No dia 30 de novembro, começou oficialmente em Dubai a COP 28 – a Conferências das Nações Unidas sobre o Clima –, onde governos do mundo inteiro se reúnem para tratar do imperativo climático. Logo no primeiro dia, um dos compromissos acordados na COP 27, em 2022, foi anunciado: a criação de um fundo de perdas e danos climáticos voltado a apoiar países afetados pelo aquecimento global.
Embora considerado histórico, os valores anunciados são modestos. Os US$ 420 milhões anuais (aproximadamente R$ 2 bilhões na cotação atual) representam apenas 2% do considerado necessário para os cientistas. Desse total, 60% foram destinados pela União Europeia e 23% pelos Emirados Árabes Unidos (EAU), país-sede da COP. O fundo ainda carece de aportes mais significativos dos dois maiores poluidores globais, Estados Unidos e China.
Os climatologistas Carlos Nobre e Paulo Artaxo, membros titulares da Academia Brasileira de Ciências (ABC), estão participando da COP 28 e comentaram sobre o anúncio. “É um valor muitíssimo pequeno”, disse Carlos Nobre, “é de dois dólares para cada um dos mais de 1 bilhão de habitantes muito vulneráveis aos extremos climáticos e que contribuem quase nada para mitigar o aquecimento que causa estes extremos”.
Na mesma linha, Paulo Artaxo também considera os recursos insuficientes e critica a origem do dinheiro: “São doações de governos, é dinheiro público. A pergunta é: até que ponto faz sentido as companhia de petróleo terem lucros de trilhões de dólares ao longo dos últimos anos e agora a população geral pague os custos da adaptação climática?”
Artaxo teme que o acordo esteja sendo pensado como uma compensação por uma declaração final menos assertiva quanto aos combustíveis fósseis. “Me parece que isto foi feito em negociação entre os países produtores de petróleo com os países pobres, para que na declaração final não entrem termos como ‘eliminar os combustíveis fósseis do planeta’. É utilizar um valor irrisório do lucro das empresas de petróleo para tentar manter as coisas como estão”, avaliou.
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