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Falece o Acadêmico Juarez Brandão Lopes

Juarez Brandão Lopes nasceu em Poços de Caldas, Minas Gerais, em 1925. Começou cursando Engenharia, mas a trocou pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde se bacharelou em Ciências Sociais e Políticas, em 1950. Fez o mestrado e o doutorado na Universidade de Chicago, mas defendeu a tese na Universidade de São Paulo (USP), onde trabalhou toda a vida. Também foi docente da Faculdade de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.

Sua carreira teve forte caráter interdisciplinar. Sempre dedicado à Sociologia Industrial e Urbana, mesmo depois de aposentado na USP, trabalhou, ainda, por doze anos, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde aposentou-se compulsoriamente em 1995. Atuou ainda como Professor visitante em várias instituições estrangeiras, como a Universidade do Texas, a Universidade de Amsterdam e a Universidade da Califórnia.

Foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), do qual foi diretor e presidente. Exerceu cargos administrativos na esfera do governo federal, tendo sido diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), adjunto na Secretaria de Planejamento da Presidência da República (Seplan) e vice-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPEA). Foi Assessor Especial do Ministério do Trabalho e coordenador geral do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, junto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, no atual Ministério de Desenvolvimento Agrário. Foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e participou de comitês do Social Science Research Council, nos EUA.

Recebeu da Presidência da República do Brasil o título de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 1996, e a Grã-Cruz, em 2001. No mesmo ano, lhe foi outorgada a comenda da Ordem do Rio Branco pelo Ministério das Relações Exteriores e a Medalha Capes 50 Anos, pelo Ministério da Educação.

O sociólogo Juarez Rubens Brandão Lopes morreu na madrugada de 9 de junho, aos 85 anos, por falência de órgãos. Ele deixou viúva, um filho e uma neta. A Diretoria da ABC lamenta essa grande perda e cumprimenta a família.

Falecimento de Acadêmico Aluízio Prata

Considerado a maior autoridade brasileira em Medicina Tropical, Aluízio Rosa Prata morreu na última sexta-feira, 13 de maio, aos 91 anos. Seu corpo foi velado na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), de onde partiu o féretro rumo ao Cemitério São João Batista, em Uberaba (MG).

Veja abaixo matéria publicada nas Notícias da ABC em 2008, contando sua história, à qual foram acrescentados dados recentes, publicados no Boletim da Faperj:

Aluízio Rosa Prata nasceu em 1º de junho de 1920, em Uberaba, Minas Gerais, numa família de fazendeiros, sendo o mais velho de seis irmãos. Criado na fazenda, aos oito anos foi encaminhado para o colégio interno – o Colégio Marista -, que tinha uma disciplina muito rígida. “Eu sofri muito, tinha que acordar cedo, tomar banho frio, antes eu vivia solto lá na fazenda”, conta Aluízio.

No início ele não era bom aluno, não gostava, não estudava. Mas com o tempo foi vendo que ia ter que ter uma profissão, mudar, ia ter que dar um rumo para a vida. Quando terminou o ginásio conversou muito com um parente do Rio de Janeiro, que lhe apresentou diversas opções, e lá se foi Aluízio, com 17 anos, para o Rio de Janeiro. “Tive um choque muito grande, a vida no Rio era muito diferente, tinha saudade de casa”, confessa o pesquisador.

Ele conta que de início, via os amigos do seu tio, profissionais bem sucedidos, alguns médicos, mas não achava que tivesse muita vocação pra Medicina, que pudesse ser igual a eles. E se preocupava em apresentar algum retorno, alguma justificativa para estar no Rio de Janeiro, pois seu pai não era muito rico, mas lhe mandava religiosamente uma mesada. “Meu pai dava muito apoio para tudo que a gente queria fazer, quando eu fui embora ele disse pra eu experimentar seis meses, e que voltasse se não desse certo.”

