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Treinamento de mídia ajuda cientistas a se comunicar com o público

O Science Slam 2017 da Euraxess Brasil é um concurso de comunicação científica no qual os cinco escolhidos, dentre 350 jovens pesquisadores inscritos de todo o Brasil, têm seis minutos para apresentar sua pesquisa de forma criativa e original. O evento está na sua 5ª edição e contou com o apoio a Academia Brasileira de Ciências (ABC) nos últimos três anos.

A apresentação dos cinco candidatos foi feita numa noite de muita diversão e emoção. Saiba mais na matéria da ABC “Pernambucano vence Euraxess Science Slam Brazil 2017 com paródia do Netflix”.

No dia anterior, porém, os finalistas e mais de 40 pesquisadores inscritos participaram de um treinamento de comunicação na Casa Europa, no centro do Rio de Janeiro. Com várias palestras e atividades práticas, seguidas de um ensaio de cada um avaliado pelos coaches, que deram as últimas orientações aos candidatos, o dia foi intenso e muito proveitoso para todos os participantes. Veja como foi a preparação.

Apresentando o media coaching

charlotte-250.jpgA co-coordenadora do Euraxess Science Slam Brasil, Charlotte Grawitz, é especializada em economia internacional e do desenvolvimento. Ela abriu os trabalhos contando sobre sua escolha de sair da França para vir trabalhar na Euraxess Brasil, contribuindo para a mobilidade de pesquisadores interessados em estudar na Europa e realizar seus projetos. “Conhecer bem o conteúdo de um tema de ciência não basta. É preciso saber comunicar o seu conhecimento e é para isso que reunimos alguns especialistas para ajudar nossos finalistas do Science Slam a treinar a integração entre conhecimento científico e comunicação”, destacou a economista.

Improviso e ação

Há 14 anos trabalhando com teatro científico no Museu da Vida, na Fiocruz-RJ, a atriz e roteirista Letícia Guimarães é experiente em lidar com público que não têm o hábito de frequentar aparelhos culturais. Convidando os participantes a formar uma roda e se darem as mãos, ela explicou a proposta da atividade: “Para te escutar com atenção, o público tem que gostar de você. Ao apresentar uma palestra, a pessoa está exposta, é uma posição de risco, porque ela pode agradar ou não. E se o público cria empatia, vai querer ajudar a pessoa. Essa é a ideia”.

A interação envolvendo o toque – dar as mãos – já gera um desconforto. “As mãos suadas incomodam, constrangem. E é isso: vamos sair da nossa zona de conforto e fazer um exercício de exposição.” A partir daí, sob o comando de Letícia o grupo respirou alto, suspirou bem fundo e se colocou em posições ridículas. Foram formados então cinco pares, compostos por um dos finalistas e um voluntário escolhido na hora para dar seguimento à atividade. Leticia propôs alguns filmes bem conhecidos e cada dupla tinha eu escolher um e criar um esquete de um minuto usando os personagens do filme e uma cena característica para explicar a pesquisa do candidato.

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O finalista Max Oliveira, doutorando de história da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), escolheu o filme Titanic e encenou com o parceiro a clássica cena em que Rose, a personagem de Kate Winslet, está na proa do barco de braços abertos, com seu parceiro Jack, que no filme era Leonardo Di Caprio, a abraçando por trás.

titanic-250.jpgE Max, representando Rose, conta emocionada(o) ao companheiro sua história: que é de Itaguaí, uma cidade em que a metade das crianças é registrada como preta ou parda, mas cujos documentos oficiais dizem que após a abolição da escravatura, todos os escravos da cidade foram embora. “Mas então, como e por que a metade da cidade é preta ou parda?”, perguntou o intérprete de Rose. E finalizou “Vem, Jack, vem comigo. Vou te levar pra Itaguaí!”

E assim como Max – após muitas gargalhadas -, os outros finalistas encenaram esquetes do Planeta dos Macacos, Matrix e outros filmes blockbusters.

No final, todos sentaram em roda e avaliaram os resultados da atividade. Letícia destacou alguns aspectos importantes. “O apresentador está intimidado com a plateia, preocupado com o acaso e com o ridículo. Não fiquem mais! Façam! Sejam! O ridículo é parte da vida!” Ela observou que a plateia só ri se entende. “E para facilitar esse entendimento o palestrante deve trazer referências conhecidas do mundo real, do ambiente daquelas pessoas que compõem o seu público em cada ocasião”, ressaltou Leticia, completando que elementos da cultua de massa e músicas da moda são ótimas ferramentas para essa aproximação.

“Se você quer se comunicar, tem que estar antenado. Tem que escutar a plateia e responder no escopo daquele universo. Ao mesmo tempo, tem que deixar claro que você está ali se expondo por causa de e para aquelas pessoas. Tem que fazer graça de si mesmo. É o humor garantido, que não vai ferir suscetibilidades”, completou.

A tradução da ciência: que língua eu falo?

natalia.jpgA bióloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), Natália Pasternak, fez estágio de pós-doutorado em microbiologia na mesma instituição. É sócia fundadora do blog de divulgação científica Café na Bancada, que já tem mais de 2.000 seguidores, e diretora no Brasil do festival internacional de divulgação científica Pint of Science.

Natália contou que, trabalhando na bancada de seu laboratório, parava para tomar café e conversar com os colegas, muitas vezes sobre as besteiras a respeito de ciência que eles encontravam nas redes sociais. Refletindo sobre esse assunto, porém, ela e seu grupo caíram em si e perceberam que grande parte da responsabilidade era dos próprios cientistas, que não tinham por hábito explicar o trabalho que faziam. “Se a pessoa não entende como a ciência é feita nem sabe para que serve, não valoriza. E a gente têm que explicar que não existe saúde nem educação sem ciência.”

