Os participantes do 6º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021: Adriana Ribeiro Carneiro Folador, Thaísa Sala Michelan, Renato Tavares, Juliana Hipólito, João Paulo Bassin, Denise Brentan da Silva, Fernanda Werneck, Adalberto Val, Pedro Lage Viana, Daiana Ávila
Os membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) são eleitos anualmente por região e tomam posse automaticamente no dia 1º de janeiro do ano seguinte à eleição. Os eleitos em 2020 e 2021 foram recepcionados conjuntamente em cerimônia online realizada em 3 de maio de 2021 e apresentarão suas contribuições à ciência em 12 simpósios ao longo do ano. A agenda completa dos simpósios científicos virtuais pode ser conferida aqui.
O 6º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021 foi realizado no dia 27 de julho, reunindo sete jovens cientistas para apresentar suas pesquisas, relacionadas à área de biologia e recursos naturais. O evento foi coordenado por Adalberto Val (Inpa), vice-presidente da ABC para a Região Norte.
Helena Nader abriu o evento, destacando o lado bom das realizações desses encontros online, que têm promovido a interação entre os Acadêmicos de todas as regiões – antes da pandemia, os encontros ocorriam por região – e também a participação do público em nível nacional.
Adalberto Val afirmou que é emocionante poder relembrar seus mais de 40 anos de trajetória e hoje poder acompanhar jovens cientistas competentes, empenhados em mostrar a força da ciência brasileira. “Apesar dos tempos difíceis que o Brasil vive, tanto na área sanitária, quanto na área política, a garra desses pesquisadores não se deixou abater”, destacou Val. Em seguida, ele introduziu os novos Acadêmicos.
Conheça os membros afiliados que se apresentaram na ocasião:
Enfrentando os desafios da biomedicina em prol da sociedade
Adriana Ribeiro Carneiro Folador, da Universidade Federal do Pará, estuda a resistência das bactérias aos antibióticos e a relação entre patógenos e hospedeiros.
Os desafios das ciências farmacêuticas
Pesquisadora da UFMS, Denise Brentan da Silva atua na área da química de produtos naturais, na determinação de componentes bioativos de nossa biodiversidade
Em busca de um planeta mais limpo e sustentável
O principal objetivo das pesquisas do engenheiro químico João Paulo Bassin é inovar no tratamento de águas residuais e na geração de energia a partir de resíduos sólidos orgânicos.
Os benefícios da polinização para muito além da agricultura
A pesquisadora do Inpa Juliana Hipólito busca compreender quais são os fatores que aumentam as populações naturais de polinizadores e qual sua importância para a nossa sociedade.
Focando na diversidade da flora amazônica
Pedro Viana é taxonomista de plantas, ou seja, estuda a classificação biológica desses seres “espetaculares”, em suas palavras.
Compreendendo os mistérios da natureza
O pesquisador mineiro Renato Martins se encontrou no Amazonas, onde dedica a tentar compreender como a natureza funciona, principalmente os ambientes aquáticos.
Ressaltando a importância da pesquisa da região Norte e das mulheres cientistas para o país
Thaísa Sala Michelan é professora da UFPA e dedica seus estudos à conservação de plantas aquáticas e aos impactos da introdução de novas espécies de plantas nas margens dos rios.
Debate
As debatedoras Daiana Ávila e Fernanda Werneck deram início à interação. Fernanda Werneck comentou que as pesquisas apresentadas se comunicavam e que o evento estava bem alinhado. Ela direcionou sua pergunta a Pedro Lage Viana, sobre o desafio de tentar entender melhor a distribuição dos organismos na Amazônia durante os tempos atuais. Observou que mesmo em relação às plantas, que são estruturas sobre as quais há muito mais conhecimento do que outras – como insetos, por exemplos –, ainda há grandes vazios e pouco conhecimento em muitas regiões do Amazonas. A pesquisadora questionou se, diante de toda a emergência que estamos enfrentando na questão ambiental, não seria possível avançar mais rapidamente na caracterização da biodiversidade através de tecnologia de ponta ou se é necessário conhecermos regiões específicas para o conhecimento avançar mais rápido.
Viana respondeu que a velocidade de conhecimento gerada com as ferramentas clássicas é bem lenta, e que esse é o momento de lançar mão de ferramentas modernas para acelerar diagnósticos. “Paradigmas têm que ser quebrados para a gente tentar acelerar o conhecimento da nossa biodiversidade, principalmente na Amazônia”, destacou o afiliado. Ele acrescentou que, especialmente na área de botânica, tecnologias como o sensoriamento remoto até podem trazer caracterizações interessantes, mas não de nível taxonômico. “Para mapeamento de eventos ecológicos e erosão de solo pode ter alguma utilidade, mas em tecnologias para acelerar o conhecimento e o diagnóstico da nossa riqueza, o que temos mais próximo são as ferramentas moleculares, que poderiam eventualmente tentar entender a diversidade genética”, informou.
Novos caminhos para contemplar os resultados obtidos
Adriana Folador foi questionada sobre se seu grupo de pesquisa realizou análises metabolômicas (estudo científico que visa identificar e quantificar o conjunto de metabólitos – produtos do metabolismo de uma determinada molécula ou substância – produzidos e/ou modificados por um organismo) tanto da água, quanto dos isolados, para ver o que está sendo produzido. Folador respondeu que essas análises não foram feitas; no entanto, seriam muito interessantes e complementariam todos os resultados obtidos, tanto nos isolados, quanto nos dados de metagenômica. “É uma outra parte que estamos tentando inserir no estudo, principalmente nos mananciais da região metropolitana de Belém, que englobam, inclusive, as bacias secundárias.”
