0Na sexta-feira feira, 29 de julho, durante a  74ª Reunião Anual da SBPC, na Universidade de Brasília (UnB), a mesa redonda “O papel da inovação nas universidades brasileiras” reuniu o membro titular da ABC Vanderlei Salvador Bagnato (USP); o cofundador do Tecnopuc, eleito o melhor parque científico e tecnológico do Brasil, Jorge Audy (PUC-RS); e a diretora da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carla Ten Caten, sob moderação de Sanderson César Macêdo Barbalho (UnB). A palestra fez parte da categoria especial SBPC Inovação. 

Carla ten Caten (UFRGS), Sanderson Barbalho (UnB), Jorge Audy (PUC-RS) e Vanderlei Bagnato (USP-S.Carlos)

Vanderlei Salvador Bagnato concluiu simultaneamente bacharelado em física na Universidade de São Paulo (USP) e engenharia de materiais (UFSCar) em 1981 e realizou o doutorado na mesma área pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Atualmente é professor titular da USP São Carlos e conta com mais de 700 artigos publicados em periódicos especializados.

Universidade do século XXI

Os três palestrantes concordaram que o modelo atual de universidade deve ser expandido para incluir a inovação às tradicionais missões de ensino e pesquisa. Isso deve ser feito pela implementação de núcleos de inovação e interação com empresas, estimulando desde a graduação que seus alunos busquem parcerias com o setor privado, além de desburocratizar a criação de startups.

Mas o conceito de inovação vai além do desenvolvimento de novos produtos para o mercado. Ele perpassa a transformação do conhecimento construído nas universidades em melhorias não apenas para materiais, mas também para serviços e políticas públicas. “Não é só luzinha piscando”, brincou Audy, lembrando de um grupo de estudantes de Serviço Social que conseguiu aumentar o IDH de uma das regiões mais carentes de Porto Alegre através de intervenções planejadas na universidade. “O fundamental é conhecimento, criatividade e vontade de transformar”, resumiu.

Vanderlei Bagnato é coordenador da Unidade Embrapii de Biofotônica e Instrumentação, que reúne 15 laboratórios e desenvolve inovações com aplicação industrial e médica. O Acadêmico defende o modelo Embrapii de financiamento tripartite, orçamento e metas claras e celeridade no encaminhamento dos projetos. “Diziam que seria um fracasso, que empresário brasileiro não quer colocar dinheiro, e hoje eles estão batendo na porta”, afirmou. “Uma vez aprovada uma iniciativa, em dois meses ela já está a todo vapor. É muito melhor para o setor privado terceirizar a parte laboratorial para a infraestrutura universitária”.

Patenteamento precisa evoluir

Bagnato discutiu ainda o problema do superpatenteamento das universidades brasileiras, que pode indicar uma falta de clareza da comunidade acadêmica sobre o processo. “Precisamos de pessoal especializado em propriedade intelectual. Patente boa é a que tem interesse e visa gerar um produto lá na frente, errar nessa hora é travar a inovação”, disse o Acadêmico.

Para Carla Ten Caten, o patenteamento é um dos principais problemas da UFRGS, que produz conhecimento disruptivo há 125 anos no seu núcleo de engenharia, sendo este um dos melhores do país. Com grande capacidade empreendedora e forte parceria com as Embrapiis, a Escola de Engenharia da UFRGS tornou-se uma vitrine tecnológica a partir do licenciamento de tecnológicas desenvolvidas e seu projeto de transferência de tecnologia garantiu o sustento da universidade durante a pandemia.

A pesquisadora defendeu também a importância dos projetos de extensão, um dos três principais pilares de produção de conhecimento dentro das universidades latino-americanas: “Ainda hoje, muitos não conseguem enxergar a produção de tecnologia como um dos principais objetivos dos projetos de extensão”, afirma. Ela destaca o papel das unidades Embrapii no desenvolvimento de tecnologia de ponta e na ajuda a superação do “vale da morte”, como é chamado o período entre a geração do produto e sua inserção no mercado. No Rio Grande do Sul, elas desenvolvem um papel essencial no financiamento das pesquisas concebidas nos laboratórios.


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