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Faleceu Oscar Sala

Ano de múltiplos eventos, como a realização da Semana de Arte Moderna e a formação da União Soviética, 1922 também marcou profundamente a ciência brasileira e mundial com o nascimento de Oscar Sala, no dia 26 de março, em Milão, onde seu pai brasileiro estava vivendo.

Talentoso físico nuclear, pesquisador e professor, Sala se notabilizou pela natural liderança no desenvolvimento das instituições científicas no Brasil e pelo papel relevante no surgimento da internet no país.

É com orgulho que a Academia brasileira de Ciências (ABC) reafirma a presença de Oscar Sala entre seus membros mais notórios. Sala ingressou nesta instituição no dia 24 de novembro de 1953, foi membro de sua Diretoria entre 1981 e 1993, assumindo a presidência no último triênio, razão pela qual lhe rendemos especial homenagem. Homenagem, por certo, muito aquém da importância do homem e do físico Oscar Sala, mas que pretende fazer valer sua intenção e deixar claro seu pesar.

Sala mudou-se cedo para o Brasil, quando tinha apenas dois anos, em virtude do turbulento período entre guerras na Europa, e não teve dificuldades em obter a nacionalidade. Após sua educação básica em Bauru, ingressou no Conservatório da cidade, onde estudou piano. Em 1941, tornou-se estudante em engenharia na Escola Politécnica. Transferiu-se rapidamente, contudo, para a Faculdade de Filosofia, que incluía o estudo da Física e que colaborou para sua criatividade no domínio.

Formou-se na primeira turma de Física do Brasil em 1945 e associou-se a grandes físicos, como Gleb Wataghin e Giuseppe Occhialini. Com o primeiro, publicou importante artigo sobre penetração de partículas nucleares. Também participou da fundação do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Pertenceu a uma geração de ouro da Física brasileira, iniciando suas pesquisas ao lado de Marcelo Damy de Souza Santos, César Lattes, entre outros. Mesmo depois de formado, Sala manteve sua presença na instituição, que evoluiu para o Instituto de Física da USP, como professor e cientista, tornando-se chefe do Departamento de Física Nuclear nos períodos de 1970 a 1979 e de 1983 a 1987.

O talento do italobrasileiro chamou a atenção internacional e a Fundação Rockefeller ofereceu-lhe uma bolsa de estudos em 1946. Nos Estados Unidos, estudou nas universidades de Illinois e de Wisconsin. A aposta dos Rockefeller rendeu frutos: Sala participou na projeção do acelerador eletrostático, primeiro aparelho a usar pulsos de raios na análise de reações nucleares com nêutrons rápidos. Ainda nos Estados Unidos, não deixou de pensar na cidade que escolheu para viver. De fora, projetou o acelerador eletrostático tipo Van de Graaff, a ser desenvolvido em São Paulo. Mais tarde, em 1972, já na USP, ajudaria na construção do primeiro pelletron (acelerador eletrostático de partículas) da América Latina.

Ao retornar ao Brasil, começou sua ininterrupta participação no desenvolvimento das instituições científicas do país e dedicou-se intensamente à construção e organização de laboratórios, tendo em vista a formação de pesquisadores. Ajudou a fundar a Sociedade Brasileira de Física em 1966, da qual foi o primeiro presidente. Igual cargo ocupou na Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência entre 1973 e 1979.

Foi diretor cientifico da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) de 1969 a 1974 e presidiu o Conselho Superior de 1989 a 1993. Sua presença corroborou para que a Fundação fosse o único e principal link internacional responsável pelo tráfego acadêmico e assumisse a responsabilidade de registrar domínios “br”. Orientou muitas teses de mestrado e doutorado, enquanto membro da cátedra de Física Nuclear da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.

Na Associação Interciência das Américas, desempenhou mesmo papel que teve na Sociedade Brasileira de Física, fundando-a em 1974 e sendo seu primeiro presidente entre 1975 e 1979. Ocupou a presidência da Academia de Ciências do Estado de São Paulo entre 1985 e 1993. Na Academia Brasileira de Ciências, não é demais repetir, foi vice-presidente de 1981 a 1991 e presidente de 1991 a 1993. Recebeu a Grã Cruz de Ordem Nacional do Mérito Científico em 1994, a medalha de Honra ao Mérito da SPBC em 1973, o Prêmio Moinho Santista em 1981, entre outras muitas homenagens.

