dei Lincei, que representa a Itália, anfitriã do evento. 

A declaração alerta para a necessidade da criação de uma rede global de prevenção de pandemias capaz de identificar rapidamente surtos epidêmicos e que estimule a colaboração internacional e o compartilhamento de dados. Também urge a cooperação tecnológica, sobretudo auxiliando países em desenvolvimento na obtenção de vacinas, medicamentos, testes e equipamentos necessários para o controle pandêmico. 

Por fim, é ressaltada a importância de um Acordo Internacional de Preparação e Gestão Pandêmica, que discuta erros e acertos relacionados ao novo coronavírus e reforcem o Regulamento Sanitário Internacional (2005), de forma a torná-lo mais eficiente e integrado para oferecer respostas globais a crises de saúde. 

Neste ano, organizações ligadas às ciências sociais e humanidades dos 20 países membros (SSH20) também elaboraram uma declaração conjunta com o tema “Crises: economia, sociedade, legislação e cultura na busca por uma humanidade menos vulnerável”. O Brasil foi representado pela Academia Brasileira de Letras (ABL). 

O documento completo do S20 pode ser acessado aqui. 

Vacinação rápida pode diminuir a velocidade de evolução do vírus

Confira o artigo escrito pelo membro titular da ABC Luiz Carlos Dias, publicado Jornal da Unicamp no dia 19/7. Em novo texto sobre a pandemia de COVID-19, o Acadêmico esclarece dúvidas sobre a recente notícia de que lotes vencidos da vacina Oxford/AstraZeneca foram aplicadas em cidadãos brasileiros. Dias é professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista 1A do CNPq.

 

O vírus SARS-CoV-2 não está ficando mais letal ou patogênico. Trata-se de uma opinião muito pessoal, refletindo e estudando muito sobre a pandemia, desde o dia 31/12/2019, quando o vírus SARS-CoV-2 foi apresentado ao mundo. O vírus, nesse processo de evolução natural, está tentando fugir da resposta do sistema imunológico dos seus hospedeiros naturais, os seres humanos. Então, ele vai sofrendo mutações aleatórias, não planejadas, para poder continuar se replicando e produzindo milhões de cópias dele mesmo.

O vírus quer se adaptar ao organismo de seu hospedeiro, nós, os humaninhos. Para o vírus, não é interessante destruir seu hospedeiro natural, matar os seres humanos, pois em fazendo isso, ele não se replica. Para o vírus continuar se replicando, também não é interessante deixar todo mundo muito doente, senão as pessoas serão isoladas e já era a transmissão comunitária. Ah, mas aí vão dizer, o vírus não é um organismo vivo, não tem essa inteligência. Aí eu apelo para o Darwinismo, seleção natural.

Nós já estamos há pouco mais de um ano e meio na pandemia, um pouco menos que isso no Brasil. Quase 200 milhões de pessoas foram infectadas pelo SARS-CoV-2 e suas variantes e cerca de 4,1 milhões de pessoas morreram de Covid-19 no mundo, sendo pouco mais de 542 mil óbitos apenas no Brasil (números muito provavelmente subnotificados).

Algumas variantes de atenção surgiram, mas apesar de serem mais transmissíveis, elas não estão se tornando mais letais, felizmente. Essas novas variantes de atenção, como a Delta, que chegou recentemente ao Brasil, não estão causando doenças mais graves, não são mais letais, mais virulentas ou mais patogênicas, quando comparadas ao vírus original. Aparentemente nenhuma dessas variantes de atenção, Alfa, Beta, Gama, Delta (as mais perigosas) ou as variantes de interesse Epsilon, Zeta, Eta, Theta, Iota e Lambda são mais letais. Elas estão ficando mais transmissíveis, infectando maior número de pessoas, pois é isso que o vírus quer, se espalhar mais e mais.