Fazia o Colégio Universitário, para entrar na universidade, ainda sem saber o que cursar. Com o tempo, porém, foi tomando gosto pelo estudo, e quando decidiu entrar para Medicina foi logo que pôde para o pronto socorro, para a parte prática. “Já estava disposto a estudar bastante, vi que eu era capaz.”

No Rio trabalhou em vários hospitais, já tinha gosto pelo estudo e pensava em se dedicar mais às doenças do Brasil, como a esquistossomose e a doença de Chagas. “Eu já estava formado, clinicava na Marinha, já tinha feito concurso, e pesquisava ao mesmo tempo. Conversava muito com pessoas que tinham voltado de Mato Grosso e achei que seria um lugar interessante para começar a vida. Fiz o concurso e fui para Ladário, em Corumbá.”

Aluízio estudava muito, assinava 15 revistas médicas internacionais, estava sempre se atualizando e foi se dedicando cada vez mais às doenças infecciosas. “Lá tinha muita sífilis e eu me dediquei bastante a isso. Mas fiquei lá só dois anos, era ruim demais. Um calor insuportável, os outros médicos muito competitivos com quem vinha do Rio, enfim, vi que lá não ia ter muita oportunidade”, concluiu o ousado pioneiro.

Conseguiu ser transferido de volta para o Rio de Janeiro, montou um consultório e clinicava em três hospitais. Conheceu então os irmãos José e Hélio Pellegrino, médicos mineiros como ele, que gostavam de fazer pesquisa, e se interessou pela área. “Achei que eu deveria sair do Rio e achar um lugar que tivesse mais condições de estudar o que me interessava. Estava entre amebíase, onde o forte era no Pará, e esquistossomose, forte na Bahia, que foi para onde eu decidi ir”, recorda Prata. E lá ele descobriu do que realmente gostava.

“Quando cheguei na Bahia, vi que o pessoal não gostava de trabalhar com esquistossomose porque tinha muito, eles gostavam de doenças raras. Então eu me envolvi e me tornei representante da Bahia em diversas reuniões nacionais sobre esquistossomose.” Ele mesmo fazia os exames de fezes, já tinha então 150 doentes e vários resultados. Foi representar a Bahia numa reunião em São Paulo, e lá se abriu um outro mundo para ele. “Eu conheci lá os melhores profissionais do Brasil que trabalhavam com esquistossomose, o único fraco era eu. E eu decidi que ia chegar lá também. Foram dois dias com eles lá e então eu vi que era isso que eu queria da minha vida”, contou Prata.

O médico trabalhou muitos anos na Bahia, outros tantos em Brasília, e depois voltou para Uberaba. Tornou-se professor catedrático de Doenças Tropicais e Infecciosas e fundou diversos centros de pesquisa e cursos de pós-graduação na área, em todos os estados em que trabalhou. Joje, é considerado o decano da Medicina Tropical no Brasil.

Realizações profissionais

Aluízio Rosa Prata foi catedrático e livre docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), titular da Universidade Nacional de Brasília (UnB), titular e doutor honoris causa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Nas três universidades, foi responsável pela criação de grandes escolas de tropicalistas no país.

Foi membro das Academias Mineira e Brasileira de Medicina, além de ter sido membro de diversas comissões da Organização Mundial de Saúde, da Organização Panamericana de Saúde e dos Ministérios da Saúde e Educação. Representou o Brasil na Unesco em sua área. Foi editor de diversas revistas científicas especializadas e fundou a Sociedade Latino Americana de Medicina Tropical (SBMT). Publicou mais de 530 trabalhos científicos e orientou mais de 50 teses de mestrado e de doutorado ao longo de sua vida.

Entre outros prêmios e homenagens, Aluízio Prata recebeu a Comenda da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores (1974), o Prêmio Alfred Jurzykovski da Academia Nacional de Medicina (1980), a Medalha Capes 50 anos (2001), a Medalha da Ordem do Grande Mérito da Saúde do Governo do Estado de Minas Gerais (2002) e, no mesmo ano, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico do Presidente da República do Brasil. Na Inglaterra, foi laureado pela Royal Society of Tropical Medicine.

