Na abertura da Reunião Magna da ABC, após a palestra da ganhadora do Prêmio Nobel de Química 2018, Frances Arnold, foi realizada a SESSÃO SOLENE DA ABC, em 23 de setembro de 2020, a partir das 18h.

O evento on-line reuniu a entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto e a concessão de títulos pelo CNPq; o lançamento do quinto vídeo da série “Ciência Gera Desenvolvimento”, produzida pela ABC e a apresentação dos Novos Membros Titulares e Correspondentes da Academia Brasileira de Ciências.

A sessão foi promovida pela ABC, pelo CNPq, pela Fundação Conrado Wessel (FCW) e pela Marinha do Brasil, com patrocínio da Capes e da FCW.

A transmissão aconteceu pelas redes sociais (Facebook e Youtube) nos perfis da ABC, CNPq, MCTI e Marinha do Brasil.

A mesa de honra contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, astronauta Marcos Pontes; o comandante da Marinha do Brasil, almirante de esquadra Ilques Barbosa Junior; o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Acadêmico Evaldo Ferreira Vilela; o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Acadêmico Luiz Davidovich; e o presidente da Diretoria Executiva da Fundação Conrado Wessel, Hélio Levisky. Os espectadores que acompanharam a transmissão pelas redes sociais também foram saudados.

 

Títulos de Pesquisador Emérito do CNPq

O título é concedido a pesquisador brasileiro ou estrangeiro, radicado no país há pelo menos dez anos, pelo conjunto de sua obra científica e tecnológica e pelo seu renome junto à comunidade científica.

Receberam o título, dentre outros, os Acadêmicos Carlos Henrique de Brito Cruz, Hernan Chaimovich, Frederico Graeff, Jacob Palis e Luiz Bevilacqua.

 

 

Menções Especiais de Agradecimentos do CNPq

Essas homenagens são concedidas a pessoas físicas ou jurídicas em reconhecimento aos significativos serviços prestados ao crescimento, desenvolvimento, aprimoração e divulgação do CNPq no ano anterior à entrega do título.

Foram homenageados a Fiocruz, o presidente da SBPC Ildeu Moreira, o Instituto Serrapilheira, o senador Izaci Lucas, o presidente da ABC Luiz Davidovich e o presidente do Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Pedro Wongtschowski.

 


 

Outorga do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia

 O Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia é uma parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação Conrado Wessel (FCW) e a Marinha do Brasil.

Ele é oferecido há 34 anos e consiste na mais importante honraria em ciência e tecnologia do país, reconhecendo e estimulando pesquisadores e cientistas brasileiros que prestam relevante contribuição ao país.

Ao agraciado são concedidos diploma e medalha do CNPq e MCTI; premiação em espécie concedida pela FCW; visita ao Centro Tecnológico da Marinha, em São Paulo, para conhecer o Programa Nuclear da Marinha e uma viagem à Antártica, oferecidas pela Marinha do Brasil.

Na edição 2020, a área do conhecimento contemplada é a de ciências da vida e a agraciada é a Professora Helena Bonciani Nader.

O apresentador relatou a trajetória da premiada, que é professora na Unifesp desde 1989 e membro titular da Academia de Ciências de São Paulo (Aciesp) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da qual é atualmente vice-presidente. Seus trabalhos na área de glicobiologia são referência internacional, o que rendeu a ela dezenas de prêmios importantes.

Além da brilhante trajetória científica, Nader também é uma ferrenha defensora da ciência e da educação brasileira. Sua atuação incessante foi marcada nos últimos anos pela presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência por nove anos.

Agradecendo a premiação, Nader ressaltou que como brasileira, professora, cientista, mãe, avó e, principalmente cidadã, que recebeu naquele dia a mais alta honraria da ciência brasileira, ela não podia se calar. Assim, se solidarizou com as famílias e amigos dos mais de 137.000 brasileiros e brasileiras que perderam suas vidas nesta pandemia.

 

 

“A COVID-19 mostrou e continua demonstrando o valor da ciência. A ciência brasileira, mesmo subfinanciada, mostrou sua força. Porém, o que se vê é uma redução ainda maior dos recursos. Infelizmente, no Brasil, educação, ciência, tecnologia e inovação continuam a ser encarados como gastos e não como investimentos”, apontou Nader.

