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‘Atitude anticiência de Bolsonaro prejudica esforços de combate à pandemia’

Leia a entrevista do presiente da ABC, Luiz Davidovich, para Roberta Jansen, publicada no Estadão em 6/4:

RIO – O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, afirma que a ciência tem papel muito importante a cumprir em meio à pandemia do novo coronavírus e critica Jair Bolsonaro. Segundo ele, a postura do presidente só não atrapalha mais o combate à doença por causa do posicionamento científico de outros setores do governo.

“A atitude anticiência certamente prejudica os esforços de combate à epidemia”, diz Davidovich, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista ao Estado. “Em toda a minha vida, nunca achei que teria de vir a público para dizer que a Terra é redonda.”

Qual a importância da ciência neste momento?

A ciência tem um papel muito importante. Está desvendando como o vírus funciona, como entra no organismo humano, como ataca as células, se alimenta delas e se reproduz. Esse é o primeiro passo para combater o vírus e tentar encontrar remédios para tratar os doentes. Mas não são apenas as ciências da saúde, é um tema interdisciplinar. São matemáticos, engenheiros, físicos, cientistas sociais, todos que estão trabalhando para combater a epidemia. Enfim, o que está sendo demonstrado no mundo todo é a importância de uma boa base científica para enfrentar eventos como esse.

O Ministério da Saúde liberou o uso da cloroquina em pacientes graves embora os estudos sobre a eficácia desse remédio não esteja comprovada. Diante de uma pandemia, esse procedimento é válido?

Preocupa-me o anúncio e até mesmo a propagando de um remédio cuja eficácia não está comprovada, para o qual não há estudos clínicos. A ciência está buscando intensamente os remédios para tratar os doentes, mas a ideia é sempre fazer ensaios clínicos antes de colocar à disposição remédios com efeitos tóxicos que podem até matar o paciente.

Leia a entrevista na íntegra.

Como a ciência pode ajudar a vencer o vírus

Leia artigo de opinião do Acadêmico Daniel Martins-de-Souza, membro afiliado da ABC, professor associado de bioquímica do Instituto de Biologia da Unicamp, coordenador de Biologia da Fapesp e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, publicado na Folha de S. Paulo em 2/4:

No grupo de WhatsApp da família, uma tia pergunta: “E a cura para a Covid-19, vai demorar?”. E a outra: “E quanto tempo leva essa vacina?”. E um tio, em seguida: “Meu sobrinho, você precisa deixar sua pesquisa um pouco de lado e se engajar em resolver este problema para nós!”.

Tais colocações têm sido comuns por familiares e amigos de cientistas, porque as pessoas confiam que a ciência pode ajudar na crise atual. Em geral, se percebe que a ciência contribui muito para nossa qualidade de vida. Comida em nossos pratos, suco de laranja, semáforo inteligente, carros que estacionam sozinhos, GPS, alta definição que temos na TV de casa, smartphones, cerveja, remédios, vacinas… Tudo isso tem muita ciência por trás. No momento atual, poucos minutos de noticiário são necessários para entendermos que muito se espera da ciência.

A ciência afeta nossas vidas pelo menos em três dimensões: social, econômica e intelectual. A ciência pode melhorar nossa vida em sociedade, nos torna mais produtivos, mais competitivos e mais ricos —e, por fim, nos torna seres mais conhecedores da forma de funcionar do universo e da sociedade. Ao longo de séculos, cientistas criaram um acervo de conhecimentos que constituem um ponto de partida para, em momentos como este, tirar ideias para criar outras ideias que nos ajudem a superar os desafios da Covid-19.

Verbas cortadas ontem dificultam combate à Covid-19 hoje

Leia matéria de Agostinho Vieira para Projeto Colabora, publicada em 4/4:

Não há mais dúvida hoje de que o combate ao coronavírus é uma prova de longa distância. Uma maratona mundial que exige paciência, solidariedade e muitos, muitos recursos. A metáfora da corrida vale também para a pesquisa científica, no Brasil e no mundo. É preciso ter paciência na espera pelos resultados, solidariedade entre os pesquisadores de todas as partes e muitos recursos, é claro. Só que aqui essa competição já vem sendo perdida há vários anos, no mínimo desde 2014. Hoje, o orçamento do país destinado à pesquisa, o que inclui a compra de insumos, equipamentos e a remuneração de doutores e doutorandos representa um terço do que já foi dez anos atrás. Dinheiro que faz falta nestes tempos de Covid-19.

“Nos últimos anos, o governo brasileiro vem navegando na contramão da história. Cortando e contingenciando seguidamente o orçamento para a pesquisa, a educação e a proteção ao meio ambiente, com grande impacto na performance científica no país. O cenário para 2020 é desolador: as verbas provenientes da Finep, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico foram dramaticamente reduzidas antes dessa crise da Covid-19. O CNPq até terá dinheiro para as bolsas, mas as verbas de fomento foram pulverizadas, causando grande prejuízo às lideranças cientificas e aos laboratórios das universidades e institutos de pesquisa. A Capes também teve uma grande redução nas suas verbas e tem cortado bolsas dos programas de pós-graduação”, explica o professor Renato Cordeiro, pesquisador emérito da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências.

Enquanto isso, a Alemanha, por exemplo, já anunciou que investirá, entre 2021 e 2030, a vultosa soma de 160 bilhões de euros no seu ensino superior e na pesquisa cientifica. Movimentos semelhantes acontecem na China, na Coreia do Sul e nos Estados Unidos. Com isso, o abismo que nos separa desses países só aumenta. O físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, lembra a dependência externa que estamos vivendo hoje no combate ao coronavírus. Estamos importando testes, insumos e até máscaras, quando elas não são todas arrematadas por um país mais rico.

“Falta ao Brasil um projeto autossustentável de ciência e tecnologia. O país detém 20% da biodiversidade mundial e não tira proveito disso. Podíamos ser uma potência ambiental e não somos. Um exemplo que eu dou sempre é o da Endopleura uchi, uma planta originária da Amazônia. Do seu caule se extrai a bergenina, que é um excelente anti-inflamatório e antioxidante. O laboratório Merck vende a bergenina por R$ 1 mil cada miligrama. Dependendo da cotação, esse valor equivale a cinco mil vezes a miligrama de ouro”, contabiliza Davidovich.

Leia a matéria na íntegra aqui.

Unicamp começa testes rápidos com resultados em até 48h para diagnóstico da Covid-19

A Unicamp, em Campinas (SP), já começou a realizar o teste rápido para diagnóstico do novo coronavírus, com resultados em até 48 horas. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (2), a universidade também informou que dez pessoas do Hospital de Clínicas (HC) realizaram o procedimento com sucesso, e que a média por semana será de 300 testes. A região concentra, até esta manhã, 61 casos confirmados de Covid-19 e duas mortes.

Credenciada pelo estado, a Unicamp está em negociação com a Saúde de São Paulo para realizar até 180 mil testes. O HC é referência no combate ao coronavírus. Mais insumos são esperados para a próxima semana, o que elevará a capacidade dos laboratórios.

“Esse teste pretende diagnosticar as pessoas internadas aqui e, como a gente já viu dados epidemiológicos, quanto mais testes a gente fizer, maiores serão as nossas chances de conseguir controlar essa pandemia. A nossa ideia é aumentar a quantidade de testes”, explica Marcelo Mori [membro afiliado da ABC 2018-2022], coordenador geral da Força-Tarefa da Unicamp.

Leia a matéria na íntegra e acesse o vídeo da EPTV aqui.

Miguel Nicolelis assume coordenação da comissão científica do Consórcio Nordeste para combate ao coronavírus

Lei nota do site Brasil 247, publicada em 31/3/2020:

O cientista [Acadêmico] Miguel Nicolelis, conhecido por seu prestígio internacional na área científica, informou nesta terça-feira (31) que assumiu a coordenação da comissão científica do Consórcio Nordeste. Ele fará o trabalho em conjunto com o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, [o Acadêmico] Sérgio Rezende.

“Agora é oficial! Com muito prazer aceitei o convite do senhor governador da Bahia, Rui Costa, para coordenar, conjuntamente com o ex-ministro da C&T Sérgio Rezende, uma Comissão científica de assessoramento ao consórcio do NE, voltada ao combate da pandemia de coronavírus. Vamos a luta!”, disse ele no Twitter.

Na segunda-feira (30), os governadores dos nove estados do Nordeste anunciaram a criação do Comitê Científico do Consórcio Nordeste.

O colegiado terá como principal função ajudar os governos da região na tomada de decisão sobre as ações de enfrentamento ao novo coronavírus.

O comitê terá reuniões periódicas com autoridades científicas brasileiras e de outros países, emitirá boletins com os números relativos à doença no Nordeste e divulgará orientações baseadas nas pesquisas realizadas pelo grupo.