A atividade intensa de Oscar Sala foi interrompida por um acidente vascular cerebral (AVC) que dificultou sua locomoção e fala e que poderia tê-lo matado, não fosse a ajuda da família e sua persistência em manter-se vivo. Oscar Sala foi um forte. Apesar de seu estado de vulnerabilidade, sempre fez questão de estar presente nas homenagens que lhe fizeram e visitava com freqüência a Fapesp, com a qual dividiu sua história.

Aos 88 anos, Oscar Sala faleceu no último sábado, dia 2 de janeiro de 2010, por volta das 13h. Segundo familiares, ele teria sofrido uma parada cardíaca enquanto dormia. Além de sua família, a mulher Rosa Augusta Pompiglio, os filhos Luiz Roberto, Regina Maria e Thereza Cristina e os seis netos, Sala deixou um grande legado para a Ciência.

Não podemos saber o que estava sonhando em seu último sono, mas que venham a se realizar os ideais que deixou claros em vida. Muito além do embate político, do qual sempre buscou afastar-se, que prevaleçam o interesse humanitário e que se difunda e se aprofunde o conhecimento científico. A maior homenagem que podemos render-lhe é seguir lutando por esse sonho.

A Academia Brasileira de Ciências lamenta a grande perda e cumprimenta a família.

ABC perde Fernanda Coutinho

Nascida em 1942, na cidade do Porto, em Portugal, Fernanda Margarida Barbosa Coutinho veio para o Rio de Janeiro aos quatro anos, com os pais e as duas irmãs. Estudou no Colégio Pedro II, onde constatou que as disciplinas de que mais gostava eram a Física, a Química e a Matemática. Com orientação dos professores, decidiu fazer vestibular para Engenharia Química.

Em 1963 ingressou na Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil. Com a Acadêmica Eloisa Biasotto Mano teve o primeiro contato com os polímeros, que se tornaram seu foco de pesquisa. Em 1968 iniciou o mestrado no Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química. Ingressou então no primeiro grupo de Polímeros do país, construído pela Prof. Eloisa Mano, com apoio do BNDES. Começou a ministrar a cadeira de Química Orgânica II ao mesmo tempo em que iniciou o doutorado. Ao concluí-lo, foi convidada para coordenar o curso de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Polímeros do Instituto de Macromoléculas da UFRJ.

Já aposentada pela UFRJ, ainda atuava como Professora Convidada. Era também Professora Titular na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde liderava grupo de pesquisa em Ciência de Polímeros. Orientou dezenas de teses de mestrado e doutorado e publicou inúmeros artigos em periódicos nacionais e internacionais. Casou-se em 1970 com José S.T. Coutinho, seu colega de turma, com quem teve duas filhas.

Ingressou na ABC como Membro Associado da área de Ciências Químicas em 1992, e em 2009 foi eleita para a categoria de Membro Titular. Infelizmente, faleceu antes de tomar posse, o que ocorreria no mês de maio próximo. A missa de 7º dia da Profa Fernanda Coutinho será realizada na Igreja Santa Mônica (Av. Ataulfo de Paiva, 527, Leblon), na 6ª feira, dia 8 de janeiro, às 8 horas.

Eleições para novos membros da ABC começa em 30/11, 2ª feira

A Comissão de Seleção para novos membros da ABC reuniu-se no dia 25 de novembro para a elaboração da lista final e da cédula de votação a ser utilizada na próxima eleição, que começa no dia 30 de novembro, 2a feira.

A reunião foi conduzida pelo presidente da ABC e da Comissão, Jacob Palis, com a presença dos Membros Carlos Eduardo Guinle da Rocha Miranda, Cid Bartolomeu de Araújo, Francisco Mauro Salzano, Helena Bonciani Nader, Fernando Cosme Rizzo Assunção, Jorge Luiz Gross, José Fernando Perez, Reinhardt Adolfo Fuck, e Paulo Arruda. Os Acadêmicos Elias Guidetti Zagatto, Marcelo Miranda Viana da Silva e Ruben George Oliven justificaram suas ausências. Estiveram presentes também os Acadêmicos Angelo da Cunha Pinto e Juarez Rubens Brandão Lopes, a convite do presidente, na qualidade de consultores Ad Hoc.

