A matemática é a linguagem fundamental da natureza. Diversas versões da famosa citação de Stephen Hawking permeiam a nossa compreensão e destacam uma realidade incontestável: a matemática é o conjunto de símbolos que empregamos para descrever o Universo de forma coerente e precisa. Essa compreensão é essencial para explicar por que a matemática desempenha um papel tão crucial nas ciências, sendo fundamental nas disciplinas exatas e igualmente relevante nas áreas das ciências biológicas e sociais
Essa capacidade de irradiar luzes para outras áreas do conhecimento é o que encanta o membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Márcio Henrique Batista da Silva. “A ciência é multifacetada e, por meio dela, podem ser desenvolvidas estratégias para melhorias que envolvam as vidas humanas em todas as áreas”, disse.
O Acadêmico teve origens humildes, na cidade de União dos Palmares, no estado de Alagoas. Seu pai trabalhava como mestre de obras, enquanto sua mãe era feirante, no entanto, ambos sempre instigaram seus filhos a valorizarem os estudos e o esforço como meios para uma vida melhor. Sua irmã, que é 11 anos mais velha, já frequentava a faculdade de pedagogia naquela época e servia de inspiração para o jovem Márcio. Ele relembra: “Naquela época, eu não percebia os sacrifícios que minha irmã fazia para estudar, nem que eu viria a experimentar o mesmo processo no futuro.”
Márcio fez ensino médio no Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas (Cefet/AL), atual Instituto Federal de Alagoas (IFAL). A oportunidade de realizar ensino técnico concomitante ao ensino médio fez com que se aprofundasse nas áreas de física e matemática, e a facilidade natural que demonstrou o colocou no caminho do ensino superior.
Em 2001, Márcio deu início ao seu percurso acadêmico ao ingressar no curso de Matemática na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Desde os primeiros momentos na universidade, demonstrou um forte interesse pela pesquisa, buscando imediatamente oportunidades de iniciação científica. Foi nessa fase que ele teve a oportunidade de trabalhar sob a orientação do renomado Acadêmico Hilário Alencar. Esse encontro resultou em uma bolsa concedida por meio de um programa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Matemática (INCTMat) para o novo aluno. “Desde o início do curso já havia traçado como metas realizar mestrado e doutorado e me dedicar a pesquisa”, lembrou Márcio.
Após a graduação, então, Márcio ingressou logo no mestrado, também na UFAL. Os anos que passou na universidade foram de imenso crescimento não só intelectual, mas também pessoal. “Desse período destaco os professores Francisco Barros – o famoso Chico Potiguar -, Sinvaldo Gama, além, é claro, de Hilário Alencar. Estes tiveram um papel fundamental na minha formação e me mostraram possibilidades que eu jamais teria conhecido”.
Já no doutorado, o matemático embarcou em um novo desafio: se mudar para o Rio de Janeiro para estudar no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Nesse período, foi orientado pelo Acadêmico Manfredo do Carmo, cuja generosidade intelectual o inspira até hoje. Após seu doutoramento, Márcio Batista ingressou como professor da UFAL, onde trabalha continuamente até hoje, com um breve período de pós-doutoramento na Universidade de Princeton, nos EUA.
Durante toda a carreira, Márcio estudou geometria diferencial, mais especificamente trabalhando com superfícies mínimas, ou seja, superfícies que minimizam localmente a área de um objeto. Uma área que se alimenta bastante desses estudos é a arquitetura, pois esses tipos de construtos, além de muito bonitos, podem otimizar o aproveitamento, por exemplo, da luz solar.
“Destaco um projeto do arquiteto Tobias Walliser para a construção de um hotel no mar que maximizasse a luz do dia e o visual desde a base até o topo. O arquiteto notou que o modelo de superfície que mais se adequaria a essas necessidades seria a superfície de Costa-Hoffmann-Meeks, por ser uma superfície mínima com furos conectando o topo à água e o piso ao céu”, descreve.
Márcio Batista entende o título de afiliado da ABC como uma honraria não apenas para si mesmo, mas também para sua Alma mater, a Ufal. “Desejo ser um membro ativo na região Nordeste, buscando sugerir, divulgar e incentivar atividades da Academia, em especial na universidade à qual estou vinculado”, afirmou.
Mas nem só de ciência vive o cientista. Nas horas vagas, Márcio também é um ávido consumidor de literatura brasileira e internacional, passando por Machado de Assis, Dostoiévski, C. S. Lewis e Julio Verne. “Também gosto bastante de filmes de romance e tenho um estilo de vida pacato e reservado, aproveitando bastante os momentos de sossego”, completou o Acadêmico.