O professor era casado com Martha Toubes Prata, com quem teve três filhos: Aluízio Prata Júnior, professor da Universidade da Califórnia; Álvaro Toubes Prata, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina; e a educadora Martha Toubes Prata.

A Diretoria da ABC cumprimenta a família e lamenta a perda de tão ilustre Membro.

Acadêmico presta homenagem a Emanuel Vogel

Nascido no ano de 1927, o alemão Emanuel Vogel (na foto ao lado), químico e membro correspondente da Academia, faleceu no dia 31/03, aos 83 anos. A mensagem abaixo é uma homenagem do Acadêmico João Valdir Comasseto.

“No dia 31 de março faleceu, aos 83 anos, o renomado químico orgânico alemão Emanuel Vogel. O mesmo estudou química em Karlsruhe, concluindo seus estudos em 1952. Em 1961 Vogel sucedeu o prêmio Nobel Kurt Alder como Diretor do Instituto de Química Orgânica da Universidade de Colônia, tendo ocupado o cargo por 35 anos, até sua aposentadoria. Os trabalhos que o notabilizaram consistem na síntese dos chamados “compostos aromáticos de Vogel”, com 4n+2 elétrons pi (n>1), confirmando experimentalmente a teoria de Hückel sobre aromaticidade. K. C. Nicolaou, em seu livro Molecules that changed the World, classifica o trabalho de Vogel como brilhante. O Professor Vogel orientou pesquisadores de vários países, entre os quais o Brasil. Entre os brasileiros que trabalharam com ele, podemos citar Antonia T. do Amaral (USP), João Viana Comasseto (USP), Hugo Jorge Monteiro (UNB), membro associado da Academia, e Mauricio Constantino (USP), entre outros. Seu contato com o Brasil foi intenso, motivo pelo qual foi eleito membro correspondente da Academia Brasileira de Ciências em 1997. Sua última visita ao Brasil foi em 2001, quando proferiu a palestra de abertura do 11th Brazilian Meeting on Organic Synthesis.

No plano pessoal o Professor Vogel era formal, embora afável e prestativo, fazendo jus à figura do clássico Herr Professor alemão. No plano profissional era extremamente meticuloso, tendo publicado pouco. Costumava confiar a síntese da mesma molécula alvo a dois ou mais doutorandos e só publicava uma síntese depois que vários membros do grupo haviam confirmado a reprodutibilidade dos resultados obtidos. Dedicava atenção especial à preparação de suas palestras, que eram memoráveis.”