A vice-presidente da ABC alertou que o país não cumpre a política de Estado para educação e CTI. “Essa postura ocorre em todos os níveis – Federal, Estadual e Municipal. Inclusive, hoje em São Paulo, meu estado, estamos vivenciando essa falta de visão estratégica, com total desrespeito aos valores da educação e da ciência, sem responsabilidade social, ignorando e negando o valor da educação e da ciência na história de sucesso do estão”, ressaltou.

Helena Nader agradeceu ao ministro Marcos Pontes pela parceria no esforço para conseguir mais recursos para o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.

Ela declarou o orgulho em receber esse prêmio, oferecido por duas grandes instituições, o CNPq e a FCW, que leva o nome de um grande líder da ciência brasileira. “Prometo aqui honrar essa tríade que me homenageia nesta data. E a ABC, que nos últimos anos tem sido a instituição anfitriã dessa grande solenidade.

 

Ciência para solucionar crises mundiais

Em seguida, o Acadêmico Evaldo Ferreira Vilela, presidente do CNPq, cumprimentou especialmente Helena Nader e ressaltou os 39 anos de continuidade do Prêmio Álvaro Alberto, celebrando a excelência da ciência brasileira.

“Celebra-se também o líder visionário Almirante Álvaro Alberto, que “concretizou a concepção de uma estrutura central de investimento em pesquisa no Brasil”, que fundou o CNPq, captando a mensagem circulante no mundo pós-guerra de que o conhecimento e a tecnologia gerados pela ciência promovem desenvolvimento e soberania dos países.

Agora segundo Vilela, o mundo se volta novamente para a ciência, no enfrentamento conjunto do inimigo comum que é o coronavírus. A pandemia traz consigo a realidade de que só a ciência é capaz de trazer soluções eficazes e promover o bem comum.

Cumprimentou todos que receberam honras nessa noite, “referências de excelência em suas áreas de pesquisa, que merecem o reconhecimento de todos os brasileiros.”

 

Helena Nader: “Sem ciência não há tecnologia nem inovação”

O diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel, Hélio Levisky, relatou que esta é a 14ª vez que a FCW patrocina o Prêmio Álvaro Alberto, com 30% do total das outorgas. “A FCW se orgulha desse fato, porque este é um dos momentos na história da humanidade em que a ciência é mais necessária”, afirmou.

Falando sobre a premiada, disse que Helena Nader é uma referência em ciência e pesquisa. Destacou suas pesquisas sobre a heparina, realizadas na Unifesp, que tem relevância internacional. Foi parceira incansável dos trabalhos da Fundação durante seus anos à frente da SBPC, com escrutínio sem igual. Destemida, lembro de uma frase sua: “O Brasil precisa decidir o que quer. Se quer de fato pautar a economia internacional tem que fazer ciência, porque sem ciência não há tecnologia nem inovação.

Nas palavras de Levisky, Nader exerce uma liderança rara em nosso país, a da mulher defendendo a ciência. Ela honra a comunidade científica e corrobora o orgulho dos que se uniram para conceder esse prêmio, o CNPq, a FCW, a ABC e a Marinha.

 

“Helena Nader é como se fosse uma patrona da C&T na Marinha”

Finalmente, o Comandante da Marinha do Brasil, o almirante de esquadra Ilques Barbosa Junior encerrou a cerimônia de outorga do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, edição 2020, com um discurso homenageando a vencedora.

“Helena Nader é como se fosse uma patrona da ciência e tecnologia da nossa Marinha”, declarou Barbosa Junior. Contou que ela contribuiu de maneira muito importante para que a Marinha do Brasil criasse uma carreira em ciência e tecnologia e para que se pudesse contratar professores sêniores, como é feito por outras Marinhas há mais de cem anos.

Barbosa fez uma saudação especial aos familiares daqueles que se foram “nesse momento que vivemos, como as suas circunstâncias graves exigem”. Relatou que a Marinha tem quase 35 mil militares atuando na pandemia desde fevereiro. “E não paramos. Atuamos na defesa do meio-ambiente, tanto nas queimadas como na questão do óleo no Nordeste brasileiro”, destacou.