Os Membros Titulares estão convocados a votar de forma presencial, por via postal ou por via eletrônica. Os que quiserem votar presencialmente devem comparecer à Assembléia Geral que será realizada no dia 22 de dezembro às 10hs. Os que preferirem votar pelo correio podem solicitar a cédula na secretaria pelo telefone 21 3907-8100 ou pelo e-mail secretaria@abc.org.br. Os que desejarem votar eletronicamente devem aguardar a mensagem do presidente, que será enviada na 2a feira, 30/11.

Encerramento da programação comemorativa dos 60 anos do CBPF

Na manhã do dia 28 de outubro ocorreu o Seminário Desafios da Física 1949-2009. O Acadêmico e diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Ricardo Galvão, abriu a cerimônia, destacando que o evento de encerramento das comemorações do aniversário do CBPF teve por objetivo apresentar a visão de pesquisadores de renome relacionados ao CBPF sobre alguns desafios da Física, tanto na ocasião em que a instituição foi criada e no presente.

Na ocasião, foi lançado o Prêmio CBPF de Física, instituído em parceria com a empresa LaserTools Tecnologia Ltda., fundada por físicos, para premiar pesquisadores externos ao quadro do CBPF que realizaram trabalhos de destaque no país. “O prêmio será concedido pela primeira vez no ano que vem e o edital deverá ser publicado em meados de novembro”, esclareceu Galvão.

A instituição do prêmio, que inicialmente será bianual, representa a intenção do CBPF de cada vez mais desempenhar o papel de uma instituição promovedora e articuladora de novas iniciativas de interesse da comunidade científica nacional, além de perseguir a excelência em suas atividades de desenvolvimento científico e tecnológico, no dizer de seu diretor.

O ministro Sergio Rezende destacou a importância de parcerias entre governo e empresas, como essa entre um instituto do MCT – o CBPF -, e uma empresa como a LaserTools. Disse ainda que o Brasil evoluiu muito nos últimos anos no que diz respeito à ciência e à formação de cientistas, mas que ainda precisamos de mais cientistas empreendedores, como os da LaserTools. Rezende também parabenizou a iniciativa da CBPF e ressaltou a importância de prêmios científicos como este para que o trabalho dos cientistas seja devidamente valorizado e reconhecido.

O diretor da LaserTools, o físico Spero Morato, ressaltou o papel de sua empresa no cenário nacional, “uma empresa de físicos”, como descreveu, que nos últimos dez anos conseguiu conquistar uma posição de destaque no mercado através da inovação científica. Galvão reiterou que o maior feito desses 60 anos do CBPF é a criação do Prêmio CBPF de Física, destacando que no Brasil ainda faltam iniciativas como esta. “Uma nação que não reconhece seus próprios méritos não pode esperar que eles sejam reconhecidos internacionalmente”, disse, lembrando a fala de um professor americano ao conversarem sobre a falta de um Prêmio Nobel no Brasil.

O subsecretário de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Sr. Marcos Villaça também presente à mesa, falou em nome do secretário, Rubens Andrade, impedido de comparecer. Villaça destacou o potencial de criação intelectual da cidade, proporcionado pela presença de diversas universidades e instituições de pesquisa, que ganhou reforço esse ano com a criação de uma secretaria dedicada à ciência e à tecnologia. Informou ainda sobre o projeto de criação de de uma Fundação de Apoio à Ciência no município, que está sendo discutido entre a prefeitura e os reitores das universidades cariocas.

O Acadêmico Celso Pinto de Melo, presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), reverenciou as atuais gestões do CBPF e do MCT, salientando a importância da criação de uma Agenda Nacional de Ciências no Brasil. “Não basta o governo mudar sua postura, é necessário também que a comunidade científica se mobilize para criar um programa científico integrado e voltado para os problemas do país”. Melo ressaltou também a necessidade de uma maior integração com os países latino-americanos.


