Começou a reunião: Academias de Ciências unidas pela ação climática

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No fim da tarde do dia 20 de outubro foi realizada a abertura do evento organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Rede InterAmericana de Academias de Ciências (Ianas), intitulado “Um Chamado Científico para a COP30: Academias de Ciências Unidas pela Ação Climática”, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus.

Os seguintes países estavam representados por cientistas de excelência de suas Academias nacionais: Argentina (Córdoba), Austrália, Bolívia, Brasil, Chile, China, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, França, Guiana, Guiana Francesa, Guatemala, Honduras, Japão, México, Panamá, Paraguai, Portugal, Senegal, Suriname e Venezuela. Em âmbito regional, estavam presentes a Academia de Ciências da América Latina (ACAL), a Parceria InterAcademias (IAP) e a Rede InterAmericana de Ciências (Ianas). Também estava representada a Academia Mundial de Ciências (TWAS).

A presidente da ABC, Helena Nader, abriu o histórico encontro de Academias de Ciências do mundo afirmando que a crise climática é uma realidade que afeta ecossistemas economias e sociedades por todo o mundo. “Nós, cientistas, estamos enfrentando o desafio com conhecimento, cooperação e determinação, além de resiliência.”

A biomédica Helena Nader, presidente da ABC | Foto: Erikson Fernandes

Nader destacou que 194 países assinaram, em 2015, o Acordo de Paris, estabelecendo o ano de 2030 como prazo para se alcançar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). “apontou. “Um país se retirou, mas 193 continuam comprometidos. O foco principal dos ODS é a humanidade. É saúde única e não deixar ninguém para trás. Não podemos esquecer isso. Faltam apenas cinco anos.”

Organizar aquele evento na Amazônia, na visão de Nader, tem um simbolismo profundo. “A região não é apenas um tesouro de biodiversidade: é um sistema vivo, que regula as chuvas, as emissões de carbono e sustenta a cultura e vida material de milhões de pessoas. O futuro da Amazônia é inseparável do futuro do planeta”, destacou.

Para ela, o encontro é mais do que um exercício acadêmico. “É um chamado científico à ação, para que se coloque as florestas tropicais, a biodiversidade e a ciência em si no centro das decisões globais sobre o clima. A COP 30 está aí e nós, a comunidade científica, está junto, reafirmando que a ciência está pronta: temos os dados, a tecnologia e os caminhos para que exista um futuro sustentável.”

O que é preciso agora, de acordo com Helena Nader, é vontade política e cooperação internacional para transformar conhecimento em ação. O encontro, com 26 países de todos os continentes representados, além das redes internacionais ACAL, IANAS, IAP e TWAS é bastante representativo dos cientistas do mundo. “Juntos temos a oferecer evidências, experiência e um compromisso conjunto de salvaguarda das florestas tropicais do planeta como bens globais comuns, essenciais para a estabilidade do clima e da biodiversidade do planeta, e do bem-estar da humanidade.

A ABC, de acordo com Nader, “está extremamente orgulhosa por estar ao lado de vocês nessa iniciativa.  Acreditamos que proteger o planeta não é apenas uma necessidade ambiental: é um imperativo moral e civilizacional. É sobre justiça, sustentabilidade e o direito das gerações futuras a uma vida possível na Terra. Todos temos um objetivo em comum. Não precisamos nos tornar grandes amigos, mas temos que ser amigos do planeta.”

Ela finalizou desejando que o encontro contribua para o estreitamento de laços entre ciência, sociedade e políticas, inspirando resultados decisivos na COP 30 que transformem evidência em ação, promessa em compromisso e compromisso em mudança duradoura. “Que a voz da ciência, baseada na cooperação e solidariedade, possa contribuir para guiar a humanidade para um futuro seguro, sustentável e mais justo.”

Karen Strier, copresidente da IANAS junto com Helena Nader, relatou que trabalhou no Brasil por 43 anos como primatologista e declarou sua emoção em estar num ambiente com tantos cientistas de Academias do mundo todo.  “Nós, cientistas norte-americanos, precisamos muito de oportunidades como essa, de estar junto aos nossos colegas para tentar melhorar o mundo.”