O almirante reiterou a parceria com o CNPq e a FCW na outorga do prêmio, o mais importante do país para CT&I, dado que considera a ciência “fundamental para o desenvolvimento nacional e para o bem-estar social.”

Seguindo uma tradição da Marinha do Brasil, a Acadêmica Helena B. Nader foi agraciada com o Farol, símbolo inequívoco de luz, que indica ao navegante o caminho seguro a trilhar.

A honraria foi entregue pelo vice-almirante Sérgio Fernando de Amaral Chaves Junior, representando o Comandante da Marinha, durante encontro na Sede do 8º Distrito Naval em São Paulo.


 

CIÊNCIA GERA DESENVOLVIMENTO

O Projeto Ciência Gera Desenvolvimento foi criado em 2017 pela Academia Brasileira de Ciências e prevê a criação e veiculação de uma série de vídeos curtos, dinâmicos e cheios de informação que mostram, com exemplos reais, como a ciência pode ser traduzida em benefícios palpáveis para todo um país. Acima de tudo, se propõe a conscientizar o público em geral sobre o valor, tanto financeiro quanto social, que o investimento em produção científica pode gerar para a população brasileira. Os primeiros vídeos foram sobre os cientistas Álvaro Alberto da Mota e Silva, Johanna Dobereiner, Marcos Luiz dos Mares Guia e Milton Santos.

O 5º vídeo, lançado na ocasião, foi sobre o médico psiquiatra Juliano Moreira.

 

 

 

APRESENTAÇÃO DOS NOVOS MEMBROS DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

Eleitos em dezembro de 2019, os 17 novos Acadêmicos tiveram seus perfis mostrados em vídeo. Confira abaixo.

 

Comunicar é preciso

 O Acadêmico Marcelo Miranda Viana da Silva, diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) fez uma saudação aos novos colegas.

Homenageou a “grande guerreira da ciência brasileira”, Helena Nader, e ressaltou que a entrada de novos membros na Academia é seu momento mais feliz, porque é sangue novo que vem reforçar o combate permanente da Academia na promoção da ciência, em benefício de toda a sociedade.

Viana citou o matemático Henri Poincaré, que no livro O Valor da Ciência escreveu: “O pensamento não é mais que um clarão numa longa noite. Mas é esse pensamento que é tudo.”

 

Para o matemático, “os eventos recentes vêm mostrando até que ponto pode ser escura a longa noite fora da ciência e como é crítico que mantenhamos aceso o farol do conhecimento.”

A crise sanitária vem mostrando o quão a ciência é indispensável para o futuro da humanidade, em sua opinião. E mais: está mostrando aos cientistas que fazer ciência não basta, é preciso contribuir para que a sociedade como um todo compreenda o valor da ciência. “Comunicar é preciso”, afirmou Viana.

 

Queimando a biblioteca sem ler os livros

Em nome dos novos membros, falou a Acadêmica Maria Teresa Fernandez Piedade. Ela destacou que o fato de “estarmos aqui reunidos virtualmente mostra a resiliência da comunidade científica brasileira e sua capacidade de se adaptar a novos meios e ferramentas, para manter e até mesmo intensificar interações, com notável eficiência”, disse.

Piedade valorizou a interdisciplinaridade necessária à ciência e à realidade contemporâneas, evidenciada pela pandemia. “Doenças emergentes como a Covid-19 tendem a aumentar, e devemos estar preparados para enfrentá-las de forma coesa. Trabalho de equipe é fundamental”, afirmou a nova Acadêmica.

Ela apontou que muitas das doenças que afetam a flora e a fauna, incluindo o homem, resultam de um meio ambiente doente. “Cuidar dos efeitos – as doenças -, sem atacar o problema – a saúde ambiental -, apenas perpetua um ciclo de não sustentabilidade.

A Acadêmica destaacou que o Brasil detém a maior biodiversidade do planeta em nossos biomas. “Mas antes mesmo de conhecê-la e explorá-la adequadamente, ela vem sendo perdida para o desmatamento, e os incêndios”, ressaltou Piedade.