Acadêmico Firmino Torres de Castro faleceu aos 91 anos

Faleceu no domingo, dia 20/03, o Acadêmico Firmino Torres de Castro. Médico, Castro empenhou sua vida pesquisando a área da Biomedicina. No ano de 1942, formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco e cursou Biologia no Instituto Oswaldo Cruz, tornando-se, logo após a formatura, pesquisador contratado do mesmo Instituto. Obteve o título de Livre-Docente Doutor em Bioquímica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1971, tornando-se professor adjunto do Instituto de Biofísica da mesma Universidade dois anos depois.
Membro associado da Academia Brasileira de Ciências desde o ano de 1978, Castro foi diretor do setor de Biologia do Conselho Nacional de Pesquisa (1971-74). Ganhou inúmeras bolsas, tendo estudado na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, no Centro de Estudos Nucleares em Saclay, na França, e na Fundação John Simon Guggenheim, do Einstein College of Medicine, nos EUA. Foi pesquisador visitante de instituições científicas da Grã-Bretanha, pelo convênio entre CNPq e a Royal Society de Londres, e na Universidade de Paris VII.
O Acadêmico Fernando Garcia de Mello escreveu sobre o falecido Acadêmico:
“Morreu ontem aos 91 anos de idade e após longa doença, Firmino Torres de Castro, um dos baluartes da ciência brasileira, que ajudou a formar e manter a exuberância de nosso Instituto de Biofísica.
Tive a oportunidade e o privilégio de conviver com Firmino durante o início de minha formação. Foi meu guia mestre que não só orientou minha formação profissional, assim como de vários outros de nossos colegas, mas foi também uma referência para todos nós de valores éticos, morais, de amor ao próximo e ao Brasil.
Homem de uma cultura e erudição infinita era capaz, por sua imensa sabedoria, de utilizá-las para o avanço do pensamento humano. Sua sabedoria contaminou a nós todos que tivemos a oportunidade de com ele conviver. Um humanista que deixa uma escola que se eternizará através daqueles que com ele aprenderam os valores humanos mais complexos e sofisticados.
Homem humilde, simples, de uma elegância cultural invejável, Firmino teve com Jacy Faro de Castro três filhos; Luis, Marcos e Heitor, todos casados e com filhos que sempre alegraram e iluminaram a vida desse grande homem. Ao partir, deixa um grande vácuo em nosso pensamento, uma grande tristeza em todos nós que o conhecemos tão de perto e com ele compartilhamos nossas vidas.
Homem religioso Firmino estará com certeza desfrutando agora da eternidade que sempre cultuou. No continuum da vida, eterniza sua alma através do que deixa em cada um de nós, nossos filhos, netos e descendentes que virão. Sejam eles na linhagem profissional ou humana.”

Falecimento de Acadêmico nos EUA

Hilgard OReilly Sternberg
Hilgard OReilly Sternberg

Faleceu na tarde de 2 de março, cercado pelo carinho de sua mulher Carolina, de seus cinco filhos e filhas, de seus netos e netas, de seu bisneto e bisnetas, em Berkeley, Califórnia, aos 93 anos, o Acadêmico Hilgard OReilly Sternberg, Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade da Califórnia.

Nascido no Rio de Janeiro em 1917, de ascendência irlandesa e alemã, formou-se em Geografia e História na Universidade do Brasil (hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro). Fez seu doutorado, em 1944, na Universidade de Lousiania (USA). Em 1956, aprovado em concurso público, defendendo a tese “A água e o homem na Várzea do Careiro”, torna-se Catedrático de Geografia do Brasil.

Em agosto do mesmo ano de 1956, Hilgard Sternberg, como vice-presidente da União Geográfica Internacional, organiza, no Rio de Janeiro, o Congresso Internacional de Geografia, o primeiro realizado no Hemisfério Sul.

Aposentado na Universidade do Brasil, torna-se Professor do Departamento de Geografia da Universidade da Califórnia em Berkeley, onde continuou a desenvolver suas pesquisas, sempre tendo como objeto o Brasil e, especialmente, a Amazônia.

Foi Professor Visitante, entre outras, nas Universidades de Heidelberg, de Beijing, da Flórida, da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Lecionou no Instituto Rio Branco e na Escola de Estado Maior do Exército.

Membro da Academia Brasileira de Ciências, foi sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB), e foi eleito membro de várias associações profissionais estrangeiras, como a Gesellschaft für Erdkunde zu Berlin (1957), a Société de Géographie de Paris (1958), a Deutsche Akademie der Naturforscher Leopoldina (1961) e a Royal Geographical Society de Londres (1964).

Em 1964 recebeu o título de Doctor Honoris Causa da Universidade de Toulouse, na França. Admitido na Ordem Nacional do Mérito (1956) e na Ordem de Rio Branco (1967), o governo brasileiro conferiu-lhe, em 1998, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Morre o físico Jayme Tiomno

É com pesar que comunicamos o falecimento do Acadêmico Jayme Tiomno. O velório será realizado em 12/1 até as 21h e no dia 13/1, das 9h às 16h, na Sala Oliveira Castro, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), térreo. O corpo será cremado em cerimônia privada, às 8:30h, no crematório da Santa Casa de Misericórdia, localizado no cemitério São Francisco Xavier (Caju), na sexta-feira, 14/01.

