No evento “Água na Mineração, Agricultura e Saúde: o que a Ciência tem a dizer a partir de Minas Gerais”, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o gerente do Conselho de Meio Ambiente da mineradora Vale Rodrigo Dutra Amaral apresentou experimentos da empresa para atuar de forma mais amigável para o ambiente.

Ele explicou que as operações do minério de ferro da Vale se concentram principalmente no quadrilátero ferrífero, em Minas Gerais (MG), e em Carajás, no Pará (PA). O Sistema Norte, com cinco minas, contém o minério de melhor qualidade do mundo, o que possibilita processos de beneficiamento a umidade natural. Atualmente é responsável por 1/3 do volume total de produção da Vale. A produção atual da Vale é de 400 milhões de toneladas, e a empresa pretende chegar a 450 milhões de toneladas de minério em 2024, baseada na previsão de aumento da produção do Sistema Norte.

O Sistema Centro-Oeste é formado pelas operações próximas a Corumbá, com baixa produção. Já os Sistemas Sudeste e Sul, localizados no estado de Minas Gerais, região do quadrilátero ferrífero, possuem seis complexos produtivos com 20 minas. Eles produzem minério mais pobre, de menor teor de ferro, que precisa de água no seu processo de beneficiamento. No ano de 2016, aproximadamente 60% da produção da Vale veio deste Sistema.

Amaral explicou que a produção mineral gera dois subprodutos: o estéril, que não é minério, e o rejeito, que é o subproduto da estação de beneficiamento. Então, para produzir as 400 milhões de toneladas são geradas 500 milhões de toneladas de estéril e rejeito. De rejeito, são quase 100 milhões de toneladas. A estimativa da geração de rejeitos indica uma concentração maior no quadrilátero ferrífero, porque é onde se concentra a mineração que requer água. O estéril é disposto em pilhas e o rejeito é disposto em barragens.

A questão das barragens sempre foi um grande desafio, segundo o palestrante, mesmo antes do acidente de Fundão, pela proximidade de áreas urbanas. Desde 2006 a Vale vem buscando alternativas para minimizar a geração de rejeitos e eliminar o uso de barragens. Novas tecnologias e diferentes modos de operar estão entre as iniciativas que estão sendo estudadas, como a disposição em separado de lama e rejeito grosso, a disposição de lama em cavas e a disposição de rejeito grosso filtrado em pilhas.

Métodos alternativos para disposição de rejeitos

O projeto de pilhas de cianita envolve espessamento e filtragem de rejeito arenoso e lama. “Construímos plantas para isso e estamos avaliando como executar essa disposição, verticalizada, sem usar barragens, e aí temos vários modelos em estudo”, relatou Amaral. Ele diz que a lama é complexa de trabalhar. O procedimento que faz pó, busca gerar morros sem gerar problema geotécnico. “A novidade foi misturar resíduo arenoso com a lama para ver se conseguimos melhores resultados com essa mistura”, explicou Amaral.

Segundo o palestrante, a filtragem é positiva, porque se recupera 20% da água. O empilhamento é bom, porque ocupa uma área menor e possibilita que se plante em cima e crie um ambiente visualmente mais agradável. “Estamos em processo de testagem”, arrematou Amaral.

Para a mineração com o uso de água – que hoje corresponde a 60% da produção da Vale, a geração do rejeito é inevitável. Os 40% restantes não usam água, apenas a umidade natural. “Nossa meta é chegar em 2022 a 30% com água e 70% sem água”, afirmou Amaral.

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