Em um processo de vacinação lenta, o vírus pode tentar se adaptar novamente, agora para fugir da resposta vacinal levando a um possível escape vacinal, mas à medida que acelerarmos a vacinação, este processo ocorrerá de forma mais lenta, dificultando o surgimento de novas variantes de atenção, como colocado no ponto a seguir, com estudos mostrando que a vacinação em massa diminui a velocidade de evolução do vírus. Bingo, isso é ótimo.

Esse é o futuro, a vacinação em massa, embora possivelmente vamos ter que conviver por alguns anos com um vírus que pode causar uma doença mais leve, talvez algo como uma gripe. É como eu vejo o futuro dessa pandemia.

 

Briga das variantes por espaço

A variante Delta está brigando por espaço no Brasil com a variante Gama e poderá ficar dominante, sendo que neste cenário de vacinação lenta, poderá ainda levar a um aumento no número de infecções, mas as vacinas continuarão sendo úteis e eficazes e vão evitar hospitalizações e mortes.

O importante será conseguirmos vacinar mais rapidamente para, mesmo chegando a um cenário de aumento de casos em alguns locais, pois as pessoas acham que a pandemia está ficando sob controle e tendem a relaxar nas medidas não farmacológicas, estes serão casos mais leves em virtude da proteção conferida por todas as vacinas em uso no Brasil, sem exceções.

Ao serem vacinadas, com qualquer uma das vacinas em uso, as pessoas ainda podem ser infectadas, caso tenham contato com o vírus, mas a doença será mais leve, mais branda. Eu vejo uma saída logo ali, mas a vacinação em massa rápida, com a manutenção das medidas não farmacológicas até atingirmos cerca de 75-85% da população vacinada é essencial. E nós atingiremos esse percentual de vacinados, porque estamos vencendo o negacionismo e as mentiras dos adeptos do movimento antivacinas.

São as vacinas que diminuem a velocidade de evolução do vírus

Um estudo publicado em 05/07/2021 ainda na forma de preprint no portal medrxiv, mas que pode ser considerado muito bom para a humanidade, foi conduzido pela empresa de biotecnologia britânica nference e mostrou que as vacinas reduzem a velocidade de evolução do SARS-CoV-2. Os cientistas observaram que a diversidade do vírus está diminuindo à medida que aumenta a taxa de vacinação em massa.

Os cientistas mapearam os genomas do SARS-CoV-2 disponíveis no banco de dados GISAID, que contém informações genéticas do vírus e mostraram que variantes de atenção, como a Delta, possuem mutações relevantes na proteína Spike (S). A boa notícia é que as vacinas estão reduzindo a diversidade genética no gene do vírus responsável pela síntese dessa proteína.

Ao comparar os genomas do vírus de 23 pacientes infectados após vacinados com as de 30 pacientes não vacinados que foram infectados, os cientistas observaram que apesar de não impedir a infecção, as vacinas diminuem a velocidade de evolução do vírus, o que implica em diminuir as possibilidades de fuga evolutiva. Isso é ótimo. O vírus se aproveita para se disseminar mais rapidamente em locais com vacinação lenta, mas o avanço da vacinação diminui o aparecimento de novas variantes do vírus.

 

ESTUDOS DE INTERCAMBIALIDADE

Novas Cepas

Inicialmente, vamos deixar claro que não existe efeito benéfico comprovado cientificamente da revacinação contra a Covid-19 neste momento. Pessoas fazendo isto não terão nenhum benefício e se trata de um ato de egoísmo, falta de empatia e de responsabilidade social, pois estão tirando vacinas de quem ainda não tomou a primeira dose ou não completou o esquema vacinal e prejudicando a ação do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

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Combinação de vacinas Oxford/Astrazeneca e Pfizer/Biontech

O estudo espanhol CombivacS, liderado pelo Instituto de Saúde Carlos III de Madrid, mostrou que a vacinação heteróloga de pessoas com uma primeira dose da vacina Oxford/AstraZeneca e uma segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech produz uma potente resposta imunológica contra o vírus SARS-CoV-2. Os resultados preliminares deste estudo de reforço heterólogo, que mostram os benefícios da combinação de diferentes vacinas contra a Covid-19, envolveram a participação de 663 voluntários e foram anunciados inicialmente dia 18 de maio pelo Instituto de Salud Carlos III e pela revista Nature, mas publicados no dia 10/07/2021 na revista The Lancet.