Nascido em 1920 no Rio de Janeiro, Jayme Tiomno era casado com a também física e Acadêmica Elisa Frota Pessoa, com ele na foto durante a comemoração dos 60 anos do CBPF, em 2009.

Jayme Tiomno obteve o bacharelado de Física em 1941, na Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1942, já contratado como assistente da cadeira de Física Geral e Experimental regida pelo falecido Acadêmico Joaquim da Costa Ribeiro, auxiliou-o em seu trabalho sobre Efeito Termodielétrico. Em 1946, recebeu uma bolsa da USP para pós-graduação com o falecido Acadêmico Mario Schenberg. Em 1947 foi contratado pela USP como assistente de Física Teórica, na cadeira de Schenberg.

Em 1948, Tiomno ganhou uma bolsa de estudos na Universidade de Princeton, EUA, onde obteve o Ph.D em meados de 1950. Nesse período descobriu, em colaboração com o seu orientador John A. Wheeler, a universalidade das interações fracas, seu trabalho de maior repercussão. Durante anos, a representação introduzida por esses autores das interações com três pares de partículas nos vértices de um triângulo foi denominada Triângulo de Tiomno-Wheeler.

Ainda em 1949 e 1950, trabalhou com E.P.Wigner e com C.N.Yang, futuros prêmios Nobel, respectivamente sobre teorias dos neutrinos – tema de sua tese de doutorado – e interação universal de Fermi. Também em 1950, Tiomno fez um trabalho com W.Schutzer sobre relação da Matriz S com causalidade, considerada a primeira aplicação da teoria de dispersão a reações nucleares. Voltando para São Paulo em 1952, foi contratado pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), do qual foi membro fundador. Os anos 50 foram os mais produtivos de sua carreira, quando publicou cerca de 20 trabalhos de destaque.

Em 1965, Tiomno participou da implantação do Instituto de Física da Universidade de Brasília, como coordenador. Após o colapso da UnB, obteve a Cátedra de Física Superior da USP e dedicou os anos de 1968 e 1969 à implantação de um grupo de Física teórica nessa cadeira, que veio a ser mais tarde o núcleo do Departamento de Física Matemática criado pelo Acadêmico Moysés Nussenzweig.

No entanto, sua carreira na USP e no CBPF foi interrompida pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5) em 1969. Impossibilitado de trabalhar no Brasil, Tiomno aceitou um contrato conjunto da Universidade de Princeton e do Instituto de Estudos Superiores de Princeton e centrou então suas atividades em Teoria da Gravitação e Eletromagnetismo, publicando em 1971 e 1972 doze trabalhos, sozinho ou em colaboração com o grupo de J.A.Wheeler.

Em 1973, Tiomno foi contratado pela PUC-RJ. Lá formou um novo grupo, em Gravitação e campos não-abelianos. Com a colaboração de antigos associados, publicou cerca de dez trabalhos. Em 1980, foi recontratado pelo CBPF, que lhe concedeu em 1992 o título de Pesquisador Emérito. Lá ele se uniu ao grupo de M.Novello e I. D.Soares, fundou o Departamento de Relatividade e Partículas (DRP) no qual publicou, com vários colaboradores, mais de 15 trabalhos, principalmente sobre modelos cosmológicos de Godel e de Szekeres e sobre física dos quarks.

Mais recentemente, já aposentado, terminou com I. Soares um trabalho sobre fundamentos dos efeitos Sagnac e Mashoon. No DRP, coordenou um projeto experimental de Física de Partículas em colaboração com o Fermilab, do qual resultou um novo Departamento, o LAFEX. Publicou cerca de 100 trabalhos de pesquisa em variados campos da Física.

A Diretoria da ABC presta suas homenagens a esse grande físico brasileiro e cumprimenta a família.

