A memória é a parte mais importante da formação de um indivíduo. Nossas experiências acumuladas moldam quem somos para nós e para aqueles ao nosso redor. Quando ela começa a falhar, é como se partes da história da pessoa se perdessem ainda em vida — e só quem já conviveu com essa realidade sabe o quanto ela é cruel.  

A memória é o campo de estudos de Cristiane Regina Guerino Furini, membra afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Ela coordena o Laboratório de Cognição e Neurobiologia da Memória do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde também é professora da Escola de Medicina e pesquisadora do Instituto de Geriatria e Gerontologia. “Coordeno pesquisas para desvendar e entender os mecanismos moleculares e celulares envolvidos na formação, armazenamento e recuperação de memórias, algo fundamental para a nossa existência e identidade”, explicou. 

Cristiane nasceu no município de Tenente Portela, quase na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. O convívio próximo com os avós, que ficavam muito com ela quando não estava na escola, foi marcante. A infância tranquila em cidade pequena foi recheada de brincadeiras na rua, andando de bicicleta e jogando vôlei com os amigos. Ela conta que sempre foi estudiosa e que, na escola, a preferência por biologia já aparecia.  

A escolha de faculdade foi difícil. Cristiane ficou em dúvida entre dois cursos completamente distintos: farmácia ou arquitetura. A escolha pela primeira se deu quase por acaso, mas acabou sendo acertada. “Me interessei logo de cara pelo curso, o que foi aumentando conforme fui tomando conhecimento da possibilidade de ser uma pesquisadora”, contou.  

Durante a graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela conheceu a professora Grace Moraes, que a apresentou ao Centro de Memória, então coordenado pelo professor Iván Izquierdo, membro titular da ABC falecido em 2021. “O professor Izquierdo teve um papel extremamente importante na minha carreira científica e é um grande exemplo até hoje. Desde a iniciação científica tive a honra trabalhar em seu grupo de pesquisa e segui trabalhando ao seu lado quando já era professora”, lembra, com carinho pelo mestre. 

Cristiane fez mestrado e doutorado no Centro de Memória, no mestrado, ela estudou vias de sinalização da memória no reconhecimento de objetos, e depois passou a atuar com a farmacologia da memória espacial. “Me pareceu natural o caminho até o doutorado, pois meu interesse pela pesquisa era cada vez maior. Assim, o estudo da memória me acompanha desde a minha primeira experiência na área científica”. 

Encantada por ciência, a professora se vê num mar de possibilidades no campo das neurociências, sempre fascinada pelas múltiplas funções cruciais que o cérebro desempenha. Animada por fazer parte da ABC, ela espera construir contatos e redes com pesquisadores de outras partes do país, tanto na sua área como na defesa mais ampla da ciência no país.  

Mas nem só de ciência vive o cientista. Nas horas vagas, Cristiane é uma apaixonada por histórias de suspense, seja na literatura ou no cinema, e também gosta de caminhadas. Como todos nós, ela está sempre em busca de construir novas memórias. “Amo viajar para conhecer novos lugares e novas histórias”, finalizou.