Baseado nesses resultados, a vacina da Pfizer aumentou as respostas de anticorpos em pessoas vacinadas com uma dose da vacina da AstraZeneca. Seria muito bom mesmo se regimes de vacinação usando diferentes plataformas vacinais pudessem desencadear respostas imunológicas mais fortes e robustas do que a aplicação de duas doses de uma única vacina.

A vacina de Oxford/AstraZeneca usa como plataforma vacinal um adenovírus de chimpanzé, incapaz de se replicar no organismo humano, mas com capacidade para fornecer as instruções para as nossas células produzirem partes da proteína espícula (S) do SARS-CoV-2. Todos os voluntários envolvidos neste estudo clínico randomizado, duplo cego, receberam como primeira dose, a vacina de Oxford/AstraZeneca e cerca de dois terços dos voluntários receberam como segunda dose a vacina baseada em mRNA da Pfizer/BioNTech, cerca de oito semanas após a primeira dose. Um grupo de controle de 232 pessoas não recebeu reforço.

Após essa segunda dose com a vacina da Pfizer/BioNTech, os voluntários produziram níveis mais altos de anticorpos, que inativaram o vírus SARS-CoV-2 em testes in vitro de laboratório. Os voluntários do grupo controle que não receberam a vacina da Pfizer/BioNTech como reforço não tiveram alteração nos níveis de anticorpos.

Quando comparando a dados obtidos anteriormente, os pesquisadores envolvidos no estudo ressaltam que a resposta de anticorpos ao uso da vacina da Pfizer como segunda dose parece ser ainda mais forte do que a resposta que a maioria das pessoas gera depois de receber duas doses da vacina Oxford/AstraZeneca. Neste momento, ainda não está claro como as respostas de anticorpos neste estudo se comparam às observadas em pessoas que recebem duas doses da vacina de mRNA da Pfizer/BioNTech, que como sabemos, desencadeia uma resposta de anticorpos potente após uma segunda dose.

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Uma terceira dose de uma vacina de mRNA como as da Moderna e da Pfizer/BioNTech, pode vir a desencadear uma resposta de proteção robusta, mas também efeitos colaterais mais fortes. Sem dúvida, será muito excitante aguardar os próximos capítulos dos estudos de combinação e intercambialidade de vacinas, inclusive como uma possível terceira dose como reforço. No estudo CombivacS, apenas efeitos colaterais leves semelhantes aos observados em regimes usando as vacinas de Oxford/AstraZeneca e Pfizer/BioNTech, foram observados.

 

Sobre uma possível terceira dose

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Todas as novas vacinas devem passar por fases de testes 1 e 2 para avaliar a segurança e a imunogenicidade, mas a fase 3 muito provavelmente envolverá estudos de não inferioridade comparando com as atuais vacinas em uso. A adaptação das plataformas vacinais a novas variantes deve ser mais rápida, pois tanto a segurança do método, como a produção de anticorpos já terão sido validadas. A Pfizer vem conduzindo estudos de uma possível terceira dose, mas usando a mesma fórmula original, ainda não adaptada às novas variantes. A Pfizer e a AstraZeneca já estão realizando testes no Brasil, enquanto o Butantan deve realizar o ensaio clínico no Brasil durante o segundo semestre de 2021, assim que receber os lotes atualizados da Sinovac, previsto para o mês de agosto.

 

Anvisa libera testes com a ButanVac

A Anvisa autorizou no dia 07/07/2021 o início dos ensaios de fases 1 e 2 da candidata vacinal ButanVac em voluntários, após o Butantan apresentar dados sobre a inativação do vírus. A ButanVac usa tecnologia baseada no vírus que causa a Doença de Newcastle, usando um vírus geneticamente modificado. Esse vírus ataca apenas aves e é usado como um vetor viral da proteína Spike do coronavírus, para induzir resposta de proteção.

