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Paciente com doença crônica tem expressão aumentada de gene que facilita infecção pelo coronavírus

Leia matéria de Karina Toledo para Agência Fapesp, publicada em 1/4, sobre trabalho do membro afiliado da ABC Helder Nakaya (2017-2021):

Estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) pode ajudar a entender por que o índice de mortalidade por COVID-19 é maior entre pessoas que sofrem com problemas crônicos de saúde, como hipertensão, diabetes ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Segundo as conclusões, divulgadas na plataforma medRxiv, alterações no metabolismo causadas por essas doenças podem desencadear uma série de eventos bioquímicos que levam a um aumento na expressão do gene ACE-2, responsável por codificar uma proteína à qual o vírus se conecta para infectar as células pulmonares.

“Nossa hipótese é que o aumento na expressão de ACE-2 e de outros genes facilitadores da infecção – entre eles TMPRSS2 e FURIN – faz com que esses pacientes tenham uma quantidade maior de células afetadas pelo vírus SARS-CoV-2 e, consequentemente, um quadro mais severo da doença. Mas é algo que ainda precisa ser confirmado por estudos experimentais”, afirma Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP) e coordenador da pesquisa, apoiada pela FAPESP.

Os achados, segundo o pesquisador, podem ajudar na identificação de alvos moleculares para um futuro desenvolvimento de fármacos.

Como explica Nakaya, o gene ACE-2 (ECA-2 em português) expressa o RNA mensageiro que orienta a produção da enzima conversora de angiotensina 2 – molécula que integra o chamado sistema renina-angiotensina-aldosterona, responsável pelo controle da pressão arterial.

“Depois do surto de SARS [síndrome respiratória aguda grave] em 2003, cientistas descobriram que o gene ACE-2 era crucial para a entrada do vírus [SARS-CoV] nas células humanas. Agora, o mesmo foi observado em relação ao novo coronavírus. Por esse motivo, decidimos investigar se sua expressão estava alterada em portadores de doenças crônicas”, conta o pesquisador, que também integra a equipe do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

Ferramentas de bioinformática

O primeiro passo da investigação foi buscar na base de dados da Medline – que abrange quase 5 mil revistas publicadas em mais de 70 países e é mantida pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos – todos os artigos científicos relacionados às doenças consideradas de interesse pelo grupo, entre elas hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, DPOC, câncer de pulmão, insuficiência renal crônica, doenças autoimune, fibrose pulmonar, asma e hipertensão pulmonar.

“Identificamos 8,7 mil artigos e, como seria inviável ler todos eles, usamos uma ferramenta de mineração de texto para filtrar apenas os que continham informações sobre os genes envolvidos nessas doenças. Chegamos a um conjunto de genes entre os quais estava ACE-2”, diz Nakaya à Agência FAPESP.

Em seguida, os pesquisadores reanalisaram dados transcritômicos (relativos ao nível de RNA expresso pelos mais de 25 mil genes humanos) em mais de 700 amostras de pulmão disponíveis em repositórios públicos, como o Gene Expression Omnibus (GEO).

“São dados de livre acesso coletados em estudos anteriores. O que fizemos foi comparar o perfil de expressão gênica de portadores de doenças crônicas que afetam o pulmão com o de pessoas saudáveis, que serviram como controle. Comparamos, inclusive, o perfil de fumantes e de não fumantes”, explica Nakaya. “A ideia foi olhar o pulmão de pessoas que não estavam infectadas pelo novo coronavírus, mas que tinham doenças que as tornavam mais suscetíveis a manifestações severas de COVID-19 para tentar entender o que havia de diferente.”

De acordo com Nakaya, a meta-análise revelou que a expressão de ACE-2 estava, de fato, significativamente aumentada nas doenças.

O passo seguinte foi descobrir quais outros genes possuíam perfis de expressão similares ou inversos ao de ACE-2.

“Esse tipo de análise de correlação ajuda a orientar as hipóteses, embora não permita estabelecer uma relação de causalidade. Assim, em vez de olhar para 500 genes, podemos nos concentrar em oito cuja expressão está correlacionada com aquele de interesse e, no futuro, fazer experimentos para descobrir o que acontece quando são inibidos ou estimulados”, explica Nakaya.

