Os participantes do 8º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021

Na tarde de 24 de agosto, foi realizado o 8º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021, que recepcionou cinco novos afiliados: Fernando Fonseca de Almeida e Val, Gisely Cardoso de Melo, Julio Cesar Batista Ferreira, Mychael Vinícius da Costa Lourenço e Renan Pedra de Souza.

Os palestrantes trabalham com doenças infecciosas e crônicas e apresentaram um pouco de suas pesquisas na área. Durante o evento foram discutidas diferentes enfermidades como Alzheimer, malária e, é claro, COVID-19.

A coordenação dos debates ficou por conta de João Batista Calixto, vice-presidente da ABC para a região Sul. Participaram também os afiliados Marco Aurélio Ramirez Vinolo e Angélica Thomaz Vieira como debatedores.


Conheça os novos membros afiliados da ABC que participaram do simpósio:

Fisioterapia e medicina tropical: uma combinação criativa
O fisioterapeuta Fernando Fonseca de Almeida e Val doutorou-se em doenças tropicais e infecciosas e se dedica hoje ao pós-doença em casos de malária, HIV/AIDS e COVID-19.

Parasitologia: paixão desde a iniciação científica
A professora da UEM Gisely Melo estuda a resistência do parasita Plasmodium vivax  à cloroquina e, recentemente, incluiu o Sars-Cov-2 à sua pesquisa.  

Ciência e esporte
Bacharel em esportes, Julio Cesar Batista Ferreira  estuda  a descoberta de processos celulares que contribuem para a progressão de doenças. Ele é professor da USP, da Universidade de Stanford e fundador do programa SPARK-Brasil. 

Ciência para enfrentar as doenças neurodegenerativas
Professor da UFRJ, Mychael Vinícius da Costa Lourenço estuda a doença de Alzheimer e almeja encontrar tratamentos eficazes para tratar esta e outras doenças similares.

Desbravando o desconhecido: a ciência, o planeta e a COVID-19
O professor da UFMG Renan Pedra de Souza se dedica atualmente a compreender porque algumas pessoas apresentam mais complicações no quadro de COVID-19 do que outras. 


DISCUSSÃO

Iniciada a rodada de debate, o espaço foi aberto para questionamentos. Além do coordenador e dos debatedores, também fez perguntas para os participantes o novo vice-presidente da ABC para a Região São Paulo, Glaucius Oliva.

Malária

A pesquisa com drogas para o tratamento de malária foi o tema central das falas de Fernando Val e Gisely de Melo. Foram muito abordadas as drogas Tafenoquina – cujo uso já foi aprovado nos EUA e União Europeia e está em estado avançado no Brasil – e cloroquina.

Essa última teve uma repercussão gigantesca no Brasil, veiculada de forma enganosa como tratamento para o novo coronavírus. Essa droga, originalmente utilizada para o enfrentamento da malária, é comprovadamente ineficaz contra a COVID-19, porém foi amplamente utilizada, muitas vezes como automedicação, durante a pandemia.

Com relação aos danos colaterais da utilização desse medicamento, foi ressaltado que ainda não existem análises padronizadas que quantifiquem esses casos, mas que o uso foi tão difundido que o aumento da incidência ficou evidente. “Nós observamos e listamos os efeitos adversos da cloroquina. Esses estudos foram conduzidos em hospitais públicos e com acompanhamento do Estado do Amazonas, então o poder público estava ciente desses efeitos”, lembrou Fernando Val.

Quanto ao uso indiscriminado da cloroquina contribuir para um aumento de resistência da malária, Gisely Melo afirmou que pesquisas nesse sentido ainda precisam ser feitas, mas que esse é um fenômeno conhecido e que não pode ser descartado. A pesquisadora também acrescentou que o composto da cloroquina usado para a malária é diferente, o que pode influenciar nesse aspecto.

Alzheimer e doenças neurodegenerativas

Mychael Lourenço abordou os mecanismos que levam aos problemas neurológicos e possíveis estratégias terapêuticas. Em específico foi citada a expressão da irisina, que tem atuação neuroprotetora. Entretanto, ainda existem barreiras para a transformação dessa molécula em droga comercial.

Quanto à prevenção da Alzheimer, foi destacado o papel fundamental dos exercícios físicos regulares. “No caso particular da irisina os dados apontam para uma maior eficácia de práticas aeróbicas, porém a literatura indica que qualquer tipo de exercício físico tem função neuroprotetora”, afirmou Mychael.

Outro ponto abordado foi a relação entre a microbiota humana e o sistema neurológico. O pesquisador lembrou que ainda existem poucos dados que indiquem essa relação especificamente com o Alzheimer, mas que para outras doenças neurológicas isso já é estabelecido. Nesse sentido, existe um risco na utilização frequente de antibióticos, que pode alterar a microbiota, e também há um papel importante da alimentação na prevenção desses problemas.

COVID-19

A participação de Renan de Souza foi centrada no novo coronavírus e suas variantes. As pesquisas apresentadas focaram no monitoramento genômico das diferentes cepas e sua difusão pelo Brasil.

Com relação a variante Delta, foco das preocupações mundiais atualmente, o pesquisador destacou que esta é mais transmissível e propensa a infectar mesmo indivíduos totalmente vacinados. “Em países com cobertura vacinal maior do que a nossa, o que se tem visto é uma prevalência da variante Delta na infecção de pessoas imunizadas. Em países não vacinados também se observa um aumento da frequência dessa cepa, causada pela sua maior capacidade transmissão”, explicou Renan.

Devido a essa capacidade da variante de escapar das vacinas, o pesquisador salientou a importância de que se mantenham as medidas não farmacológicas até que se desenvolvam imunizantes mais capazes de controlar efetivamente a pandemia.

Ciência translacional

O pesquisador Julio Cesar Ferreira focou sua fala nos desafios para o desenvolvimento de novos fármacos, destacando a necessidade de uma colaboração mais próxima desde a ciência de base até os testes clínicos aplicados. “O ponto crítico é a educação, devemos educar todas as partes sobre como funciona a criação de novas drogas. Precisamos criar referências que possam vir a ser utilizadas futuramente em cada etapa desse processo”, salientou.

Ferreira trouxe o exemplo do programa SPARK, do qual participa e que visa integrar as várias etapas de desenvolvimento farmacológico. Destacou a importância de coordenação e orientação junto aos pesquisadores, e também do diálogo internacional.

O coordenador João Batista Calixto trouxe uma reflexão importante: o Brasil é o sétimo maior consumidor de remédios no mundo, porém depende quase inteiramente de importações. Todos os participantes destacaram que são dois os problemas principais para ampliar a produção local: falta de investimento e entraves burocráticos.

Nesse sentido, Julio lembrou da importância de termos casos de sucesso que sirvam para alavancar o interesse público por ciência e fornecer referências a serem seguidas. Para isso, ressaltou a importância de colaborações internacionais.

Calixto encerrou o evento com uma sugestão a todos os cientistas que trabalhem com desenvolvimento de fármacos. “Quem pensa em fazer pesquisa translacional tem que estudar aspectos regulatórios, não podemos depender de terceiros. Precisamos ser mais que cientistas. O motivo pelo qual muitos projetos não vão para frente é a falta de compreensão da legislação, e a área da saúde é a mais regulada no mundo inteiro”.

Assista ao simpósio na íntegra pelo canal da ABC no YouTube.