Leia a matéria de Bruno Alfano para o jornal O Globo, publicada em 20/10:

O aumento de casos na Europa e Estados Unidos deve acender um alerta em gestores brasileiros. A avaliação é do neurocientista e professor catedrático da Universidade de Duke (EUA) Miguel Nicolelis [membro titular da ABC], que coordena o Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a COVID-19.

Segundo Nicolelis, o país precisa fazer um estoque de remédios e equipamentos de proteção individual (EPI) agora para não se ver sem os produtos caso eles se tornem escassos no mercado internacional como no começo da pandemia. Outra medida sugerida é a suspensão de voos internacionais da Europa para o Brasil.

Apenas na semana passada, mais de 8 mil pessoas morreram de COVID-19 na Europa. O continente voltou a tomar medidas duras para conter um novo avanço da doença. Neste domingo, por exemplo, a Itália bateu pelo quarto dia seguido seu recorde diário de novos casos de COVID-19.

O Brasil vê uma tendência na queda dos números. Isso pode ser afetado?

Sim. Estamos em tendência de queda, mas ainda com um platô alto. Qualquer novo evento pode fazer essa instabilidade disparar para cima. Temos que nos preparar agora. Isso significa pensar em fechar o espaço aéreo brasileiro, reabastecer de máscaras, testes, EPIs, medicamentos. Tudo que faltou no primeiro momento da nossa crise. E tem que preparar a população para a possibilidade de retorno de restrições mais rígidas como está acontecendo na França, Alemanha e Portugal.

Que outras medidas são necessárias para o Brasil evitar esse novo crescimento de casos?

Eu já estou pensando no final do ano. Nas festas que, em teoria, não deveriam ocorrer. Deveriam ser coisas familiares, restritas. Se a maioria de lugares cancelou o carnaval, o réveillon é a próxima bomba relógio. É ainda mais preocupante do que o carnaval, que é uma festa nacional. Vem muita gente do exterior. Inclusive, a qualquer instante, os EUA devem fechar o espaço aéreo para a Europa, como já aconteceu nesse ano.

O senhor liderou um trabalho identificando que a curva epidemiológica do coronavírus foi adiada em regiões atingidas pela dengue em 2019 e 2020, o que aponta uma possível similaridade na resposta imunológica aos dois patógenos. Há novas descobertas?

Estamos ampliando esse estudo, fazendo um levantamento em mais de cem países, inclusive com dados detalhados do México e Colômbia. Em Israel, um grupo analisou 95 amostras de sangue de pessoas que tiveram dengue e 22 deram falso positivo para coronavírus. Esse sangue foi colhido em setembro de 2019. Então não poderia ser COVID-19. O que acontece é que o soro das pessoas tinha alguma coisa que reagiu com os antígenos do coronavírus e deu falso positivo. Isso me deu um reforço muito grande da minha tese. Eles acharam independentemente da nossa pesquisa.

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