Victória Rossetti morre aos 93 anos

A engenheira agrônoma Victória Rossetti, reconhecida como uma das maiores pesquisadoras no mundo em doenças que atingem a citricultura, morreu na madrugada do domingo (26/12), de pneumonia, aos 93 anos. O velório e sepultamento foram realizados no Cemitério do Morumbi, no mesmo dia. Pioneira no estudo das doenças de plantas cítricas, pesquisadora do Instituto Biológico, deu o nome clorose variegada dos citros (CVC) à doença que identificou como causada pela bactéria Xylella fastidiosa.

“Em nome da Fapesp, é com grande pesar que lamentamos o falecimento da doutora Victória, pioneira no estudo das doenças que acometem as plantas cítricas, cientista de carreira belíssima e de grande importância, responsável por formar e apoiar gerações de pesquisadores brasileiros e que esteve ligada à Fapesp desde a sua fundação”, disse o Acadêmico Celso Lafer, presidente da Fapesp.

“Ela foi um das maiores autoridades em fitopatologia no país. Trabalhou com quase todas as doenças de laranjeiras, desde a “tristeza dos citros”, na década de 1940, doença provocada por vírus, passando pela leprose de citros, cancro cítrico e declínio dos citros”, disse o Acadêmico Elliot Watanabe Kitajima, professor aposentado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), à Agência Fapesp.

Veridiana Victória Rossetti nasceu em Santa Cruz das Palmeiras (SP), em 15 de outubro de 1917, filha de imigrantes italianos – o pai, Thomaz, estudou agronomia. Viveu os primeiros meses na fazenda Santa Veridiana, de onde recebeu o primeiro nome, e cresceu na fazenda Paramirim, adquirida por seu pai, no município de Limeira.

Interessou-se pela fitopatologia já nesta época quando, com os irmãos e orientados pelo pai, colhia material para estudar o efeito das pragas e doenças que afetavam as plantas. Iniciou seus estudos no Collegio S. Vicenzo de Paula, na Itália, seguido pelo Colégio São José, em Limeira, e pelo Colégio Piracicabano.

Foi a primeira engenheira agrônoma formada pela Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, em 1937. Em 1940, ingressou como estagiária no Instituto Biológico, onde desenvolveria toda a sua carreira.

Dedicou-se sempre à pesquisa das doenças dos citros. Iniciou seus trabalhos sob orientação de Agesilau Bitancourt, que a encaminhou para estudos do isolamento de fungos do gênero Phytophthora da gomose dos citros. Com o advento da tristeza dos citros, em 1947, tornou-se prioridade a necessidade de se adotar um porta-enxerto tolerante ou resistente às duas doenças.

Seguiu para os Estados Unidos, onde realizou, em 1947, curso de Estatística Experimental na Universidade da Carolina do Norte. Em 1951 e 1952, com bolsa da Fundação Guggenheim, estudou fisiologia de ficomicetos na Universidade da Califórnia em Berkeley, e fez especialização em fungos do gênero Phytophthora, com o professor J. Zentmyer, em Riverside.

Passou a integrar a Comissão Internacional de Phytophthora. Em 1960, com apoio da Fundação Rockefeller, visitou as estações de pesquisas em citros na Flórida e na Califórnia. A convite do governo da França e do Institut National de la Recherche Agronomique (Inra), desenvolveu programa de colaboração científica, trabalhando, em 1961, com Joseph Bové em estudos sobre viroides dos citros.

Capacitou-se nas técnicas de diagnóstico de vírus transmissores por enxertia, visando ao Programa de Registro de Matrizes de citros livres de vírus, implantado no Estado de São Paulo.

Em 1958, iniciou trabalhos sobre a leprose dos citros e experimentos para seu controle. Resultado relevante foi a comprovação do ácaro Brevipalpus phoenicis como vetor da leprose e, em 1965, também como vetor da clorose zonada.

Estudos sobre o cancro cítrico e sobre a clorose variegada dos citros (CVC) – nome sugerido pela pesquisadora em substituição ao popular “amarelinho” -, causada pela bactéria Xylella fastidiosa, motivaram vários trabalhos, com colegas de diversos institutos no Brasil e no exterior.