Três lições da ciência para o falso dilema vida x economia

O Acadêmico Antônio Gomes Souza Filho, professor do Departamento de Fìsica da Universidade Federal do Ceará, enviou o artigo abaixo para a NABC, em 1/4/2020:

O enfrentamento da crise iniciada pela Covid-19 exige muito conhecimento científico para lidar com um fenômeno tão complexo e planetário. A ciência já ajudou a humanidade em muitas crises, mas nessa atual ela é fundamental. E felizmente temos várias lições para serem usadas. E infelizmente podemos não usá-las!

A primeira lição vem das ciências biomédicas (desde a biologia molecular, passando pela clínica, até a epidemiologia) que identificou rapidamente o vírus e detalhou a sua maquinaria molecular, elucidou as formas de contaminação, entendeu a dinâmica de propagação e sugeriu as medidas para sua contenção, está aprimorando o tratamento e monitora, diuturnamente, como o vírus está mudando seu genoma à medida em que  se espalha na aldeia global.

Os relatos indicam que, com a epidemia instalada, perde-se mais vidas pela falta de estrutura (leitos de UTI e equipamentos para atender o grande número de pacientes) do que propriamente pela letalidade da doença. Essa é uma das premissas que justifica o distanciamento social (uso esse termo por que é o comum, mas prefiro distanciamento físico por que as novas tecnologias têm nos mantido socialmente interativos) como a estratégia mais adequada (da atual e de outroras) para o enfrentamento da pandemia.

Uma segunda lição vem das ciências econômicas que mostram que vidas versuseconomia é um falso dilema. Um estudo publicado em 27/3 por estudiosos das instituições Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Federal Reserve Bank (Banco Central), ambas nos Estados Unidos, expõe uma conclusão bastante interessante: as medidas de saúde pública (quarentena) não depreciam a economia, as pandemias sim.

Analisando os dados de várias cidades americanas por ocasião da Gripe Espanhola no início do século passado, eles analisaram os indicadores da economia e mostraram que as cidades que adotaram as medidas mais rigorosas (isolamento social) apresentaram, DURANTE A PANDEMIA, um desempenho econômico similar às que não pararam. Mais importante foi o conclusão de que APÓS A PANDEMIA, as cidades que adotaram o isolamento recuperaram mais rapidamente a sua economia.

É verdade que experimentos sociais nunca são repetidos no tempo e tampouco no espaço para permitir que as conclusões retiradas de um cenário se apliquem integralmente ao outro, mas mesmo assim é mais seguro ter essa referência do que seguir apenas achismos.

Resumindo, a ciência nos aponta que temos as opções de termos menos mortes e menos impacto econômico (isolamento social até controlar a disseminação) ou mais mortes e mais impacto econômico (sem isolamento social). Não deveríamos ter dúvidas sobre qual estratégia seguir!

E como ficam os salários das pessoas? Essa solução exige muita cooperação de todos, exige rever a seguridade do trabalho e o compromisso de todas as organizações sociais em diminuir (as perdas são certas) os efeitos, cada um contribuindo com sua parte para que o Estado, esse mesmo que é tão massacrado, que leva calote de tributos de empresas e pessoas físicas, e que de repente virou nos apelos de todos o guardião da saúde, o protetor dos salários e do sistema financeiro, possa agir.

As experiências anteriores também nos indicam o momento de retornar às atividades, que é quando tivermos sinais claros (com base nos dados) que a curva de infectados foi achatada.

E a terceira lição, que vem das ciências cognitivas, é sobre o comportamento de muitas pessoas (incluindo alguns “notáveis”) frente à crise e aos fatos. Trata-se do efeito Dunning-Kruger, fenômeno pelo qual as pessoas que quase nada sabem sobre um assunto acreditam saber mais que outros que se dedicam, às vezes décadas, como estudioso e profissional da área. O efeito Dunning-Kruger revela-se como uma superioridade ilusória que se alinha com a falta de habilidades de não reconhecer suas próprias limitações e erros.

Todos somos passíveis de errar, ninguém é imune a falhar, isso também acontece com a ciência, mas o que não podemos fazer é continuar ignorando os fatos e mantendo a visão (coberta com uma máscara) distorcida dos mesmos. Isso se chama ignorância. Charles Darwin (infelizmente) tinha razão quando escreveu (está no seu livro “The Descent of Man”): “a ignorância gera frequentemente mais confiança do que o conhecimento”.

Os achismos e as declarações ignorantes de lideranças políticas e empresariais brasileiras incitando as pessoas a romperem a quarentena têm perturbado boa parte da população, que devido às suas fragilidades econômicas e de conhecimento, ficam aterrorizadas entre perder o emprego e adoecer. Nesses três meses que a Covid-19 se instalou no mundo, já temos conhecimento bastante o suficiente para não fazermos declarações estúpidas nesse momento. E são tantas mundo afora (tais como “a pandemia é uma invenção”, “as mortes atribuídas a Covid-19 são de fato por outras causas”, “a doença só mata idoso”) a ponto das plataformas digitais (Youtube, Facebook, Instagram e Twitter) censurarem alguns conteúdos divulgados. Além da desonestidade em negar um fato verdadeiro e de amplitude global, é repugnante o desprezo com a dor das milhares de pessoas que perderam (e das que vão perder) outros milhares de entes queridos.

Temos muitas incertezas ainda sobre as consequências da crise que está apenas no início. Temos certeza de que teremos cicatrizes nos modelos atuais e nas pessoas. É certo que teremos muitas mortes (42.000 no dia 31 de março de 2020) e uma grave crise econômica.

O conhecimento científico que temos desse tipo de situação deveria servir (ser usado!) para eliminarmos a disputa por dividendos nessa guerra, onde todos já somos perdedores. O fardo das nossas perdas será menos pesado e nossas cicatrizes menos profundas se dividirmos de forma honesta e colaborativa as responsabilidades e as estratégias, tanto para a nossa sobrevivência, quanto para o nosso luto.

Brasileiro lidera iniciativa nos EUA para achar tratamento contra novo coronavírus

Leia matéria de Reinaldo José Lopes para Folha de S.Paulo, publicada em 31/3/2020:

Com a ajuda de pacientes cujo organismo já derrotou o novo coronavírus, cientistas coordenados por um pesquisador brasileiro vão tentar produzir anticorpos contra o Sars-CoV-2 em laboratório. Se tudo der certo, as moléculas poderiam defender as células de pessoas recém-infectadas pelo vírus, sem que o corpo delas precisasse aprender a contra-atacar sozinho.

O imunologista [e membro correspondente da ABC} Michel Nussenzweig, da Universidade Rockefeller, em Nova York, conta que sua equipe já conseguiu recrutar para o estudo 32 pessoas que se curaram da Covid-19. O objetivo é chegar a cerca de cem voluntários, que doarão seu sangue, contendo células e anticorpos produzidos naturalmente para enfrentar o coronavírus. (…)

“É praticamente certo que o nosso alvo serão os anticorpos que neutralizam a proteína da espícula do vírus [uma espécie de gancho bioquímico]. Como esse é o caminho que ele usa para invadir as células, é a abordagem que faz mais sentido”, explicou Nussenzweig, que nasceu em São Paulo e foi para os EUA no começo da adolescência com os pais, também cientistas, pesquisadores de ponta no estudo da malária —a mãe, Ruth, foi autora de uma descoberta fundamental para o desenvolvimento da vacina contra a doença. (…)

“Tenho a esperança de que o Brasil consiga levar em conta as lições da pandemia a partir da experiência de outros países. As pessoas precisam perceber que, uma vez que esse negócio começa a se espalhar, é muito difícil detê-lo quando não se leva o distanciamento social a sério”, diz o pesquisador.

Leia a matéria na íntegra.

Embrapii promove ações em apoio à pandemia da covid-19

Presidida pelo Acadêmico Jorge Guimarães, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) aderiu ao isolamento social e adotou o sistema de trabalho em casa para seus colaboradores em Brasília.

Agora, a Embrapii está induzindo projetos específicos para desenvolvimento e produção de equipamentos médicos e hospitalares, EPIs, kits de diagnóstico, respiradores, camas inteligentes para monitoramento de pacientes internados em salas de emergência e UTIs e outros instrumentos.

Além disso, está promovendo credenciamento emergencial de grupos de P&D qualificados para atuarem no combate ao coronavírus e passarem a integrar o conjunto de 42 unidades Embrapii espalhadas pelo país.

Confira uma das iniciativas já apoiadas pela Embrapii, o pulmão auxiliar da Empresa Braile de São José do Rio Preto, em São Paulo, em parceria com o Instituto Eldorado.

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