No dia 27 de outubro aconteceu o Simpósio e Diplomação dos Novos Membros Afiliados da Regional Norte 2023-2027. A cerimônia foi realizada na reitoria da Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Palmas, e recepcionou os cinco destacados cientistas que se juntam à ABC. Saiba mais sobre eles abaixo:


O estudo do coração

O farmacêutico e professor da UFPA Alejandro Ferraz do Prado, afiliado da ABC, estuda a relação entre as metaloproteinases da matriz extracelular e os problemas cardiovasculares.

 

 

 


As várias gerações da botânica amazônica

Estudioso das diversas potencialidades vegetais da floresta, o professor da UFRA Allan Klynger da Silva Lobato tem na família suas grandes referências de pesquisa na área.

 

 

 


Entendendo como funciona a floresta

Paulistano radicado em Manaus, o pesquisador do Inpa Bruno Gimenez estuda a fisiologia da floresta amazônica, contribuindo para o entendimento de suas potencialidades na questão climática.

 

 

 


Ciência endêmica da Amazônia 

Biólogo e pesquisador do Inpa, Patrik Ferreira Viana cresceu às margens do Rio Negro e hoje estuda espécies que, assim como ele, têm na Amazônia a sua casa. 

 

 

 


Paixão por peixes da infância à docência 

Ictiólogo e professor da UFT, Valter Monteiro Santos estuda peixes, classificando e descrevendo espécies com um olhar sempre atento à sua preservação.

 

 

 


Mesa de Abertura

A mesa de abertura foi liderada pelo vice-presidente regional da ABC, que convidou autoridades e representantes da comunidade científica local. Confira:

Adalberto Val, vice-presidente da ABC para a Região Norte, reafirmou a necessidade de a pesquisa nacional se impor e embasar tomadores de decisão. “A ABC é uma guardiã do exercício da ciência nacional. A ciência precisa transitar por todos os cenários por onde é necessária, seja usando o que sabemos, seja buscando o que não sabemos. É momento de celebrá-la e colocá-la no colo da sociedade”.

“Há homens que lutam um dia, e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são melhores ainda. Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis”. Com essas palavras do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, Val recepcionou os afiliados nessa nova etapa de suas carreiras.

Marcio Silveira, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt), contou um pouco da história da UFT e do jovem estado do Tocantins. Ele criticou a assimetria dos recursos de ciência para o Sul e Sudeste, que ficam com 70% dos investimentos. “Esse momento é histórico, é memorável, porque, com pouco, estamos fazendo muito. Isso exige um esforço descomunal da comunidade científica local”.

Rafael Pimenta, pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da  Universidade Federal do Tocantins (UFT), sugeriu a criação de uma Academia de Ciências no Tocantins. “Acho que já passou da hora, somos um estado novo e precisamos disso. A ciência é importante, a tecnologia é importante, o momento da negação acabou. É um prazer receber a ABC em nossa universidade”.

Eduardo Ribeiro dos Santos, coordenador de Pesquisa Agropecuária da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), afirmou que a ciência teve sua importância reforçada em razão da pandemia e dos conflitos globais, ao mesmo tempo em que sofreu com discursos anticiência no mundo inteiro. “O cientista brasileiro foi e é resiliente e apresentou soluções para a sociedade. Parabenizo os membros que hoje assumem seu lugar na Academia”.

Da esquerda para a direita: Marcos Cortesão (secretário-executivo de Projetos Internacionais da ABC), Adalberto Val, Marcio Silveira, Rafael Pimenta e Eduardo Ribeiro dos Santos

Palestras Magnas

Como tradição nas diplomações de membros afiliados, a ABC convidou duas de suas membras titulares para ministrar Palestras Magnas sobre suas pesquisas:

Acadêmica Maria de Fátima Andrade

Maria de Fátima Andrade – Sinergias entre aerossóis humanos e naturais: formações e impactos

A poluição atmosférica é, talvez, o mais clássico dos problemas ambientais. Quando pensamos na degradação do planeta, a imagem de fábricas emitindo nuvens cinzas gigantescas já se tornou um clichê. Este é um problema com interseções na saúde pública, na forma como entendemos urbanização, no bem-estar das sociedades e, obviamente, nas mudanças climáticas.

O que não é muito falado é sobre quão diversa é esta questão, seja nas origens das emissões, seja nos efeitos na saúde. A Acadêmica Maria de Fátima Andrade, docente do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP, lembrou que a poluição do ar mata, anualmente, sete milhões de pessoas ao redor do mundo, e que mais da metade dessas mortes se dá pela poluição dentro das próprias casas.

“Principalmente nos países em desenvolvimento, ainda é muito comum o uso de combustíveis sólidos para fazer fogo, desde lenha até lixo. Esse tipo de poluição afeta principalmente mulheres e crianças. Em regiões como o norte da Índia, a diminuição da poluição para os níveis aceitáveis sugeridos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) significariam um acréscimo de até seis anos na expectativa de vida”, apontou a pesquisadora.

No Brasil, um dos fatores predominantes para a poluição do ar são as queimadas. Recentemente, a cidade de Manaus ficou dias com uma  das piores condições atmosféricas do mundo. A região amazônica está exposta a uma combinação entre as emissões naturais da floresta e fatores antropogênicos, dentre os quais estão as emissões da própria cidade. “Não dá para tratar isoladamente, separar as emissões por queimadas das emissões urbanas. No contexto de Manaus, elas se complementam”, disse a Acadêmica.

O monitoramento atmosférico na região ainda é insuficiente, de acordo com Andrade. “A produção de dados atmosféricos na Amazônia ainda é baixo, se considerarmos a centralidade do bioma e sua exposição ao fogo”, ressaltou. Globalmente, outros vazios de informação também se verificam, com consequências graves para nossa compreensão do problema. “No Brasil, praticamente não temos dados contínuos na região Norte, o que, considerando os impactos desse problema na saúde pública, é bastante preocupante”, finalizou Andrade.

Acadêmica Maria Fátima Grossi

Maria Fátima Grossi – Tecnologia com RNA: desafios para o desenvolvimento de soluções agrícolas baseadas em RNA de interferência

O desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro (mRNA) popularizou os RNAs, molécula fundamental para a vida na Terra. O que a biologia já sabia era que o ácido ribonucleico – ou RNA – atuava no meio do caminho entre o DNA e as proteínas nele codificadas, mas o que vem endo descoberto é que os RNAs vão muito além disso. No caso dos RNAs de interferência (RNAi), essas moléculas podem atuar na inibição de genes de um organismo, com consequências fisiológicas diversas.

A pesquisadora da Embrapa Maria Fátima Grossi de Sá apresentou trabalhos conduzidos no INCT PlantStress Biotech com RNAi para soluções na agricultura. As perdas causadas por pragas agrícolas são estimadas em 40% da produção mundial todos os anos. O Brasil, como um dos maiores produtores do mundo, tem especial interesse nesse assunto e viu o consumo nacional de agrotóxicos mais do que dobrar nos últimos 20 anos. Nesse cenário, é papel da ciência buscar alternativas sustentáveis e o RNAi pode ser uma opção.

Uma das frentes no estudo de plantas geneticamente modificadas é justamente o desenvolvimento de espécimes que produzam RNAi, que, quando ingerido por um parasita, inative genes fundamentais para sobrevivência e desenvolvimento, atuando como um pesticida menos agressivo ao meio ambiente. Além da engenharia genética, utilizações baseadas em uso tópico, que não precisam internalizar a codificação da molécula para o genoma da planta cultivada, também estão sendo testadas.

Entretanto, a tecnologia ainda esbarra em limitações, seja na forma de fazer chegar a molécula ao seu alvo, na variedade de respostas encontradas contra as diferentes espécies de insetos, ou na própria estabilidade dessas moléculas dentro dos organismos alvo – algo que também foi problema para o uso de RNAs em vacinas e rendeu Prêmio Nobel a quem solucionou.

Mesmo assim, os estudos já se mostram promissores para o controle do bicudo-do-algodoeiro, uma das pragas mais comuns de algodão. O cultivo do algodão responde por 4% das receitas do agronegócio brasileiro. As tecnologias seguem agora para a prova de conceito, onde será testada a viabilidade e a aplicabilidade na lavoura. Esta é uma etapa avançada na cadeia de desenvolvimento de uma inovação tecnológica, o que significa que já existem atrativos para que a iniciativa privada entre no processo. Dessa forma, chegam às prateleiras produtos desenvolvidos a partir de um conhecimento germinado na ciência básica.

Saudações finais

Para saudar os novos Acadêmicos em nome dos afiliados antigos, a ABC convidou o pesquisador Fernando Val, membro afiliado eleito para o período 2020 – 2024. Ele descreveu a diplomação como um merecido reconhecimento à pesquisadores que construíram suas carreiras enfrentando adversidades inerentes ao fazer ciência na região Norte. “Estamos junto pela ampliação da contribuição que os cientistas da região Norte podem dar à sociedade, soluções que precisam ser pensadas por pessoas que vivem e sentem a região. Agora, esta é também uma responsabilidade de vocês. Sejam todos bem-vindos”.

Para fazer a saudação em nome dos novos membros, foi escolhido Valter Monteiro. Ele destacou a felicidade de ter sido eleito e se disse honrado de compartilhar esse momento com os outros quatro diplomados. O pesquisador também fez um apelo contra o corte nas bolsas de pós-graduação, que mantêm e possibilitam o surgimento de novos cientistas. Por fim, citou aquelas que acredita que devam ser as bases para a atuação em defesa da ciência nacional: “A busca por igualdade de genêro e raça e o combate a todos os tipos de preconceito. A reconstrução do entusiasmo com a ciência e a aproximação com a sociedade”, frisou.

Confira a galeria de fotos da diplomação!