Uma nova espécie de pterossauro foi descoberta na China por um grupo de pesquisadores chineses e brasileiros, incluindo dois Acadêmicos. O membro titular Alexander Kellner e o membro correspondente Xiao-lin Wang, cuja parceria acontece há onze anos e já rendeu importantes achados, e publicaram o trabalho hoje na Scientific Reports, periódico que faz parte do grupo da revista Nature. Veja aqui a versão online.

 

A nova espécie de réptil voador recebeu o nome de Ikrandraco avatar e apresentou algumas características peculiares. A principal delas é a crista única na arcada inferior. Geralmente, os pterossauros têm cristas na arcada superior, ou então em ambas. ”Isso nos deixou curiosos”, conta Kellner, informando que a crista do Ikrandraco avatar é a maior já encontrada na mandíbula de um pterossauro, e tem um tamanho proporcionalmente muito grande em relação a seu crânio.

 

 

Essa crista na arcada inferior, explica o paleontólogo do Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), provavelmente diminuía a resistência do animal na água, o que levou os pesquisadores a crer que ele era mais ágil para capturar a sua presa – na maior parte das vezes, peixes. ”No final dessa crista, esse pterossauro tem algo parecido com um gancho, que também é único. Acreditamos que ele sustenta um pedaço de pele que lembra um papo e que poderia servir para armazenar os peixes”, relata Kellner.

 

Ou seja, os Acadêmicos entendem que a crista na arcada inferior do Ikrandraco avatar se desenvolveu para facilitar a maneira de pescar. A possibilidade de tal achado designar uma característica nova dos pterossauros é que rendeu a publicação na prestigiada revista, o que não seria garantido simplesmente com a descoberta de mais um réptil voador. ”No primeiro crânio que encontramos, achamos que poderia ser uma quebra, mas no segundo, vimos que tratava-se de um detalhe anatômico novo”, comenta Kellner, brincando que a primeira utilidade do ”gancho” constatada pelos pesquisadores era de ”pendurar o paletó do paleontólogo”.

 

Ilustração do Ikrandraco avatar. Maurilio Oliveira – Museu Nacional/UFRJ

 

Resultado de grandes investimentos

 

O animal, datado do Cretáceo Inferior e contando mais ou menos 120 milhões de anos, foi encontrado há cerca de dois anos e meio em Liaoning, no noroeste da China. Essa região tem sido palco de diversos achados nos últimos anos, por conta de um investimento forte que começou a receber em 1996, além do financiamento da pesquisa básica pelo governo chinês. Com cerca de dez pesquisadores chineses e brasileiros, o grupo de trabalho de Kellner e Wang aproveita o bom momento e já publicou 12 trabalhos desde o início de suas atividades, em 2004. ”Essa cooperação deve aumentar ainda mais, estamos muito interessados nela”, diz o Acadêmico brasileiro. Xiao-lin Wang compartilha desse pensamento: ”É uma parceria muito frutífera; a contribuição do Brasil nessa troca de informações é essencial”. Confira outras duas descobertas recentes do grupo sobre répteis voadores e ovos em 3D.

 

Kellner lamenta que o Brasil invista pouco nessa área e ressalta que, com mais recursos, também seria possível fazer grandes descobertas por aqui. ”Investimento contínuo é o que faz a diferença. Não adianta dar dinheiro agora para a pesquisa e não dar depois.” Pelo lado brasileiro, é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) que vem financiando esse projeto de cooperação. Pela China, o investimento vem de um órgão semelhante ao nosso Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 

Agora, Kellner espera continuar tendo apoio para explorar outro aspecto da pesquisa. ”Queremos trabalhar com engenheiros para calcular a resistência desse animal na água e saber como ele voava.” Os pesquisadores visam, ainda, reproduzir um modelo prático que mostre a forma que o Ikrandraco avatar pescava de fato, testando-o na água. As perspectivas do grupo, no entanto, vão além: ”Mais surpresas dessa colaboração sino-brasileira estão sendo preparadas para um futuro bem próximo”, adianta o paleontólogo.

 

Para saber mais sobre paleontologia, conheça a coluna Caçadores de Fósseis, de Alexander Kellner, no site da revista Ciência Hoje.