“De tudo que o homem inventou nessa Terra, acho a ciência o que há de mais honesto, é ‘olha aqui esse problema, acho que tem essa solução, testei assim, você concorda?’” — é assim que a nutricionista Bruna Leal Lima Maciel, membra afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), descreveu seu olhar sob a ciência.  

A Acadêmica cresceu rodeada de influências positivas na ciência: os pais eram médicos e professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). A escolha por uma área da saúde não foi exclusiva de Bruna, seus dois irmãos mais novos se formaram em educação física e veterinária. “Sem nenhuma dúvida, meus pais despertaram meu interesse. O ambiente acadêmico sempre me foi muito familiar, com seus laboratórios e jalecos brancos. Mas foi só com 15 anos que entendi que queria fazer nutrição”, contou. 

Nessa época, a mãe de Bruna fazia doutorado e resolveu cursar a disciplina Nutrição Materno-Infantil na London School of Hygiene and Tropical Medicine, na Inglaterra. A filha viajou com a mãe como presente de aniversário. Bruna conta que, ainda adolescente, não entendia o valor daquele lugar e daqueles cientistas, mas acabou se encantando pela professora Ann Ashworth Hill, que lecionava a matéria. “Aquela mulher me marcou, era tão gentil e cheia de histórias. Falava sobre seus trabalhos com a Organização Mundial da Saúde (OMS), com o combate à desnutrição infantil nos países em desenvolvimento. A partir desse momento eu não conseguia pensar em fazer outra coisa”, lembrou. 

Assim que completou 18 anos, ela entrou no curso de Nutrição da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e lá aproveitou tudo que o ambiente acadêmico tem para oferecer. Logo conheceu a professora Nágila Damasceno, da disciplina Métodos de Análise de Alimentos, e seguiu como monitora tendo a docente como inspiração. No mesmo período, Bruna dava aulas de inglês em um cursinho da cidade. “Eu não sabia, mas estava tendo meu primeiro contato com a docência. Desde então, nunca deixei de ser professora”, avalia hoje. 

Mas além do ensino, o outro pilar da carreira de um cientista é a pesquisa. Foi também no início da faculdade que a Acadêmica teve seu primeiro contato com a área, a partir da iniciação científica com a professora Derlange Belizário Diniz. “Atuei dois anos na área de avaliação nutricional infantil. Descobri que ia receber uma bolsa no dia do meu aniversário e acabei gastando praticamente tudo com participação em congressos”, rememorou.  

Além da monitoria e da iniciação científica, outra atividade que teve um enorme impacto em sua carreira foi um estágio voluntário no Hospital São José, em Fortaleza. “Ali foi onde eu fiquei verdadeiramente encantada pela nutrição e decidi que faria mestrado na área”. No geral, ela avalia que aproveitou o período na Uece em sua plenitude. “Foi um despertar para minha alma”, disse a Acadêmica. 

Após se formar, em 2005, a pesquisadora decidiu seguir na pós-graduação, escolhendo a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como sua nova casa. A formação ampla que o curso oferecia e a possibilidade de morar na mesma cidade que os padrinhos influenciaram na escolha.  

O início, sob orientação da professora Selma Maria Bezerra Jerônimo, foi desafiador. Bruna se sentia ainda muito crua após sair direto da graduação. Mas, como geralmente se dão as coisas, o trabalho começou a fluir e o resultado foi um trabalho em que definia variáveis nutricionais importantes associadas ao tratamento de leishmaniose infantil. A parceria deu certo e a Acadêmica logo entrou no doutorado com a mesma orientadora. Dessa vez em bioquímica, analisando especificamente os efeitos nutricionais da vitamina A na mesma doença.  

“O mestrado e o doutorado comprovaram como eu gostava do ambiente acadêmico. Fui formalmente apresentada à bioestatística, percebi que tinha facilidade para aquilo, ajudava colegas em análises e redação de artigos. Me sentia muito feliz em poder contribuir”, refletiu. 

Essa habilidade adquirida em análise de dados e escrita científica se somou à prática docente e pavimentou o caminho para que Bruna fosse logo aprovada em um concurso para professora na UFRN, ainda durante o doutorado. “Eu tinha 27 anos, muita vontade de acertar, facilidade em ensinar e desenvolver trabalhos, além de um amor enorme pela nutrição. De lá para cá, sinto que as coisas foram acontecendo naturalmente”, contou. 

Desde então a Acadêmica tem se envolvido em diversos trabalhos sobre infecções entéricas, estado nutricional, desnutrição e obesidade. Outra frente em que trabalha é a da extensão, trabalhando junto a projetos culinários, sempre com o objetivo de oferecer uma dieta balanceada e nutritiva. 

“Atualmente estudo a barreira funcional gastrointestinal, tanto na desnutrição quanto na obesidade. Quero compreender como a dieta e estado nutricional associam-se com essa mucosa, que tem total relação com imunidade e inflamação. A pandemia me fez olhar para a comunidade acadêmica com novos olhos e hoje também estudo qualidade da dieta, estresse percebido, insegurança alimentar e habilidades culinárias nessa população. Acredito firmemente que aprender culinária pode impactar positivamente na saúde”, explicou Bruna sobre o próprio trabalho. 

Sobre a eleição para a ABC, foi uma surpresa e uma responsabilidade. “A titulação me deixou mais observadora, mais atenta sobre como posso contribuir. Isso tem direcionado minhas decisões dentro da ciência”, afirmou. 

Mas nem só de ciência vive o cientista: Bruna também é bailarina clássica, desde os sete anos de idade. O que começou como uma paixão na infância a acompanhou até hoje e não há nada que a conecte mais com seu corpo e suas emoções. Também é praticante de yoga e uma leitora ávida de romances e história. Divide a vida com o esposo Saulo e os dois filhos, Gabriel e Heitor. “Tudo é motivo de festa quando estou com eles”, finalizou.