Foi presidente da Comissão Permanente de Cancro Cítrico de 1975 a 1977. Teve mais de 300 trabalhos publicados ou apresentados em congressos nacionais e internacionais e recebeu dezenas de prêmios e homenagens, entre os quais a Medalha Sigma Xi da Universidade da Califórnia (1952), o título de Engenheira-Agrônoma do Ano da Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (1982) e o de Professor Honorário da Universidade de Flórida (1987), o Prêmio Frederico de Menezes Veiga, da Embrapa (1993) e a Medalha Luiz de Queiroz (1999).

Membro da Academia Brasileira de Ciências, foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico pelo presidente da República em 2004.

No Instituto Biológico, assumiu a chefia da Seção de Fitopatologia Geral em 1957, tornando-se diretora da Divisão de Patologia Vegetal em 1968, cargo no qual se aposentou em 1987. Mesmo depois de aposentada continuou suas pesquisas junto ao instituto. O Herbário Uredinológico “Victória Rossetti” é parte do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal do instituto. Em 1988, recebeu o título de Servidora Emérita do Estado de São Paulo.

Descobertas e nomes

O nome Victória Rossetti estará sempre profundamente ligado às pesquisas das doenças que atingem as plantas cítricas. Se o Brasil se tornou o maior exportador mundial de suco de laranja, não foi sem vencer ou controlar uma série de doenças dos citros e a cientista se envolveu com boa parte delas.

Com a leprose dos citros, especificamente, começou a trabalhar em 1959. A doença foi descrita em 1935 e teve sua transmissão associada a um ácaro por Agesilau Bitancourt, seu mentor no Instituto Biológico.

“A leprose provoca manchas amarelas nas folhas e lesões escuras e deprimidas nos frutos. Os frutos terminam caindo em grande quantidade, o que resulta em perda de produtividade e de qualidade, principalmente da laranja doce”, explicou a pesquisadora anos depois. Em 1972, Kitajima constatou pela primeira vez, por microscopia eletrônica, um bastonete semelhante a vírus em lesões de leprose.

“Foi da doutora Vitória o primeiro avanço no conhecimento da leprose de citros, ao destacar a importância do controle do vetor da doença, transmitida pelo ácaro Brevipalpus phoenicis, que afeta principalmente as laranjeiras doces”, disse César Martins Chagas, pesquisador aposentado do Instituto Biológico, que trabalhou durante anos com a pesquisadora no estudo da leprose de citros.

Outra doença, o cancro cítrico, foi importante para a cientistas e para a própria FAPESP. Em 1963, quando a Fundação mal completara um ano de funcionamento, a doença se alastrava e ameaçava a jovem agroindústria da laranja no Estado de São Paulo.

Foi nesse momento que a Fapesp concedeu o primeiro auxílio para os estudos de controle do cancro, realizados no Instituto Biológico sob a direção de Victória. Desde então, a Fundação concedeu mais de dez outros auxílios às pesquisas feitas pela cientista.

Em 1987, foi convidada a identificar uma doença nova na Fazenda Ana Prata, na região de Bebedouro (SP). “Eu não sabia o que era”, diria anos mais tarde. Ninguém sabia. Aos poucos, a pesquisadora foi desvendando o mistério. Cobrindo algumas plantas com telas e comparando-as, depois, com as que estavam expostas, ela descobriu que o vetor da doença era um inseto: as plantas cobertas continuaram sãs.

Para testar a hipótese do entupimento dos vasos da planta, criou um equipamento tão simples quanto engenhoso: tubos transparentes por onde eram introduzidos galhos da planta. Depois, eles eram cheios com água. Nos tubos que continham galhos saudáveis, surgiam muitas bolhas, como resultado do ar que saía dos vasos da planta.

