Para Fabrício Benevenuto, sua infância foi muito feliz. Nascido e criado no interior de Minas Gerais, em uma cidadezinha chamada Pará de Minas, ele tinha a liberdade de jogar futebol na rua e andar de bicicleta pela vizinhança. “A cidade era pequena, tranquila e segura. Além disso, as amizades eram sólidas. Alguns amigos que fiz aos quatro anos de idade estão presentes em minha vida até hoje”, conta.


Superando as dificuldades

Os pais de Fabricio trabalhavam fora: sua mãe era funcionária do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o pai, soldado da Polícia Militar do estado de Minas Gerais. Ele conta que ambos vieram de famílias pobres e foram criados em áreas rurais. “Meus avós eram analfabetos, mas eram também donos de uma notável inteligência”, emociona-se. “Antes de ingressar no INSS, minha mãe foi professora do ensino primário. Por isso, sempre buscou estimular o interesse dos filhos pela escola e pelos estudos”, justifica.
Embora contando com os benefícios da vida no interior, a situação financeira de sua família era apertada. “Eu e minha irmã sempre estudamos em escolas públicas e meus pais se esforçavam para que nunca faltasse nada. Eles nos deram toda a estrutura que precisávamos para nos dedicarmos aos estudos”, orgulha-se. Sua irmã, dois anos mais velha, cursou graduação, mestrado e doutorado em filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na visão de Fabrício, ela foi uma grande influência em sua opção pela carreira acadêmica.


Paixão despertada ainda na infância

Nos estudos, sua área preferida era a física. Nas brincadeiras com os amigos, Fabrício gostava muito de videogames. Quando ganhou um de seus pais , o brinquedo virou a diversão da família toda. “Eram momentos ótimos, que possivelmente me fizeram desenvolver certa paixão pela tecnologia”, confessa.
Embora estudasse física com muito interesse desde pequeno, Benevenuto não estava certo sobre qual profissão seguir. Resolveu prestar vestibular para ciência da computação, embora o momento não fosse muito propício para a escolha desse curso. “Vivíamos o chamado boom da Internet”, afirma.
Esse período de sua vida de Fabrício é repleto de boas recordações. Ele e os três melhores amigos de escola, que sempre estudaram em escolas públicas, enfrentaram um dos vestibulares mais concorridos do país. “Não passava por nossas cabeças que um de nós pudesse ficar para trás, então resolvíamos exercícios e simulados juntos e fazíamos reuniões semanais para acompanhar e planejar nossos estudos”, recorda. E todo o esforço valeu a pena. Em 2000, todos se tornaram alunos da UFMG.
No entanto, o conceito de ciência não era muito concreto em sua mente e foi só quando ingressou na iniciação científica que seu gosto pela ciência da computação se confirmou. “Eu tive o privilégio de trabalhar sob a orientação de um membro titular da ABC, o professor Virgílio Augusto Fernandes Almeida. Além de excelente orientador, ele soube despertar em mim o interesse pela pesquisa científica, o que me levou a, posteriormente, fazer mestrado e doutorado na própria UFMG”, afirma. Foi assim que Benevenuto envolveu-se em um projeto de pesquisa relacionado à web, que resultou não só no tema de sua monografia de fim de curso, mas também em suas primeiras produções científicas.
Durante a graduação, além da iniciação científica, Fabrício foi administrador de rede da biblioteca setorial do Instituto de Ciências Exatas da UFMG, trabalhou como monitor remunerado da disciplina de Algoritmos e Estruturas de Dados III e começou a envolver-se em campeonatos de programação. “Essa foi uma fase na qual participei ativamente de grupos de estudo de algoritmos e fui selecionado como integrante de um dos times da UFMG na ACM International Collegiate Programming Contest”, conta. Após participar do encontro como competidor três vezes, no ano de 2005 ele desempenhou o papel de técnico das equipes da universidade mineira.


