Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1990, Mychael Vinícius da Costa Lourenço sempre morou no Rio de Janeiro. Filho único de uma engenheira civil e cientista, hoje aposentada da UFF, Mychael coleciona memórias de uma infância no laboratório de engenharia e nas salas de aula da Escola de Engenharia da UFF, onde a mãe pesquisava, ensinava e frequentemente levava o filho único para acompanhá-la. Esse contato com o ambiente acadêmico desde cedo o fascinou e estimulou.

O Acadêmico contou que, quando criança, sua mãe lhe deu alguns livros didáticos de ciências antes do tempo. “Lembro da felicidade de ter acesso à Coleção Jovem Cientista, que vinha como encarte do jornal O Globo aos domingos. Essa coleção descrevia experimentos que poderiam ser feitos em casa por crianças, com supervisão simples por um adulto. Eu adorava fazer esses experimentos, guardo alguns desses livros até hoje.” Ele também teve bons professores de ciências e biologia na escola, que o inspiraram, apesar de seu melhor desempenho ser em matemática.

Seu plano inicial para o futuro, no entanto, era outro: queria ser jornalista, âncora de telejornal. Sua curiosidade, porém, fez com que nas aulas de biologia da escola se interessasse muito em saber como as células funcionam. Assim, em um dado momento da adolescência, Mychael resolveu que cursaria biologia para ser professor do ensino médio. Prestou vestibular para diferentes universidades e optou por estudar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Já na faculdade, Lourenço teve seu primeiro contato com ciência experimental em biologia nas visitas a laboratórios e nas aulas práticas, e se apaixonou: foi quando ele decidiu que queria ser cientista e professor. Fez uma curta iniciação científica nos primeiros períodos da graduação, mas não ficou por muito tempo. No 4º período, ingressou no laboratório do Acadêmico Sergio Teixeira Ferreira, sob orientação do então doutorando Rodrigo Madeiro, onde permaneceu até a pós-graduação.

Lourenço concluiu a graduação em ciências biológicas com especialização em genética em 2010 e se manteve na UFRJ durante toda a sua formação acadêmica. Concluiu o mestrado em 2012 e o doutorado em química biológica em 2016. Concluiu o pós-doutorado em 2018, também pela UFRJ, com períodos como visitante na Universidade de Columbia em Nova Iorque, nos EUA. Na pós-graduação foi orientado pelo próprio Ferreira e pela professora Fernanda G. De Felice, que foi membro afiliada. “Nesse período, tive a felicidade de poder realizar pesquisa translacional e poder demonstrar novos mecanismos de perda de memória na doença de Alzheimer, além de investigar novas abordagens terapêuticas possíveis. O bom período para a ciência brasileira na época, a inserção em um grupo de pesquisas vibrante e a convivência amistosa e agradável com os cientistas do IBqM foram muito importantes para mim nessa fase.”

Desde então, Lourenço vem se dedicando a entender como doenças neurológicas, principalmente a doença de Alzheimer, se instalam no cérebro e causam danos irreversíveis. Sua linha de pesquisa atual busca descobrir as mudanças moleculares que acontecem nas células do cérebro que fazem com que os neurônios se comuniquem de forma ineficiente, resultando, em última análise, em doenças do cérebro. Com base nessas descobertas, ele busca abordagens para tratar o cérebro e prevenir quadros de neurodegeneração em modelos animais, de início. “Esta pesquisa é a primeira etapa para que se possam descobrir tratamentos que funcionem em humanos”, explicou.

Atualmente, Mychael Lourenço é professor adjunto da UFRJ, atuando na área de neurociências. É bolsista de Produtividade Nível 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além disso, é Jovem Cientista do Nosso Estado da Faperj, membro do Young Scientist Steering Committee da Sociedade Internacional de Neuroquímica (2017-2021) e do Online Program Steering Committee da Sociedade para Neurociências dos EUA (2018-2021).

Uma das grandes aspirações de carreira do Acadêmico é tentar contribuir com a grande pirâmide do conhecimento e também dar meios para que essa pirâmide seja acessível para quem precisa dela. “É muito importante, também, pensarmos na relevância da ciência que fazemos, sem que isso se traduza em aplicabilidade imediata”, reflete. “Fazer perguntas relevantes e usar abordagens que as respondam adequadamente é o nosso desafio.”

Falar de ciência deixa Mychael Lourenço emocionado. Há duas coisas principais que o encantam especialmente na ciência: “a primeira, o fato de ela nos permitir que conheçamos melhor o universo em que vivemos e, a segunda, ela nos permitir tornarmos nossa própria vida melhor. E essas duas vantagens da ciência são plenamente alcançáveis somente se aplicarmos, em seu processo, propriedades fundamentais da humanidade: generosidade, solidariedade, curiosidade, honestidade e compaixão.” Em sua área específica, entender como o cérebro funciona e o que acontece nele para predispô-lo a doenças lhe interessa muito. Além do fascínio pelo funcionamento do cérebro, há um cenário desafiador que é o fato de que a maior parte das doenças neurológicas ainda não tem um tratamento plenamente eficaz. “Quero contribuir, ao menos um pouquinho, para a qualidade de vida das pessoas acometidas por doenças neurológicas no presente e no futuro”, afirmou.

Fora da ciência, Lourenço contou que gosta bastante de viajar, ler, de música e de futebol. Apesar de seu “uma negação” com instrumentos, ele se diz eclético em termos de gosto musical, com uma nítida preferência por rock clássico e MPB. Ele lista U2, Stones e Led Zeppelin como trio de bandas favoritas. No Brasil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho são suas escolhas. Além da música, ele diz ser um leitor bem assíduo, do tipo que lê de tudo. Além disso, gosta muito de conhecer lugares novos e voltar a lugares que gosta, principalmente praias.