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A Anvisa autorizou o início da fase A, com 418 participantes recrutados pelo Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto, quando o Butantan deve definir a dosagem, a quantidade de mililitros de cada uma das duas doses previstas, com intervalo de 28 dias entre elas, além de avaliar a segurança. Os estudos iniciais foram realizados por cientistas da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York. O Butantan, informou que já são 10 milhões de doses estocadas da ButanVac.

 

Os antivirais que nunca foram

De acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da University of California, San Francisco, publicado no dia 22/06/2021 na respeitada revista Science, alguns dos medicamentos do chamado kit precoce, não são ativos contra o vírus que causa Covid-19. Os cientistas testaram 23 medicamentos, incluindo cloroquina, amiodarona e sertralina, e descobriram que o que parecia atividade antiviral nas células era na verdade o resultado de um mecanismo chamado fosfolipidose, que desorganiza as células interrompendo processos celulares fundamentais. A conclusão do trabalho é que estes medicamentos não têm futuro como no combate à Covid-19.

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Mais evidências contra o uso da invermectina no tratamento da Covid-19

Uma meta-análise publicada na revista Clinical Infectious Diseases no dia 28/06/2021, uma das mais importantes na área de infectologia, mostra total ineficácia da ivermectina para combater a Covid-19. Essa revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados padrão ouro, foi publicada em uma revista de alto impacto, reunindo publicações com o mais alto nível de evidências científicas até o momento. Os autores fizeram levantamento de ensaios clínicos randomizados (RCTs) avaliando os efeitos da ivermectina em pacientes adultos infectados com Covid-19, publicados ou aceitos como preprints até o dia 22/03/2021. Os desfechos primários foram: mortalidade, tempo de internação e eventos adversos. Os desfechos secundários incluíram eliminação viral e efeitos adversos graves.

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A conclusão dos estudos é que a ivermectina não é uma opção viável para tratar pacientes com Covid-19, pois não traz nenhum benefício e não muda a história natural da doença. A Universidade de Oxford vai testar a ivermectina em um estudo de grande escala como o Principle, que, em janeiro descartou o uso da azitromicina e da doxiciclina em estágios iniciais da Covid-19. A Universidade espera gerar evidências robustas para determinar se há benefícios ou prejuízos associados ao uso da ivermectina no combate à Covid-19.

 

Comunicação com a sociedade e combate ao negacionismo

Nós cientistas precisamos continuar transmitindo informações corretas e de forma transparente para a sociedade. Infelizmente, nós temos alguns pseudocientistas no Brasil, alguns pseudojornalistas e muitos médicos que não entendem de ciência e do método científico espalhando desinformação e Fake News. O gabinete das sobras (o shadow cabinet) e do ódio, existe de fato. Para uma matéria recente sobre a máquina de desinformação e mentiras, com divulgação de dados científicos falsos sobre Covid-19, compartilhados por parlamentares, veja publicação de O Globo e da Folha de S. Paulo

A sociedade brasileira precisa entender que opiniões de cientistas qualificados não podem ter o mesmo peso que as opiniões de políticos ou de pseudojornalistas que não tem nenhuma formação científica ou desses médicos que não acompanham a evolução da ciência. A população precisa entender que a ciência salva vidas e salva do negacionismo e do obscurantismo.

Nós estamos percebendo que em momentos de pandemia, a confiança da população na ciência aumenta e a Covid-19 está mostrando que não há um mundo seguro sem ciência. Nós venceremos a batalha contra o vírus e contra quem espalha Fake News e desinformação e venceremos com ciência. Só a ciência salva.

