Confira trechos do artigo escrito pelo pesquisador da Fiocruz, Renato Cordeiro, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O texto foi publicado pelo El Pais em 21 de novembro.
Nos últimos dias, a imprensa noticiou o registro do maior índice de desmatamento da última década no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 13.255 quilômetros quadrados de floresta amazônica foram derrubados. Este fato, que causou repercussão mundial por ocasião da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), vem acompanhado de uma redução significativa da fiscalização ambiental. Há confrontos e invasões de reservas indígenas por grileiros, madeireiros e caçadores, ações nefastas dos garimpos ilegais que provocam contaminação dos rios com mercúrio. Os povos originários estão sendo acometidos de diversas doenças.
Além dos impactos ambientais, políticas equivocadas do Governo federal reduziram de maneira drástica o orçamento da ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
A história econômica das nações mostra que o apoio à ciência e à inovação é o motor do desenvolvimento, garantindo riqueza, trabalho, protagonismo e bem-estar para a sociedade. De acordo com a Unesco, os investimentos em CT&I aumentam a cada ano no mundo. Os Estados Unidos estão destinando 2,84% do seu PIB, a Alemanha 3,09%, o Japão 3,26%, a Coreia do Sul 4,53% e Israel 4,95%.
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Os dados da competição econômica provocada pelo rearranjo da geopolítica internacional vão de encontro aos “minguados” investimentos brasileiros: 1,26 % do PIB em CT&I. O relatório de ciência da Unesco salienta a quantidade de pesquisadores por milhão de habitantes. Enquanto o Brasil tem 888 pesquisadores, a Coreia do Sul tem 7.980, a Alemanha 5.212, o Japão 5331, os Estados Unidos 4.412, o Canadá 4.326. O quadro brasileiro se agrava com a ausência dos concursos públicos. Os valores das bolsas são insuficientes para a sobrevivência de nossos jovens pesquisadores: 1.500 reais para mestrado e 2.200 reais para doutorado. O corte de 655,4 milhões de reais que seriam alocados no Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovações para editais de pesquisa do CNPq e bolsas de estudo causou indignação da comunidade cientifica, da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e sociedades cientificas.
A falta de recursos leva à desesperança dos estudantes. Testemunhamos uma perigosa diáspora, entregando para os países desenvolvidos nossos melhores cérebros e talentos.
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O mundo assiste à quarta revolução industrial, com inteligência artificial, computação quântica e tecnologias limpas. Se essa marcha anti-ciência não for imediatamente interrompida, o futuro do Brasil será de eterna dependência econômica e tecnológica, carimbando no nosso DNA o papel de exportador de matérias-primas e importador de produtos manufaturados. Porém, com desmatamento desenfreado, qual país comprará produtos de terras devastadas?