Ela comentou que durante o pós-doutorado mais difícil que já fez – a maternidade – passou a lidar com uma nova realidade: o grupo de mães do Whatsapp. Ali eram veiculadas as informações mais estapafúrdias envolvendo ciência, inclusive campanha anti-vacinação. Ela decidiu, então, explicar porque aquelas informações não eram confiáveis nem tampouco verídicas. “Elas me excluíram, é claro. Mas eu percebi quão assustadora pode ser a desinformação científica”, brincou. Mas começou a pensar seriamente no assunto. Ela construiu, então, o blog Café na Bancada. “Para um cientista é grande o desafio de fazer divulgação. Nós não fomos treinados para isso. Usamos jargões das nossas áreas todo o tempo e eles não são compreensíveis para ao público. Precisamos treinar a falar para a população de modo geral”, reiterou Pasternak.

A bióloga se referiu ao evento internacional Pint of Science para exemplificar a diferença entre falar num congresso, falar para os pares e falar num bar para o público. “A linguagem é outra. Temos que ter muita atenção a isso”, disse.

grupinho-em-roda.jpg Propôs então uma atividade prática, de análise de trechos de revista de divulgação como Pesquisa Fapesp, Ciência Hoje, Super Interessante, Galileu e Scientific American, destacando trechos de entendimento difícil e estimulando o público a sugerir outras maneiras de dizer a mesma coisa. “É preciso trazer o vocabulário e os exemplos para a realidade da pessoa, de modo que todos entendam que a ciência está na sua vida, na sua casa, para que fique claro que cortar nosso financiamento afeta todas as pessoas”, concluiu Natália.

Dragões de Garagem

dragoes.jpgOs apresentadores do site Dragões de Garagem foram Luciano Queiroz, criador do site, e Luiz Bento, colaborador permanente. Queiroz é biólogo, doutorando e mestre em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP), enquanto Bento, biólogo com mestrado e doutorado em ecologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e divulgador de ciência no Museu Ciência e Vida, também é diretor do pré-vestibular social da Fundação Cecierj.

O site contém quadrinhos sobre ciência – as Cientirinhas – e podcasts [arquivos de áudio, tipo rádio] de divulgação científica criado em 2012. “Falamos sobre ciência de forma natural, incentivando o pensamento crítico e a curiosidade dos ouvintes. Procuramos divulgar ciência de forma abrangente e interessante, mostrando a importância desse corpo de conhecimento em nosso dia a dia social e profissional”, disse Luciano. Até aquela data, o Facebook dos Dragões tinha 21.000 seguidores e o canal do You Tube tinha 2.074 inscritos. O alcance dos podcasts chega a mais de 12.000 downloads por episódio.

Luciano diz que é preciso convencer as pessoas de que ciência é interessante e pode ser emocionante. E fazer isso só com áudio, como eles fazem nos podcasts, é difícil. Mas não é impossível. Ele mostrou três modelos de podcast. No primeiro, o locutor lê um texto simples. Mas é uma leitura. No segundo, há três cientistas conversando, sabendo calar quando o outro fala. Bem mais animado. Mas o terceiro era o melhor: o podcast no formato de contação de histórias, mais jornalístico, era um depoimento de uma mulher nordestina contando sobre a gravidez com zika, que causou microcefalia no bebê. Ela relata seus sentimentos, as providências que precisou tomar e o narrador vai complementando as falas dela com informações científicas simples e pertinentes. Muito comovente. E era ciência.

Ele lembrou que o rádio no Brasil foi iniciado pela Academia Brasileira de Ciências, que abrigou uma das primeiras estações do país: a rádio Roquette-Pinto, que era membro da ABC. “Era uma rádio de cultura e ciência, levou ao público palestras de Einstein e Marie Curie”, ressaltou Luiz Bento.

A atividade prática proposta então por Luiz e Luciano dividiu os participantes em cinco grupos, cada um incluindo um dos finalistas. Os grupos receberam textos curtos de revistas de divulgação e tinham 15 minutos para propor um áudio explicando a notícia. Um texto que falava sobre produtividade científica foi abordado por meio da fábula A Cigarra e a Formiga. Outros criaram paródias de músicas conhecidas. Uma festa da criatividade.

Luciano destaca que o podcast é um formato barato de divulgação científica, “que pode ser ouvido no ônibus, lavando louça, em qualquer lugar. Nos EUA é a mídia que mais cresce”, informou.

Forma e conteúdo: menos é mais

paula-2-250.jpgMestre em teoria e crítica do design pela Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI/UERJ), Paula Schuabb cursou especialização em gestão cultural pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), depois da graduação em comunicação social com habilitação em publicidade e propaganda, pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Ela trabalha como estrategista de conteúdos digitais terceirizada, na Petrobras.

Paula começou a palestra falando de uma pesquisa da Microsoft que demonstrou que a capacidade de concentração do ser humano é menor do que a de um peixe dourado. Por isso, ela escolheu trabalhar com imagens. “Imagem é informação, só que aguça a curiosidade, porque influencia a percepção”, disse. Para falar com um determinado público, segundo ela, é preciso que o apresentador tenha um repertório comum de referências com aquele público. As imagens, segundo Paula, dão leveza à narrativa, criando identificação e empatia. “A maior parte da informação registrada pelo cérebro é visual; imagens são processadas milhares de vezes mais rápido do que o texto”, afirmou.

vermelho.pngA designer exemplificou com as palavras VERMELHO escrita na cor amarela. “A tendência é ler AMARELO, porque a cor influencia mais a percepção do que as letras”, explicou. Outro exemplo dado por ela foi o seguinte texto: “Não importa em qual ordem as letras d uma palavra estão. A única coisa importante é que a primeira e a última letra estejam no lugar certo. O resto pode ser uma bagunça total que você ainda pode ler sem problemas.”

Os designers, de acordo com ela, trabalham partir desta noção. “E todo mundo pode pensar como designer”, defendeu Paula. Ela mostrou um slide com algumas palavras soltas. Foi falando sobre cada um dos conceitos e demonstrando em slides. Isto tornou a compreensão, realmente bastante simples.

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O pensamento visual, segundo Paula, pode mudar a percepção das pessoas sobre um trabalho. E começa com organizar e priorizar. “O alinhamento, organiza; o agrupamento ajuda a estabelecer relações; o espaçamento confirma que os elementos têm relação; o contraste cria uma hierarquia da informação; e assim por diante”, explicou. Depois são acrescentados os elementos estéticos. “É importante selecionar os conceitos principais e ilustrar estes conceitos. E quebrar o texto de forma a facilitar a leitura. Isso envolve reorganizar, reagrupar o texto em itens, colocar subtítulos.”

