Leia matéria de Ana Lucia Azevedo para O Globo, publicada em 21/3:
RIO – Se houver uma corrida a cada nova droga promissora em testes, teremos uma epidemia de intoxicações. E pacientes com doenças que precisam destes remédios vão morrer ou agravar o seu quadro devido à escassez. Há cerca de 30 compostos em testes no mundo, mas é preciso esperar.
O alerta é de um dos maiores especialistas do Brasil em desenvolvimento de tratamentos para doenças infecciosas, Mauro Teixeira, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujo grupo estuda a ação de substâncias contra a Covid-19. Teixeira é membro da Comissão Científica da Anvisa e presidente da Sociedade Brasileira de Inflamação. Para ele, o Brasil corre o risco de virar nova Itália.
Temos mais um perigo?
Sim. Uma epidemia de intoxicação de gente que não estava doente e de morte de pessoas que precisam desses medicamentos e ficaram sem eles porque os apavorados compraram todos. Nos próximos dias e meses vão surgir muitos resultados como os da hidroxicloroquina, mas isso não quer dizer que essas drogas devem ser tomadas agora.
Qual o risco de tomar uma droga dessas?
É imenso. A hidroxicloroquina, por exemplo, pode causar anemia hemolítica e matar. Essa droga é para quem tem malária e doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus. Seu uso precisa de acompanhamento médico.
Qual a perspectiva de desenvolvimento de remédios e vacinas?
Não teremos tempo para desenvolver vacinas e drogas específicas contra a Covid-19 para esta pandemia. Elas virão para o futuro. Temos que identificar entre os compostos que já temos quais poderão ser usados.
Qual a sua avaliação sobre as medidas tomadas?
As quarentenas em massa, os isolamentos são necessários para reduzir a disseminação do vírus e dar tempo a nosso sistema de saúde. Mas não devemos alimentar a ilusão de que não será grave, porque será muito grave. A gente está testando pouco, não conseguimos testar mais agora.
Quais as urgências?
Todas. Onde está o dinheiro anunciado pelo governo para os mais pobres? Já deveria estar sendo distribuído. E para quem não têm nem conta em banco? Temos que pensar nos pacientes graves, no atendimento deles.