Nos tubos contendo plantas doentes, a água borbulhava bem menos, prova de que os vasos estavam entupidos. Para identificar a bactéria causadora da doença, Victória foi à França, onde teve a ajuda de Joseph Bové, especialista em fitopatologia.

No mesmo ano, a pesquisadora identificou a bactéria Xylella fastidiosa, causadora da doença a que deu o nome de clorose variegada dos citros. “Chamei-a assim porque as manchas amareladas na folha apresentam-se de forma variegada, não contínua”, disse. O sequenciamento do genoma da bactéria foi concluído treze anos depois, em um dos grandes momentos da história da ciência brasileira.

“A identificação do patógeno pela doutora Victória foi o ponto de partida do projeto de sequenciamento apoiado pela Fapesp. Outro ponto a se destacar é que ela soube fazer brilhantemente a mediação do conhecimento entre a academia, técnicos e produtores. A prova disso são os manuais que escreveu direcionado aos técnicos”, disse Kitajima.

“Ser visionário e ter extrema capacidade de desenvolver trabalhos são duas características muito difíceis de se encontrar em um pesquisador, mas que a doutora Vitória tinha de sobra”, disse Chagas.

Acadêmico Bernardo Beiguelman falece aos 78 anos

O geneticista Bernardo Beiguelman morreu na terça-feira (5/10), aos 78 anos. Foi fundador, em 1963, do Departamento de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp), o primeiro do gênero na América Latina.

Graduado em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP), Beiguelman se especializou em Genética e fez o doutorado na USP, obtendo o título de livre docente na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Foi um dos primeiros professores da Unicamp, tendo participado do processo de implantação da universidade e testemunhado o processo da escolha do terreno para a instalação do campus, realizado por Zeferino Vaz.

Na Unicamp, implantou o Ambulatório de Genética Clínica (1969) e foi um dos mentores do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG). Foi pró-reitor de Pós-Graduação da universidade entre 1986 e 1990 e se aposentou na mesma instituição, em 1997.

Depois de aposentado, manteve vínculo sem remuneração com a Unicamp colaborando com o curso de Pós-Graduação em Genética do Instituto de Biologia. Nesse período, também foi professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Biologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e membro do Conselho de Pós-Graduação do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

De 1972 a 1992 foi consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi membro do corpo de revisores da nomenclatura internacional de doenças do Council for International Organization of Medical Sciences e da OMS, membro eleito da Comissão de Seleção da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e presidente da Regional de Campinas dessa Academia.

Foi membro do Comitê Assessor de Genética do Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tendo sido eleito por duas vezes para a Comissão Assessora do Programa Integrado de Genética do CNPq.

Entre 1970 e 1972, foi presidente da Sociedade Brasileira de Genética e da Associação Latino-americana de Genética. Era membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e foi conselheiro da SBPC em diversas gestões.

Foi assessor científico ad hoc da Fapesp e de outras instituições de fomento à pesquisa. Foi editor associado da revista Genetics and Molecular Biology e fazia parte de conselhos editoriais de diversas outras, como Hansenologia Internationalis, Revista da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e Medicina, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

Produziu mais de 400 trabalhos científicos entre livros, teses, capítulos, publicações em revistas e comunicações em congressos. Orientou cerca de cerca de 70 pesquisadores, muitos dos quais se tornaram expoentes na área de ensino e pesquisa em genética médica.

Seus trabalhos foram reconhecidos com diversos prêmios como a medalha do CNPq, em 1981, e a placa de prata da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, em 1982, instituição na qual também recebeu o título de professor emérito, em 2004.

Entre os seus trabalhos mais importantes estão estudos sobre a resistência e a suscetibilidade hereditária à hanseníase e pesquisas sobre genética antropológica. Recentemente estava se dedicando a investigações sobre a epidemiologia de gêmeos.

O corpo do professor Beiguelman foi velado no Hospital Albert Einstein e sepultado na manhã de quarta-feira (6/10) no Cemitério Israelita do Butantã, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

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