O novo secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Acadêmico Jailson Bittencourt de Andrade tomou posse de seu cargo ontem (3), em Brasília.
Professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jailson é conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Atualmente, é membro do conselho fiscal e da comissão de seleção da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Como secretário da Seped ele lidará diretamente com políticas estratégicas para o desenvolvimento científico e tecnológico do País.
Presente à cerimônia de posse, o professor José Leonardo Ferreira, do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB), secretário regional da SBPC do Distrito Federal, destacou a presença de várias autoridades da área da C&T, como o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Acadêmico Hernan Chaimovich; o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Acadêmico Jorge Almeida Guimarães; e os presidentes de várias entidades científicas. “Isso mostra o apoio de diversas áreas da ciência e tecnologia ao novo secretário da Seped. Então, são vários setores da área que estavam lá representados, além da SBPC, que vão dar todo apoio ao nosso novo secretário”, afirmou.
Ferreira revelou que, além das entidades científicas, o novo secretário contará com o apoio do ministro de CT&I, Aldo Rebello. “Ele vai ter todo o suporte das sociedades científicas, todo suporte da própria SBPC, mas principalmente do ministro que disse pessoalmente que estaria à disposição para todos os desafios que por acaso o professor Jailson possa encontrar”, disse.
De acordo com o secretário da SBPC, em seu discurso, Aldo Rebelo falou sobre possíveis cortes no orçamento. “Ele apontou que nós estamos passando por um período um difícil, em função da possibilidade de cortes de um fluxo de capitais para a C&T. Mas ele se prontificou a trabalhar com o secretário Jailson para que essas dificuldades possam ser superadas”, contou Ferreira.
O professor Ferreira lembrou que durante a posse, o novo secretário colocou já algumas prioridades. “Eu destaco essa que acredito ser a muito importante, a ciência básica, que segundo Jailson terá bastante apoio. Esse é também o papel da SBPC, por isso achei bastante interessante e merece ser mencionado”, disse.
Em entrevista ao Jornal da Ciência, Jailson Andrade fala de seus desafios à frente da Seped e revela quais programas de pesquisa serão prioritários nos investimentos da Secretaria durante sua gestão. Ele afirma que é necessário investir 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa, especialmente em ciência básica. “Este é o maior desafio e o caminho rumo ao futuro!”, aponta.
Jornal da Ciência – O senhor acaba de tomar posse para comandar a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI. Quais serão os seus grandes desafios à frente da pasta?
Jailson Bittencourt de Andrade – A Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, Seped, tem por finalidade implantar e gerenciar políticas e programas, visando ao desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação no País: nas áreas de Ciências Exatas, das Engenharias, da Terra e da Vida, em especial em Biotecnologia e Saúde, Nanotecnologia e nas áreas de interesse estratégico para o levantamento e aproveitamento sustentável do patrimônio nacional, em especial em Biodiversidade, Ecossistemas, Meteorologia, Climatologia e Hidrologia, Ciências do Mar, Antártica e Mudanças Climáticas Globais.
Em resumo, a Seped tem uma missão temática extremamente abrangente e associada ao planejamento, implantação e gerenciamento de Políticas e Programas. Provavelmente, os maiores desafios são relativos ao planejamento de políticas concertadas, convergentes e integradoras.
JC – Na sua visão, quais os programas de pesquisas merecem ser colocados na lista de prioridades de investimentos?
Jailson – Certamente que os Programas de Pesquisa em andamento no âmbito do MCTI são de grande prioridade. Mas, em minha opinião quatro merecem destaque, devido às respectivas especificidades e abrangência:
O Edital Universal, pela abrangência temática e regional e por atingir pesquisadores consolidados e em consolidação;
Os Institutos Nacionais de Ciência Tecnologia e Inovação, INCTs, também pela abrangência temática e regional, e por apoiar os principais Grupos de Pesquisa do País;
O Proinfra, por ter como alvo principal as Universidades;
O Sirius e o Reator Multipropósito, pois são estruturas essenciais para a autonomia das atividades de C,T&I, bem como para o Brasil atuar na fronteira do conhecimento.
JC – O senhor assume a Secretaria em um momento de crise hídrica no País e de fortes alterações climáticas. Quais os desafios para mitigar os efeitos desses dois fatores? Como é possível enfrentar os desafios do século 21, no processo de transformação do mundo em direção à sustentabilidade global como segurança alimentar e hídrica, por exemplo?
Jailson – Hoje a previsibilidade referente a condições climáticas e à segurança energética hídrica e alimentar tem um alto grau de confiabilidade. Precisamos avançar nas questões relativas aos desafios e soluções, atuando de forma concertada. Água e energia são temas intrinsecamente interligados. Produzir energia necessita de água e disponibilizar água onde é necessária e com qualidade adequada requer energia. O manejo adequado (ou inadequado) dos desafios e soluções no binômio água – energia refletem diretamente, não apenas na segurança hídrica ou energética, mas também na segurança alimentar e no ambiente.
A produção de alimentos necessita de água e, especialmente, de energia em todas as etapas: produção, colheita, estocagem e transporte. Em resumo, água e energia precisam ser abordados de forma concertada e considerando, pelo menos, três dimensões: Tecnológica, Econômica e Social. Vale ressaltar que o planejamento e execução de ações nesse binômio devem estar em consonância com a conservação e uso sustentável dos biomas nacionais.
JC – Como melhorar o cenário da pesquisa brasileira, diante de um orçamento apertado, de corte nos recursos da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação, por exemplo?
Jailson – O planejamento e a definição de prioridades sempre ajudam. Mas, não são suficientes. Para o Brasil atuar na fronteira da produção do conhecimento e pautar a ciência e tecnologia mundial é necessário investir 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa, especialmente em ciência básica. Este é o maior desafio e o caminho rumo ao futuro!