No dia 17 de março ocorreu o webinário “Estratégias para vacinar todos e Já!”, organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil (ACFB), a Academia Nacional de Medicina (ANM) e pela Unifesp. O evento reuniu reitores, representantes de universidades, empresários e parlamentares para debater estratégias e soluções para agilizar o processo de vacinação no país. Luiz Davidovich, presidente da ABC, esteve presente. 

O evento foi mediado por Rubens Belfort, presidente da ANM e membro titular da ABC, que afirmou que está na essência do povo brasileiro “jamais desistir de lutar pelo que se precisa”. “Hoje, estamos dando mais um exemplo disso, num esforço de vários atores e setores da sociedade para buscar resposta à seguinte questão: vacina já para todos”, completou.

União das Universidades

Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ressaltou a importância de vencer obstáculos para a compra de vacinas e de fortalecer o SUS. Ela afirmou que a carência de profissionais da saúde está aproximando o sistema do colapso e ressaltou a importância da pesquisa das universidades nas vacinas e a necessidade de investimentos no setor. 

Sandra Regina Goulart, reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destacou que é momento de pensar no futuro e completou a fala de Smaili, ao reforçar que o Brasil possui grande potencial na produção científica e que, com os investimentos nos setores certos, o país conseguirá garantir sua inserção global e, consequentemente, na cadeia mundial da vacina. “Esta é a oportunidade para o Brasil desenvolver um sistema robusto de saúde, com investimento em saúde, pesquisa científica e inovação”, afirmou Goulart. 

A reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Carvalho, afirmou: “Somente a vacina nos deixará salvos. Enquanto não estivermos todos vacinados, ninguém estará totalmente a salvo da COVID-19.” Para ela, os caminhos para combater a pandemia incluem, além da vacinação, a testagem em massa e a necessidade de autonomia na produção dos insumos farmacêuticos para produção de vacinas. Ela comentou a existência de pelo menos três vacinas desenvolvidas por universidades prontas para a fase clínica do desenvolvimento, incluindo a S-UFRJ vac, produzida nos laboratórios da COPPE/UFRJ e que tem como base a proteína S recombinante. A produção da vacina foi comentada pela Professora Leda Castilho no Webinário 32 “Genética, Vacina e COVID-19”

Parceria com empresários

Luiza Helena Trajano, líder do grupo Mulheres do Brasil e presidente do Conselho do Magazine Luiza, representou a classe empresarial no debate. Ela contou que fundou o Mulheres do Brasil há oito anos. A iniciativa, que começou com 40 mulheres, hoje conta com 82 mil mulheres participantes, distribuídas por todos os continentes, e apoia 21 causas. 

Atualmente, todos os esforços do grupo estão voltados para aquisição de vacinas: “Num esforço de união com diversos empresários, conseguimos atuar em diferentes frentes, seja para auxiliar o governo na negociação para compras de insumos que auxiliem o aumento da produção de vacinas, seja para otimizar e solucionar gargalos logísticos, ou seja para criar outras conexões necessárias para agilizar e fazer com que possamos alcançar a vacinação em massa. Afinal, o Brasil não pode parar.” Trajano, que também é a mente por trás do movimento Unidos Pela Vacina, afirma que o grupo está trabalhando em parceria com o Butantan e a Fiocruz para prover investimentos na produção de vacinas e que “recursos sem governança não adiantam de nada”. 

Mobilização dos parlamentares

O médico e deputado Hiran Gonçalves foi fundamental na criação de diversas estratégias para o combate à pandemia, incluindo a MP 969, que destinou 10 bilhões para o sistema de saúde. Ele confirmou a previsão de que o país terá, pelo menos, 575 milhões de doses de vacinas de diversos laboratórios até o fim do ano. Ele também destacou que agora mais do que nunca é fundamental estreitar relações com a China.

Em sua fala, o deputado Professor Luizinho (PT/SP) afirmou que a atual campanha de vacinação não oferece segurança à população devido à falta de organização de prefeitos e governadores. O ideal, de acordo com ele, seria uma campanha que funcionasse 24 horas por dia, 7 dias na semana e um plano de vacinação com faixas etárias bem demarcadas em âmbito nacional. 

Ele afirmou, também, que é necessário liberar as segundas doses das vacinas, uma vez que já há entregas de mais doses previstas. “Só venceremos essa pandemia quando vacinarmos dois milhões de pessoas por dia”. Ele mencionou, ainda, a necessidade da criação de uma carteira de vacinação on-line como um “legado” pós-pandemia, que seria útil não apenas para viagens, mas também para matricular crianças no colégio e para inscrição em programas de assistência financeira.

Professor Luizinho também mencionou a necessidade de investir em comunicação, comentando que muitos idosos tomam a vacina e no dia seguinte já saem na rua sem utilizar máscara: “Precisamos explicar a importância de seguir respeitando as orientações de uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social, mesmo após a imunização, até que grande parte da população esteja protegida. Essas ações permitirão que essa fase difícil vire um legado para a nossa saúde”.

O deputado afirmou que esse é o momento para o Brasil utilizar sua diplomacia para conseguir negociar insumos e doses. “As nossas guerras não serão com armas, serão biológicas. A gente precisa de uma estratégia nacional de saúde, nós somos os maiores compradores de saúde do mundo”, concluiu.

Ciência nacional

Durante a finalização do simpósio, ocorreu paralelamente, no Congresso Nacional, a decisão da votação que levou à derrubada do veto presidencial do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). O presidente Luiz Davidovich explicou que, com a derrubada do veto, está proibida a reserva de contingência do FNDCT: “Com isso, esses recursos podem ser acumulados, se eventualmente não utilizados, e com isso, a ciência brasileira vai ter uma fonte mais estável de recursos”.

Davidovich também ressaltou a importância de se pensar na questão da ciência e inovação no país, sobretudo, em um momento de crise como a pandemia da COVID-19. “Nós temos a questão imediata de proteger a população, de salvar vidas, com vacinas, com máscaras, com distanciamento social, com bons exemplos. Mas tem também uma questão de médio a longo prazo, que temos que cuidar se quisesrmos escapar das próximas pandemias”, afirmou. 

“Nós temos que começar a olhar para o futuro, para que não ocorram mais tragédias como essa no Brasil. Para que nós estejamos preparados para enfrentar novas cepas, novos vírus, com vacinas nacionais, com medicamentos nacionais, apoiando a pesquisa que está sendo realizada nas universidades e nas instituições de pesquisa no Brasil”, concluiu o presidente da ABC.

O webinário completo está disponível no canal da ABC no YouTube, dividido em duas partes. Confira: Parte 1 | Parte 2

Mais uma vez, a ABC e outras entidades uniram forças para defender a ciência e lutar contra o negacionismo e o caos que o Brasil vêm enfrentando. Acadêmicos, entidades, parlamentares e empresários estão unindo forças em prol da vida. Siga as recomendações da OMS e fique em casa!