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Nota Conjunta ABC-ANM sobre máscaras e vacinação

NOTA CONJUNTA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA SOBRE A NECESSIDADE DE USO CONSTANTE DE MÁSCARAS E DE ACELERAÇÃO DA VACINAÇÃO

Em resposta a muitas dúvidas geradas nos últimos tempos por posturas negacionis-tas, a Academia Brasileira de Ciências e a Academia Nacional de Medicina reafirmam, mais uma vez, que uma das formas mais eficazes de evitar o contágio pela COVID-19 é o uso constante de máscaras.

Faz mais de um ano que repetimos as evidências científicas: as máscaras são fundamentais, mesmo que você tenha sido vacinado ou já tenha sido contaminado pelo coronavírus, pois você pode propagá-lo e até mesmo ser contaminado por novas variantes, o que se torna mais provável neste momento, devido ao ainda baixo percentual de vacinados no nosso país, dado que estamos atrasados no processo de vacinação. Milhares de mortes poderiam ter sido evitadas, dentre as quase 500 mil vítimas. Precisamos acelerar a vacinação.

Faça a sua parte. É fundamental tomar as duas doses da vacina e se “vacinar” também contra a irresponsabilidade e o populismo demagógico. Não compartilhe informações falsas, evite aglomerações, continue usando máscara e exija a vacina!

Rio de Janeiro, 16 de junho de 2021

Luiz Davidovich
Presidente
Academia Brasileira de Ciências
http://www.abc.org.br 

Rubens Belfort Mattos Junior
Presidente
Academia Nacional de Medicina
http://www.anm.org.br

Situação dos Periódicos Científicos Brasileiros

No dia 10 de junho, os presidentes Luiz Davidovich (ABC), Marco Lucchesi (ABL), Rubens Belfort Mattos Jr (ANM) e Ildeu de Castro Moreira  (SBPC), lançaram uma carta de posicionamento frente ao preocupante cenário de cortes de recursos para a ciência do país. Em uma conjuntura alarmante de saúde pública, na qual o conhecimento científico revela-se como imprescindível fator de redução de danos, os cortes orçamentários e a descontinuidade das revistas científicas preocupam os presidentes.

O documento foi enviado para os ministros da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, com cópia para os presidentes da Capes, CNPq e Confap e para os presidentes das comissões de Educação, Cultura e Ciência e Tecnologia na Câmara e no Senado.

Abaixo, trechos da carta:

A Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia Brasileira de Letras (ABL), a Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidades que procuram contribuir sempre para o desenvolvimento científico e tecnológico do País, para a educação e para a cultura brasileira, manifestam sua grande preocupação com a falta de recursos financeiros para periódicos científicos brasileiros e com as notícias recentes sobre o fechamento de revistas científicas e sobre situações de descontinuidade em muitas outras.

Nas revistas científicas de diferentes áreas de conhecimento são apresentados resultados de pesquisas, observações e análises relativas a acontecimentos e fenômenos na natureza e na sociedade, experiências e propostas inovadoras, novas ideias, teorias e modelos. A partir da interação entre os autores e seus pares o conhecimento científico progride. As revistas científicas têm, portanto, grande importância uma vez que, sem essa comunicação, a ciência não avança. Nossas entidades têm conhecimento de que diversas revistas científicas nacionais estão sofrendo sérias restrições com a falta de financiamento e até paralisando suas atividades, sendo que muitas estão classificadas, em suas áreas, com as avaliações mais elevadas do sistema Qualis da Capes.

(…)

As entidades signatárias solicitam às agências federais de fomento, CNPq e Capes, e poderia ser articulado também um apoio das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, providências emergenciais para resolver essa demanda crucial para a ciência brasileira. Ao mesmo tempo, reafirmamos categoricamente que, sem recursos adequados para o fomento à pesquisa, sem bolsas para estudantes de graduação e de pós-graduação e para pesquisadores, sem apoio à infraestrutura das instituições de pesquisa e, também, sem revistas científicas, a ciência brasileira tenderá ao esgotamento. Sem revistas científicas não haverá ciência e a cultura brasileira ficará empobrecida.