A pesquisadora destacou que a biodiversidade e os ecossistemas são uma riqueza nacional, um bem de todos os brasileiros. “Porém, sua destruição traz benefícios econômicos para poucos, mas os danos ambientais são distribuídos para toda a população”, afirmou.

Alertando para o desmonte da ciência brasileira, por meio das restrições financeiras que estão impelindo jovens cientistas para países com melhores condições de trabalho, Piedade conclamou a comunidade científica a seguir em frente, sem esmorecer. “Pois nunca a ciência foi tão importante e seu papel na sociedade brasileira tão evidenciado como nos dias de hoje”, concluiu, reafirmando: “Eu confio na ciência.”

 

ABC: responsabilidade e luta em defesa da sociedade

Após cumprimentar os membros da mesa virtual, Davidovich cumprimentou Helena Nader pelo merecido prêmio, agradeceu ao CNPq a menção honrosa que recebeu e cumprimentou todos os demais agraciados pelo CNPq, bem como seus colegas Acadêmicos, seus companheiros membros da Diretoria da ABC e todos os demais participantes da cerimônia.

Manifestou, em nome da Diretoria da ABC, o sentimento de pesar e a solidariedade aos familiares e amigos dos mortos pela COVID-19.

Aos novos membros da ABC, parabenizou pela conquista. “É com grande alegria que os recebemos na ABC, instituição com 104 anos de existência. Destaco que 50% dos novos membros são mulheres, um avanço sensível em relação à proporção atual de cerca de 17% dos membros titulares da ABC, destacou o presidente.

 

 

Ele considerou essa evolução alentadora também entre os membros afiliados, jovens pesquisadores de excelência que, com menos de 40 anos, ingressam nos quadros da ABC por um período de cinco anos. “Neste ano de 2020, tomaram posse 14 mulheres entre os 30 afiliados. Celebramos a contribuição que os novos membros já deram à ciência e também o ingresso na Academia de novos parceiros para a elaboração das publicações da ABC, a organização de simpósios e a defesa da educação, da ciência e da inovação em nosso país”, destacou Davidovich.

O físico ressaltou que a crise oriunda da pandemia expôs as fragilidades do país: a imensa desigualdade, a educação básica deficiente, o saneamento precário, a crescente desindustrialização, a destruição dos biomas.

“Os sucessivos cortes orçamentários ameaçam a ciência brasileira, a ponto de praticamente zerar, no orçamento para o ano que vem, os recursos para investimento nas universidades e cortar à metade as bolsas do CNPq. A esse cenário, acrescente-se a incompreensão sobre a dinâmica da ciência, a negação da evidência científica, os ataques a instituições fundamentais para o desenvolvimento nacional, como as universidades públicas e o INPE, que monitora o desmatamento dos biomas”, disse Davidovich.

Diante desse panorama, a posição da ABC é de responsabilidade e de luta, nas palavras do presidente. “Luta em defesa da ciência, da educação, da cultura, da inovação, da autonomia universitária e da liberdade de cátedra, elementos essenciais para a construção de uma sociedade inclusiva, ilustrada, democrática e produtiva”, ressaltou Davidovich.

 

Um país melhor

Encerrando o evento, foi dada a palavra ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, astronauta Marcos Pontes. Depois de cumprimentar a todos e em especial a Profa. Helena . Nader, ele considerou aquele momento muito importante, requerendo uma profunda reflexão.

“A ciência tem sido olhada como a única ferramenta que pode livrar o planeta dessa situação. Precisamos da união de todas as nossas instituições para resolver os problemas que existem agora e para ajudar a preparar o país para os próximos desafios”, destacou o ministro.

Em sua avaliação, essa não vai ser a última pandemia e o país precisa preparar sua infraestrutura, preparar as pessoas para o enfrentamento dos novos desafios. “Nosso planeta tem que ser capaz de alimentar e fornecer água limpa para a sua população”, apontou Pontes, de modo a que se tenha um desenvolvimento sustentável. E para tanto, a ciência precisa evoluir.

“Os países que hoje são desenvolvidos o são por causa da ciência, porque garantiram orçamento para isso”, ressaltou o astronauta, listando os desafios que o Brasil terá que enfrentar. “Temos que entregar para as novas gerações um país melhor.”