Leia artigo do Acadêmico Paulo Artaxo exclusivo para a ABC, enviado em 5/12:

O Brasil é destaque na COP-28 também pelos seus erros. A Climate Action Network (CAN), uma associação de 1.300 ONGs de mais de 120 países, todos os dias entrega na COP o prêmio “Fóssil do Dia”, e, ontem, o premiado foi o Brasil. As declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, endossadas pelo presidente Lula, enfatizam as contradições fortes de nosso país. Se o Brasil almeja ter liderança climática no planeta, não pode se juntar a um clube de produtores de petróleo, a OPEP+, confundindo a produção de petróleo com liderança climática.

O ministro anunciou aqui em Dubai o plano de abrir um leilão para 603 novos blocos de produção de petróleo no 13 de dezembro, dia seguinte ao término da COP28. É uma coincidência ou provocação? Para piorar a situação, o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates declarou em seguida que a Petrobrás será das últimas empresas a parar de explorar petróleo.

A Agência Pública, em parceria com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), fez um levantamento das potenciais emissões da exploração de petróleo na Margem Equatorial e Foz do Amazonas, mostrando que estas emissões serão maiores do que as evitadas atingindo desmatamento zero na Amazônia.

O prêmio enfatiza que o mundo não quer ver na COP30, em Belém, petróleo sendo explorado na foz do Amazonas, e enfatiza que o Brasil deveria seguir o exemplo da Colômbia, que assinou o Tratado de não proliferação de combustíveis fósseis.

Fora a vergonha do “prêmio”, vimos a ministra Sonia Guajajara participando da Mesa Ministerial de Alto Nível Sobre Transição Justa, que reuniu ministros e representantes de países para discutirem ações prioritárias para catalisar uma transição justa nas áreas energética, socioeconômica, laboral e outras dimensões para conter o aquecimento global até 2030.

Vimos também Al Gore lançar uma plataforma chamada Climate Trace, que usa Inteligência Artificial e imagens de mais de 300 satélites para monitorar emissões de países, cidades, empresas e fábricas. Isso mostra um dinamismo importante no monitoramento de emissões de gases de efeito estufa, tarefa cada vez mais importante.

Por outro lado, a agenda de adaptação climática segue em discussão na COP28, com forte interesse dos países em desenvolvimento. O aumento da ocorrência e intensidade de eventos climáticos extremos colocou esta agenda como prioritária. A adaptação climática por sua natureza é muito local, envolvendo municipalidades como agentes fundamentais nesta agenda.


Paulo Artaxo é climatologista e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. É professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. É membro do Comite Orientador do Fundo Amazônia, do Fundo Nacional de Meio Ambiente e do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Está presente em Dubai para a COP 28.

 


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