O grupo então percebeu que nas amostras com expressão aumentada de ACE-2 também estavam mais expressas algumas enzimas capazes de modificar o funcionamento de proteínas conhecidas como histonas, que ficam no núcleo das células – ligadas ao DNA – e ajudam a regular a expressão gênica. No jargão científico, esse fenômeno bioquímico é conhecido como modificação epigenética (quando ocorre mudança no padrão de expressão do gene sem qualquer alteração no DNA).

“Nossos achados sugerem que essas doenças crônicas mudam – ainda não se sabe ao certo como – o programa epigenético do organismo, tornando essas enzimas mais ativas e, consequentemente, aumentando a expressão de ACE-2 e favorecendo a infecção das células pulmonares pelo SARS-CoV-2”, diz Nakaya.

A descoberta, segundo o pesquisador, abre caminho para a busca de compostos capazes de inibir a atividade de algumas dessas enzimas modificadoras de histonas, o que poderia modular a expressão de ACE-2 e, desse modo, proteger o pulmão dos pacientes.

O artigo ACE2 Expression is Increased in the Lungs of Patients with Comorbidities Associated with Severe COVID-19 – ainda em versão pré-print (não revisada por pares) – pode ser lido em: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.21.20040261v1.

Como evitar a ansiedade e a depressão causadas pelo isolamento

Leia matéria de Mariza Tavares para o G1, publicada em 31/3, com entrevista do psiquiatra e Acadêmico Antonio Egídio Nardi:

‘Infectado vira fábrica de vírus antes de ter sintomas’, diz pesquisadora da UFRJ

Leia a matéria de Ana Lucia Azevedo para O Globo, publicada em 24/03:

RIO – Discutir com os médicos italianos a escolha de tratamentos para casos críticos da Covid-19 se tornou parte da rotina da médica Patrícia Rocco, chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar da UFRJ, membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências.

Autora de mais de 300 estudos, ela lidera um grupo que investiga o uso de derivados de células-tronco contra o novo coronavírus em pacientes com estágio avançado da doença.

Por que o Sars-CoV-2 é um vírus tão transmissível?

Em média, cada paciente infecta até três indivíduos. Isso ocorre, a grosso modo, pela forma do vírus. Ele é uma coroa de espinhos. E os utiliza para entrar, dominar a célula e usar o material genético dela para se multiplicar muito depressa. A pessoa infectada vira uma fábrica de vírus antes que os sintomas apareçam. Isso faz com que passe de uma pessoa para outra com grande eficiência e dificulta demais o fim da pandemia. Por isso, as quarentenas são fundamentais.

O que a Covid-19 faz com os pulmões?

Nos casos graves, os pulmões ficam inflamados, podendo ficar mais rígidos e não responder aos procedimentos usuais, como altos níveis de pressão expiratória final. Além disso, estamos vendo que os pacientes apresentam embolia pulmonar frequentemente associada à Covid-19, deteriorando ainda mais os pulmões.

O que tem sido testado como tratamento da Covid-19?

Há estratégias com remédios e outras não-farmacológicas, como as células mesenquimais. Mas todos os estudos foram realizados em um número pequeno de pacientes, em diferentes momentos da doença, o que não permite que indiquemos tais terapias de forma rotineira.

Em que o seu grupo trabalha agora?

Em terapias com células mesenquimais de diferentes origens: medula óssea, tecido adiposo, do cordão umbilical. Mas as células-tronco não podem ser dadas diretamente porque o vírus também as infecta e destrói. Então, estamos pensando numa estratégia.

Qual?

Sabemos que essas células liberam as chamadas vesículas extracelulares que podem não ser afetadas pelo vírus e que contêm dentro delas microRNA, RNA-mensageiro e uma séria de outras substâncias. Achamos que tais vesículas extracelulares possam conter a inflamação grave, que mata os pacientes. Temos que provar que essas vesículas extracelulares possam atuar in vitro e depois nossa ideia é dar diretamente as vesículas extraídas dessas células-tronco aos pacientes.

Em que fase estão?

Nos preparamos para testá-las em células, esferoides e organoides (que funcionam como miniórgãos). Não há modelo animal adequado para os testes. Se as vesículas “tratarem” os organoides, a etapa seguinte será em estudos clínicos, com pequenos grupos de pacientes.

A Covid-19 tem cura?

