A matemática é a linguagem da natureza. Poucas pessoas compreendem tão bem essa ligação quanto o matemático Pedro Peixoto. Admirador das ciências naturais desde a infância, ele teve uma trajetória bastante diversa, aplicando atualmente seu conhecimento de números para modelar os fenômenos físicos e biológicos. 

Filho único de um casal de cientistas, Pedro cresceu ouvindo termos como “tese”, “papers” e “projetos de pesquisa”. A mãe é pesquisadora em Toxinologia no Butantan, enquanto o pai farmacêutico fez carreira na indústria. Familiarizado com dois caminhos bem distintos proporcionados pela ciência, Peixoto viria a experimentar ambos, mas numa área um pouco diferente da dos pais. 

Nascido em São Paulo capital, Pedro relaciona o gosto pela matemática ao período que morou na Inglaterra, dos nove aos doze anos, acompanhando a mãe em um estágio de pós-doutoramento. “Curiosamente, por conta de ter recebido um ensino de matemática na Inglaterra mais intuitivo e menos formal, tive muita dificuldade em matemática quando retornei ao Brasil, pois não entendia a simbologia formal. Logo que aprendi a simbologia, a matemática voltou a ser matéria favorita”, lembrou. 

Na adolescência, por conta da formação em colégio técnico, o novo Acadêmico quase optou por engenharia, mas a curiosidade por aplicações mais abrangentes dos números fez com que escolhesse o curso de Matemática Aplicada e Computacional da USP, no qual ingressou em 2002. A variedade de temas com os quais já trabalhou na carreira é a prova de que fez a escolha correta, tendo atuado com finanças e vendas no setor privado, previsão do tempo, oceanografia e, durante a pandemia de covid-19, estudos epidemiológicos. 

Durante boa parte da graduação, Pedro Peixoto teve de conciliar os estudos com o trabalho de estatístico para uma multinacional, o que o levou a uma jornada de mais de 12 horas por dia. Ao final do curso, já cansado da rotina no setor privado, resolveu pedir demissão e se matricular no curso de Especialização em Medição, Análise, Previsão e Modelagem do Nível do Mar, no Instituto Oceanográfico da USP. Escolha difícil, mas da qual nunca se arrependeu. “Foi um ano mais leve, explorando um olhar de aplicação da matemática em problemas de oceanografia física, indo até a praia fazer pesquisa, entrando em contato com a natureza. Neste ponto, eu achei meu grande interesse: estudar a matemática que modela a natureza, a água e o ar, o oceano e a atmosfera”, explicou. 

Após essa experiência, Pedro ingressou na pós-graduação em Matemática Aplicada do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, onde, sob orientação do professor Saulo Barros, fez mestrado e doutorado com modulação de fluidos geofísicos, como o oceano e a atmosfera. “O professor Saulo se tornou um verdadeiro ‘pai científico’ para mim, e dedico a ele essa minha nomeação para a ABC”, diz Pedro sobre seu querido orientador, falecido em 2021. 

Atualmente, pesquisa principalmente métodos computacionais para modelos de previsão do tempo e do clima. Um salto de pesquisa nessa área se deu durante seu estágio na Universidade de Cambridge, Reino Unido, em 2012, onde interagiu e criou redes com pesquisadores que eram suas referências bibliográficas. “Essas conexões mantenho até hoje”, conta. “Em 2015, aprofundei meus estudos em um pós-doutorado na Universidade de Exeter, também no Reino Unido, interagindo com o Centro de Previsões de Tempo Inglês, que fica na mesma cidade”.  

De volta ao Brasil, ele se envolveu em iniciativas nacionais, como o Projeto do Novo Modelo Brasileiro para Previsão dos Oceanos, Superfícies Terrestres e Atmosfera (Monan), liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Hoje, Pedro Peixoto é professor da USP e desde 2017 trabalha também com modulações aplicadas à saúde pública, que viriam a se tornar uma urgência na pandemia. “Me dediquei a desenvolver modelos para predição de espalhamento da covid-19 e otimização de recursos, bem como em análises do comportamento do vírus e suas relações com a sociedade e saúde”, contou. 

Essa universalidade no uso dos números é o que o encanta na área, motivando-o a levar a matemática para problemas reais cada vez mais diversos. “Sinto que as áreas da ciência hoje estão muito concentradas em si mesmas. Interdisciplinaridade é algo almejado, mas pouco praticado. Gostaria de ver a matemática aplicada chegando mais longe, em mais aplicações, fazendo pontes mais sólidas”, explicou. 

E é exatamente isso que pretende fazer como membro afiliado da ABC: aproximar a ciência acadêmica da ciência do cotidiano, voltada para as problemáticas urgentes da sociedade. “Eu gosto de estudar e ensinar, seja lá o que for. Gosto de ajudar as pessoas a crescerem e depois poder ver elas voando!”.