Marcos Villaça, Celso Melo, Sergio Rezende, Ricardo Galvão e Spero Morato

Os palestrantes convidados para dar continuidade ao evento foram os pesquisadores George Rawitscher, que falou sobre a ciência brasileira na época de criação do CBPF; Alberto Santoro, que tratou da Física de Altas Energias no LHC (Grande Colisor de Hádrons) na próxima década; Ananias Monteiro Mariz, que discorreu sobre a Física da Complexidade; e Vitório de Lorenci, que se remeteu aos novos desafios da Gravitação e da Cosmologia.

Também foram convidados a proferir palestras alguns Acadêmicos – o ministro Sergio Rezende, Celso Melo (UFPE), Moysés Nussenveig (UFRJ) e Sérgio Mascarenhas (USP-São Carlos). Suas palestras estarão reportadas em matérias seguintes. Além dos palestrantes citados, estiveram presentes ao evento os Acadêmicos Adalberto Fazzio, Alberto Passos Guimarães, Alfredo Ozório de Almeida, Amos Troper, Affonso Guidão Gomes, Elisa Frota Pessoa, Erasmo Ferreira e Jayme Tiomno. Este último foi um dos homenageados do evento, tido como um dos principais pioneiros da Física no Brasil. Veja a foto original no arquivo anexo, abaixo da matéria.


Adalberto Fazzio, Moysés Nussenzveig, Walter Baltensperger, Sérgio Mascarenhas,
o presidente da LaserTools Spero Morato, Ricardo Galvão, Amós Troper, Constantino Tsallis,
Sergio Rezende, Celso Melo (atrás), Alfredo Ozório de Almeida, Erasmo Ferreira,
Elisa Frota Pessoa, Jayme Tiomno e Affonso Guidão.

Prazo de indicação de novos Acadêmicos termina em 7 de novembro

O presidente da ABC, Jacob Palis, divulgou nessa sexta-feira nota onde informa sua decisão de adiar o prazo de indicações para novos membros da Academia por mais uma semana, encerrando-o no dia 7 de novembro.

O Prof. Palis foi sensível ao pedido de vários Acadêmicos, que teriam candidatos importantes para indicar. No entanto, enfatizou que a ABC terá eleito novos membros ainda no corrente ano, e para isso encurtará a próxima fase da eleição, que é a avaliação dos candidatos por seus pares, na sua respectiva área de especialização.

As indicações ser feitas pela internet, utilizando código e senha enviado por e-mail pelo presidente da ABC no dia 1º de outubro, para acesso ao Sistema Eletrônico de Votação. Caso um Membro Titular deseje fazer uma indicação e não localize este e-mail, pode contatar o gerente de informática, Fernando Carlos Azeredo Verissimo, pelo e-mail verissimo@abc.org.br.

Palis destacou a importância da eleição de novos membros, por ser um momento de renovação dos quadros e de resgate da função primeira de uma Academia, que é garantir a excelência dos escolhidos para a ela pertencer. Por isso, o presidente da ABC solicita que os Membros Titulares empreendam esforços no sentido de apresentar candidaturas dos cientistas de maior expressão em cada área do conhecimento.

Cabe observar o Art. 27 do Estatuto da ABC:

Art. 27 – Os formulários de indicação de candidatos somente serão recebidos quando estiverem devidamente preenchidos.

§ 1º – As propostas de admissão de Membros Titulares deverão ser subscritas por um ou mais Membros Titulares.

§ 2º – As propostas de admissão de Membros Correspondentes deverão ser subscritas por 10 (dez) ou mais Membros Titulares, dos quais pelo menos 5 (cinco) da área especializada em que se enquadrar o candidato e acompanhadas pelo respectivo “curriculum vitae” e relação dos trabalhos publicados de sua autoria.

§ 3º – As propostas para admissão de Membros Colaboradores serão apresentadas pela Diretoria, cabalmente justificadas e acompanhadas do “curriculum vitae” do candidato.