Sobre as imagens, Paula Schuabb esclareceu: ela deve ser informativa e significativa, complementar a informação. “A imagem deve contextualizar o que está escrito ou captar a atenção para destacar algo, não para competir”. E quanto aos gráficos? Em seu ponto de vista, em geral eles têm muita informação. Por isso, Paula acha importante enxugar o texto, enxugar as cores, eliminar a informação desnecessária e concentrar naquilo que se quer que a pessoa leve, que registre, que lembre. “Assim você conduz a narrativa visual, define a mensagem residual.” Ela sugeriu a utilização de infográficos. “São um excelente recurso para harmonizar texto e imagem.”

Portanto, cientistas, mãos à obra, vamos limpar e simplificar os slides: menos é mais.

Dicas para ampliar o impacto da comunicação

O ator e executivo de treinamento Tony Correia fez uma palestra estimulante e desafiadora, mostrando na prática como a postura, atitude e forma de usar a linguagem faz diferença numa apresentação. Sua experiência demonstrou que 85% do sucesso de uma palestra reside na capacidade de comunicação.

A linguagem, muitas vezes, é fonte de mal-entendidos. Ele reconhece que muita eloquência, às vezes, pode estar atrelada a um discurso vazio. Mas se o conteúdo é bom, a eloquência só ajuda. “O palestrante precisa demonstrar interesse verdadeiro no seu público, exercitando a empatia, se colocando no lugar da plateia”, ponderou Tony. Ele diz que é importante que o público se dê conta de que você estudou, trabalhou numa apresentação para ele, público. “Isso gera empatia.”

tony-correia.jpgCorreia listou alguns elementos fundamentais para uma boa comunicação: “Os quatro pilares clássicos são a respiração, o contato visual, a voz e a emoção”, esclareceu. Para exemplificar cada um, abordou a voz, dicção, ênfase, postura, uso do espaço, humor, emoção.

Ele relatou um exercício histórico de voz: “Demóstenes, que foi considerado o melhor orador grego, exercitava seus discursos junto ao mar, até sua voz se sobrepor ao barulho das ondas”, ilustrou. “A palavra certa é importante, mas o tom certo é considerado seis vezes mais importante. Escolha bem a palavra, mas não erre no tom.” Ele exemplificou de forma bem clara, repetindo uma mesma frase de quatro maneiras diferentes: como uma ordem, uma súplica, um convite ou um convite sedutor. “O apresentador tem que ter presença e capacidade de persuasão”.

Sua experiência como ator ajuda um bocado. Tony explicou que para uma boa dicção, é importante trabalhar com os 30 músculos do rosto. “Um bom exercício é procurar falar com pedrinhas na boca. Isso te obriga a explorar a musculatura facial e articular melhor as palavras. Saboreie as palavras. Fale com calma, levando a palavra até a última sílaba bem pronunciada”, disse – e demonstrou.

A questão da ênfase também foi destacada por Tony Correia com uma frase, que repetiu quatro vezes enfatizando palavras diferentes: “Eu não disse que você pegou o livro da estante.” Acentuou primeiro o EU, depois VOCÊ, em seguida LIVRO e por último ESTANTE. E, realmente, demonstrou que o sentido da frase muda completamente dependendo da ênfase dada a cada palavra. “A modulação da voz é fundamental. Isso envolve o tom, o volume, a dicção, a inflexão, o ritmo, as pausas e os gestos.”

Trabalhando a boa voz e a boa dicção, Tony passou para a postura e ocupação do espaço. “Ao se mover para frente e para trás falando ou virar a cabeça para o slide, de costas para a plateia, o som muda e a compreensão fica difícil”, apontou. A dica é: de pé num determinado lugar, fale parado; ande para onde quer em silêncio e fale novamente parado no outro ponto.

E fechou com um slide bem-humorado: a imagem de um gato se olhando num espelho e se vendo como um leão. “Acredite em si mesmo e na sua capacidade de desenvolver habilidades de comunicação. Comunicar é ‘tornar comum’, ou seja, compartilhar com outros o seu conteúdo. Com empenho e dedicação, o bom resultado vai aparecer.”

Criatividade e recursos audiovisuais

O vencedor do Science Slam 2016 (veja aqui sua apresentação vencedora), André Azevedo da Fonseca, é doutorado em história pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná.

Ele diz que orienta seus alunos a construir apresentações com uma estética limpa. “A mensagem deve ser clara, cada imagem deve corresponder aquilo que você está dizendo. E quanto menos texto, melhor”, destacou.

andre-250.jpgEm consonância com a fala anterior da designer Paula Schuabb, André destacou que o mais importante é a mensagem. “O centro da mensagem é o conceito. E este pode ser apresentado como imagem. Imagens devem provocar reflexão, mas não devem ser cosméticas. E não podem exceder seu objetivo, atrapalhando a comunicação” Ele recomendou o uso, com comedimento, de gifs e memes. “É a linguagem atual. Resumem muitas ideias num texto curto e uma imagem”. E ainda recomendou boas fontes de imagens gratuitas e de qualidade, que podem ser usadas bastando dar o crédito: os sites Pixabay e Wikimedia Commons.

Assim como Tony Correia, André destacou a importância da empatia. “O palestrante tem que saber quem é o seu público, quais são seus desejos e necessidades”, disse, mostrando slides de comidas apetitosas que provocaram gargalhadas no público, dado que sua apresentação ocorria imediatamente antes do almoço.

Ele ressaltou também a importância da alternância de emoções durante uma apresentação: reflexão, emoção, humor. “ Depois de um momento de alta tensão, o humor adequado e bem colocado provoca relaxamento. Mas tem que ser usado com ética”, salientou.
Resumindo, André Azevedo afirmou: “Tudo que atrapalha a concentração na mensagem é ruim, tudo que ajuda a concentrar é bom. E comece com a parte séria, levando depois para o humor”, concluiu, projetando duas imagens de Einstein, a primeira bastante sério e a célebre foto com a língua de fora. “E vejam meu canal no YouTube!”, encerrou, com força na divulgação. E vale a pena ver. Experimente.