Leia o documento completo: 

MANIFESTAÇÃO SOBRE A SITUAÇÃO DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS BRASILEIROS

Estudo da UFRJ mostra que sepse aumenta risco de mal de Alzheimer

Confira a matéria publicada no O Globo no dia 25/5, com uma breve entrevista da professora Claudia Figueiredo, que foi afiliada da ABC entre 2014 e 2019. Claudia é uma das coordenadoras de um recente estudo realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que mostra como inflamações generalizadas desenvolvidas após a contaminação por COVID-19 podem influenciar no risco de uma pessoa desenvolver Alzheimer.  

Cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram como a sepse, a inflamação generalizada quase sempre deflagrada por uma infecção fora de controle, aumenta o risco de uma pessoa desenvolver mal de Alzheimer. A descoberta é particularmente importante porque a sepse, já muito comum, se tornou ainda mais frequente com a pandemia de COVID-19.

Se sabia que a sepse estava relacionada ao risco de demência, mas o estudo é o primeiro a explicar por que e como isso ocorre. Ele abre caminho para a prevenção do mal de Alzheimer, doença que permanece incurável e para a qual não existe remédio eficaz. E indica também que, devido à explosão de casos de sepse com a pandemia, há um enorme risco de aumento de casos de demência. Devido à relevância dos achados, o estudo foi publicado na revista Brain, Behavior and Immunity.

— Infelizmente, a sepse se tornou corriqueira na pandemia, pois acomete a grande maioria dos pacientes graves de COVID-19. Mas nosso estudo abre caminho para estratégias capazes de evitar ou reduzir o risco de mal de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas, explicaCláudia Pinto Figueiredo, do Núcleo de Neurociências da Faculdade de Farmácia da UFRJ.

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O novo estudo mostrou que a sepse deixa uma espécie de “carimbo”, uma marca de risco aumentado de Alzheimer, mesmo em indivíduos que se recuperam da inflamação sem sequelas aparentes.

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Figueiredo frisa que a associação entre doença inflamatória grave, como sepse e Covid-19, e doenças neurodegenerativas mostra que é necessário acompanhamento neuropsicológico desses pacientes após a alta hospitalar.

— Temos uma grave questão, que precisa ser contemplada com políticas públicas de saúde — destaca a cientista.

A sepse é literalmente uma filha de tempestade. É gerada pela chamada tempestade de citocinas — substâncias produzidas pelo sistema de defesa para debelar infecções. Em alguns casos, porém, o sistema imunológico perde o controle e o corpo acaba vítima de fogo amigo, as citocinas.

Na sepse, é como se o organismo entrasse em combustão, fica todo inflamado devido à tempestade. Bombardeados, os órgãos começam a apagar. As bactérias ou vírus causadores da infecção original podem já não estar presentes. Mas o corpo continua a sofrer a inflamação. Se esta não for contida, a pessoa morre.

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O cérebro é particularmente bem protegido pelo sistema imune. Mas se for afetado pela inflamação, as células de defesa ficam “irritadiças” e passam a reagir a qualquer coisa de forma exagerada e desproporcional.

Pequenos danos que para a maioria das pessoas não teriam relevância, nos sobreviventes de sepse são verdadeiros insultos. E esses insultos custam caro. Podem levar à perda de memória e ao desenvolvimento do mal de Alzheimer, explica Figueiredo, que coordenou a pesquisa com Júlia Clarke, também do Núcleo de Neurociências.

O trabalho se originou da dissertação de mestrado de Virginia de Sousa, do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas. E, além de cientistas da Faculdade de Farmácia, contou com a colaboração de pesquisadores dos institutos de Biofísica Carlos Chagas Filho e Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, com financiamento da Faperj.

Num estudo com camundongos, os cientistas puderam ver o que acontece em função de pequenos acúmulos de beta-amiloide, a proteína cujas placas são características no mal de Alzheimer. Em animais sem sepse, esses “pequenos insultos” não têm impacto algum. Porém, nos animais sobreviventes de sepse, há uma resposta desequilibrada. As células de defesa que deveriam proteger os neurônios começam a atacá-los. Destroem as sinapses (comunicação de sinais nervosas). Enlouquecidas, as antigas defensoras se tornam devoradoras de memórias.

Julia Clarke, uma das coordenadoras do estudo, destaca que o trabalho mostra a importância da ciência brasileira na resolução de questões de saúde mundial.

— Se não estivéssemos passando pela maior crise de financiamento da ciência e tecnologia de nossa história, o Brasil poderia ter papel pioneiro no estudo da Covid-19 — salienta Clarke.

Leia a matéria completa.

Covid-19: Vírus primitivo pode estar aumentando mortes em UTIs, diz Fiocruz

Confira a matéria publicada na CNN Brasil no dia 22/5, abordando a recente hipótese levantada em pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sobre um vírus primitivo que pode estar sendo ativado pelo coronavírus e causando a morte precoce em pacientes graves. O estudo foi coordenado pelo membro afiliado da ABC (2017-2021) Thiago Moreno, e pode ser conferido na íntegra aqui.

 

Um vírus primitivo, presente nos humanos há milhares de anos, pode estar sendo ativado pelo coronavírus e provocando aumento de mortes em pacientes graves. A hipótese faz parte de um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que pode ajudar a compreender por que alguns pacientes graves submetidos à ventilação mecânica conseguem deixar a UTI, enquanto outros não sobrevivem à Covid-19.  

A pesquisa indica que a presença do retrovírus endógeno humano da família K (HERV-K) está associada não só ao agravamento da doença como também à mortalidade precoce. De março a dezembro de 2020, o estudo “Ativação do Retrovírus Endógeno Humano K no Trato Respiratório Inferior de Pacientes com Covid-19 Grave Associada à Mortalidade Precoce” acompanhou 25 pessoas em estado crítico que necessitaram de ventilação mecânica. Com idade média de 57 anos, elas estavam internadas no Instituto D’Or e no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer.

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O coordenador do estudo foi Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). “Verificamos o viroma de uma população com uma altíssima gravidade, em que a taxa de mortalidade chega a 80% para ver se algum outro vírus estava coinfectando esse paciente que está debilitado, imunossuprimido. A nossa surpresa foi encontrar esses altos níveis de retrovírus endógeno K. É o tipo de pesquisa que parte de uma abordagem completa não enviesada. Isso dá muita força, muita credibilidade ao achado”, explicou o cientista.

Ancestral

Segundo o estudo, o HERV-K é um retrovírus endógeno, um vírus ancestral que infectou o genoma humano quando humanos e chimpanzés estavam se dissociando na escala evolutiva. Alguns desses elementos genéticos estão presentes nos nossos cromossomos. Muitos ficam silenciosos durante a maior parte da vida, mas parece que, de alguma forma, o Sars-CoV-2 pode ter reativado esse retrovírus ancestral. O índice de morte em pacientes graves de covid-19 chega a 50% entre os que apresentam altos níveis de HERV-K.

O estudo estabeleceu ainda uma ligação direta: ao infectar em laboratório uma célula de uma pessoa saudável com o Sars-CoV-2, houve um aumento nos níveis do HERV-K. “A gente estabeleceu, de fato, que o Sars-CoV-2 é o gatilho para o aumento desses retrovírus endógenos, para despertar os genes silenciosos”, disse Moreno.

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Genes silenciosos

A pesquisa é ainda a primeira evidência da presença desse retrovírus no trato respiratório e no plasma de pacientes graves de Covid-19. A presença do HERV-K, que ocorre também em outras doenças, como câncer e esclerose múltipla, pode ser usada como um biomarcador associado à gravidade em casos de covid-19. Sua detecção precoce poderia reforçar o uso de determinadas estratégias, como o uso de anticoagulantes e anti-inflamatórios.

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Além da Fiocruz, fazem parte da pesquisa cientistas da Universidade Federal de Juiz de Fora, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e da empresa MGI Tech.

 

Confira o artigo completo no site da CNN Brasil.

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