Tudo sobre o Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC Região São Paulo 2025-2029

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A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FMUSP-RP) recebeu, em 9 de outubro, o Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC Região São Paulo 2025-2029, eleitos no final de 2024 para um mandato de cinco anos.

Foram diplomados e apresentaram seus trabalhos os pesquisadores Bruno Gualano (USP), Fausto Bruno dos Reis Almeida (USP-RP), Ingrid David Barcelos (Unicamp), Juliana da Silva Bernardes (Unicamp) e Lucas William Mendes (Cena/USP), este último on-line, por estar fora do país.

Abertura

O vice-presidente Regional da ABC para a região São Paulo, Glaucius Oliva, ao lado da vice-diretora da FMRP/USP Marisa Marcia Mussi. apresentou a ABC para os presentes. Em seguida, constextualizou sua atuação e a responsabilidade assumida pelos jovens pesquisadores afiliados à ABC.

“Vivemos um período marcado por sucessivos cortes nos financiamentos para a educação e a ciência e pelo negacionismo e a desinformação científica, com a divulgação de ideias estapafúrdias e nefastas como terraplanismo, negação do impacto positivo das vacinas, negação da evolução darwiniana na história do planeta, a negação das mudanças climáticas causadas por ação humana e mais.

O vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências para a Região São Paulo, Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física da USP em São Carlos | Foto: SDC/FMRP-USP

O biofísico referiu-se ao lamentável resultado divulgado no dia anterior pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): de 8.700 solicitações de bolsas de pós-doutorado, apenas 660 foram outorgadas – não por falta de bons candidatos, mas por falta de recursos.

Oliva destacou a missão dos membros titulares e dos jovens membros afiliados agora à ABC: o empenho no restabelecimento dos marcos civilizatórios que delineiam o mundo moderno através da divulgação da importância da ciência na vida humana em todas as dimensões.

“Os cinco jovens aqui eleitos provam que a ciência brasileira está viva. E estão agora à frente da luta pela ciência e pela educação e por um Brasil próspero e justo”.

Palestra Magna: “A evolução é demonstrada por evidências científicas”

O Acadêmico Carlos Menck, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, onde pesquisa mecanismos de reparo de DNA, apresentou a palestra “A evolução é fato: a teoria da evolução tem sido demonstrada nos últimos 165 anos”.

Menck foi autor de um capítulo e organizador do livro produzido pela ABC “A Evolução é Fato”, que pode ser baixado gratuitamente aqui. Sua apresentação girou em torno da publicação, falando sobre os critérios adotados na edição e as escolhas feitas.

A Academia  decidiu organizar o livro por conta de sua preocupação com a inundação de desinformação científica nas redes sociais, com exemplos já citados por Oliva. As informações falsas têm muita penetração social e o objetivo é desvalorizar e desmoralizar a ciência, para silenciar as vozes do conhecimento e desacreditá-las enquanto vozes da razão. Acesse aqui o livro da ABC sobre o tema.

Menck contou que a ideia da ABC era mostrar o que pensa a Academia a respeito do processo de evolução, apresentando evidências das mais diversas áreas da ciência. Foram quase quatro anos até chegar ao produto final, mas o Acadêmico considera que valeu a pena. “Formamos inicialmente um grupo de trabalho, com umas sete ou oito pessoas, incluindo a Helena Nader, que foi quem deu a ideia. Não é um livro filosófico. Apresenta evidências científicas, inclusive com dados brasileiros”, relatou.

O livro mostra que depois de Darwin ocorreram diversos novos fatos relacionados à evolução. São 22 capítulos de 28 autores, todos do mais alto nível e comprovadíssima competência, que apresentam evidências oriundas da paleontologia, da biologia molecular, da geologia, da astronomia.

Menck citou as palavras de Nader no prefácio: “A evolução é mais do que uma teoria científica sobre a origem das espécies; é o alicerce para compreendermos a biologia, influenciando desde a ecologia e a genética, até a medicina e a saúde pública. A ABC aponta, de forma inequívoca, a sua visão, afirmando que o criacionismo ou design inteligente não têm lugar na explicação da origem da vida no mundo em que vivemos.”

Simpósio dos Membros Afiliados

Os membros afiliados da ABC são jovens cientistas de excelência com até 40 anos de todas as regiões do Brasil, eleitos para a Academia pelos membros titulares, num processo altamente competitivo, por cinco anos. São cinco pesquisadores de cada região da ABC (Norte, Nordeste e Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Centro-Oeste, São Paulo, Sul) eleitos a cada ano. A categoria foi criada em 2007 pelo então presidente, Jacob Palis, muito focado na identificação e estímulo às novas gerações de cientistas de excelência.

Ingrid Barcelos, Fausto Almeida, Juliana Bernardes e Bruno Gualano | Foto: SDC/FMRP-USP

Conheça nos perfis a seguir os jovens pesquisadores que se destacaram na região São Paulo.

A ciência dos estilos de vida
Bruno Gualano
e sua equipe multidisciplinar buscam integrar ciência, assistência e educação para promover mudanças sustentáveis na saúde da população no Hospital das Clínicas da USP.

Como os patógenos interagem com o corpo humano
O microbiologista Fausto Almeida, da FMRP/USP, busca novos alvos terapêuticos e o desenvolvimento de ferramentas profiláticas, , lidando especialmente com vesículas extracelulares e doenças infecciosas fúngicas.

Abrindo caminho para novas tecnologias
A física Ingrid David Barcelos, do LNLS, desenvolve pesquisas sobre materiais ultrafinos que podem controlar e direcionar a luz em uma escala extremamente pequena.

Convertendo resíduos agrícolas em nanomateriais
A química Juliana da Silva Bernardes, pesquisadora do LNNano/CNPEM, usa as nanoestruturas renováveis e biodegradáveis na produção de materiais funcionais, contribuindo para promover um mundo mais sustentável.

Entendendo a interação dos microrganismos com o ambiente
Biólogo molecular no CENA/USP, Lucas William Mendes busca aplicar seus resultados na manutenção de ecossistemas, recuperação de áreas degradadas e promoção de cultivos agrícolas mais sustentáveis.

Cerimônia de Diplomação

O Acadêmico Fernando Cunha saudou os novos membros afiliados. Professor titular de imunofarmacologia da FMRP/USP e coordenador do Centro de Pesquisa de Doenças Inflamatórias da Fapesp, Cunha questionou a missão da universidade, seu papel histórico no desenvolvimento social.

Cunha recordou que até o século XIX a universidade se dedicava à conservação e transmissão do conhecimento. O desenvolvimento da pesquisa veio a partir do século XX, se tornando a base do desenvolvimento econômico e social, por meio da capitalização do conhecimento.

A universidade foi assumindo funções. De mera guardiã do conhecimento passou a a ensinar, a produzir ciência, a contribuir para o desenvolvimento tecnológico. A academia adquire um papel fundamental na inovação tecnológica, materializado a associação com o setor industrial inovador. Ressaltou, no entanto, que a universidade não substitui as empresas na produção de novos produtos, incluindo fármacos.

O Acadêmico Fernando Cunha deu as boas-vindas aos jovens cientistas e reforçou seu compromisso com a ciência, a educação e a democracia | Foto: SDC/FMRP-USP

Da pesquisa orientada para a descoberta e a construção do conhecimento passou-se à pesquisa orientada para o desenvolvimento tecnológico, e o cientista passou a ser o motor desse processo. Cunha alertou para a diferença entre o cientista e o inventor: “O primeiro usa o método científico de observação e experimentação para o entendimento da natureza. O segundo usa o princípio do ‘ensaio e erro’ para desenvolver um novo processo ou produto, ou para descobrir um novo uso para algo já existente”, explicou. O que o cientista cria beneficia a humanidade, já a invenção beneficia o país de origem.

“Mas isso não existe mais. Agora as pesquisas e geração de produtos precisam ser interdisciplinares, não dá para sair tudo da cabeça de uma pessoa só, é preciso que contar com múltiplos olhares”, destacou Cunha. “A tecnologia precisa da ciência. E trabalhar junto é, certamente, a melhor maneira.”

“A ciência é alérgica à lógica digital”

Em nome dos afiliados diplomados na ocasião, Bruno Gualano expressou a preocupação com o fato de a ciência não ocupar um lugar seguro na sociedade. “Vivemos a chamada crise da verdade, em que apelos à emoção suplantam os fatos objetivos. Essa é uma marca da cultura digital, que, com sua lógica de algoritmos e engajamento, sequestrou a racionalidade e, com ela, a essência do que é verdadeiro ou falso”, apontou.

Bruno Gualano falou em nome dos novos membros afiliados da Região SP | Foto: SDC/FMRP-USP

Para Gualano, a ciência é alérgica à lógica digital. “Sua narrativa é lenta, dirigida aos fatos, sensível à refutação e ao debate. Ela não diz o que se espera ouvir, nem oferece verdades absolutas”, argumentou. Na visão do Acadêmico, essa compreensão da ciência por parte da população requer alfabetização e popularização  científica. “As nações que avançaram nessas áreas apontam o caminho: investimento massivo em educação, com currículos coerentes e exigentes, estímulo ao pensamento crítico e políticas baseadas em evidências. É nesse embate pelo projeto de nação que o cientista cumpre sua principal função ético-política: contribuir para a emancipação crítica da sociedade“.

Assim, Bruno Gualano definiu o que considera o maior desafio para os cientistas e educadores: estimular que cada vez mais pessoas consigam apreender ciência. “Missão que esta Academia executa com competência há mais de um século e da qual agora temos o orgulho de participar. Obrigado.”

Acesse seu discurso em pdf aqui.

 

(Elisa Oswaldo Cruz para ABC | Fotos: Seção de Documentação Científica da FMRP-USP