A maioria dos pacientes ficará curado. Entretanto, cerca de 15% dos pacientes irão evoluir para pneumonia e/ou falência respiratória aguda. Os pacientes que apresentam falência respiratória e necessitam de entubação orotraqueal e ventilação mecânica apresentam letalidade alta, de 80% a 90%, dependendo do país.

Para avaliar se um indivíduo já apresentou a Covid-19, é importante realizar testes sorológicos. Porém, ainda não estamos realizando no Brasil (o governo anunciou que compraria 10 milhões deles). Com base na experiência dos outros países, podemos dizer que os casos leves ficarão recuperados em cerca de 14 dias.

Confira a matéria na íntegra.

 


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Pesquisadores se mobilizam para aumentar oferta de testes no Brasil

Leia a matéria de Giovana Girardi para O Estado de São Paulo, publicada em 21/03:

SÃO PAULO – Um dos principais desafios do enfrentamento do coronavírus hoje no Brasil é testar casos suspeitos. As autoridades de saúde estabeleceram que só serão testados casos graves — por causa da capacidade limitada de laboratórios e dos altos custos. Mas nem isso é simples, e ainda impede que se tenha uma noção real do tamanho da epidemia. Diante desse quadro, pesquisadores estão se mobilizando para aumentar a capacidade do país contra a doença, superando até as dificuldades provocadas por seguidos cortes de verbas.

Nos últimos dias, começaram a surgir diversas iniciativas para convocar voluntários para ajudarem a fazer os testes em si, aproveitar insumos que seriam usados em outras pesquisas, atrair laboratórios privados. Por outro lado, há uma corrida para tentar desenvolver testes mais baratos e rápidos.

Um dos esforços é da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que tenta criar um teste sorológico para detectar a infecção — em vez do genético (PCR), como é feito hoje. Se der certo, a expectativa é que com apenas uma gota de sangue do paciente será possível saber se ele tem o coronavírus e em qual estágio.

A pesquisa é liderada por Leda Castilho, coordenadora do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe/UFRJ [e membro afiliado da ABC de 2008 a 2013], que começou a trabalhar nesse assunto no começo de fevereiro, tão logo cientistas chineses sequenciaram o genoma do coronavírus que afeta o país desde dezembro.

Seu grupo está produzindo em laboratório uma cópia de uma proteína da espícula (aquelas pontinhas do vírus). Com esse material, será possível detectar se o paciente desenvolveu anticorpos para a covid-19, já que eles reagiriam à proteína.

“O corpo, ao ser infectado, produz anticorpos ao tentar se defender. E produz de diferentes tipos: tem um específico para a mucosa, um outro produzido poucos dias após o contagio — em geral, quando os sintomas aparecem — e tem outro produzido cerca de duas semanas após a contaminação. Pretendemos identificar os três tipos. O que vai permitir saber se a pessoa está contaminada ou já esteve recentemente e ficou sem sintomas, por exemplo. Se não reagir com nenhum deles, a pessoa provavelmente estará com outra doença”, diz.

Leda não quis dar uma estimativa de quando o teste poderá estar pronto, mas diz esperar que seja antes de três meses — a tempo de ser usado ainda nesta onda da covid-19. Em média, para outras doenças, a diferença de preços do PCR para exames sorológicos é de 1/3 a 1/4.

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Recomendações da Academia Nacional de Medicina para combater o coronavírus

Assista o vídeo do Acadêmico Rubens Belfort, presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), publicado pelo canal oficial da ANM em 25/3:

A Academia Nacional de Medicina publicou no dia 25 de março um pronunciamento em vídeo do Acadêmico Rubens Belfort, presidente da instituição, com recomendações para o combate ao coronavírus.

Belfort reforça a importância de higienizar as mãos com sabão ou álcool em gel e chama atenção para o cuidado com maçanetas, talheres, corrimões. Além disso, o médico informa sobre precauções que devem ser tomadas em relação às crianças. Apesar de não serem grupo de risco, elas podem contrair a infecção sem manifestar sintomas e transmitir o vírus para toda a família. O presidente da ANM recomenda o auto-isolamento, maior ventilação dos ambientes e a procura de serviços de saúde apenas em caso de sintomas graves como febre e falta de ar.

“Saiba que o vírus se espalha como areia fina no vento forte, para todos os lados”, alerta Belfort. “Portanto fique em casa, afaste-se, tranque-se e se isole”.

Confira o vídeo na íntegra aqui.