 

São elegíveis, na categoria de Membros Titulares, pesquisadores estrangeiros radicados no Brasil há mais de dez anos. A proposta foi aprovada em 18 de fevereiro último e já vale para esta eleição. Os estrangeiros, membros da ABC ou não, devem ser indicados no Sistema Eletrônico de Votação ou, se preferirem, através de formulário apropriado em papel, disponível na Secretaria da ABC, que pode ser solicitado por fax pelo telefone (21) 3907-8100.

 

Prêmio Nobel da Paz morre aos 95 anos

Uma figura central na “revolução verde”, Norman Ernest Borlaug nasceu em 1914, numa fazenda perto de Cresco, Iowa, EUA. Por muito tempo colaborou com cientistas mexicanos no melhoramento do trigo e também com cientistas de diversas outras partes do mundo, especialmente da Índia e do Paquistão, na adaptação de novas plantações de trigo em novos solos e na aceitação lucrativa de sua produção.

Um eclético, pragmático e objetivo cientista, dedicou-se a uma constante pesquisa por métodos de cultivo melhores e mais efetivo. Um homem vigoroso, levou para seu trabalho o espírito competitivo de um atleta treinado, o que de fato era nos dias de colegial e da faculdade.

Depois de completar o ensino fundamental e o médio em Cresco, Borlaug cursou administração florestal (forestry) na Universidade de Minnesota. Após concluir o bacharelado, em 1937, foi trabalhar no Serviço Americano de Administração Florestal (US Forestry Service) nas estações de Massachusetts e Idaho. Retornando para a Universidade de Minnesota para estudar patologia vegetal, recebeu o grau de Mestre em 1939 e o Doutorado em 1942.

Em 1944, Borlaug aceitou uma indicação para organizar e dirigir o Programa Cooperativo de Pesquisa e Produção de Trigo no México. Esse programa, uma iniciativa conjunta do Governo do México e da Fundação Rockefeller, envolvia pesquisa científica em genética, patologia vegetal, entomologia, agronomia, ciências do solo e tecnologia de cereais. Em 20 anos, opesquisador foi muito bem sucedido em encontrar um tipo de trigo resistente a pragas e de alto rendimento.

Ao seu objetivo acadêmico Borlaug adicionou a prática humanitária, adaptando novos tipos de cereal para uma produção extensiva, com a intenção de alimentar a população faminta no mundo – e ainda fornecendo, como ele dizia “um sucesso temporário na luta do homem contra a fome e privação” e as subseqüentes doenças sociais e ambientais que sempre levam o homem e as nações ao conflito.

Quando as Fundações Rockefeller e Ford em cooperação com o Governo do México estabeleceram o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (International Maize and Wheat Improvement Center – CIMMYT), um instituto autônomo de treinamento e pesquisa com a participação de membros internacionais, Borlaug foi feito diretor do Programa Internacional de Melhoramento de Trigo. Nessa instância, ele estava apto para realizar um terceiro objetivo: treinar novos cientistas na pesquisa de novos métodos de produção. De 1963 até 1970, quase 2.000 jovens cientistas de mais de 16 países estudaram e trabalharam no Centro.

Em 1970, quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz, Borlaug, estava participando de extensas pesquisas sobre o “triticale”, uma espécie de grão desenvolvida a partir do cruzamento de trigo e centeio, que promete ser superior ao trigo e ao centeio em produtividade e qualidade nutricional. As estatísticas sobre a vasta área plantada com o novo trigo e os revolucionários rendimentos de colheita no México, na Índia e no Paquistão foram apresentados pelo próprio Borlaug na cerimônia de entrega do Nobel.

Em adição ao Nobel, Dr, Borlaug recebeu reconhecimento internacional de universidades e organizações de seis países: Canadá, Índia, México, Noruega, Paquistão e EUA. Em 1968, recebeu um tributo especial quando os cidadãos da Ciudad Obregon, Sonora, no México, área na qual ele fez suas primeiras experimentações, puseram seu nome em uma rua em sua homenagem.

Norman Ernest Borlaug foi presidente da Associação Sasakawa, um programa de produção de alimentos na África; pesquisador sênior do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), no México; Professor Emérito de Agricultura Internacional no Departamento de Ciência do Solo e Culturas da Universidade do Texas A&M; membro do Conselho do Centro Internacional de Desenvolvimento de Fertilizantes (IFDC), nos EUA e membro correspondente da Academia Brasileira de Ciências.