 

Carlos Matsumoto, responsável pelas Relações Internacionais do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), agradeceu o convite em nome da ministra Luciana Santos e elogiou a iniciativa, apoiada indiretamente pelo MCTI por meio do INPA e da Finep. Matsumoto apontou as dificuldades no mundo em que vivemos hoje, com interesses materiais e de poder sobrepostos aos cuidados com a sobrevivência da humanidade e do planeta. “Os desafios globais estão aumentando. A Terra está aquecendo, a biodiversidade está diminuindo, pessoas continuam passando fome. Mais cedo ou mais tarde, alguma pandemia tomará de novo o planeta. Precisamos de mais multilateralismo e colaboração, não menos. Precisamos ficar unidos, para ficar fortes.”

Tainara Espíndola Pereira representou a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva. Sua mensagem foi de que as “políticas públicas efetivas, relativas ao meio ambiente, têm que ser baseadas em sólidas evidências científicas” e manifestou esperança de que aquele evento fortaleça a cooperação científica internacional, fundamental para o enfrentamento dos desafios globais.

Dalila Oliveira, diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), representou o presidente do CNPq, o Acadêmico Ricardo Galvão. Marilene Correa representou a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ambas destacaram a importância do papel da ciência no mundo, especialmente nesse momento de mudanças geopolíticas tão profundas.

Tanara Lauschner, reitora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), representando também a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), solidarizou-se à luta contra a crise climática. Ela apontou a rede brasileira de 69 universidades e dois institutos federais, presentes em todas as regiões do país, como produtora de uma ciência que busca apoiar o compromisso do Brasil com a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. “A ciência produzida nas instituições federais é focada no futuro das novas gerações, o que reforça que nossas respostas à crise climática sejam guiadas pela ciência e pela cooperação entre países, entre instituições e entre campos disciplinares. Nenhum de nós é capaz de enfrentar tamanha crise sozinho. Que esse encontro traga contribuições concretas à COP30.”

O coordenador do Comitê de Inovação e Desenvolvimento Sustentável da Academia Nacional de Engenharia (ANE), Flavio Grynszpan, representou o presidente da entidade. Ele citou a parceria recém estabelecida entre a ABC, ANE e a Academia Nacional de Medicina (ANM), visando ampliar o escopo de percepção dos problemas que afetam a sociedade. Destacou que engenheiros trabalham com soluções para problemas e que esse problema do aquecimento global é relevante para a ANE. “Estamos trabalhando nisso”, apontou.  Abordou dois pontos já no radar da ANE: as secas e as enchentes e suas respectivas consequências para a produção de alimento e para a saúde humana. “São questões que pretendemos trabalhar junto com a ABC e a ANM”, ressaltou.

Henrique Pereira, diretor do INPA, fechou a cerimônia. Ele ressaltou que aquele evento representava as pontes que a ciência constrói, unindo continentes pela defesa do nosso planeta. “Há 70 anos, o INPA está à frente das pesquisas brasileiras sobre os ecossistemas amazônicos, biodiversidade e clima, procurando oferecer ciência para o bem-estar dos povos da floresta”, observou. Referiu-se á COP30, destacando que a ciência precisa continuar sendo a fonte e a fundação da diplomacia científica e da tomada de decisões. “Do coração da Amazônia, mandamos uma mensagem clara: que só com a colaboração entre nações, disciplinas e culturas conseguiremos garantir um futuro sustentável para todos nós.”

O embaixador André Correa do Lago, presidente da COP30, enviou um vídeo, veja a seguir. Ele agradeceu à ABC e Ianas pela organização do evento. Ele declarou só acreditar em soluções que venham da ciência e agradeceu a disposição dos cientistas para enfrentar tanto negacionismo, quando as coisas mais básicas estão sendo questionadas. “Dizer uma mentira é fácil. Provar que uma mentira é uma mentira pode ser bem complicado”, disse ele, usando um conceito popular bastante difundido. “Confio em vocês e desejo que o encontro seja proveitoso.”

 

 

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(Elisa Oswaldo-Cruz para ABC, 21/10/2025 | Fotos: Erikson Fernandes)