É bastante comum que jovens escolham cursar biologia pela paixão por animais e plantas. Mas há aqueles que nutrem esse gosto por um grupo específico. Esses casos são ótimos, pois o jovem já começa sua caminhada sabendo não só qual graduação fazer, como até mestrado e doutorado. É o caso do biólogo Valter Monteiro de Azevedo Santos, membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências eleito para o período 2023-2027, que desde cedo sonhava em ser ictiólogo. 

O pesquisador nasceu e cresceu em Carmo do Rio Claro, em Minas Gerais, cidade que tem tudo a ver com sua paixão por peixes. O município é cortado pela represa de Furnas, onde desde criança Valter pescava acompanhando a mãe, Isabel Cristina, e os tios Manoel e Luis Fernando. “Aos nove anos de idade descobri que adorava pescar, é daí que vem minha escolha de carreira”, conta. 

Outra grande influência foi o pai, de quem carrega o nome e o gosto pelo saber. Professor de física e matemática, ele incutia no filho o desejo de aprender cada vez mais e estar sempre acumulando conhecimento. “Meu pai é a pessoa mais genial e inspiradora que eu conheço”, resume Valter. 

Mas mesmo com pai matemático, as matérias que o jovem Valter preferia na escola eram história, geografia e biologia. Esta última ele escolheu seguir aprendendo pela vida inteira. No ensino médio, Valter descobriu que uma grande referência da área também é natural de Carmo do Rio Claro. Falecido em 1994, o ex-membro associado da ABC José Cândido de Mello Carvalho foi um grande nome da zoologia brasileira e um pioneiro nas lutas pela conservação, atuando por décadas junto ao Museu Nacional. “Quando descobri que um conterrâneo meu tinha sido um grande biólogo, me inspirei e quis ser também, mas para trabalhar com peixes ao invés de insetos”, conta. 

Para seguir o sonho, Valter ingressou no curso de biologia da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) do campus de Passos. Logo cedo já procurou estágios com peixes, mas por falta de professores disponíveis, sua primeira experiência de pesquisa foi com outro grupo de animais aquáticos: os crustáceos. Após essa primeira etapa, ele conheceu o professor Ricardo Benine e, finalmente, pôde mergulhar de cabeça no tema que já amava.  

Ricardo foi orientador de Valter durante o mestrado, no qual fez uma revisão da taxonomia – ou seja, da forma como nomeamos as espécies de seres vivos – do gênero Moenkhausia, grupo de peixes Tetras endêmico da América do Sul. Já no doutorado, sob orientação dos professores Raoul Henry e Fernando Mayer Pelicice, Valter desenvolveu um trabalho de ecologia focado na conservação da fauna ictiológica da bacia do Rio Guareí, em São Paulo. 

“Todos os professores e colaboradores que eu tive foram muito importantes, então tenho até receio de esquecer alguém. Mas não posso deixar de agradecer aos grandes mestres Fernando Pelicice, com cujo exemplo aprendi muito; e Raoul Henry, que me ensinou muito sobre ciência e tolerância. Devo muito da minha formação aos dois colegas e, agora, amigos”, homenageia Valter. 

Em 2021, o pesquisador ingressou como docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Tocantins (UFT), onde orienta alunos de mestrado. Durante toda sua trajetória, se envolveu não apenas com trabalhos de zoologia e taxonomia como também com projetos em ecologia. Valter mantém um olhar sempre atento à preservação de peixes e todo o ecossistema aquático. “Falar sobre conservação é o que mais me interessa. Por exemplo, estudo taxonomia pensando em como posso fornecer informações para estratégias de conservação desses grupos”, explica.   

O Acadêmico avalia o ingresso na ABC como a realização de um sonho e se compromete a atuar, sobretudo, na divulgação científica. “Vejo o conhecimento sobre ciência ainda distante da sociedade brasileira, quero participar ativamente desse debate”, diz. 

Nas horas de lazer, Valter ama voltar às raízes em Carmo do Rio Claro, onde continua pescando com a mãe e visitando amigos e familiares. Apaixonado por música, ele gosta de estar sempre próximo de seu violão. “Ouço especialmente heavy metal e músicas antigas do Brasil, como, por exemplo, as do Alvarenga & Ranchinho e Alcides Gerardi. Outra de minhas paixões é ler filosofia”, finaliza.