“Se vi mais longe, foi por estar apoiado sobre os ombros de gigantes”. A célebre frase de Isaac Newton é um dos mantras da ciência, reconhecendo a produção de conhecimento como indissociável do trabalho feito pelas gerações anteriores. A trajetória de Allan Klynger da Silva Lobato, professor da Universidade Federal Rural do Amazonas (UFRA) e novo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), traz exemplos concretos da importância dos mestres.
Nascido em Belém do Pará, o novo Acadêmico passou a infância entre a capital do estado e o município de Peixe-Boi, onde a família tinha um sítio com matas preservadas. Foi lá que Allan teve seu primeiro contato com o mundo vegetal, aprendendo sobre tipos de folhas, flores e frutos, essências e suas possíveis utilidades. O primeiro professor foi seu avô materno, Milton Gonçalves da Silva, que atuava como técnico no Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e cujo conhecimento prático sobre a floresta fez com que participasse em inúmeras expedições científicas.
“Meu avô nunca considerou sua função como trabalho. Era uma atividade prazerosa que o possibilitava ter contato com pessoas e culturas de todo o mundo. Ele compreendia a relevância da pesquisa para o país e as infinitas formas como um cientista pode contribuir para a sociedade. Por isso, sempre incentivou todos os filhos, amigos e familiares a alcançarem seus doutorados, independentemente da área”, conta.
Já na adolescência, Allan teve a influência de outro Milton, dessa vez seu tio, Milton Hélio da Silva, pesquisador ainda atuante no MPEG. Milton trabalha com fitoquímica, estudando as potencialidades de extratos e óleos das plantas amazônicas. Allan se tornou frequentador assíduo de seu laboratório e das estações de pesquisa em campo. “Eu ficava fascinado com os equipamentos funcionando, os ruídos eram como música para mim, as vidrarias e suas funções, além das diversas cores geradas. Achava os estudantes e profissionais tão elegantes de jaleco branco”, rememora.
E foi assim, a partir de diversas experiencias de campo e laboratório, que Allan Lobato teve a convicção de que se tornaria pesquisador. Em 2003, ingressou no curso de agronomia da UFRA já sabendo qual caminho seguir e aproveitou as muitas experiências da universidade para consolidar essa ideia. Foi quando conheceu o professor Roberto Cesar Lobo da Costa, da área de fisiologia vegetal, que se tornaria seu primeiro orientador.
“O professor Roberto sempre foi conhecido pelas aulas práticas, e isso era fantástico numa área que engloba tantos conceitos e é vista como difícil pelos alunos”, comenta Allan. “Com ele tive minhas primeiras lições sobre escrita científica, aprendi a planejar um estudo, preparar as planilhas com os dados, escrever os primeiros manuscritos científicos. Assim, fui melhorando a partir de seus conselhos”.
Após se formar, em 2008, Lobato embarcou em um novo desafio: a pós-graduação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná. Sob orientação da professora Maria Celeste Gonçalves-Vidigal, o pesquisador se aprofundou no campo da genética vegetal, concluindo mestrado e doutorado com melhoramento convencional e molecular de feijoeiro, onde buscava formas de oferecer resistência a antracnose (mestrado) e maior tolerância a seca (doutorado), sendo os principais estresses na cultura do feijão..
Mas mesmo antes de se tornar doutor, Allan Klynger já havia conseguido uma vaga de professor efetivo na sua Alma mater, a UFRA, onde atualmente lidera seu próprio grupo de pesquisa. “Nossa principal linha de pesquisa são os brassinosteróides, esteroides naturais ou sintéticos com significantes propriedades promotoras de crescimento e desenvolvimento nas plantas. Essas moléculas aceleram o metabolismo, potencializam o sistema de defesa e estimulam estruturas anatômicas essenciais para a tolerância à seca, à deficiência de nutrientes e à contaminantes presentes no solo”, explica.
Lobato destaca ainda uma molécula específica, o 24-epibrassinolídeo, um tipo de brassinosteróide considerado eficiente regulador do crescimento vegetal. “Dentre suas características mais importantes estão ser natural, biodegradável e não agredir o meio ambiente”.
Essa busca por uma agronomia mais produtiva e adaptada aos desafios do século XXI é o que move o pesquisador, e uma das características que exalta em seu trabalho. “A ciência tem a possibilidade de resolver problemas que afetam a sociedade e, dessa forma, transformar a realidade. Estudar o metabolismo vegetal e entender as respostas das plantas pode melhorar a performance das plantas, reduzindo custos e gerando soluções cada vez mais sustentáveis”.
Para ele, a eleição para a ABC é uma porta para novas possibilidades, além de um importante reconhecimento. “É um momento único na minha carreira, de valorização das diversas etapas pelas quais passei, seja como pesquisador, docente ou orientador. É resultado da dedicação de vários anos à ciência brasileira e mundial”.