Boniek Gontijo Vaz nasceu em 1986 em Taguatinga, no Distrito Federal, mas viveu até seus 17 anos em Buritis, pequena cidade do noroeste mineiro, a cerca de 200 km de Brasília. Filho de produtores rurais, sua infância e adolescência foram passadas numa pequena fazenda, na zona rural do munícipio. Foi ali, juntamente com seu irmão, que aprendeu a observar a natureza, indagar e criar as suas próprias brincadeiras com aquilo de que dispunham. “Naquela época não havia energia elétrica na fazenda, então o cerrado e os campos eram nosso play”, conta o Acadêmico.

A curiosidade sempre acompanhou Boniek. Desde muito pequeno queria saber o porquê das coisas. Ele conta que quando tinha quatro anos ganhou uma peteca, feita com o maior capricho pela avó, e a abriu para ver o que tinha dentro. Seus pais, que não chegaram a concluir o ensino fundamental, lutavam tentando dar explicações razoáveis para suas perguntas. “Eu sempre gostei de entender como as coisas funcionavam, como eram feitas, queria entender a natureza. Desde muito novo dizia que seria cientista”, relembrou.

Entre as muitas brincadeiras com seu irmão e primos, Boniek lia muito e estudava. Quando ia para a cidade, um de seus passatempos prediletos era folhear a enciclopédia de ciências na casa da avó ou passar a tarde na biblioteca municipal. Seus pais sempre o incentivaram a seguir nos estudos e se esforçaram muito para oferecer uma educação de qualidade aos filhos.

O cientista conta que o interesse pela química surgiu no seu primeiro contato, ainda na antiga 8ª série. “Era uma disciplina que explicava como a matéria e todas as coisas eram compostas, foi amor à primeira vista.” Desde então, decidiu-se a cursar química – e foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 2004.

Na faculdade, o amor só cresceu – principalmente ao tomar conhecimento da imensidão abrangida pela química e da interdisciplinaridade da área, por meio de relatos de alguns professores e pelos inúmeros seminários oferecidos no Departamento de Química da UFSCar. Também logo entendeu a dimensão do aprendizado que teria fazendo pesquisa, tanto pelas palestras dos professores, quanto por meio dos colegas que faziam iniciação científica.

Assim, lá foi ele ter seu primeiro contato com a ciência prática no Laboratório de Síntese de Produtos, onde passou dois anos fazendo a iniciação científica. Nesse período, ele sintetizou e caracterizou alguns derivados da chalepina, uma cumarina natural que havia apresentado valor interessante de atividade inibitória contra enzima gGAPDH de Trypanossoma cruzi, o agente etiológico da doença de

Chagas e teve contato com várias técnicas instrumentais. Dentre elas, a espectrometria de massas chamou sua atenção e, após a graduação, foi para Campinas para realizar mestrado (2009) e doutorado (2011) na área pela qual havia se encantado. “Lá, além de atuar nas múltiplas faces da espectrometria de massas e conhecer suas aplicações em diversos campos da ciência, fiz grandes amigos e parceiros”, relata Vaz.

No mestrado, ele utilizou a técnica para compreender os mecanismos das reações que realizava na síntese de derivados de cumarinas em sua iniciação científica. Já no doutorado, dedicou-se ao estudo composicional de misturas complexas, como o petróleo, utilizando a espectrometria de massas de ultra alta resolução. Sua tese de doutorado foi uma das primeiras no campo da petroleômica, uma área da ciência que visa caracterizar de forma abrangente o petróleo e, ultimamente, utilizar a informação composicional para prever propriedades, antever e solucionar problemas durante as fases de exploração, produção e refino do petróleo.

Hoje, o Acadêmico é professor associado do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ-UFG), pesquisador 1D do CNPq e coordena o Laboratório de Cromatografia e Espectrometria de Massas (LaCEM). No laboratório, Boniek Vaz lidera pesquisas com foco no desenvolvimento instrumental, de métodos e protocolos analíticos e bioanalíticos para identificação abrangente de moléculas e biomoléculas em misturas complexas. Dedica-se especialmente ao estudo da composição do petróleo e à compreensão dos processos geoquímicos envolvidos na formação do óleo, com vistas ao desenvolvimento de novos indicadores moleculares para minimizar incertezas e subsidiar ações na exploração e produção de petróleo.

Para Vaz, sua área de atuação lhe permite, no momento, desbravar o desconhecido. “É muito prazeroso descobrir a constituição molecular de substâncias, produtos e materiais”, apontou o pesquisador. “A ciência nos permite alcançar feitos incríveis e isso retorna para a sociedade, é o que nos move.”

Tornar-se membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências, para Boniek Vaz, foi “uma felicidade e honra sem igual, um grande reconhecimento, já que ABC reúne pesquisadores brasileiros de renome, que buscam sempre avançar e fortalecer a ciência nacional nos mais diferentes campos. Ademais, é um combustível a mais para seguir em frente na estrada científica e oportunidade ímpar para aprender nas diversas atividades promovidas pela Academia”, declarou.

Em seu tempo livre, o Acadêmico dedica-se a atividades físicas ao ar livre, especialmente correr e pedalar antes do amanhecer. Adora filmes, séries e livros de ficção científica, assim como viajar e conhecer novos lugares. E declara que ama ficar em família, cuidando e brincando com os dois filhos, Lucas e Theo.