João Paulo Bassin foi questionado acerca das análises feitas para constatar a presença de contaminantes, como pesticidas e fármacos, nas águas residuais. Segundo ele, os poluentes podem estar sendo absorvidos junto com a fração sólida do tratamento biológico. “Ou seja, se você se preocupar somente com o líquido, o sólido pode carregar esses componentes. Muitas vezes é importante avaliar os poluentes tanto na fase líquida, da forma como serão despejados no manancial mais próximo, e também levar em consideração o teor desses contaminantes na fase sólida, porque a fase sólida possivelmente irá para aterros.”. Ele completou a resposta, afirmando que o objetivo primordial do tratamento biológico com microrganismos é converter substâncias tóxicas em compostos mais amigáveis para o meio ambiente, mineralizando os compostos em gás carbônico ou água.
A importância dos polinizadores
Denise Brentan foi questionada sobre qual seria o prejuízo do desaparecimento de abelhas em alguns países e quais as justificativas para a extinção desses insetos. Segundo ela, um dos grandes problemas do desaparecimento está na queda da polinização, que afeta diretamente a produção de alimentos. A degradação ambiental pela agropecuária e pelas lavouras, além do uso excessivo de agrotóxicos, justifica a alta mortalidade de abelhas. A cientista ressaltou que os agrotóxicos também trazem consequências para outros organismos, como os dos seres humanos.
A Acadêmica ressaltou que uma região que é pouco conhecida e já muito fragmentada é a região do Chaco, similar a Caatingaque vêm perdendo muita informação por conta do avanço da degradação no local. Brentan defende que a solução está no alinhamento entre políticas públicas e ciências: “Precisamos pensar estratégias biológicas mais efetivas, em vez de derramar pesticidas sem critérios.”
Ainda na temática dos insetos polinizadores, Juliana Hipólito foi questionada sobre a existência de indícios de adaptação por parte das abelhas para lidar com toxicologia e perda de diversidade devido a contaminantes antrópicos. A pesquisadora comentou a perda das colônias e a significativa taxa de mortalidade das abelhas, principalmente das que não possuem ferrão, mais suscetíveis ao efeito dos químicos. Boa parte dessas espécies sensíveis são nativas. Já as abelhas africanas, introduzidas em várias partes do mundo por terem capacidade de manejo mais simples, reprodução mais fácil e alto índice de polinização nas flores, são consideradas mais resistentes.
Como os resultados das pesquisas científicas podem ser utilizados nas políticas públicas
Na posição de coordenador do evento, Adalberto Val direcionou a pergunta sobre “como usar os resultados desses tipos de trabalho sobre impactos ambientais diagnosticados para a elaboração de leis efetivas para a defesa do ‘ente’ natureza” para a Acadêmica Thaísa Michelan. Val destacou as questões do direito ecológico: “Cada vez mais é importante que a gente ressalte a função da ciência, fazer com que os resultados científicos se incluam nos processos decisórios e de disciplinamento para a sociedade de maneira geral.”
Thaísa Michelan afirmou que é momento de tentar aproximar a ciência da população e fazer com que os resultados das pesquisas cheguem aos tomadores de decisão. “Estamos em um processo de tentar fazer com que esses resultados sejam efetivamente colocados em execução. É necessário alinharmos nossa habilidade em fazer pesquisa com a capacidade de tornar nossos resultados mais palatáveis, para os tomadores de decisão conseguirem compreender.”
Fernanda Werneck complementou a fala de Michelan, afirmando a importância em sensibilizar o poder público de que não apenas a pesquisa aplicada é importante de forma geral. Para isso, ela mencionou a questão do conceito one health: “A saúde não precisa depender de um fármaco, um químico, mas a sobrevivência dos biomas deveria ser fundamental para as decisões públicas”, afirmou. “As pessoas estão muito afastadas do meio cientifico, tornando cada vez mais difícil para nós quebrarmos essa barreira. E isso me preocupa muito nas atuais circunstancias da ciência, tecnologia e inovação. Parece que se o resultado da pesquisa pura não é um produto, não tem valor. É essencial tentarmos mostrar valor, ainda que não seja associado a produtos. A ciência básica é fundamental por si só.” A Acadêmica, que está em seu último ano de afiliação, também apresentou o conceito de transtorno de déficit de natureza, pensado pelo escritor Richard Louv para chamar a atenção para o conjunto de problemas físicos e mentais derivados de uma vida desconectada do mundo natural.
A última questão colocada foi direcionada a Renato Martins, sobre como os resultados dos diversos estudos de modificação ambiental por ação antrópica interferem no processo de evolução dos organismos. Ele citou a eliminação dos organismos que são sensíveis àquele impacto e a permanência dos mais resistentes e com capacidade adaptativa como principais consequências.
Adalberto Val encerrou o webinário encorajando os novos afiliados a aproveitarem ao máximo o período de cinco anos na ABC. “Essa viagem está só começando, de novo”, disse. O Acadêmico comentou que o melhorda ciência, a seu ver, não é responder toda pergunta que é feita, mas deixar ainda um vasto número de perguntas para serem respondidas. “Precisamos usar o que sabemos nesse momento. E amanhã, se descobrirmos uma coisa adicional, falaremos sobre isso também.” Emocionado, Val disse que é muito importante ver que há um grande número de jovens cientistas dispostos a construir um futuro forte para nossa nação. “No fim das contas, o importante é continuarmos a fazer ciência bem feita.”