 

Pandemia e ascensão da vida online

Leia artigo do Acadêmico Virgilio Almeida (professor associado ao Berkman Klein Center da Universidade de Harvard, professor emérito da UFMG e ex-secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) e do professor da Ebape-FGV Francisco Gaetani (ex-secretário executivo dos Ministérios do Meio Ambiente e Planejamento e expresidente da Escola Nacional de Administração Pública), publicado no Valor Econômico, em 24/3:

“O avanço do coronavírus está sendo acompanhado em tempo real com base em informações oficiais de todos os países afetados. É possível que aqui e ali os dados estejam sendo subestimados ou
insuficientemente notificados, mas no geral o mundo está assistindo a um esforço global de cooperação epidemiológica. Isso está acontecendo mesmo em um momento de refluxo da globalização, crise econômica e ascensão do populismo em alguns dos maiores países do mundo como os EUA, Rússia, Índia e Brasil.

Este cenário, típico das distopias literárias – impossível não pensar no clássico “A Peste” de Albert Camus – e cinematográficos, como “O Sétimo Selo” de Ingmar Bergman, está sendo assimilado pelas várias
nações de forma heterogênea, porém com uma aliada importante: a tecnologia. Famílias mantém-se em contato por aplicativos. Reuniões ocorrem por meio de formatos não presenciais. Opções de lazer digital
domésticas são acionadas e estimuladas. Autoridades cooperam compartilhando seus dados, pesquisas e análises. Políticos divulgam narrativas mais conciliatórias e solidárias – com as exceções de praxe.
Cientistas engajam-se em uma competição positiva por vacinas. Autoridades sanitárias compartilham soluções preventivas e mitigadoras em tempo real.”

Os autores ressaltam que quanto mais nos informarmos e cooperarmos mais suave será o impacto desta onda e que o mundo não será o mesmo quando este surto refluir.

Leia o artigo na íntegra.


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Coronavírus: ‘Brasil pode viver uma epidemia de intoxicações’ diz especialista

Leia matéria de Ana Lucia Azevedo para O Globo, publicada em 21/3:

RIO – Se houver uma corrida a cada nova droga promissora em testes, teremos uma epidemia de intoxicações. E pacientes com doenças que precisam destes remédios vão morrer ou agravar o seu quadro devido à escassez. Há cerca de 30 compostos em testes no mundo, mas é preciso esperar.

O alerta é de um dos maiores especialistas do Brasil em desenvolvimento de tratamentos para doenças infecciosas, Mauro Teixeira, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujo grupo estuda a ação de substâncias contra a Covid-19. Teixeira é membro da Comissão Científica da Anvisa e presidente da Sociedade Brasileira de Inflamação. Para ele, o Brasil corre o risco de virar nova Itália.

Temos mais um perigo?

Sim. Uma epidemia de intoxicação de gente que não estava doente e de morte de pessoas que precisam desses medicamentos e ficaram sem eles porque os apavorados compraram todos. Nos próximos dias e meses vão surgir muitos resultados como os da hidroxicloroquina, mas isso não quer dizer que essas drogas devem ser tomadas agora.

Qual o risco de tomar uma droga dessas?

É imenso. A hidroxicloroquina, por exemplo, pode causar anemia hemolítica e matar. Essa droga é para quem tem malária e doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus. Seu uso precisa de acompanhamento médico.

Qual a perspectiva de desenvolvimento de remédios e vacinas?

Não teremos tempo para desenvolver vacinas e drogas específicas contra a Covid-19 para esta pandemia. Elas virão para o futuro. Temos que identificar entre os compostos que já temos quais poderão ser usados.

Qual a sua avaliação sobre as medidas tomadas?

As quarentenas em massa, os isolamentos são necessários para reduzir a disseminação do vírus e dar tempo a nosso sistema de saúde. Mas não devemos alimentar a ilusão de que não será grave, porque será muito grave. A gente está testando pouco, não conseguimos testar mais agora.

Quais as urgências?

Todas. Onde está o dinheiro anunciado pelo governo para os mais pobres? Já deveria estar sendo distribuído. E para quem não têm nem conta em banco? Temos que pensar nos pacientes graves, no atendimento deles.