Falecimento do Acadêmico Hiss Martins Ferreira

Primogênito de uma família mineira do princípio do século, Hiss Martins Ferreira nasceu em 1920 e foi criado em São João del Rei, Minas Gerais onde seu pai exercia a medicina, suplementando seu orçamento familiar com um laboratório de análises clínicas, além de ministrar aulas de biologia no Colégio Santo Antônio de frades franciscanos holandeses. Lá freqüentou o ginásio e graduou-se no final de 1935, quando foi mandado para o Rio de Janeiro.

Formado em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, atual UFRJ, no ano de 1943, continuou as suas funções de técnico de laboratório na disciplina de Física Biológica, posteriormente transformada em Instituto de Biofísica, onde tornou-se livre-docente em 1954 e permaneceu, lecionando e realizando trabalhos de pesquisa experimental.

O gosto pela experimentação esteve sempre dominante desde os tempos de estudante, estimulado pelas leituras de seu pai que, numa velha cidade do interior do país, assinava os Anais do Instituto Pasteur. Sua grande oportunidade para ser pesquisador ocorreu ao cursar Medicina ao tempo em que Carlos Chagas iniciava, com todo entusiasmo, a construção da sua versão do “Instituto de Manguinhos” na Praia Vermelha. Teve, então, a sorte de conviver com um grupo de pesquisadores brasileiros e internacionais de primeira linha, que Chagas escolheu a dedo para constituir a base sólida necessária ao desenvolvimento do núcleo de pesquisa que começara a formar.

Com o correr dos tempos, focou o sistema nervoso como seu objeto científico. Durante vários anos acompanhou as experiências de Chagas com o poraquê (peixe elétrico). Quando ficou claro que o mecanismo da eletrogênese das descargas elétricas deste peixe era análogo ao das fibras nervosas, dirigiu seu interesse para a atividade elétrica do cérebro em repouso e durante as crises epilépticas.


Aristides Pacheco Leão e Hiss Martins-Ferreira

Nesta época, houve uma nova conjunção feliz em suas pesquisas: iniciou uma parceria científica com Aristides Pacheco Leão, e daí surgiu o primeiro trabalho que publicaram juntos, em 1953, nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, sobre a impedância elétrica do córtex cerebral durante a depressão alastrante. Este fenômeno havia sido descoberto por Aristides em 1944, tornando-se conhecido como “onda de Leão”, assunto de grande interesse internacional em fisiopatologia de síndromes paroxísticas do Sistema Nervoso Central. Tentando entender a depressão alastrante, Hiss Martins-Ferreira e Aristides Leão, junto com Gustavo de Oliveira-Castro, puderam acompanhar de perto todas as idéias e cenários propostos para explicar o funcionamento do sistema nervoso nestas últimas cinco décadas.

Foi Catedrático da Biofísica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde trabalhou entre 1955 e 1970. Também atuou como Professor Titular de Biofísica da Faculdade de Medicina de Petrópolis por 20 anos, de 1969 a 1989.

Membro Titular da área de Ciências Biomédicas da ABC desde 1952, teve participação ativa na Diretoria em diversas ocasiões. Entre as diversas homenagens que recebeu, destacam-se o Prêmio Alfred Jurzykowski, da Academia Nacional de Medicina, em 1967 e o Prêmio Abifarma 1977, da Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas. Foi condecorado com a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico pelo Presidente da República do Brasil, em 1995, e três anos depois com a Grã-Cruz da mesma Ordem.

Hiss Martins Ferreira faleceu em 2 de setembro de 2009, no Rio de Janeiro.

Nas palavras do Prof. Rubem Carlos Araújo Guedes, Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), o falecimento do Professor Hiss Martins-Ferreira é uma grande perda para a Neurociência brasileira e mundial.

“Desde o contato inicial com o Dr. Hiss, como o chamávamos, sempre me impressionou o seu dinamismo e o entusiasmo com que falava dos seus experimentos, resultados e idéias a respeito do fenômeno da depressão alastrante da atividade elétrica cerebral (DA)”.

