
Atua intensamente no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), sendo autor principal de diversos relatórios do grupo. Atua, ainda, no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Mundial de Ciências (TWAS) e da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês). Recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Estocolmo (2009), na Suécia, e o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil (2016). Seu foco de pesquisa é em mudanças climáticas e no papel dos aerossóis no clima e no ecossistema amazônico.
Em sua conferência na Reunião Magna da ABC 2019, em 16 de maio, no Museu do Amanhã, ele abordou os fortes vínculos entre o clima e a implementação dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODSs). Artaxo explicou que o ser humano está mudando o mundo muito depressa e em diversos aspectos. Isso, certamente, está impactando nossa sociedade.
Homem & clima ou homem x clima?
A era humana, chamada Antropoceno, é o tempo em que os humanos e sua civilização tornaram-se a maior força geofísica no planeta. E neste tempo, as fronteiras do planeta vêm sendo ultrapassadas – já o foram com relação ao clima, à integridade da biosfera, ao desmatamento e aos fluxos biogeoquímicos, especialmente pelo uso de fertilizantes. “É preciso que seja estabelecido um espaço seguro para os humanos”, apontou o cientista.
Os humanos vêm deixando marcas de destruição. Um levantamento recente realizado pela ONU compilou 15 mil estudos para retratar a dimensão da devastação ambiental decorrente da civilização. O retrato está nas imagens a seguir.
As emissões de carbono de combustíveis fósseis e da indústria cresceram 62% entre 1990 e 2017. A concentração de dióxido de carbono e metano na atmosfera é a maior registrada em 3 milhões de anos. Isso, de acordo, resulta em anomalias climáticas fatais para a população da Terra.
De fato, todos serão atingidos pelo aumento do nível das águas, com áreas litorâneas e as que circundam grandes rios totalmente inundadas. Isso porque os oceanos, especialmente, estão sofrendo transformações inéditas em 300 milhões de anos. Estão 1ºC mais quentes, 26% mais ácidos e com 2% a menos de oxigênio dissolvido. No século XX, o aumento foi de 23 cm no nível do mar e até 2080 o prognóstico é que esse aumento varie de 22 cm a 1 metro. Esta expansão é resultante do derretimento das calotas polares. Com isso, haverá um redesenho dos continentes.
O risco que a humanidade corre com o desequilíbrio climático que suas atividades econômicas vêm criando é alto. Os extremos climáticos vêm se acentuando desde os anos 80. Os impactos potenciais na produção de alimentos num mundo com mais 3º de temperatura é fatal para o hemisfério Sul e algumas regiões do hemisfério Norte.
Amazônia: vítima das ações, destaque entre as soluções
Mas Artaxo é otimista e ainda aponta possíveis soluções. E a Amazônia é uma componente chave nesse escopo de soluções. É uma região única no mundo, que está sofrendo impactos no equilíbrio de carbono e no ciclo hidrológicos. Já teve 40% de sua área desmatada, o que provocou uma redução de 30% nas chuvas.
No entanto, o ecossistema amazônico é fundamental para a manutenção do ciclo de carbono global. Contribui, ainda, para manter a diversidade cultural e étnica, dado que nela vivem mais de 300 grupos indígenas, com diversidade de línguas. Concentra 18% da água doce do mundo que desagua em oceanos, tem mais de 10% das espécies animais e vegetais do planeta. Seu papel no transporte de vapor d’água sobre a América do Sul é básico para a estabilização do clima mundial.
As soluções que Artaxo aponta envolvem, obviamente, o desenvolvimento sustentável da região amazônica. O uso mais eficiente da energia, a ampliação no uso de energias de baixo ou nenhum carbono, a redução do desmatamento, o plantio de novas florestas e melhor manejo das florestas existentes são outros componentes essenciais da mudança necessária para a sobrevivência da espécie, que tem 85% dos seus representantes vivendo em cidades.
A geoengenharia climática – área da ciência que estuda o conjunto de intervenções deliberadas em grande escala no sistema climático da Terra, com o objetivo de moderar o aquecimento global – é uma possibilidade concreta. Ela pode envolver a colocação de espelhos no espaço, o aumento deliberado da cobertura de nuvens e o lançamento de enxofre na estratosfera. “Mas não sabemos se isso é, de fato, desejável”, apontou Artaxo.
Papel das empresas e setor privado nas mudanças climáticas
Assumindo o viés realista, Artaxo observa que os governos, de modo geral, respondem muito mais aos interesses empresariais do que interesses públicos. “Em geral, empresas e governos tem visão limitada a no máximo 4 ou 6 anos. Quem pensa no planeta daqui a 50 ou 100 anos?”
No setor petrolífero, ele afirmou que a Shell, a BP, e a Exxon sabiam dos impactos que causariam nos últimos 70 anos. Mas isso não impediu que a indústria do petróleo tivesse lucros de mais de centenas de trilhões de dólares. “Quem paga a adaptação e os efeitos nos sete bilhões de habitantes do planeta?”
No setor automobilístico, a Volks, a AUDI e outros fabricantes assumiram uma atitude negativa na questão das emissões de veículos a diesel: achar nichos na legislação e burlá-la, sempre que possível.
No setor agropecuário, especialmente o brasileiro, há imensa pressão para desmatar o máximo possível a Amazônia, de modo a que se possa plantar soja e criar gado de modo ineficiente, ignorando o potencial futuro da região.
“O setor privado fica com os lucros, o setor público paga os prejuízos. Será isso justo e eticamente correto?”
Sejam quais forem as respostas para as indagações do palestrante, o fato é que os países que emitem menos gases de efeito estufa são os que serão mais impactados pelas mudanças climáticas,
Nosso dever de casa, portanto, é aprender a adaptar e mitigar as mudanças climáticas. “Atingir os ODSs é uma ação coletiva. Se quisermos evitar um aumento de até 5oC na temperatura mundial, não há outra forma senão utilizar os recursos naturais do planeta de forma mais eficiente e inteligente”, concluiu.
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