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Lições da Covid-19: solidariedade escondida nos seres humanos

Leia artigo do Acadêmico Isaac Roitman, publicado no Monitor Mercantil e no site Brasil 2022 em 18/3:

Covid-19 é um vírus RNA (ácido ribonucleico) com alta capacidade de mutação e transmissão. Os vírus são seres muito simples e pequenos (medem menos de 0,2 µm), podem ser observados somente através da microscopia eletrônica e são formados basicamente por uma cápsula proteica envolvendo o material genético. Os vírus só se desenvolvem parasitando uma célula, utilizando o sistema de reprodução de seu hospedeiro.

Recentemente, a epidemia provocada pela Covid-19, que se iniciou na China, transformou-se em pandemia que está se espalhando com grande velocidade em todos os continentes, modificando hábitos e comportamentos, provocando pânicos econômicos, abalando as estruturas sociais que provavelmente terão a duração de alguns meses. O planeta está em alerta. Certamente, com medidas adequadas – isolamento social – e com os avanços científicos – vacinas –, voltaremos à normalidade.

Real possibilidade de termos uma inflexão positiva nas relações humanas

Vale a pena assinalar que um ser extremamente simples, um vírus, pode provocar tremendas consequências à espécie mais complexa da natureza, o ser humano. Sob o ponto de vista biológico, esses extremos têm interações profundas, revelando as interdependências absolutamente importantes e vitais na natureza. Não é a primeira vez que uma pandemia provoca uma inflexão nos costumes da humanidade. Esses registros podem ser conhecidos na obra de Stefan Cunha Ujvari A história da humanidade contada pelos vírus (Editora Contexto).

A Covid-19 surge em um momento difícil e preocupante para a civilização humana. O cenário é triste. Boa parte dos seres humanos vivem em condições miseráveis, um contingente enorme de desnutridos, desigualdades sociais vergonhosas, prevenção e assistência à saúde inadequadas, migrantes tratados como animais, guerras abomináveis, culturas ancestrais em extinção, atitudes sem ética, violência desenfreada, uso não racional dos recursos naturais, poluição crescente, aceleração das mudanças climáticas, etc.

Sem diminuir a importância das ações e as consequências da pandemia provocada pela Covid-19, gostaria de compartilhar algumas reflexões com os leitores. Sendo o índice de mortalidade maior nas pessoas com mais idade, as políticas públicas para a velhice voltaram à tona. Que bom.

O isolamento social, que estamos iniciando, será longo e certamente proporcionará momentos ímpares para a reflexão familiar e individual. A ausência em reuniões sociais, em eventos culturais, esportivos e outros serão substituídos por momentos de reflexão sobre o passado, o presente e o futuro de cada um de nós e de todos. Será um verdadeiro retiro. Essas reflexões poderão indicar como podemos nos transformar e agir para que todos possamos ter uma vida virtuosa.

A interrupção das atividades escolares, sem dúvida, causará atrasos na aprendizagem, que poderão ser recuperados posteriormente. No entanto, para aquelas crianças cuja refeição na escola é a mais importante do dia, o dano será imediato. A iniciativa de ser fornecido diariamente um kit de alimentação para essa criança é uma proposta positiva. Quem sabe, poder-se-ia pensar em fornecer um kit alimentação para toda a família.

Uma ação semelhante poderia ser pensada aos trabalhadores que obrigatoriamente serão afastados e ficarão isolados durante a crise. As camadas sociais mais vulneráveis serão atingidas. Que bom se começarmos a pensar e introduzir ações para minimizar o sofrimento dos que tem menos. Essa cultura humanitária poderia persistir após a crise.

Hoje tomei conhecimento que jovens no Brasil e no exterior se dispõem de forma espontânea a auxiliar as pessoas com mais idade a fazerem compras em um supermercado ou farmácia. Que beleza. Isso demonstra quanta bondade e solidariedade existem escondidas nos seres humanos.

Assisti a um vídeo, gravado na Itália, onde as pessoas nas janelas ou nas varandas cantam juntos. Essas pessoas, provavelmente, devido à correria desenfreada na cultura ocidental, mal se cumprimentavam. O isolamento social construindo pontes sociais. Que maravilha.

Sem ter a mínima vocação de ser profético, existe uma real possibilidade de termos uma inflexão positiva nas relações humanas provocadas pela Covid-19. Apesar da dor e sofrimentos de muitos, aprenderemos muito com a pandemia que atravessamos. Quando essa tempestade terminar, teremos a perspectiva de um mundo melhor e mais justo. Oxalá.

 


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