O Prof. Rubem Guedes o conheceu em 1972, quando ingressou no mestrado do Instituto de Biofísica da UFRJ, ainda situado no belo prédio da Praia Vermelha. “Inúmeras foram as vezes em que ao final do dia a conversa se prolongava, em torno dos mais variados temas científicos, dos quais a DA sempre tinha destaque. Vez por outra, o Professor Aristides Leão, já então presidente da Academia Brasileira de Ciências, vinha ao laboratório e a conversa ganhava mais animação e colorido”, relembra Guedes.

Em 1974, ocorreu a mudança do Departamento para a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão que prolongou a convivência de Rubem Guedes com o admirável homem de ciência que foi Martins-Ferreira. Retornando a Recife, Guedes conta que teve a oportunidade de convidá-lo para compor a banca examinadora da defesa da primeira dissertação de mestrado que orientou e conta que o Prof. Hiss participou com a mesma alegria e entusiasmo que eram a tônica da sua presença nos laboratórios da UFRJ.

Ciceroneou o Professor Hiss, quando da sua visita ao Max-Planck Institute of Biophysical Chemistry, na Alemanha, onde Guedes cursava um pós-doutorado. “As conferências que ele então proferiu causaram uma impressão muito positiva e contribuíram para divulgar a DA, que naquela época era pouco conhecida por lá.”

Ao longo dos anos, Guedes e Martins-Ferreira continuaram mantendo contato. “Sempre que eu ia ao Rio, passava em seu laboratório, excelente oportunidade para proveitosas conversas sobre as novidades acerca da DA”. Mesmo aposentado, o Prof. Hiss continuou trabalhando diariamente no laboratório; ultimamente, duas ou três vezes por semana.

“Para nós, um exemplo de homem devotado à ciência. Que seu nobre perfil possa servir para nortear as novas gerações de neurocientistas do nosso país”, concluiu o Prof. Rubem Guedes.

Gilberto Velho lamenta um ano de ausência de Ruth Cardoso

O Acadêmico Gilberto Velho, antropólogo do Museu Nacional da UFRJ, presta homenagem à ex-primeira dama Ruth Cardoso, que faleceu há exatamente um ano, em 24 de junho de 2008.

“Está completando um ano do falecimento da doutora Ruth Cardoso. Era pessoa sóbria e discreta, avessa a homenagens. Portanto, relembrá-la é, sobretudo, sublinhar seus estilo e atitude que são cada vez mais raros em uma sociedade em que o exibicionismo e o auto-elogio são moeda corrente. Vive-se o espetáculo do mau gosto e do oportunismo, em contraste com o trabalho e generosidade de Ruth Cardoso que produziam resultados, sem maiores estrépitos e foguetórios.

Como acadêmica, sempre se distinguiu pelo respeito às obras realizadas e, paralelamente, pela curiosidade e estímulo ao novo e à ousadia. Isso não impedia que sustentasse pontos de vista, exercesse a crítica, preocupada com o diálogo em que a civilidade não se opunha à firmeza.

Sempre esteve voltada para questões de política social, sem abrir mão de rigor acadêmico. Orgulhava-se de sua vivência universitária, mas isto jamais a impediu de estar atenta e engajada nas grandes questões políticas, como a resistência contra a ditadura. Estudou e participou de movimentos em defesa de minorias e setores oprimidos da sociedade. Entre outras causas, há que destacar a sua atuação na política de gênero e o seu engajamento nas lutas das mulheres.

Como esposa de presidente da República, reinventou o papel oficial, desempenhando tarefas em que sua condição de cientista social e cidadã engajada contribuiu, decisivamente, para inovações e fortalecimento de políticas sociais. Prosseguiu essas atividades de outras formas, uma vez encerrado o mandato de Fernando Henrique Cardoso. Até sua morte, permanecia atuante, construindo instrumentos para enfrentar a pobreza e a desigualdade social.

Deixou exemplos e lições. Quem a conheceu e acompanhou sua trajetória gostaria que, de algum modo, essa memória permaneça viva, se contrapondo à vulgaridade da corrupção, do imediatismo e da mesquinharia política.”

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