Bandnews FM repercute visita de cientistas ao Vaticano

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A Bandnews FM repercutiu a visita que o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich , os Acadêmicos Elibio Rech e Vanderlei Salvador Bagnato e o cientista brasileiro e ex-membro afiliado da ABC, Stevens Rehen fizeram à Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano. O encontro, que acontece nos dias 23 e 24 de outubro, discutiu as dificuldades enfrentadas pela comunidade científica latino-americana e avanços na área de biologia celular e genética.
Confira a reportagem abaixo e ouça a gravação com a entrevista do pesquisador Stevens Rehen:
Religião e ciência em um mesmo lugar. A visita recente de pesquisadores brasileiros ao Vaticano marca o encontro de duas correntes que entraram em conflito ao longo dos séculos, com casos históricos marcantes como o de Galileu Galilei, um dos nomes científicos mais brilhantes da humanidade, que acabou condenado pela Igreja Católica por defender a ideia de que a Terra girava em torno do sol.
O neurocientista Stevens Rehen estava na comitiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro que atravessou o oceano para defender e discutir as pesquisas no Brasil. Entre os assuntos, foram discutidos temas como o zika vírus e a microcefalia, e o uso da biotecnologia na agricultura.
O professor da UFRJ, Steven Rehens, conta sobre a experiência de se hospedar no Vaticano. Ele dormiu no mesmo andar que o Papa Francisco.
O encontro de pesquisadores e membros da Igreja Católica foi promovido através de uma pareceria entre a Academia Latino Americana de Ciências e a Academia de Ciência do Vaticano, fundada em 1603, e que na década de 70 foi presidida pelo brasileiro Carlos Chagas Filho.

Para onde vamos?

roitman_lateral.jpgO Acadêmico Isaac Roitman publicou coluna no blog Política Brasileira fazendo análise sobre o modelo político e econômico brasileiro atual e possíveis soluções para a crise que afeta diferentes setores do país.
Vivemos em um pequeno planeta do sistema solar que faz parte da Via Láctea. Estima-se que esta galáxia foi formada há 13 bilhões de anos e contém pelo menos 100 bilhões de estrelas, número esse que pode chegar a 400 bilhões. Essa galáxia, e o sistema solar e nosso planeta, se deslocam a uma velocidade de 871.781 km/hora. Para onde? Ninguém tem uma resposta adequada. Uma previsão foi feita por cientistas da NASA de uma colisão de nossa galáxia com a Andrômeda – a vizinha mais próxima da Via Láctea – daqui a aproximadamente 4 bilhões de anos. É uma escala de tempo imensa. Assim diante dessa complexidade, vamos humildemente refletir em uma escala de tempo mais razoável, e vamos remeter a pergunta, para onde irá o Brasil nas próximas décadas.
O Brasil no presente
Em 1967 Glauber Rocha em seu filme “Terra em Transe” revelou-se um premonitório do Brasil do presente. A ficção prefigurou a realidade. A escandalosa injustiça social continua e aumenta. Os políticos de todos os partidos se acusam entre si. Na sua retórica dizem que falam em nome de seus eleitores mas na realidade os ignoram. Tanto no filme de Glauber como no Brasil atual, os cidadãos são bombardeados por pesadelos cotidianos, sem esperanças de saídas virtuosas protagonizadas por políticos que utilizam uma retórica falsa. A crise social, econômica, moral e ética tem sido alimentada e construída pela grande mídia.
Geniberto Paiva Campos, membro do Movimento 2022 O Brasil que queremos descreve com propriedade o que acontece: “Para a exata compreensão do que acontece com o Brasil a partir da primeira década deste século, torna-se essencial refletir e assumir que o país foi, mais uma vez, objeto de manipulação político ideológica. Método infalível, aplicado nos mais diversos contextos. Para atender os mais diferentes objetivos. Às vezes sem qualquer sutileza, comandado por uma mídia tosca e soberana”. E completa: “E assim, o país caminha em marcha acelerada ao encontro do seu novo destino, atravessando a chamada Ponte para o Futuro, que deságua nas delícias civilizatórias do século 19. Época em que o trabalhador não tinha direitos, era em sua maioria negro escravo, e conhecia o seu lugar”.

Quais são os melhores caminhos?

É a hora de mudarmos o modelo econômico que não tenha como objetivos os ganhos econômico-financeiros. Precisamos aprender a fazer planejamento a longo prazo e escolher as prioridades. O desenvolvimento deve priorizar os objetivos sociais e culturais, principalmente o comportamento social e de costumes. O desmonte do sistema de Ciência e Tecnologia em curso, deve ser revertido e ao contrário deve ser estimulado, com mais investimentos, pois é o caminho para interromper um modelo de exportação predatória de nossos recursos naturais, substituindo-o por exportações de inovações tecnológicas, produtos da ciência e inteligência brasileira. O brasileiro trabalha muito mas produz pouco, devido à baixa qualidade da educação.
A educação de qualidade para todos as crianças e jovens brasileiros parece ser o melhor investimento para construirmos um futuro virtuoso para o Brasil. Não basta termos as crianças e jovens nas escolas. Elas devem ser prazerosas, lúdicas, fisicamente agradáveis e povoadas de educadores entusiasmados e socialmente reconhecidos – com salários e carreiras dignas – e com métodos de aprendizagem do século 21. Nesse ambiente escolar o educando não será somente bem preparado para ingressar no mundo do trabalho, com aceleradas transformações agora e certamente no futuro. Deverá também incorporar valores e virtudes para um relacionamento virtuoso com os seus semelhantes e com a natureza. Esse será o melhor caminho para conquistarmos uma verdadeira democracia, lembrando a origem da palavra grega demokratia que é composta por demas – que significa povo – e kratos – que significa poder.
Anísio Teixeira

É pertinente aqui lembrar o pensamento de Anísio Teixeira: “Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública”. Vamos nos inspirar no Mestre Anísio e construir um sistema público de educação de qualidade – da primeira infância à pós-graduação – para todas as crianças e jovens brasileiros/as. Esse é o melhor e talvez o único caminho.

