No dia 6 de março, no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP, em São Paulo, ocorreu a entrega da 5ª edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” para três renomadas cientistas e membras titulares da Academia Brasileira de Ciências (ABC): a química Yvonne Mascarenhas, na área de Engenharias, Exatas e Ciências da Terra; a antropóloga Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, na área de Humanidades; e a biomédica Regina Pekelmann Markus, na área de Biológicas e Saúde.
Concedido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) desde 2019, o prêmio reconhece o talento de cientistas brasileiras que fortalecem o papel feminino no avanço da ciência nacional. A premiação também é parte das celebrações do “Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência”, instituído pela Unesco, e celebrado todo o dia 11 de fevereiro.
A presidente da ABC, Helena Nader, que recebeu o prêmio em sua primeira edição, esteve presente na cerimônia e parabenizou as vencedoras. Uma das idealizadoras do premiação, a Acadêmica Vanderlan Bolzani, não pôde comparecer mas gravou uma mensagem. “Estou muito feliz porque a SBPC – uma sociedade que mudou a história da política científica no país – não tinha ainda uma premiação para mulheres quando fiz a proposta. Nesta quinta edição, estou muito satisfeita não só pelas premiadas de hoje, mas por todas as mulheres premiadas nestes cinco anos”.
Em seguida foram exibidas mensagens das vencedoras nas quais elas discorreram um pouco sobre suas carreiras, suas histórias de vida e sobre como gostariam de aconselhar as próximas gerações de mulheres cientistas.
Yvonne Mascarenhas afirmou que o seu maior orgulho é ter ajudado a formar as seguintes gerações de pesquisadores em cristalografia e destacou que persistência e foco são fundamentais para que as mulheres consigam superar o chamado “teto de vidro” na progressão da carreira científica.
“Eu vejo o prêmio como uma homenagem merecida à Carolina, cuja memória deve ser preservada e, por isso, desejo vida longa à premiação. Carolina Bori sempre foi uma entusiasta das mulheres nas ciências e nas artes. Ela foi uma mulher muito valorosa, presidente da SBPC nos anos difíceis da ditadura, tendo um papel importante na luta para acabar com aquela situação horrível”.
Maria Manuela Carneiro contou que seu interesse pela antropologia surgiu ainda na graduação em matemática e que, a partir dos anos 70, começou a se interessar pela questão indígena, desde os estudos antropológicos até a questão da legislação. Foi assim que começou sua forte atuação na Constituinte, quando pôde colaborar de perto com Carolina Bori.
“Fico particularmente feliz com esse prêmio por ter conhecido a Carolina e admirado sua coragem e dignidade extraordinárias numa época difícil para o país. À época eu ainda era uma jovem mulher e queria ser igual a ela quando crescesse. Ela era um exemplo de cientista e de pessoa engajada na política brasileira, a qual eu tento seguir até hoje”.
Regina Pekelmann Markus contou um pouco sobre sua trajetória no estudo das neurotransmissões e argumentou a favor de que o mundo volte a trilhar um caminho de valorização e proteção da mulher em todos os âmbitos.
“A grande importância está em saber olhar, observar e perguntar. O prêmio Carolina Bori faz com que meninas possam ser inspiradas pela primeira vez a ver a ciência como possibilidade de carreira, ficando encantadas e curiosas. Nem todas vão ser cientistas, mas todas precisam saber o que é ciência. Nessa tenra idade, essa curiosidade em algumas vai se transformar naturalmente no desejo de ser cientista”.
Carolina Martuscelli Bori
A premiação deste ano é especial, já que em 2024 se comemoram os cem anos do nascimento de Carolina Bori. Ela foi uma das pioneiras na pesquisa da psicologia experimental no Brasil, tendo atuado pela implementação de cursos de psicologia em diversas universidades brasileiras, incluindo a USP, em Rio Claro, e nas universidades federais de São Carlos, Bahia, Pará e Rio Grande do Norte.
Em colaboração com Darcy Ribeiro, contribuiu para a fundação da Universidade de Brasília (UnB), onde estabeleceu o Laboratório de Psicologia Experimental e liderou o Instituto de Psicologia entre 1963 e 1965. Em 1987, Bori se tornou a primeira mulher a presidir a SBPC, onde liderou debates científicos na formulação de propostas para a Constituição Federal de 1988.
Sua atuação científica e junto ao debate público deixou um legado que inspira gerações. Recentemente, a SBPC lançou o Memorial Carolina Bori, como forma de eternizá-la.
Assista a cerimônia na íntegra: