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Jacob Palis ganha Prêmio Internacional Tartufari para Matemática 2008

A Accademia Nazionale dei Lincei, fundada em 1603, é a mais antiga do mundo. Seu primeiro membro foi Galileu Galilei. Instituição máxima da cultura italiana, a Academia atualmente funciona como conselheira da Presidência da República.

 

Fazendo jus à sua missão de “promover, coordenar, integrar e difundir o conhecimento científico em sua mais elevada expressão num cenário de unidade e universalidade da cultura”, a Accademia dei Linzei oferece diversos prêmios em várias áreas. Na área da Ciência, são oferecidos quatro prêmios internacionais, em Matemática, Física, Química e Biologia, que constam de um diploma e 25 mil euros cada.

O cientista escolhido para receber o Prêmio Internacional Tartufari para Matemática 2008 das mãos do Presidente da República da Itália foi o Prof. Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS). A premiação ocorrerá no dia 12 de junho, durante a cerimônia de encerramento do ano acadêmico, no belo Palazzo Corsini, sede da Accademia dei Linzei, em Roma.

Leia a coluna de Miriam Leitão publicada no Globo de 27/5, intitulada Ciência x corte raso

A investida dos governadores da Região Amazônica é de matar de vergonha:o que eles vão pedir ao governo é que a lei não seja cumprida e que grileiros e desmatadores possam ter financiamentos e vender seus produtos. Por outro caminho, a Academia Brasileira de Ciências estáformulando uma proposta de investimentos maciços em ciência na região para melhor protegê-la; uma revolução científica.

O “Bom Dia Brasil” de ontem trouxe um flagrante de um crime típico na Amazônia: a reportagem de Roberto Paiva e Jorge Ladimar mostrou, no Pará, trabalhadores escravizados no meio da floresta. Isolados, sem receber há dois meses, sem alimentação adequada, obrigados a trabalhar na preparação de outro crime: o desmatamento em área pública e protegida. O trabalho escravo sempre esteve associado ao desmatamento criminoso. O “dono” do “empreendimento” não apareceu; apresentou-se apenas o recrutador da mão-de-obra. A equipe móvel do Ministério do Trabalho deu o flagrante.

Esse “empresário” poderia receber financiamento para o seu”empreendimento” e comercializar sem medo o fruto do seu duplo crime caso a proposta dos governadores seja aceita. Segundo o jornal “Valor” de ontem, eles vão pedir, na sexta-feira, que seja adiada a resolução do Conselho Monetário Nacional que exige o certificado de propriedade e de regularidade ambiental para a concessão de empréstimos em bancos públicos e privados. Querem também que se adie o cumprimento da lei que criminaliza a cadeia produtiva e torna quem compra a produção de quem escraviza e grila cúmplice de crime.

Que vergonha governadores! É isso mesmo que pedirão ao governo federal? Que quem grilou e desmatou possa ser financiado e comercializar seu produto? Os governadores podem dizer que há bons patrões e bons empreendedores que ficaram presos na armadilha da mudança da lei. Antes se podia desmatar 50% da propriedade; agora, apenas 20% no bioma amazônico e, portanto, estão todos fora da nova lei, mas respeitavam a antiga. Se for isso, a proposta do governo permite que quem tenha um plano de recuperação da reserva legal seja considerado como tendo regularidade ambiental. Que os bons empresários façam seu plano e cumpram a lei!

O desmatamento está aumentando nos últimos meses, mas o Inpe decidiu adiar a divulgação porque quer fazê-lo com explicações técnicas que evitem que cada número seja uma briga com o governador Blairo Maggi. O instrumento é científico e deve ser preservado.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) pôs em seu site a versão preliminar de um documento feito por vários cientistas propondo uma “revolução científica e tecnológica para a Amazônia”. A dificuldade em ter um modelo para a região é que “não existe um modelo a ser copiado”. Os pesquisadores propõem nova abordagem: formação maciça de doutores e mestres em ciência aplicada às necessidades da região através de mais universidades públicas e institutos de pesquisas, institutos tecnológicos e uma poderosa rede de comunicação para mantê-los em contato com o mundo científico. Ao todo, seriam investimentos de 1% do Produto Regional Bruto em Ciência, Tecnologia e Informação, ou seja, R$1 bilhão por ano. Segundo a ABC, esses investimentos lançariam as bases” de um novo ciclo de desenvolvimento na Amazônia, alicerçado na ciência, na tecnologia e na inovação”.

O presidente da Academia de Ciências, Jacob Palis Jr., diz que o documento, que tem o apoio da SBPC, está em debate entre cientistas e no site da ABC:

– Temos muito orgulho do documento, porque ele é objetivo, enxuto e foi feito por vários cientistas de áreas diferentes. A Amazônia é muito complexa, precisamos de mais competência científica e técnica para formular planos de novos modelos.

A proposta da Academia é que o isolamento da região seja vencido pelatecnologia de comunicação: “No satélite de telecomunicações brasileiropara a Amazônia, deve ser reservado um canal para a comunicaçãoacadêmico-tecnológica.”

A proposta é criar centros de estudo de ciência aplicada em questões como água, recuperação de áreas degradadas, biodiversidade, biotecnologia, energias renováveis, entre outros, em contato direto com as empresas. “A meta é a proposição de desenvolvimento pleno de cadeias produtivas para um número significativo de produtos para o mercado global, contemplando desde fármacos até serviços ambientais”, diz otexto. Hoje a região tem menos de 5% dos doutores do país. A ABC propõeduplicar o número de mestres e doutores, mais recursos para pesquisas,mais conexão com os centros do mundo. De acordo com o texto, as grandes obras previstas de infra-estrutura dão caráter de urgência ao desenvolvimento de um novo modelo. “A importância econômica e social do rico patrimônio natural da região representa um gigantesco potencial científico e cultural, cuja transformação em riqueza está ligada à geração de conhecimento e tecnologias.”

Isso não significa parar a produção agrícola. Mas ocupar a região com a ciência, enquanto se estanca o desmatamento. O atual modelo não desenvolve.

O desmatamento é feito com desperdício, violência, trabalho escravo. Não gera progresso e desenvolvimento. E é isso que os governadores da região estão pedindo que continue? Tomara que não. Tomara que nem todos!

Blog da Miriam Leitão

Brasil-Índia – Fármacos – 2007

Workshop sobre a Indústria Farmacêutica Indiana, realizado na ABC, contou com apresentação do Prof. S. Sivaram, diretor do Instituto Nacional de Química da Índia, que traçou um painel sobre a história, as estratégias de sucesso e as perspectivas desta indústria em seu país. A partir do que foi discutido no workshop, elaborou-se uma Proposta para o MCT sobre a Indústria Farmacêutica.

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Prêmio L’Oréal-ABC-Unesco para Mulheres na Ciência 2007

Pelo segundo ano consecutivo, o Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC para Mulheres na Ciência oferece a pesquisadoras brasileiras, selecionadas por rigorosa comissão julgadora, bolsas-auxílio no valor de vinte mil dólares. Este ano foram contempladas sete cientistas das áreas de Ciências Físicas, Ciências Biomédicas, Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Matemáticas e Ciências Químicas.

A cerimônia de premiação ocorreu no Copacabana Palace, na noite de 19 de setembro, com a presença de dezenas de Acadêmicos, jornalistas e autoridades, tendo sido conduzida pela jornalista Renata Cappucci.

L’Oréal: investimento em pesquisa e desenvolvimento sustentável

Nas palavras do presidente da L’Oréal Brasil, valorizar a participação da mulher na pesquisa científica de excelência é possibilitar sua contribuição para um mundo com mais qualidade de vida e bem estar para todos

Com quase 100 anos de expertise em cosméticos, a L’Oréal abrange 19 marcas globais (Lancôme, Ralph Lauren, La Roche Posay, entre outras), presentes em 130 países. São 42 fábricas espalhadas pelo mundo, todas com certificação ISO 14001. Com em torno de 60.000 funcionários, sendo mais da metade mulheres, a empresa investe anualmente 533 milhões de euros em pesquisa e desenvolvimento. Apenas em 2006, a L’Oréal teve 569 patentes registradas.

No Brasil, a L’Oréal conta com 1.800 funcionários em duas fábricas, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo que, juntas, produzem mais de 400 milhões de unidades de produtos cosméticos por ano. A filial brasileira é responsável por 45% do faturamento da América Latina. A empresa investe na sustentabilidade: 100% de todos os resíduos gerados pelas fábricas são reciclados, reutilizados ou valorizados como matéria-prima em outra atividade industrial.

Segundo seu presidente no Brasil, François-Xavier Fenart , o Programa L’oreal-Unesco para Mulheres na Ciência nasceu em 1988 como uma grande parceria entre essas empresas premiando com uma expressiva bolsa cinco cientistas de cada continente do mundo. Três grandes mulheres brasileiras já foram contempladas: as Acadêmicas Mayana Zatz, Lucia Previato e Belita Koiller. “Há quase 100 anos atrás, em 1909, nossa empresa foi criada por um pesquisador, o químico francês Eugène Shueller. Acho que por isso a pesquisa em ciência está em nosso DNA”, disse Fenart.

No Brasil, a iniciativa em parceria com a ABC tem por finalidade dar apoio e recursos a novas pesquisadoras que estão iniciando suas carreiras científicas. Em 2006, o primeiro ano, foram premiadas cinco cientistas nas áreas de Ciências Biológicas e Físicas. Em 2007, o número de bolsas passou para sete, incluindo novas áreas de pesquisa como Matemática e Química.

“Neste ano, foram registradas mais de 450 inscrições em todas as regiões do país”, contou Fenart. “A nossa total convicção é de que ajudando a impulsionar a pesquisa brasileira estaremos colaborando com o futuro deste grande país. Valorizar a participação da mulher na excelência da pesquisa científica é possibilitar sua contribuição na construção de um mundo melhor, com mais qualidade de vida e com maior bem estar para todos”.

Unesco: ciência deve se justificar por sua relevância para a sociedade

Segundo Pedro Lessa, o Programa para Mulheres na Ciência impulsiona carreiras científicas de excelência, de acordo com a visão da organização de promoção de uma ciência baseada na ética e na solidariedade

Através da cooperação intelectual internacional nas áreas da ciência, da cultura, da comunicação e informação, a Unesco busca promover o desenvolvimento humano, os direitos humanos e a construção da paz. Nas palavras de Vincent Defourny, representante da Unesco no Brasil, a inclusão de mais mulheres no sistema de educação científica e nas carreiras das áreas de ciência e tecnologia faz-se necessária não só por uma questão de justiça de gênero, mas porque num mundo onde todos os aspectos da vida são crescentemente dependentes de conhecimentos científicos para a tomada de decisões, a promoção da educação científica de mulheres é indispensável para todas as nações, como forma de se assegurar a verdadeira democracia e o pleno exercício da cidadania.

A Unesco considera que este processo não deve concentrar-se somente nos sistemas educativos formais ou entre os muros das escolas, requerendo uma participação cada vez maior de novos atores e a formação de alianças com responsabilidades e compromissos compartilhados. É neste contexto que, pelo segundo ano consecutivo, a Comissão Nacional da Unesco (IBECC) em parceria com a L’Oréal Brasil e a Academia Brasileira de Ciências investe na promoção do talento das jovens cientistas brasileiras através do Programa Para Mulheres na Ciência.

Representando a instituição no evento de premiação, o coordenador do Escritório da Unesco no Rio de Janeiro, Pedro Lessa, celebrou o trabalho das sete jovens cientistas premiadas. Ele considera essa iniciativa muito especial porque, ao mesmo tempo em que estimula avanços nas ciências naturais, também promove conquistas nas ciências sociais e humanas, apoiando e possibilitando a igualdade dos meios. “Esta premiação contribui para exaltar a conquista de um espaço ocupado tradicionalmente pelo homem, confirma o sucesso da mulher no campo do conhecimento e comprova a qualidade das cientistas brasileiras neste cenário”, concluiu.

Mayana Zatz: “o que nos distingue da média é a nossa curiosidade”

Primeira brasileira a receber o Prêmio LÓréal-Unesco para Mulheres na Ciência, em 2001, a Acadêmica Mayana Zatz, hoje membro do júri que seleciona as premiadas a cada ano, falou de sua experiência enquanto premiada. “Este prêmio dá muita visibilidade e responsabilidade. Passei a receber muitos e-mails de meninas jovens dizendo que querem ser cientistas. O acontece é que a divulgação ajuda a desmistificar a imagem de cientista enfurnada num laboratório, desconectada do mundo. Somos mulheres normais, acho que o que nos distingue da média é a nossa curiosidade. Não nos contentamos com a realidade, queremos saber o por quê e como. Como eu trabalho com doenças, quero saber tratar e curar”.

Academia Brasileira de Ciências: 91 anos em prol da ciência no país

Presidente da ABC destaca a ampliação de suas ações, observando seu compromisso em promover a ciência de qualidade em todos os níveis e torná-la instrumento de desenvolvimento

A Academia Brasileira de Ciências, fundada no Rio de Janeiro, em 1916, é uma entidade independente, não governamental e sem fins lucrativos, que atua como sociedade científica honorífica, voltada para a promoção da ciência e para a difusão do conhecimento científico, além de agir como consultora do governo, quando solicitada, para estudos técnicos e de política científica.

Com um quadro atual de 628 cientistas, a ABC reúne seus membros em dez áreas especializadas: Ciências Matemáticas, Físicas, Químicas, da Terra, Biológicas, Biomédicas, da Saúde, Agrárias, da Engenharia e Humanas. A Academia organiza eventos científicos, desenvolve programas e projetos relevantes, mantém intercâmbio com academias científicas estrangeiras, bem como com outras organizações nacionais e internacionais. Mantém publicações regulares e outros documentos pontuais, geralmente contribuições para o desenvolvimento de políticas públicas nas áreas de educação, C&T.

O presidente da ABC, Jacob Palis, ressaltou que a ABC conta hoje com 30% de mulheres Acadêmicas. “Esse percentual cresce na Biologia e na área de Saúde”. Palis declarou ter muito orgulho deste prêmio em parceria com a L’Oréal e a Unesco. “Não conheço nenhuma ação tão direta e notável no Brasil que promova a mulher na ciência como esta que estamos celebrando hoje pela segunda vez. É o reconhecimento do valor de jovens pesquisadoras com um futuro brilhante. A premiação dá muita visibilidade e é a única maneira de fazer crescer esta participação”.

O júri: os Acadêmicos Lucia Previato e Francisco Salzano; o presidente da ABC Jacob Palis; a Acadêmica Belita Koiller; Pedro Lessa, da Unesco; Suely Bordalo, da L’Oréal Brasil; os Acadêmicos Marcelo Viana, Beatriz Barbuy, Cid Bartolomeu Araújo e Jailson Bittencourt.

A ampliação das ações da Academia, observando seu compromisso com a qualidade, tem representando um grande desafio, pois o reconhecimento da competência reunida de seus membros tem gerado uma crescente demanda por sua participação em projetos importantes para o desenvolvimento nacional. “Estamos realizando esforços no sentido de fortalecer a transferência do conhecimento científico para aplicação em programas sociais, com a valorização da educação científica, do papel da mulher, entre outros. Essas ações traduzem a preocupação básica da Academia de promover a ciência em todos os níveis, tornando-a instrumento de desenvolvimento” concluiu Jacob Palis.

Solange Fagan representou as vencedoras de 2006

A pesquisadora ressaltou que inúmeras portas se abrirão para as vencedoras deste ano, que devem incentivar outras mulheres ter outro olhar sobre a pesquisa científica, como uma possibilidade para suas vidas

Doutora em física, Solange Fagan é professora-adjunta do Centro Universitário Franciscano (Unifra) em Santa Maria (RS). Ela foi premiada em 2006 pelo estudo de nanoestruturas de carbono de interesse químico e biológico. Representando no evento as cinco premiadas do ano anterior, Solange destacou em seu discurso para as jovens vencedoras de 2007 o quanto o prêmio foi importante para ela.

“Este prêmio me promoveu enormemente na área de Física no Brasil, especialmente na minha cidade e em toda a região. Pude mostrar meu trabalho de pesquisadora em diversos jornais, TV e rádios, divulgando a ciência e a presença das mulheres na pesquisa científica de forma inédita nesta região. Passei a fazer palestras de divulgação científica para alunos tanto universitários, como do Ensino Fundamental e Médio da região de Santa Maria.”

Solange destacou que o apoio financeiro fez uma diferença muito marcante. “Trabalho com simulação de nanoestruturas, e para tanto preciso de computadores potentes. Estou usando os recursos provindos deste prêmio para comprar novos equipamentos e softwares que são difíceis de obter via outros projetos. Além disso, como trabalho em colaboração com diversos outros grupos do Brasil – em São Paulo, Ceará, Brasília, Rio de Janeiro e Maranhão -, os recursos têm me auxiliado nas passagens e diárias para permanecer nestes locais”.

Fagan destacou a oportunidade que teve com o prêmio de participar do evento Global Scientific Challenges: Perspectives from Young Scientists, organizado pelo International Council for Science (ICSU) em Lindau, na Alemanha, em abril deste ano, e que contou com a participação de 142 jovens pesquisadores de 71 países. “Esta foi uma experiência única, onde pude conviver por três dias com jovens pesquisadores de várias partes do mundo e de diversificadas culturas, mas todos com uma mesma questão: quais os desafios da ciência que estão a nossa espera?”

Segundo Solange, todas as ganhadoras do ano passado concordam que a visibilidade e a responsabilidade deste prêmio não têm preço. “São inúmeras jovens que nos procuram para saber o que é ser cientista, querendo ser também.

Este reconhecimento é o maior prêmio que podemos ter como cientistas, pesquisadoras e professoras, e achamos que é uma das grandes missões das premiadas: incentivar novas carreiras de mulheres na Ciência”.

A Dra. Alessandra Bruno, do Laboratório de Imunogenética da UFRGS, foi a única premiada de 2006 que não pode comparecer ao evento deste ano. O motivo é muito especial: chama-se Alexandre e ainda não tem um mês. Graduada em biologia na UFRGS, onde também obteve os títulos de Mestra e Doutora em Bioquímica e de Pós-Doutora em Genética, foi premiada por sua pesquisa sobre terapia celular utilizando células-tronco mesenquimais no modelo animal da doença de Parkinson.

Em entrevista a Notícias da ABC, a Dra. Alessandra destacou alguns reflexos da premiação no decorrer deste período. “Projetos científicos na grande maioria das vezes são exclusivamente divulgados para a própria comunidade científica. Entretanto, a divulgação promovida pela L’Óreal em revistas e jornais levou nossos projetos e a pesquisa científica brasileira ao conhecimento do público em geral”. Outro fator que inegavelmente está contribuindo para o desenvolvimento do seu trabalho é o aspecto financeiro. “Como o nosso projeto é de natureza prática, o valor do prêmio contribuiu para o custeio de materiais e reagentes que estão possibilitando a realização do projeto contemplado.”

Alessandra parabenizou a iniciativa desta premiação, por estar contribuindo para a fixação de novas doutoras em suas respectivas áreas de pesquisa e, principalmente, “pela valorização da mulher e da ciência em um país que nem sempre reconhece o valor de ambos”. A pesquisadora enviou seus cumprimentos às contempladas deste ano, por terem tido seus trabalhos selecionados “dentre tantos de excelente qualidade que hoje em dia sabemos que existem no Brasil. Minha principal mensagem às ganhadoras de 2007 é que, apesar de todas as dificuldades que existem na ciência brasileira, existem iniciativas como esta que valorizam o nosso papel dentro desta atividade. Desejo-lhes, portanto, muito sucesso em seus projetos e em suas respectivas carreiras científicas”.

Contemplada com o Prêmio para Mulheres na Ciência em 2006 pelo trabalho sobre a cafeína como estratégia de prevenção do declínio cognitivo no envelhecimento e em modelo experimental da doença de Alzheimer, a Dra Lisiane de Oliveira Porciúncula graduou-se em Química pela Universidade Federal de Santa Maria, obteve o Mestrado e o Doutorado em Bioquímica na UFRGS e o Pós-Doutorado pela Universidade de Coimbra (Portugal).

Hoje trabalha no Laboratório de Estudos sobre o Sistema Purinérgico do Departamento de Bioquímica da UFRGS, numa equipe composta pelo Prof. Dr. Diogo Onofre Gomes de Souza, o mestrando em Bioquímica Marcelo Silveira da Costa e dois bolsistas de graduação: Paulo Henrique Botton, da área de Farmácia, e Sabrina Mioranzza, da área de Nutrição.

“O nosso laboratório tem como principal objetivo atualmente estabelecer se existem alterações no fator neurotrófico derivado do cérebro com os benefícios observados em tarefas que requerem aprendizado e memória pela administração de cafeína”, disse Lisiane. As figuras abaixo representam parte dos principais resultados que estamos obtendo com a participação direta dos meus três alunos e a colaboração do coordenador do nosso grupo Prof. Diogo Souza.

A partir de suas experiências, a equipe observou que animais adultos e idosos que receberam cafeína apresentaram melhor desempenho na tarefa de reconhecimento de objetos novos. Os animais idosos foram tratados durante doze meses com cafeína enquanto que os adultos foram tratados apenas por quatro dias consecutivos. “A tarefa de reconhecimento de objetos novos consiste basicamente em analisar a habilidade natural dos animais em identificar modificações no ambiente o qual foram previamente apresentados. Portanto, a cafeína parece melhorar esse desempenho tanto nos animais adultos quando nos idosos”. Os resultados envolvem os processos de aprendizado e memória, relacionadas à patologias como a Doença de Alzheimer.

Como parte deste projeto foi contemplada pelo grant da L’Oréal, foi possível a aquisição de alguns equipamentos e reagentes necessários para a sua execução, bem como a inserção no projeto dos dois alunos de iniciação científica e um de mestrado citados anteriormente, que estão sob a sua supervisão.

Foi com grande satisfação que, há um ano atrás, a Dra. Sayuri Miyamoto recebeu a notícia de que havia sido contemplada por sua pesquisa sobre lipídeos modificados e implicações biológicas com a Bolsa Auxílio L’Oréal Unesco ABC 2006 Brasil para Mulheres na Ciência. Graduada em Farmácia e Bioquímica na USP, obteve o mestrado em Nutrição na Universidade de Tokushima (Japão) e concluiu doutorado e pós-doutorado em Bioquímica na USP. “Na época eu fazia pós-doutorado, e em março de 2007 fui contratada para o cargo de Professor Doutor no Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP, onde recentemente recebi um espaço para a montagem do laboratório de pesquisa”.

