O segundo dia do Seminário sobre Segurança de Barragens de Rejeitos, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Academia Nacional de Engenharia (ANE) foi realizado em Belo Horizonte, no auditório da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A coordenação do evento foi da Acadêmica Virginia Ciminelli, professora titular do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFMG e coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Recursos Minerais, Água e Biodiversidade (INCT-Acqua). Ela colaborou na organização, conduzida pela pró-reitora de Extensão da UFMG Claudia Mayorga; pelo professor titular do Departamento de Engenharia de Estruturas da UFMG e diretor do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da UFMG (IEAT) Estevam Las Casas; e pelo professor titular e coordenador do curso de especialização em Gerenciamento Municipal de Recursos Hídricos do Instituto de Ciências da UFMG Francisco Rodrigues Barbosa.

A sessão de abertura foi realizada em 2 de abril, com a presença do presidente da ABC, Luiz Davidovich; do presidente da ANE, Francis Bogossian, da reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart de Almeida; do vice-reitor da UFMG Alessandro Moreira; de Adelina Marta dos Reis, secretária Regional da SBPC; o diretor da Escola de Engenharia Cicero Starling; a pró-reitora de Extensão Claudia Mayorga; o ex-reitor Clélio Campolina Diniz (2010-2014) e a coordenadora do evento, Virginia Ciminelli.

Virgínia Ciminelli, Cicero Starling, Francis Bogossian, Alessandro Moreira, Sandra Almeida, Luiz Davidovich, Adelina dos Reis, Claudia Mayorga e Clélio Diniz

A reitora destacou a importância do tema para o estado e para o país.  “A UFMG é um patrimônio público nacional e tem a obrigação de pensar no futuro. Para isso, precisamos fazer reflexões sobre esses desastres e seus impactos no meio ambiente”, afirmou, reiterando a parceria com a ABC, a ANE e as outras instituições comprometidas em enfrentar os impasses ambientais, tecnológicos e humanos. “O impacto sobre a vida das pessoas, em função do rompimento das barragens próximas à Mariana e Brumadinho, vai se prolongar por muito tempo. Temos que pensar sobre isso com ética e só podemos encontrar soluções de forma coletiva, multidisciplinar, com políticas públicas.”

O presidente da ABC reiterou que é missão da Academia contribuir com subsídios científicos para o enfrentamento de questões relevantes para a população brasileira. “Como cientistas, temos obrigação de colaborar para a melhoria de vida da população, especialmente aqui no Brasil, que é um país muito desigual”, disse Davidovich. Os impactos do rompimento das barragens sobre o meio ambiente e a população é um problema que tem que ser analisado do ponto de vista multidisciplinar, em sua visão. Reafirmando o compromisso da ABC, Davidovich informou que a Academia terá um grupo de estudo, a partir do evento, que vai elaborar um documento multidisciplinar com propostas e recomendações.

A questão do comprometimento, porém, está bastante nebulosa com relação ao Estado. “Após o rompimento de outra barragem, agora em Rondônia, no dia 30 de março, o governo fez um corte de 80% no orçamento do Ministério de Minas e Energia e de 42% no Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Isso parece bastante contraditório com a proposta de desenvolvimento do país e de alcançar 3% do PIB para CT&I”, apontou Davidovich.

A secretária da SBPC disse que só investimentos em ciência, tecnologia, inovação e educação (CTI&E) vai ser capaz de ajudar o estado de Minas Gerais. “A Fapemig [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais] está passando por uma crise ímpar, seu financiamento está sendo reduzido a um terço”. Ela alertou para o fato de que sem a Fapemig, todas as pesquisas para zika, dengue, poluição, impacto ambiental etc. estarão interrompidas. “O estado precisa reagir e mostrar a situação aos políticos e à sociedade. Sem os recursos da Fundação não há como minorar os problemas das populações envolvidas”, reforçou Adelina.

“A engenharia é a arte de conjugar ciência e técnica para melhorar a qualidade de vida das pessoas”, ressaltou Cícero Starling. “Os projetos de engenharia não podem ser responsáveis por destruir vidas. Esse problema não é causado pela engenharia e, sim, pela falta de engenharia’, reiterou. Segundo ele, o problema é o manejo feito pelas empresas de mineração. “Temos especialistas em geotecnia, engenharia ambiental, engenharia de minas, enfim, a Escola de Engenharia da UFMG tem muito que contribuir e base para discutir um novo modelo de mineração sustentável. Temos foco na formação de engenheiros com compromisso social e ambiental”, afirmou o diretor.

Virginia agradeceu a coordenação do primeiro dia do evento, feita pelo diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), o Acadêmico Edson Watanabe. “Infelizmente o que nos traz aqui são acidentes que produziram impactos incomensuráveis e irreparáveis. Esta situação provoca questões que só podem ser tratadas de forma multi e transdisciplinar. Será muito importante esta aproximação das Academias Brasileira de Ciências e Nacional de Engenharia”, afirmou.

Saiba mais sobre o evento em BH (2/4):

E sobre o evento no RJ (1/4):