No dia 15 de março foi realizado evento para entrega do documento “O povo não pode pagar com a própria vida” ao governador Wellington Dias, representante de consórcio de governadores de combate à pandemia, com a participação de um representante de cada entidade signatária.

Leia a matéria da ABC sobre o evento. 

Veja a repercussão do documento no Jornal Nacional da noite de 12 de março.


Os presidentes das seis entidades signatárias do “Pacto pela Vida e pelo Brasil”Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) – fizeram a entrega do documento durante encontro virtual com o coordenador do Fórum Nacional dos Governadores, Wellington Dias, governador do Piauí. O evento foi transmitido ao vivo através do canal da CNBB no YouTube e a mediação ficou por conta do Padre Paulo Renato Campos, assessor da CNBB. A gravação completa do evento pode ser conferida aqui.

Estavam presentes também os governadores Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Flávio Dino (Maranhão), Renato Casagrande (Espírito Santo), Camilo Santana (Ceará). Estavam presentes também a vice governadora do Piauí, Regina Souza, e o Prefeito de Campinas e presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Jonas Donizette.

A jornalista Laura Greenhalgh realizou a leitura do manifesto logo nos primeiros minutos de transmissão. O documento é um apelo às entidades políticas brasileiras, para que assumam a postura que o país necessita agora, abrindo mão da insensatez e garantindo o acesso rápido aos testes e medicamentos aprovados pela ciência. Um trecho destaca: “É hora de estancar a escalada da morte! A população brasileira necessita de vacina agora. O vírus não será dissipado com obscurantismos, discursos raivosos e irresponsabilidades.” O documento completo pode ser lido aqui.

Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, alertou: “Bolsonaro pretende matar nossa democracia”. Ele destacou que, após um ano de pandemia, os profissionais da área da saúde estão exaustos, mas não apenas eles; o povo brasileiro, de uma forma geral, está exausto de todo o processo pandêmico. Para ele, a exaustão é “fruto de um projeto político. Como está, não é possível continuar.” Sobre a saída do ministro da Saúde Eduardo Pazuello e a busca da presidência por seu quarto ministro em um ano, Santa Cruz diz: “Médico algum no mundo em sã consciência compactuaria com a agenda deste governo”.

O presidente da OAB passou a palavra para José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns, disse: “O governo federal é conivente com a tragédia, pois não só não permitiu a compra das vacinas como propagou risco para aqueles que se imunizassem. Devemos transformar a nossa indignação em coragem, para prosseguir no doloroso uso das medidas restritivas, na certeza de que isso evitará mais mortes e internações.”

Luiz Davidovich, presidente da ABC, lembrou que o pacto foi feito um ano atrás, no início da quarentena no Brasil. As instituições envolvidas clamavam por medidas para reduzir os riscos da pandemia e poupar vidas. Ele afirma que o clamor foi em vão, uma vez que ainda hoje o governo continua a propagar o negacionismo, com  práticas como a distribuição do kit cloroquina e o desprezo pelas evidências científicas de ineficácia. O presidente da ABC afirma que agora é o momento de surgir um novo país, com mais responsabilidade.

“É uma situação que vai além da política. (…) O nosso manifesto é mais do que isso. É um manifesto humanitário, é um manifesto pela vida, pela razão, pela lucidez, que é a arma que nós temos para lutar contra a insensatez. Será que é preciso esperar até os 300 mil mortos? Depois disso, o que virá? Meio milhão de mortos? Quantos acidentes de avião isso representa por dia? É uma situação grave e eu posso dizer: a ciência, que nesse momento tem tido grande destaque, está do lado da população brasileira” , afirmou o presidente da ABC.

Juca Kfouri representou a ABI e defendeu auxílio emergencial e uma campanha de vacinação eficaz. Kfouri culpou o “genocida de Brasília” pelo agravamento da crise sanitária no país, e destacou a urgência de um processo de impeachment. 

Ildeu Moreira (SBPC) declarou apoio às solicitações feitas ao Ministério da Saúde e ao governo federal sobre o aumento das medidas restritivas em âmbito nacional e a regulamentação da lei que permite que estados e municípios possam comprar vacinas. O presidente da SBPC ressalta que atrasos indevidos, negacionismo e omissão matam e continuarão matando a população. “O Brasil é reconhecido pela sua competência no campo vacinal, e temos a capacidade de fazer muito melhor, mas para isso, precisamos de políticas adequadas”, completa. Ele mencionou a importância de falar diretamente com os jovens, que têm sido as principais vítimas na nova onda de COVID-19.

Wellington Dias, governador do Piauí, apoiou o isolamento social, o auxílio emergencial e a compra de vacinas de outros fabricantes além das já disponíveis no Brasil. Ele evidenciou a necessidade de investimentos à área da saúde, e o fim dos cortes no setor. Atualmente, a saúde vem sofrendo frequentes golpes do governo, como o corte de 72% das verbas para leitos de UTI de COVID-19. Dias também defendeu a união das forças políticas, que deveriam deixar de lado suas ideologias e agir em prol do bem comum: “independente de disputas partidárias, devemos colocar a vida em primeiro lugar.”

O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, reforçou a necessidade de políticas compensatórias de renda e mencionou as políticas que estão sendo aderidas pelas maiores instituições capitalistas do mundo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os Estados Unidos. Ele mencionou que, após recomendação do FMI, o governo Biden está criando um fundo de auxílio maior que o PIB brasileiro para poder equilibrar a economia do país. A medida é similar à que foi tomada na Segunda Guerra Mundial. “Toda medida possível deve ser tomada”, afirma. 

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, criticou o reacionismo, cobrou posicionamento de entidades e categorizou o combate às fake news como uma das maiores missões enfrentadas durante a pandemia. Criticou também o “debate político de baixo nível” que vem guiando as relações do governo brasileiro com o resto do mundo.

Fátima Bezerra enxergou o evento como um ato  simbólico para renovar as esperanças dos presentes. A governadora do Rio Grande do Norte afirma que “é inaceitável a postura da maior autoridade do país de recusar a ciência”. Ela ressaltou o importante grau de representatividade do manifesto. 

Camilo Santana categorizou a pandemia como um momento de resistência e resiliência, e afirmou que a pandemia escancarou as feridas e as cicatrizes das desigualdades no país. “Além de salvar vidas, é fundamental mudar o destino das pessoas, garantindo que as pessoas mais pobres tenham acesso a condições dignas de vida nesse país”, afirmou. O governador terminou sua fala afirmando: “A história julgará aqueles que debocham ou negam a ciência”. 

O governador maranhense Flávio Dino ressaltou a necessidade de uma mobilização internacional para destravar a venda das vacinas. Ele afirmou: “é importante sim que estados e municípios possam comprar vacinas, porém, a prioridade é o Plano Nacional de  Vacinação, sob pena de se instituir um ‘salve-se quem puder, a lei do mais forte”. Ele também destacou a importância de um Comitê de Solidariedade e da criação de políticas de assistência social para as camadas mais pobres da sociedade. 

O debate comprovou, mais uma vez, a necessidade da valorização da ciência e a compra de mais doses de vacina. Um ano após o início da pandemia, o Brasil está retornando para os primórdios da chegada da doença: recordes no número de mortes e casos diários, ameaça de falta de insumos para tratamento de pacientes e nenhuma previsão de melhora. É um momento que exige ação dos governantes e cuidados redobrados por parte da população. Fique em casa!