Neste período, a Dra. Sayuri utilizou o auxílio para a aquisição de livros, computadores,reagentes e também para a participação em congresso no exterior. “Com o recurso restanteplanejo ainda adquirir materiais para o novo laboratório. O apoio recebido foi importante por ter propiciado condições para o desenvolvimento do projeto de pesquisa”. Seu grupo de pesquisa está começando a se formar. Acima uma foto no laboratório com os meus dois alunos, o Fernando (aluno de iniciação científica) e a Patrícia (aluna de mestrado).

A linha de pesquisa do laboratório está focada no estudo de lipídeos modificados, em particular aqueles formados na interação com espécies reativas (como radicais livres). Os lipídeos exercem funções importantes no organismo e alterações na sua estrutura podem comprometer o funcionamento normal das células. “Atualmente estamos estudando a formação e o papel dos produtos de oxidação do colesterol e de ácidos graxos ômega-3, em doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. Alguns produtos de oxidação já foram caracterizados e nas etapas seguintes pretendemos investigar os mecanismos moleculares envolvidos nos efeitos deletérios ou benéficos mediados por esses lipídeos modificados. Deste modo, esperamos obter resultados que contribuam para a compreensão dos mecanismos de doenças associadas a disfunções promovidas por lipídeos como, por exemplo, aterosclerose, doenças neurodegerativas e alguns tipos de câncer.”

Para as vencedoras do prêmio deste ano, a Dra. Sayuri desejou muito sucesso profissional. “É muito bom ter o trabalho reconhecido e receber este tipo de auxílio no início de nossas carreiras. Faz valer a pena toda persistência e dedicação à ciência”.

A Dra. Yraima Cordeiro, graduada em Ciências Biológicas na UFRJ, obteve os títulos de Mestra e Doutora em Química Biológica na mesma universidade. Foi contemplada pela pesquisa sobre estudos biofísicos e funcionais da interação da proteína do prion com ácido nucléico e glicosaminoglicanos. ” Meu trabalho envolve estudos com uma proteína, a proteína do prion, que é considerada o agente causador das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (EET)”, contou a pesquisadora. A principal característica destas doenças neurodegenerativas é o seu caráter infeccioso.

A Prof. Yraima explicou que a deflagração destas enfermidades envolve uma mudança de conformação da proteína do prion celular (PrP C ) que está presente em todos os mamíferos,gerando a forma que causa a doença. Apesar dos grandes avanços obtidos nas últimas décadas com estudos sobre prions, ainda não se sabe como a forma normal, que não causa doença, é convertida na forma anormal.

No decorrer deste ano, após ser agraciada com a bolsa-auxílio da L’Oréal, suas pesquisas avançaram bastante. ” Nossos dados permitem concluir que moléculas de RNA ou DNA são candidatos viáveis a atuar como catalisadores no processo de conversão PrP C em PrP Sc , podendo também ser alvos importantes para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas que almejem bloquear este processo de conversão, e, finalmente, a progressão da doença”, disse a pesquisadora.

Yraima destacou que ter recebido a bolsa-auxílio da L’Oréal foi importante na aquisição de equipamentos, material de laboratório e reagentes vitais para o desenvolvimento do projeto. “Além disso, me impulsionou a fazer novas colaborações com diversos pesquisadores, pois aumentou de forma impressionante a visibilidade do meu projeto tanto no meio acadêmico quanto para o público em geral. Desejo muito sucesso às contempladas com o prêmio deste ano e tenho certeza que suas carreiras científicas serão impulsionadas por este merecido acontecimento”.

O evento foi conduzido pela jornalista Renata Capucci, que ao final da premiação falou a Notícias da ABC. “Me senti honrada em apresentar este evento, pois a ciência é uma área muito masculina e ouve-se falar pouco sobre o tema na mídia em geral. Saber que existem mulheres despontando nessa área, ver a trajetória de cada uma, é muito gratificante, me identifiquei com elas. É uma mistura de dom, talento, dedicação e amor pela carreira”.

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