Desdobramentos de sua formação

Durante o mestrado, que também contou com a orientação do Acadêmico Virgílio Almeida, Benevenuto começou a trabalhar em um projeto financiado pela Hewllet Packard do Brasil (HP). Nesse contexto, no ano de 2005, surgiu a oportunidade de um estágio de três meses no HP Labs, em Palo Alto, na Califórnia. “Durante esse estágio, pude conviver com alunos de doutorado de excelentes universidades americanas como Stanford, UCLA [Universidade da Califórnia] e a CMU [Universidade Carnegie Mellon], assim como com renomados pesquisadores da área. Isso me permitiu conhecer um ambiente de pesquisa diferenciado e me proporcionou uma ampla visão da arquitetura de sistemas reais da própria HP”, reconhece.
De volta ao Brasil, Benevenuto cursou o doutorado e, como resultado de seu trabalho, publicou mais de 60 artigos altamente citados e teve sua tese laureada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) através do Prêmio Capes de Teses do ano de 2011. Sobre o período em questão, ele comenta: “Um dos pontos mais importantes do meu doutorado foi um estágio de cinco meses realizado no Instituto Max Planck. Lá, tive a oportunidade de trabalhar diretamente com o pesquisador Krishna Gummadi, líder do grupo de sistemas. Também fiz contatos importantes com jovens pesquisadores de grande talento. Depois de terminar o doutorado, passei mais dois meses no instituto para planejar trabalhos conjuntos que perduram até hoje e já resultaram em diversas publicações conjuntas.”


Entendendo a estrutura das redes sociais online

Com menos de uma década envolvido em atividades de pesquisa, os resultados dos estudos de Benevenuto têm atraído a atenção das mídias convencional e especializada – dentre as quais o The New York Times, a MTV, a Revista Época, a Revista Galileu, o Jornal Estado de Minas, o Jornal O Tempo, o New Scientist, a Harvard Business Review e a Revista Info.
Professor adjunto da UFMG, suas pesquisas buscam entender a estrutura das redes sociais online e explorar comportamentos sociais nesses ambientes. Conhecida como “computação social”, ele explica tratar-se de um tema da ciência da computação experimental onde análises e modelos são desenvolvidos a partir de dados reais extraídos de mídias sociais como o Facebook e o Twitter.
Apesar de seus trabalhos envolverem, na maioria das vezes, um complexo processo referente à coleta de dados em grande escala em diferentes ambientes da web, o cientista conta: “Há também uma parte teórica, que diz respeito aos modelos construídos para representar artificialmente padrões de interação verificados no espaço online. Além de ser atual, o tema é extremamente relevante, visto que bilhões de pessoas passam um tempo considerável de suas vidas conectadas a esses sistemas.”
Defensor da ciência como um fator fundamental no desenvolvimento tecnológico do país, o pesquisador busca compreender os diversos tipos de comportamento – dentre os quais se encontram o social, o malicioso e o oportunista – de diferentes classes de usuários. “Boa parte da minha pesquisa explora aspectos do comportamento e das interações dos usuários para a criação de algoritmos eficientes na recuperação e distribuição de conteúdo nesses ambientes”, explica.
Fazendo uso de dados reais e em larga escala, seu trabalho permite que teorias e modelos sobre formação de elos sociais, difusão de inovações e aspectos relacionados à influência social sejam questionados. “Assim, alguns desses estudos possuem impacto não só na computação, mas também em outras áreas do conhecimento, como a sociologia e a economia”, finaliza.


“Investigar soluções e buscar avançar no conhecimento é fascinante”

Para Benevenuto, a metodologia científica é simplesmente fantástica. Além de ser constantemente motivado pela perspectiva de aumentar seu conhecimento, ele diz que a pesquisa científica permite o trabalho com pessoas muito interessantes, mantendo-o atualizado, conectado às novidades em suas áreas de interesse. Adepto da multidisciplinaridade, Benevenuto acha interessante aprender sobre teorias e conceitos propostos por outros campos do conhecimento, aplicando-as no contexto das redes sociais online. “É como se eu expandisse minha visão limitada do conhecimento e isso é fascinante”, afirma.
Em seu ponto de vista, um cientista deve ser, mais do que tudo, minucioso e criterioso. “É muito comum vermos cientistas apressados para publicar resultados, visando atingir metas e cumprir datas. Ideias brilhantes não surgem do nada. Uma pesquisa de impacto demanda tempo, dedicação e requer muito cuidado metodológico”, opina.
Benevenuto foi eleito membro afiliado da ABC para o período 2013-2017. “Esse título é algo que eu recebo com muito orgulho. Significa que o trabalho que venho desenvolvendo como pesquisador foi reconhecido pelos meus colegas e é um sinal de que minhas contribuições científicas têm impacto para a sociedade. Isso me deixa ainda mais motivado a dar continuidade às minhas atividades científicas.”
Ressaltando o benefício da interação com outros cientistas brasileiros, ele conta que é com grande energia que chega à instituição. Além disso, promete realizar o que estiver ao seu alcance no intuito de difundir a importância da ciência para o desenvolvimento tecnológico do país.