Um dos conceitos mais em voga nas ciências da saúde atualmente é o da Saúde Única, que entende a saúde humana como intimamente ligada à saúde do ambiente e dos seres vivos que o habitam. Por esse conceito, a saúde dos animais é peça chave nas estratégias de prevenção, então pesquisas em veterinária são fundamentais.
Esta é uma daquelas profissões que enchem os olhos das crianças, principalmente aquelas apaixonadas por animais. Por esse motivo, a afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Débora Castelo Branco não sabe nem dizer quando escolheu a carreira. “Desde criança, sempre quis ser veterinária. Como era muito pequena quando ‘decidi’, não consigo me lembrar de nenhum processo, apenas sei que sempre fui encantada por animais e a natureza”, contou.
Nascida e criada em Fortaleza, Débora cresceu rodeada por amigos e primos, com quem sempre brincava ao ar livre. O pai é advogado, a mãe bancária e o irmão, dois anos mais velho, ingressou na faculdade na mesma época que ela. Se Débora não conhecia nenhum cientista em quem se espelhar, a curiosidade fez com que ela trilhasse esse caminho.
A escolha pela veterinária a levou para a Universidade Estadual do Ceará (Uece). Durante os quatro anos de graduação, Débora chegou a fazer iniciação científica e também estagiou em clínicas e zoológicos. A microbiologia, área em que viria a se especializar, já aparecia em seu trabalho de conclusão de curso, quando estudou a sarcocistose, doença transmitida por um protozoário capaz de infectar humanos e animais. Essa foi sua primeira experiência como orientanda do professor Marcos Fábio Gadelha Rocha, com quem ainda trabalharia no futuro.
Após se formar, Débora embarcou para o Paraná (PR), onde fez residência em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens. Nesse período, foi orientada pelo professor Rogério Ribas Lange e alternava seu tempo entre o zoológico de Pomerode, SC, e o Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV/UFPR). “No zoológico, eu atuava diretamente no manejo veterinário dos animais, e no hospital trabalhava no atendimento de mascotes não convencionais e com algumas pesquisas. Essas atividades me mostraram o quão desafiadora e instigante é a pesquisa veterinária, e me fez querer seguir na área”, rememorou.
No mestrado, voltou a Uece e à orientação de Marcos Fábio, agora para realizar uma caracterização das leveduras encontradas no trato intestinal de calopsitas. Já no doutorado, com o mesmo orientador, mas dessa vez na Universidade Federal do Ceará (UFC), a Acadêmica se aprofundou sobre um gênero de levedura, Candida, pesquisando sua resistência a antifúngicos. Durante o Pós-Doutorado na UFC, também na área de Microbiologia Médica, foi supervisionada pelo Professor José Júlio Costa Sidrim, quem foi e é uma grande fonte de inspiração. “Tive grandes mentores durante minha residência e pós-graduação, eles me ajudaram muito”, reconheceu.
“Me dedico à microbiologia médica humana e animal, buscando compreender micro-organismos que causam infecções em seres humanos e animais. Estudo processos infecciosos, resistência às drogas antimicrobianas e como as interrelações entre humanos, animais e ambiente interferem nesses processos. Ademais, busco encontrar alternativas terapêuticas para tratar processos infecciosos”, explicou a cientista.
Durante a pandemia, Débora se deparou com um novo desafio: adaptar toda a infraestrutura e a rotina laboratorial para a testagem e diagnóstico de pacientes com suspeita de COVID-19. O trabalho foi árduo, mas, para ela, responder a essas urgências gerando conhecimento e inovações para a sociedade é o que encanta na ciência.
Para além da ciência, a pesquisadora gosta de estar rodeada de amigos e familiares, seja onde for. A paixão pelos animais é cultivada também em casa. “A presença e companhia dos meus mascotinhos é imprescindível”, disse.
Agora na ABC, Débora acredita que a diplomação como afiliada é um reconhecimento à sua trajetória e uma oportunidade de intercâmbio científico. “Quero contribuir para estimular a formação de estudantes de graduação e pós-graduação, em especial, gostaria de ser referência para mais meninas e mulheres na ciência”, concluiu.