Conhecer as vias que levam a problemas de saúde é fundamental para desenvolver tratamentos. O coração, por exemplo, é um órgão no qual alterações no tamanho e estrutura podem desencadear complicações graves e levar à morte. Uma das principais vias de mudanças no coração ocorre pela ativação de metaloproteinases da matriz extracelular (MMPs), enzimas cuja desregulação pode causar situações como crescimento ou falência do órgão. Entender melhor o papel das MMPs no sistema cardiovascular é o objeto de pesquisa de Alejandro Ferraz do Prado, eleito membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para o período 2023-2027. 

Alejandro nasceu e cresceu em Belém do Pará. É o caçula dos irmãos Andrea, Adriana e José Roberto. Viu todos eles entrarem na faculdade, então sempre imaginou que sua vez chegaria também. Mas antes de ser cientista, Alejandro foi atleta, um excelente nadador que se destacava no cenário juvenil regional do Norte e Nordeste. “Cheguei a ganhar quatro troféus e mais de 100 medalhas. Fiz muitos amigos na natação e conheci vários lugares por conta das competições. Minha mãe, Maria Lina, era minha maior torcedora, incentivadora e companheira de viagens”, relembra. 

A natação lhe rendeu uma bolsa de estudos no Centro de Serviços Educacionais (CESEP) em Belém. Lá ele conheceu seus grandes amigos Carmina, Caio, Wagner e Lígia, de quem permanece próximo até hoje. A preferência por ciências e matemática já dava pistas da carreira que seguiria no futuro, a farmácia, mas o jovem também era um apaixonado pelas aulas de história. 

A escolha de curso se deu na última hora. Em 2005, quando prestou vestibular, Alejandro ainda não sabia o que queria fazer. Os testes vocacionais com a psicóloga do CESEP já apontavam para a área acadêmica, então percebeu que a farmácia poderia proporcionar isso. “Eu nunca tinha ouvido falar do curso. Mas comecei a pesquisar e estudar mais sobre as possibilidades e o que poderia fazer ao me formar, e acabei escolhendo o curso de farmácia”. 

E assim ele ingressou no Centro Universitário do Pará (CESUPA) e iniciou sua caminhada. Logo nos primeiros anos da faculdade conheceu sua primeira orientadora, Maria Fâni Dolabela, professora de sua disciplina preferida, a farmacologia. De forma voluntária, Alejandro passou a ajudar o grupo de Dolabela em pesquisas para isolar um composto anti-malárico a partir das plantas da família Aspidospermas, grupo de árvores ao qual pertencem as perobas. Outra experiência foi no Instituto Evandro Chagas, sob orientação de Karla Valéria Lima, onde se aprofundou em microbiologia e biologia molecular. 

Alejandro participou também de projetos sob orientação da pesquisadora Cristine Bastos do Amarante, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O primeiro plano de trabalho foi investigar a análise da composição química e propriedades farmacológica da Aninga, planta aquática encontradas em rios amazônicos. Já no segundo plano de trabalho, ele teve sua primeira experiência com estágio remunerado, estudando o perfil fitoquímico de extratos de Aninga. Seu projeto acabou premiado como destaque de melhor trabalho de iniciação científica no MPEG. 

A iniciação científica permitiu que o jovem pesquisador apresentasse seus trabalhos em congressos e eventos, o que o deixava ainda mais motivado. “É muito interessante participar de congressos de pesquisa durante a graduação, pois o encontro com alunos de outras instituições não é algo rotineiro na faculdade. Agradeço muito aos meus pais por me ajudarem financeiramente na época”, recorda. 

Após acumular experiências em Belém, surgiu uma oportunidade que marcaria sua carreira. Por indicação da professora Maria Fâni, ele se inscreveu para participar do XV Curso de Inverno de Farmacologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. O renome da pós-graduação em farmacologia da USP de Ribeirão Preto a precedia, então Alejandro já viajou planejando retornar para fazer mestrado. “Gostei dos professores, a maioria foi muito receptiva e aberta para conversar com os alunos. Durante o curso, me interessei pela área de farmacologia cardiovascular, particularmente pelas linhas dos professores José Eduardo Tanus dos Santos e Raquel Fernanda Gerlach, que estudavam o papel das MMPs em doenças cardiovasculares”, diz. 

Conversando com a Profa. Raquel, ele descobriu que ela havia acabado de clonar e purificar a Metaloproteinase da Matriz 2 (MMP-2) e que agora planejava acoplar uma proteína fluorescente ao composto para melhor acompanhar sua atuação no organismo. “Gostei do projeto na mesma hora”, conta. “Achei muito interessante e inovador e, assim, decidi que prestaria a prova de mestrado para ser seu orientando”. 

A parceria com Raquel abarcou seu mestrado e doutorado. No mestrado, o pesquisador investigou os efeitos da MMP-2 na aorta de coelhos. Já no doutorado, utilizando da MMP-2 fluorescente, analisou a fundo a localização e a atuação do composto em camundongos. “Foi uma oportunidade única estar na Universidade de São Paulo durante a pós-graduação. Além da Raquel, os professores José Eduardo Tanus e Lusiane Bendhack foram grandes mestres. Também contei com a ajuda de muitas pessoas que acabaram se tornado amigos queridos, como a Aline Azevedo e a Elen Rizzi”, recorda. 

Para Alejandro, os anos de pós-graduação são os mais importantes na formação científica de um professor-pesquisador. “Acredito que, especialmente no Brasil, a graduação acontece muito cedo e, muitas vezes, a carga horária sobrecarrega o aluno com aulas. Assim, o interesse científico floresce mesmo na pós-graduação”, avalia. 

Após o doutorado, o pesquisador retornou à sua cidade natal para realizar pós-doutorado no MPEG. Desde 2017 ele é professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde continua estudando os mecanismos das MMPs nos problemas cardiovasculares com vista a um tratamento farmacológico. “O que me encanta na ciência é investigar o desconhecido, tentando sempre fazer as perguntas “como?” e “por que?”. Dessa forma, tentamos elucidar vias bioquímicas, indicar alvos terapêuticos e diminuir as mortes por doenças cardiovasculares”, explica. 

Agora na ABC, Alejandro pretende atuar para aumentar o incentivo e o financiamento aos pesquisadores da região Norte do país. Nas horas vagas, gosta de estar sempre rodeado pelos amigos queridos, sempre presentes em sua vida, não posso deixar de agradecer a Keuri, amiga que tenho prazer em trabalhar junto e dar boas risadas nas horas vagas. “Tenho paixão por viajar e conhecer lugares novos”, finaliza o Acadêmico.