Lar da maior floresta tropical do mundo, a região Norte do Brasil ainda é a que menos gera pesquisadores no país. Entre 1996 e 2017, a região formou apenas 1,5% dos doutores nacionais (Dados: CGEE). O Norte também foi onde ocorreu a maior queda em titulações na pandemia, em 2020, concedendo 23% menos títulos do que em 2019. Esses números refletem um ecossistema científico regional ainda pouco consolidado e que sofre com um grave subfinanciamento, mesmo estando integrado a um tesouro ambiental inestimável para o Brasil e para o mundo. 

A importância de se desenvolver a comunidade científica da Amazônia é tema central nas discussões sobre o bioma. Pesquisadores locais tem mais facilidade de fixação e contribuem para um acompanhamento contínuo da floresta. Além disso, é impossível pensar num novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia sem levar em conta sua população. É por isso que precisamos de mais pesquisadores como Patrik Ferreira Viana, membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) eleito para o período 2023-2027. 

O pioneirismo de Patrik na ciência começou cedo. Ele foi o primeiro da família a obter um diploma de ensino superior e sua escolha pela biologia foi algo natural para o jovem nascido e criado em Manaus. “Passei a infância inteira às margens dos rios Amazônicos, em contato com a natureza. Na escola, minhas matérias preferidas eram geografia, ciências e matemática. Então acho que o interesse veio naturalmente”, conta. 

Logo que ingressou no curso de biologia do Centro Universitário do Norte (Uninorte), Patrik já começou a procurar estágio de iniciação científica. Foi quando ele conheceu a professora Eliana Feldberg, do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), dando início a uma parceria que duraria mais de dez anos. “Foram muitas barreiras ultrapassadas durante essa jornada e muitas pessoas estiveram comigo. Mas minha orientadora foi sem dúvidas uma das mais importante no meu crescimento enquanto pesquisador”, avalia. 

Sob orientação de Eliana, Patrik fez mestrado e doutorado no Inpa, estudando a diversidade genética amazônica. Seu principal foco são os cromossomos sexuais, onde desenvolveu boa parte de sua tese no Institute for Applied Ecology da University of Canberra (IAE/UC), universidade referência nesse tópico da Biologia Evolutiva. “Os mecanismos de determinação sexual são muito mais dinâmicos do que a maior parte das pessoas imagina, com variações significativas entre espécies e grupos relacionados. Tento entender como as mudanças no planeta afetam a determinação do sexo e como os diferentes animais lidam com as adversidades do mundo atual”, explica Patrik. 

Com esse objetivo, o Acadêmico passou a ter como principal objeto de pesquisa um animal símbolo da Amazônia: a jibóia. Essas serpentes, da família Boidae, podem chegar a seis metros de comprimento e são um dos mais poderosos predadores da floresta. Sua tese de doutorado, uma análise comparativa da evolução do cariótipo – conjunto de todos os cromossomos de um organismo – para várias espécies de jibóias, foi escolhida pela Capes como a melhor tese de 2021 na área Biologia 1. Patrik foi apenas o segundo cidadão amazonense a receber o prêmio. 

Mas além das jibóias, o pesquisador também participou de projetos para o estudo genético em outros animais, como tartarugas, jacarés, anfíbios e diversos grupos de peixes. “Algo que me encanta na área é perceber a resiliência dos animais. A vida sempre encontra um jeito, um meio de se adaptar”, diz. 

A biodiversidade amazônica ainda é gravemente subrepresentada na taxonomia brasileira e esforços para conhecer essa floresta de genomas diferentes é um dos desafios da ciência nacional. É por isso que o Brasil precisa formar mais cientistas amazônicos. “Ser escolhido como membro afiliado da ABC e ter a oportunidade de continuar atuando com divulgação científica é, sem dúvida, um marco na minha carreira”, finaliza Patrik.