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Dois continentes ligados pela matemática (RJ)

Vivendo na pequena aldeia de Silverdale, a 15km de Lancaster, na Inglaterra, Robert Morris não poderia imaginar que seu futuro estaria a tantos quilômetros de distância, em uma das cidades mais conhecidas da costa brasileira. O matemático inglês se encontrou na pesquisa carioca e, há oito anos, é pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).

Robert é o caçula de três irmãos e filho de um casal de médicos. Na família, não foi o único a seguir na matemática. Sua irmã mais velha também optou pelo curso, também em Cambridge. A escolha não foi nenhuma grande dúvida. Desde pequeno, Robert se interessava pelo assunto na escola e sempre procurava por materiais extras e referências. “Com 14 anos descobri as olimpíadas de matemática e, desde então, passei mais tempo resolvendo problemas matemáticos do que lendo livros.”

Embora a decisão tenha sido fácil, os primeiros anos da graduação não foram os melhores para Robert. Já no terceiro ano, buscando por um conteúdo interessante na biblioteca, se deparou com um livro de G. H. Hardy “Apologia do matemático”. “Sentei no chão e li o livro inteiro. Pela página final, sabia que queria ser matemático. No dia seguinte, meu primeiro curso de Combinatória começou e meu caminho ficou claro.”
Neste período, Robert entrava em uma etapa da graduação decisiva para sua carreira. Segundo ele, na Inglaterra, não existe uma cultura de iniciação científica, porém o quarto ano em Cambridge funciona como uma espécie de mestrado para os estudantes. Por isso, o estudo de combinatória imperou em sua decisão de projeto de pesquisa.

Depois de se graduar em matemática, o caminho de Robert começou a ser trilhada mais ao sul do planeta. Viajou para a Escócia para apoiar uma olímpiada de matemática e lá conheceu a professora Béla Bollobás, que o convidou para um doutorado na Universidade de Memphis, nos Estados Unidos. “Em Memphis, eu tive a oportunidade de conhecer vários dos pesquisadores mais importantes da área e de viajar bastante, inclusive para o Rio, para uma conferência no Impa. Depois de duas semanas aqui, eu já sabia que este era o único lugar no mundo onde eu queria morar. ”
Radicado no Rio, Morris pesquisa combinatória. O estudo foca, em termos gerais, no uso da probabilidade para analisar sistemas numéricos finitos, como grafos, colorações e conjuntos de números inteiros. A área tem aplicação em outros campos matemáticos como a teoria dos números e em exemplos reais, como partículas interagentes, a própria Internet e o funcionamento do cérebro. “Um bom exemplo é o artigo no qual estou me dedicando atualmente, que fala da transição líquido-vidro na física da matéria condensada”.

Ao ouvir Morris falar de sua área de pesquisa, é possível perceber a paixão em suas palavras. Ele descreve o momento do entendimento de um determinado cálculo como “um sentimento poderoso e muito agradável”. “Você está tentando resolver uma questão que parece incompreensível e, de repente, uma ideia surge na sua cabeça e você entende todo o problema. A matemática é cheia destes problemas lindos e resolvê-los é o que mais gosto de fazer. ”

Além da paixão latente pela matemática, Morris é, também muito grato ao cenário da pesquisa carioca, e principalmente do Impa, pela recepção. “Os pesquisadores, alunos e funcionários do Impa me deram apoio durante vários anos e sempre me fizeram sentir tão bem-vindo no país e na comunidade matemática brasileira.”

Sobre a entrada no quadro de membros afiliados da ABC, Morris afirma que pretende apoiar e trabalhar pelo desenvolvimento da ciência brasileira e da matemática no país. O afiliado ainda aproveita para reforçar o suporte da família e brinca: “Preciso sempre agradecer pelo apoio e paciência com um matemático que trabalha demais e, muitas vezes, se vê perdido num mundo imaginário de contagem!”

Amor à primeira vista pela pesquisa (RJ)

O plano inicial era o de cursar medicina, assim como o seu pai. Mas o destino colocou as ciências biológicas no caminho de Thiago Motta Venancio e o amor foi à primeira vista. Professor associado na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) desde 2010, o novo membro afiliado da ABC regional Rio de Janeiro conta que seus primeiros passos na pesquisa foram dados já no primeiro período da graduação, realizada também na Uenf.

“Fiz iniciação científica a partir do 1° período. Nunca houve plano B. Desde então eu só queria fazer pesquisa”, diz Thiago, que se define como um “apaixonado, quase obcecado”, pelas atividades de pesquisa.

No laboratório, Thiago começou explorando a área de bioquímica. Lá ele purificava e estudava proteínas. Entre o fim da graduação e o início do mestrado, realizados ambos na Uenf, ele adquiriu grande curiosidade pelas áreas de genômica e bioinformática. Foi quando decidiu esta linha de pesquisa para o doutorado, na Universidade de São Paulo (USP), e no pós-doutorado.

O jovem afiliado da ABC fez o pós-doc na National Center for Biotechnology Information (NCBI), instituição de ensino e pesquisa dos Estados Unidos. Lá, ele desenvolveu pesquisa em genômica e proteômica de sistemas biomoleculares (systems biology) sob uma perspectiva evolutiva.

Para Thiago, a experiência de estudar fora foi uma excelente oportunidade para que, finalmente, ele conseguisse unir as suas grandes paixões: a biologia e a computação. “Muitas pessoas foram importantes neste período e chega a ser injusto citar nomes. Contudo, não posso deixar de mencionar os professores José Xavier-Filho e Sergio Verjovski-Almeida, ambos membros da ABC, além do professor do NCBI Aravind”, destaca o professor da Uenf.

Membro do corpo editorial de cinco periódicos internacionais e revisor de revistas científicas, Thiago atualmente se dedica a desenvolver projetos onde são aplicadas metodologias computacionais para explorar grandes conjuntos de dados biológicos. Segundo ele, diversos organismos são estudados, de bactérias patogênicas até plantas.

“Essencialmente desenvolvemos pesquisa básica, que alicerça a pesquisa aplicada”, resume o professor, que se fascinou pela ciência ainda criança, por meio da leitura de obras do astrofísico Carl Edward Saga e o biólogo e escritor Clinton Richard Dawkins: ambos grandes divulgadores da ciência.

“O que me encanta na ciência é a capacidade de explorar o desconhecido, de descobrir algo novo e, na minha área em particular, de poder fazer tudo isso utilizando computadores para explorar dados previamente publicados de forma mais sistemática e aprofundada”, diz Thiago.

Para o jovem afiliado, ser escolhido membro de uma instituição centenária como a ABC é uma das maiores honras de sua carreira. “Pretendo me unir aos demais membros da ABC na missão de proteger a ciência brasileira e torná-la um projeto de Estado”, defende Thiago. “Há muito por fazer, especialmente nos anos difíceis que estamos atravessando”, diz ele, que acredita ter também uma missão regional e institucional: a de ampliar a representatividade do Norte Fluminense e da Uenf nos quadros de Acadêmicos da ABC.

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