Na 6ª feira, 11 de junho, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Sociedade Brasileira de Física (SBF) promoveram um painel em homenagem ao recém-falecido Acadêmico Sérgio Mascarenhas

Homenageado com dezenas de prêmios, Sérgio Mascarenhas foi um reconhecido físico-químico, pesquisador e professor, que deixou uma enorme herança intelectual à ciência brasileira. Foi membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sérgio foi professor titular da Universidade de São Paulo no Instituto de Física e Química de São Carlos e depois coordenador do Instituto de Estudos Avançados da USP-São Carlos. Fundou e dirigiu o Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária em São Carlos (Embrapa Instrumentação) e cooperou na fundação da Universidade Federal de São Carlos e na criação do curso de Engenharia de Materiais. Foi professor visitante de algumas das principais universidades do mundo, como Princeton, Harvard e MIT, e promoveu muita cooperação internacional. Saiba mais sobre ele nas matérias elencadas no fim da página.

Um dos coordenadores do evento foi o Acadêmico Sergio Rezende, que também foi painelista junto com os Acadêmicos João Fernando Gomes de Oliveira, Glaucius Oliva e Luiz Davidovich, presidente da ABC.

 

O primeiro a falar foi o físico especializado em modelagem de sistemas complexos Guilherme Rosso, chefe de Inovação do complexo Pequeno Príncipe, composto pelo Hospital Pequeno Príncipe, Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe e Faculdades Pequeno Príncipe. É uma instituição filantrópica, que destina 70% da sua capacidade de atendimento ao SUS. Rosso falou sobre sua amizade com Mascarenhas e sobre o quanto ele o ajudou a tomar impulso na carreira. “O professor Sérgio é uma daquelas pessoas que deveríamos conhecer desde criança, pelos livros da escola. Ele foi um gênio da ciência e foi um gênio maior ainda pelo seu humanismo.”

Membro titular da ABC, da qual já foi vice-presidente, João Fernando Gomes de Oliveira foi o fundador e primeiro presidente da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii). Engenheiro premiado internacionalmente e amigo muito próximo de Mascarenhas e sua família, Oliveira observou que de modo geral, no nosso mundo acadêmico, os colegas gostam sempre de falar das suas conquistas. “O Sérgio não. Ele era o contrário disso. Ele era interessado no outro. Ele gostava de explorar o potencial do outro. O Sérgio era empatia pura.”

Também um amigo muito próximo e ex-orientando de Mascarenhas, o físico Silvio Crestana, ex-presidente da Embrapa, ressaltou que o homenageado “tinha essa visão de transformar ciência em algo que fosse útil, que pudesse transformar a realidade, tivesse impacto socioeconômico, tivesse impacto na nossa vida.”

O engenheiro e físico Glaucius Oliva, membro titular da ABC e ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, fundador do Conselho Administrativo do Conselho Global de Pesquisas (GRC, na sigla em inglês) e professor do Instituto de Física de São Carlos da USP (IFSC-USP), comentou aspectos marcantes da personalidade de Mascarenhas. “O sentimento maior de realização do professor é quando ele consegue transformar a vida das pessoas. Foi isso que sempre fez nosso mestre Mascarenhas com todos que tiveram a oportunidade de o conhecer e com ele conviver. E esse foi, assim como outros colegas aqui, o meu caso.”

Oliva relatou que em 1977, quando era aluno de graduação de engenharia eletrônica, participou como ouvinte de dois cursos noturnos que Mascarenhas ofereceu no campus da USP de São Carlos. “Além das aulas, repletas de conhecimento e cultura, certa noite após a aula ele nos convidou para caminharmos por duas quadras até sua casa, onde ocorria um sarau com muita música e poesias. Aquele momento foi transformador, gravando em mim, então, a paixão pela física e a fascinação intelectual instigante que a profissão de um cientista podia oferecer. Estava ali traçada a trajetória que eu escolheria para minha própria vida.”

Professor titular Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em Ribeirão Preto, Oswaldo Baffa trabalha em projetos interdisciplinares na interface das áreas de biofísica e física médica. Ele conta que foi muito influenciado pela presença de Mascarenhas. “Ele me deu mentoria em vários aspectos da vida. Eu aprendi muito. Ele faz muita falta, mas também nos deu muitos exemplos e nós, através desses exemplos, vamos poder continuar a obra dele. Viva, Sérgio! Você vai estar entre nós para sempre.”

Ministro da Ciência e Tecnologia entre 2005 e 2010, físico e engenheiro, o Acadêmico Sergio Rezende é professor titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Amigo de longa data de Mascarenhas, ele recorda suas intervenções nas reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciências (SBPC), da qual Mascarenhas era presidente de honra: “Ele era um grande sucesso, dava palestras plenárias que ficavam cheias de jovens. Os jovens queriam ouvi-lo. E é impressionante como ele ganhava energia quando falava com os jovens. Ele já está fazendo falta nesse momento muito difícil do Brasil, mas os exemplos e as inspirações dele vão ficar conosco, e vai caber a nós conseguir fazer um pouquinho do que ele fez pra esse Brasil, que vai precisar tanto do nosso trabalho.”

Também físico, professor da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), o presidente da SBPC, Ildeu Moreira, agradeceu a Mascarenhas: “Muito obrigado, Sérgio. Você foi muito importante para a SBPC ao longo de décadas. Você foi muito importante para cada um de nós. E esses jovens que você ajudou ao longo de toda sua vida, esse estímulo vai ficar para sempre. Na nossa mensagem de pesar, mas também de agradecimento e de aplauso a Sérgio Mascarenhas, a gente acredita que, inspirados em você, esses jovens possam enveredar pelas trilhas que você abriu.”

Presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich é físico, internacionalmente premiado, referência mundial em ótica quântica e professor titular da UFRJ. “O Sérgio era uma dessas pessoas que sonhava. Sonhava com o futuro e, mais ainda, pelo seu poder de persuasão, transformava o sonho dele em um sonho coletivo. E a gente sabe que, para transformar o mundo, um sonho individual não basta. Eu espero que nós consigamos cultivar esses sonhos para mudar a situação desse país. Em homenagem ao Sérgio, nós temos esse dever.”

Muito obrigada, Sérgio Mascarenhas.

Veja o evento na íntegra no canal do YouTube da SBF.

Veja as matérias sobre Mascarenhas publicadas no site da ABC: