“Fui infectado pela Amazônia e vivo plenamente esse vício até hoje.” É assim que o membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Bruno Oliva Gimenez descreve sua relação com o tema de sua pesquisa. Hoje no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), que ele considera a “Meca” das pesquisas sobre o bioma, ele atravessou grandes distâncias para trabalhar com o que ama. 

Nascido na cidade de São Paulo, Bruno sempre se sentiu à vontade na natureza. Mesmo na capital, seu lazer preferido era o Parque da Aclimatação, onde jogava bola e andava de skate em contato com as árvores e longe dos prédios. Sempre que podia, a família viajava à Peruíbe, no litoral sul do estado, onde o menino aprendeu a surfar e respeitar o oceano.  

O gosto pelo meio ambiente o acompanhava até dentro de casa. Bruno tinha um verdadeiro laboratório no quarto, com aranhas e escorpiões empalhados e até um microscópio. “Eu levava alguns amigos para casa, apagávamos as luzes e ficávamos projetando as imagens do microscópio na parede do quarto: fios de cabelo, pequenos bichos; até furávamos o dedo para poder enxergar como era o sangue”, relembra. 

Mesmo gostando mais das disciplinas de Humanidades na escola, seu interesse por tudo que envolvia natureza fez Bruno ter a certeza de que queria ser, nas suas próprias palavras, “algum tipo de biólogo diferentão”. Mas ele não fez biologia. Na hora de escolher o curso, optou por engenharia florestal na Universidade Federal de Viçosa (UFV), encarando o desafio de mudar de estado e morar sozinho aos 18 anos. “Foi uma escolha certeira. Na faculdade, descobri também as ciências agrárias, campo que hoje acho adoro”, diz. 

Na faculdade ele se envolveu no projeto MataGao, um bosque mantido por alunos e professores que serve como um grande laboratório à céu aberto para pesquisas com plantas, animais e ecologia. “Fazíamos experimentos maravilhosos nessa área, que existe até hoje no campus da UFV”, conta. 

Ao se formar, Bruno não seguiu direto na carreira acadêmica, preferindo ingressar no mercado de trabalho. A experiência como engenheiro florestal durou apenas um ano e meio, pois não era o que ele queria. O apoio e exemplo da namorada Lorena, hoje sua esposa, também contou. “Ela trabalhava num laboratório cheio de reagentes e equipamentos. Sempre achei esse tipo de ambiente mágico, como a cozinha deve ser para um cozinheiro”, conta.  

Foi então que Bruno Gimenez tomou uma decisão radical: fazer mestrado no Inpa e se mudar para Manaus. “Fiz a prova e consegui ser aprovado, foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. O choque de estar na Amazônia e naquela instituição foi algo que me mudou para sempre. A ciência tinha voltado para mim e desde então nunca mais fiquei sem ela”. 

No Inpa, Gimenez teve a oportunidade de conviver e aprender com alguns dos maiores nomes da ciência amazônica. “Almoçávamos no Bosque da Ciência junto com pesquisadores de renome como Philip Fearnside, Willian Magnusson, Bruce Nelson, Thomas Lovejoy, Flávio Luizão, Valdely Kinupp, Isolde Kossman e meu orientador, Niro Higuchi”, lembra. 

A parceria com Higuchi se deu durante todo o mestrado e o doutorado, quando GImenez estudou a hidrologia da Amazônia, área que continua pesquisando até hoje. “De modo resumido, minha pesquisa se concentra tanto na ecologia quanto na fisiologia das árvores, e como esses fatores influenciam nos ciclos do carbono e da água, local e globalmente”. 

Entender as relações entre a floresta e o clima é fundamental num mundo em que destruição ambiental e mudanças climáticas andam lado a lado. Através do trabalho de Gimenez, conseguimos entender quanto uma árvore transpira por dia, quanto carbono ela estoca e de que forma isso ocorre. “Em outras palavras, são formas de quantificar a importância da floresta amazônica para o Brasil e para o mundo”, explica o pesquisador. 

Agora membro afiliado da ABC, Bruno Gimenez pretende representar, em particular, a ciência feita pela região Norte, que ainda sofre com a sub-representação e a falta de financiamento – algo que não condiz com a enorme riqueza de recursos que abriga. “A ciência é gigante, assim como a Amazônia. Em ambas, não há limites visíveis. Esse casamento, entre a ciência e a Amazônia, foi para mim uma grande descoberta e é hoje minha grande alegria de viver”.   

Nas horas vagas, o Acadêmico cultiva o gosto pela literatura e pela música, se aventurando no violão e na bateria quando quer relaxar. A vida na Amazônia reúne tudo que Bruno sempre quis e ele continua um apaixonado por atividades à céu aberto. “Gosto de nadar e qualquer tipo de esporte feito na água. O Rio Negro é o paraíso para a prática de canoagem, então, sempre que posso, pratico.”