Ciência é investimento

Coluna do publicitário Nizan Guanaes na Folha de S. Paulo dá voz à pesquisadora Lygia Pereira da Veiga.
sos_ciencia.png Viver é compartilhar. Tem muita gente compartilhando ódio, mas tem muita gente compartilhando amor, conhecimento e suas legítimas, respeitosas e respeitáveis opiniões.
Hoje compartilho este nobre espaço com uma grande amiga e cientista brasileira, Lygia da Veiga Pereira, professora titular e chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da USP.
Lygia e tantos outros cientistas vêm nos alertando sobre a importância da ciência e da tecnologia para o crescimento sustentável da sociedade e da economia brasileira.
Com a palavra, Lygia:
“Ciência não é gasto –ciência é investimento!” Com esse bordão, nós, cientistas, conseguimos pela primeira vez viralizar um vídeo nas redes sociais revelando a situação calamitosa de falta de recursos para pesquisas, que está destruindo a infraestrutura de ciência, tecnologia e inovação construída com muito suor nas últimas décadas.
Fazer ciência por aqui nunca foi fácil. Mas o prenúncio da tempestade atual veio quando o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) foi fundido com o das Comunicações, virando a quimera MCTIC.
Desde então, o orçamento para CTI, que já era dos mais baixos, teve corte de 44%, sobrando só R$ 2,5 bilhões para fomentar a atividade.
Mas, com o cobertor tão curto diante da crise fiscal, por que gastar com ciência, tecnologia e inovação? Porque esse trio é justamente a saída mais perene e saudável para garantir uma economia pujante.
Coreia do Sul e Israel, por exemplo, investem 4% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D), e hoje, em meu carro coreano, sou guiada por um aplicativo israelense para escapar do trânsito. Aqui, no Brasil, investimos só 1% do PIB em P&D.
Mesmo assim, a ciência brasileira foi capaz de criar uma grande exportadora de aviões, transformar o país na maior potência agrícola mundial, inventar o bioetanol, descobrir que a zika causa microcefalia, extrair mais da metade do petróleo do pré-sal e muito mais. Essas conquistas são fruto de investimentos passados e demonstram a capacidade intelectual e produtiva de nossa comunidade científica quando lhe são dadas as condições adequadas –yes, we can!.
Precisamos de vontade política para tornar educação e ciência prioridades estratégicas para a construção do Brasil melhor. Mas educação efetiva, valorizada, que vá muito além de estatísticas de alunos formados, porém analfabetos funcionais –uma educação que revele os grandes talentos hoje desperdiçados. E ciência levada a sério, com investimentos consistentes, vontade política para desburocratizar a vida dos pesquisadores e a promoção de interações academia-iniciativa privada para que juntos transformemos os novos conhecimentos em produtos.
O orçamento de CTI para 2018 está sendo discutido na Câmara. Corremos o risco de ele ser menor ainda que o de 2017, quando deveria ser maior.
Como dissemos no nosso vídeo, sem ciência, não existe remédio, não existe energia, não existe agricultura, não existe transporte. Sem ciência, não existe conhecimento, não existe solução, não existe cura. Parlamentares, lembrem-se: ciência não é gasto, ciência é investimento”.
Essas são as palavras de Lygia, que eu assino embaixo (e lá em cima). Defendo o ajuste fiscal e reconheço que é muito difícil realizar os cortes necessários dos gastos públicos num país tão carente como o nosso. Infelizmente, não há bancada da ciência no Congresso. Mas a voz dos nossos cientistas precisa ser ouvida.

Conferência do Clima da ONU alerta para recordes de desastres climáticos

logo-cop23.png O planeta está batendo recordes seguidos das maiores temperaturas da história, de aumento do nível do mar, do número de tempestades, secas, inundações, incêndios, furacões e ciclones.
É o que afirma o relatório apresentado na plenária de abertura da COP-23, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontece até o final da próxima semana em Bonn, na Alemanha.
O documento da OMM (Organização Meteorológica Mundial) – agência da ONU para questões de clima, tempo e água – compila dados de diversas agências sobre a ocorrência de eventos climáticos extremos no mundo e revela um 2017 de recordes absolutos na frequência e na intensidade desses fenômenos.
O aumento da ocorrência de eventos extremos acompanha a curva de crescimento das emissões de gases-estufa e do aumento da média de temperatura global, como mostra o relatório.
De 2015 a 2016, a taxa de emissões de gases-estufa foi a maior já registrada, chegando a um total de 403,3 partes por milhão na atmosfera. Já a média de cinco anos, de 2013 a 2017, é 1,03°C acima do período pré-industrial e também a mais quente já registrada.
O nível do mar, no entanto, está retornando a valores mais próximos da tendência de longo prazo, depois de um pico em 2016 com aumento de 10 mm acima da média da última década -influenciada pelo último El Niño.
Os oceanos seguem, mesmo assim, entre as três maiores médias de temperatura já registradas, o que vem aumentando a destruição de corais e a acidificação das águas. As geleiras do Ártico e da Antártica também batem recordes negativos: as cinco extensões máximas mais baixas ocorreram de 2006 para cá.
EVENTOS EXTREMOS
Secas e tempestades aparecem no relatório da OMM como os eventos extremos com mais danos calculados. Na China, as perdas pela inundação na bacia do rio Yangtze, em 2017, somaram U$ 5 bilhões e 56 mortes.
Em Bangladesh, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 13 mil casos de doenças transmitidas pela água e infecções respiratórias foram relatados durante as ocorrências de tempestades com inundações e deslizamentos de terra neste ano.
Fortes chuvas também causaram desastres em Serroa Leoa, Colômbia, Nepal, Índia, Peru e Inglaterra. Entre outros recordes, o último inverno nos EUA foi o mais chuvoso registrado para Nevada e o segundo mais úmido para a Califórnia.
Já a severidade das secas castiga com mais danos os países mais pobres.
Com os rebanhos reduzidos em até 60% desde dezembro de 2016, a Somália tem hoje o dobro de pessoas à beira da fome: já são mais de 800 mil afetadas pelos prejuízos na agricultura e a redução de rebanhos, segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU.
As ondas de calor também chegaram a novos limites, passando de 54°C em vários locais do Oriente Médio e chegando a 43,5°C em janeiro em Puerto Madryn, na Argentina -a maior temperatura já registrado tão ao sul da Terra.
Os dados da OMM também mostram que o calor extremo e a seca contribuíram para incêndios florestais destrutivos recentes no Chile, Brasil, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Portugal, Espanha, Croácia, Itália e França.
Mas o extremo mais impressionante foi a série de furacões neste ano no Atlântico Norte.
Foi a primeira vez que dois furacões da Categoria 4 (Harvey e Irma) atingiram a terra no mesmo ano nos EUA. Irma teve ventos de 300 km/h por 37 horas -o mais longo no registro de satélite naquela intensidade, tendo passado três dias consecutivos como um furacão de Categoria 5, também o mais longo registrado.
Maria também atingiu a categoria 5 e causou grandes destruições. Para a OMM, “é provável que a mudança climática induzida pelo ser humano torne as taxas de precipitação mais intensas e que o aumento contínuo do nível do mar exacerbem os impactos das ondas de tempestade.”
NEGOCIAÇÃO
É a primeira vez que um pequeno país insular preside a COP do Clima: Fiji, uma das ilhas mais vulneráveis à mudança climática, conduz as negociações da COP-23, que acontece na Alemanha por falta de condição de Fiji receber seus participantes. A ilha, que corre risco de extinção, podendo ficar totalmente submersa, foi devastada no ano passado pelo ciclone Winston, que matou 44 pessoas e destruiu um terço do PIB do país.
Com as negociações conduzidas pelos que mais dependem do seu sucesso, a expectativa é que o mecanismo de perdas e danos e as finanças para a adaptação aos impactos das mudanças climáticas ganhem maior importância na mesa.
Apesar da situação de vulnerabilidade, a presidência de Fiji pretende conduzir a COP com o que esse país chama de “Espírito Bula”: com inclusão, simpatia e solidariedade. “Não se trata de apontar o dedo e culpar, mas de ouvir e aprender uns com os outros, compartilhar histórias, habilidades e experiências”.
“Ao se concentrar nos benefícios da ação, esse processo movimentará a agenda global do clima”, afirmou à imprensa o presidente da COP-23 e primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama.
Para o climatologista da USP Paulo Artaxo [membro titular da Academia Brasileira de Ciências – ABC], a presidência de Fiji bate em uma tecla fundamental para o funcionamento do Acordo de Paris. “Mecanismos de compensação e transferência de tecnologia precisam sair de baixo da mesa para o centro da negociação”, afirma.
Perguntas e Respostas
O QUE ESTÁ EM JOGO
O que é a COP-23?
A 23ª conferência das partes da Convenção sobre Mudança do Clima das Nações Unidas é um encontro internacional que tem o objetivo de discutir medidas para desacelerar o aquecimento global. O país-anfitrião é Fiji, mas o evento acontece em Bonn, na Alemanha, até o dia 17 de novembro.
Por que Bonn?
Embora Fiji esteja presidindo politicamente a conferência, o país não tem estrutura para receber as delegações. Por isso, a Alemanha se comprometeu a sediar a COP-23.
Quem participa?
Cerca de 25 mil pessoas estarão presentes na COP-23. Entre eles os integrantes das delegações de 195 países, além de lobistas, cientistas e ambientalistas.
O que será discutido?
O principal objetivo é definir regras para o cumprimento do Acordo de Paris. A ideia é detalhar como serão atingidas as metas de redução do aquecimento global estabelecidas pelo documento, e determinar parâmetros de fiscalização do desempenho dos países.
O que é o Acordo de Paris?
O documento foi assinado por 195 partes durante a COP-21, em 2015. Na ocasião, foi firmado o compromisso de limitar o aumento na temperatura média global em menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais, com intenção de não ultrapassar 1,5ºC.
O que esperar dos EUA na COP-23?
Em junho, o presidente americano, Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos deixarão o Acordo de Paris. Ainda assim, a delegação americana deve participar ativamente nas negociações sobre a implementação do acordo.
Segundo país que mais polui no mundo, atrás apenas da China, os EUA só poderão abandonar o tratado em 2020.
E do Brasil?
A comitiva brasileira chega à COP-23 pressionada pelo crescimento do desmatamento da Amazônia nos últimos anos e o aumento de 9% nas emissões de gases de efeito estufa em 2016.
A delegação encabeçada pelo ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney (PV-MA), realizará debates sobre desmatamento e buscará captar recursos internacionais para preservação ambiental.
OS RECORDES QUE BATERAM EM NÓS
Os eventos climáticos extremos cresceram exponencialmente na última década:
Aumento das emissões
De 2015 a 2016, a taxa de emissões de gases-estufa foi a maior já registrada, atingindo um total de 403,3 partes por milhão na atmosfera.
Temperatura global
As temperaturas em 2015 e 2016 foram impulsionadas por um El Niño excepcionalmente forte. Mas 2017 é o ano mais quente registrado sem uma influência de El Niño. A média de cinco anos entre 2013 e 2017 é 1,03°C acima do período pré-industrial e também o período mais quente já registrado.
Oceanos revoltos
Com o aumento da temperatura média da água do mar, crescem o branqueamento de corais e a acidificação das águas. O nível do mar, no entanto, está voltando a valores próximos da tendência de longo prazo, depois de um pico em 2016 com aumento de 10mm acima da tendência da última década, motivada pelo El Niño.
Derretimento dos polos
A extensão do gelo do mar do Ártico bateu recordes de baixa nos primeiros quatro meses de 2017. As cinco extensões máximas mais baixas da história ocorreram de 2006 para cá. A extensão do gelo do mar da Antártida também foi bem abaixo da média e próxima ao recorde negativo. As condições de gelo do mar na Antártida têm sido altamente variáveis ao longo dos últimos anos.
Ondas de calor
Uma onda de calor extrema afetou Chile e Argentina em janeiro, quando diversos locais atingiram suas temperaturas recordes na história. O sudoeste asiático foi atingido em maio, com temperaturas chegando a 54ºC em Turbat, no Paquistão. O Mediterrâneo também experimentou uma onda de calor em julho, com 46,9ºC em Córdoba, na Espanha. Em agosto, foi a vez de Itália, Croácia e França experimentarem ondas de calor.
Ciclones tropicais
Foi a primeira vez que dois furacões da Categoria 4 (Harvey e Irma) atingiram a terra no mesmo ano nos EUA. Em outubro, Ophelia alcançou seu ápice (categoria 3) a mais de 1.000 km além do nordeste do que qualquer outro furacão do Atlântico Norte. Isso causou danos na Irlanda, enquanto os ventos associados à sua circulação contribuíram para incêndios em Portugal e Espanha.
Secas
A África Oriental foi atingida por severas secas em 2016 e 2017. Na Somália, por exemplo, mais da metade da área de cultivo foi afetada. No Mediterrâneo, diversas regiões também sofreram com as secas. A mais intensa aconteceu na Itália, onde a produção de azeite caiu 62% em 2017, em comparação ao ano anterior.
Veja os infográficos e fotos dos desastres relacionados a extremos climáticos na matéria original.

Programa Roda Viva discute C&T no Brasil

mayana_5_edit.jpgO programa Roda Viva, da TV Cultura, promoveu na segunda-feira, 6 de novembro, uma edição temática sobre ciência e tecnologia. A atração colocou em debate o financiamento e as perspectivas dessa área. Na bancada, cinco pesquisadores convidados: o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz; o diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e do Projeto Sirius, Antônio José Roque da Silva; a Acadêmica e diretora do Centro de Pesquisa do Genoma Humano e Células-tronco (CEGH-CEL) do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz; o diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, Paulo Saldiva; e a professora do Departamento de Bioquímica da USP, Alicia Kowaltowski.
O programa discutiu questões como o corte verbas para financiamentos de pesquisas, as perspectivas para os próximos anos e as políticas de outros países em C&T comparadas à adotadas pelo Brasil.
Detalhes do Projeto Sirius, desenvolvido pelo Laboratório Nacional Síncrotron, também foram assunto. O laboratório deve abrir novos horizontes nos campos da nanotecnologia, biotecnologia, física e ciências ambientais.
O programa tem a apresentação de Augusto Nunes e conta com a participação fixa do cartunista Paulo Caruso. Confira o debate aqui.

Acadêmicos recebem homenagem da RNP

rnp_1_edit.jpgA Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) entregou na segunda-feira, 6 de novembro, o Diploma de Construtores da Internet.br a pesquisadores e representantes de instituições que contribuíram para o estabelecimento da internet no Brasil, entre 1992 e 1993. O ex-presidente da ABC, Jacob Palis, e os Acadêmicos Carlos José Pereira de Lucena, Edmundo de Souza e Silva, Jonas de Miranda Gomes e José Roberto Boisson de Marca foram alguns dos homenageados na cerimônia, que aconteceu na sede da RNP, no Rio de Janeiro.
Confira abaixo lista completa dos homenageados.
Categoria nacional:
Alberto Courrege Gomide (Fapesp);
Alexandre Leib Grojsgold (LNCC);
Ana Beatriz Zoss (RNP);
Armando Delgado (RNP);
Augusto Cesar Gadelha Vieira (LNCC);
Carlos Alberto Afonso (Ibase/Alternex);
Carlos José Pereira de Lucena (PUC-Rio);
Carlos Vogt (UNIEMP);
Claudine Bichara de Oliveira (RNP);
Danton Nunes (Inpe);
Demi Getschko (Fapesp);
Edmundo de Souza e Silva (UFRJ);
Eduardo Tadao Takahashi (RNP);
Eratóstenes Edson Ramalho de Araújo (CNPq);
Evaristo Eduardo de Miranda (Embrapa);
Glêdson Elias da Silveira (RNP);
Hans Kurt Edmund Liesenberg (RNP);
Ivan Moura Campos (CNPq/MCT);
Jacob Palis (Impa);
Jonas de Miranda Gomes (Impa);
José Augusto Suruagy Monteiro (UFPE);
José Rincon Ferreira (Ibict);
José Roberto Boisson de Marca (PUC-Rio);
Leo Pini Magalhães (RNP);
Leônidas Freitas (Embratel);
Lúcia Carvalho Pinto de Melo (Fundaj);
Luciana Junqueira de Oliveira Goes (RNP);
Luiz Eduardo Buzato (Unicamp);
Manuel Fernando Lousada Soares (CNPq);
Marcello Emilio Frutig Filho (RNP);
Michael Anthony Stanton (PUC-Rio);
Nicolau Carlos Terebesi Meisel (Finep);
Paulo Henrique Aguiar Rodrigues (UFRJ);
Paulo Tosta (Finep);
Raul César Baptista Martins (IBM);
Renato Baumgratz Viotti (UFMG);
Rodolfo Baccarelli (RNP);
Saliel Figueira Filho (Ibase/Alternex);
Silvio Romero de Lemos Meira (UFPE);
Vilson Sarto (Fapesp);
Wilma Aparecida da Silva (RNP).
Categoria Estadual
Bahia
Aloisio de Oliveira Reis (UFBA);
Claudete Mary de Souza Alves (UFBA);
Luiz Cláudio Mendonça (UFBA);
Nelson De Luca Pretto (UFBA).
Ceará
Antônio Mauro Barbosa de Oliveira (UFC);
Mauro Cavalcante Pequeno (UFC);
Rossana Maria de Castro Andrade (UFC);
Tarcisio Pequeno (UFC).
Distrito Federal
Carlos Augusto Campana Pinheiro (RNP);
José Wilson A. do Nascimento (RNP);
Leonardo Lazarte (RNP);
Nelson Simões da Silva (RNP);
Paloma de Almeida (RNP);
Pilar de Almeida (RNP).
Minas Gerais
Jose Marcos Silva Nogueira (UFMG);
Márcio Luiz Bunte de Carvalho (UFMG);
Murilo Monteiro (UFMG);
Roberto Nogueira (UFMG).
Pará
Antônio Tobias Silveira (UFPA);
Nelson Ramos Ribeiro (UFPA), in memoriam;
Paulo Cabral Filho (UFPA).
Paraná
Heraldo Madeira (UFPR);
Sérgio Scheer (UFPR).
Pernambuco
Ariana Martins (RNP);
Clarice Castro (RNP);
Claudio Marinho (UFPE);
José Arivaldo Frazão Jr. (RNP);
Maria Teresa Silva de Moura (RNP);
Tânia Saraiva de Melo Pinheiro (RNP).
Rio de Janeiro
Fernando Peregrino (UFRJ);
Luis Felipe Magalhães de Moraes (UFRJ);
Luiz Eduardo de Souza Coelho (PUC-Rio);
Newton Faller (RNP) – in memoriam;
Zieli Dutra (UFRJ).
Rio Grande do Sul
Gelson Dias Santos (UFRGS);
Jussara Issa Musse (UFRGS);
Leandro Márcio Bertholdo (UFRGS);
Liane Margarida Rockenbach Tarouco (UFRGS).
Santa Catarina
Edison Tadeu Lopes Melo (UFSC).
São Paulo
Adriano Mauro Cansian (USP).

Aos 65 anos, instituto de matemática luta para melhorar formação e reduzir barreiras de gênero

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A cena é comum quando a nota chega à mesa do restaurante e precisa ser dividida. Tem sempre alguém que diz logo “eu não sei fazer conta” e passa adiante a tarefa. “E isso é considerado normal, ninguém acha nada demais”, espanta-se o matemático Artur Avila [membro titular da Academia Brasileira de Ciências], de 38 anos, o único brasileiro ganhador da Medalha Fields, honraria internacional conhecida como “o Nobel da matemática”. “Mas as pessoas teriam vergonha de dizer: eu não sei ler. Né?”, questiona.
O horror à matemática é um traço cultural significativo no Brasil. Não por acaso, o país tem um dos piores desempenhos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) justamente nesta disciplina. O curioso é que este mesmo País abrigue o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), considerado um centro de excelência no ensino da matéria, comparável a algumas das mais importantes universidades do mundo, como Princeton, Stanford, MIT e Harvard.
Popularizar a matemática é, justamente, o maior desafio do Impa, que acaba de completar 65 anos. Fundado em 1952, o instituto foi a primeira unidade científica criada pelo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), do governo federal, e já tinha como objetivo, além da formação de pesquisadores, a difusão e o aprimoramento da cultura matemática no Brasil.
Do ponto de vista de produção de conhecimento e reconhecimento internacional a história do Impa é de sucesso absoluto. Este ano, o país foi sede, pela primeira vez, da Olimpíada Internacional de Matemática. No ano que vem, também pela primeira vez, o Brasil receberá o Congresso Internacional de Matemáticos, que acontece a cada quatro anos e onde são anunciados os agraciados com a Medalha Fields.
Justamente neste encontro há outro brasileiro com chances reais de receber a honraria. Trata-se do matemático Fernando Codá Marques [membro titular da ABC], que trabalhou durante onze anos no Impa. Atualmente, é professor da Universidade de Princeton.
“O Impa é uma instituição verdadeiramente excepcional”, atesta Marques, em entrevista por email. “É um centro de excelência reconhecido internacionalmente e está na fronteira do conhecimento nas várias linhas de pesquisa que possui. Chegar a tal patamar em pouco mais de meio século não foi tarefa fácil, não conheço exemplo igual.”
Outro matemático premiado, Jacob Palis [ex-presidente da ABC], de 77 anos 50 anos de Impa, já recebeu 59 prêmios.
“A escolha dos pesquisadores sempre foi muito criteriosa”, afirma ele, que já recebeu até a Legião de Honra, outorgada pelo governo francês. “Nunca houve concessões.”
Do ponto de vista da popularização da matemática, no entanto, os avanços são mais lentos. “Existe uma aceitação de que a matemática não é para todos, e a nossa sociedade reproduz isso”, afirma Avila. Ele é pesquisador do Impa, e foi o primeiro – e único – matemático de todo o hemisfério sul a receber a Medalha Fields. O atual diretor do Impa, Marcelo Viana [membro titular da ABC], concorda com ele.
“A matemática não é um grande problema para as crianças pequenas; para a grande maioria, não há mistério em aprender as quatro operações aritiméticas, área, volume. Nesta fase, a matemática da sala de aula faz sentido, fala de coisas que as crianças entendem: maior, menor, mais bala, menos bala”, avalia Viana.
Segundo ele, a matemática se torna um bicho papão depois, quando a criança avança um pouco e a matéria se torna mais abstrata, com uma relação menos óbvia com a realidade e o papel do professor se torna mais importante.
“De modo geral, eles não estão preparados, não receberam a formação adequada”, diz.
A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), organizada pelo Impa, é a maior olimpíada escolar do mundo, com 18,24 milhões de participantes em 99% dos municípios brasileiros. Em comparação, o Enem, por exemplo, tem apenas 6 milhões de participantes anualmente.
“A Olimpíada é um grande sucesso, mas pode ser melhorada”, diz Viana. “Este ano vamos ampliá-la e teremos a participação também das escolas particulares. E um dos nossos projetos é que ela seja aberta a crianças mais novas, antes do sexto ano.”
Um desafio maior ainda será derrubar a barreira do gênero. Se para as crianças em geral a matemática é um bicho papão, como diz Viana, no caso das meninas é ainda pior.
“O problema começa em casa, com a própria família, e os brinquedos ‘de menino’ e ‘de menina’”, atesta a matemática Carolina Araujo [ex-membro afiliado da ABC], de 41 anos, única mulher entre os 47 pesquisadores do Impa. “Depois segue na escola com o preconceito dos próprios professores.”
Para Araujo, a falta de diversidade é ruim para a ciência.
“Já está comprovado cientificamente que grupos heterogêneos são mais eficientes justamente porque contam com mais pontos de vista diferentes”, afirma.

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